por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Curimã


Zé Curimã, matuto do pé rachado, começou a sentir umas coisas estranhas quando ia para roça. Pelo olho direito via a imagem duplicada. No início, até brincava, apontando para o órgão defeituoso: “Este olho aqui é para cubar moça bonita e receber o apurado do patrão no fim de semana”. Com o passar dos dias, no entanto, começou a se preocupar: a vista começou a ficar meio borrada e depois de umas três topadas em bico do toco, no roçado, resolveu procurar ajuda. Morava nos canfundós do Judas, numa cidadezinha do Rio Grande do Norte, de nome poético e voluptuoso : Caiçara do Rio do Vento. Dirigiu-se ao boticário Filismino, homem versado nos mistérios das raízes de pau e contou suas queixas. O homem lhe receitou uma garrafada que englobava um sem número de meizinhas : malva, jalapa, boldo, carqueja, jurubeba,alecrim, alfavaca,arnica, babosa, capim santo, marcela, meio litro de aguardente, tudo isso colocado junto em uma garrafa e enterrado no chão por quatro dias. Depois de exumada a beberagem foi tomado parcimoniosamente em jejum: uma colherinha no primeiro dia, duas no segundo, três no terceiro, indo num crescendo até o nono dia, quando deveria fazer o movimento contrário pelo mesmo período, subtraindo uma medida do medicamento a cada tomada. Curimã assim o fez, mas ao final, sabe-se lá porque, não teve melhora. Valeu-se, então, de um sobrinho que trabalhava em Recife e para lá partiu, pegando carona em caminhões, até que, uns cinco dias depois, chegou à Veneza Brasileira. Quase não encontra a casa do parente que se escondia em Brasília Teimosa.

Valderedo, o sobrinho, já vivia há mais de dez anos por lá e era fiteiro com uma pequena banquinha próximo ao Mercado São José. Versado nos ínvios caminhos da pobreza, encaminhou Curimã ao Hospital Pedro II que , na época, era o hospital escola da Universidade Federal de Pernambuco. Zé , talvez por conta do estranho da sua doença, teve um atendimento muito humanizado. Os estudantes o internaram e começaram a fazer uma quantidade enorme de exames, até chegar ao diagnóstico. Um tumor benigno que comprimia o nervo óptico do lado direito e que precisava ser operado. Zé teve a sorte de ter como neurocirurgião a sumidade nordestina da época : Dr. Manoel Caetano de Barros. Recuperou-se bem e uns dois meses depois Valderedo o encaminhou de volta à sua Caiçara.

Lá chegou um pouco mais magro e mais falante, com o cocuruto ainda pelado, mas já empenando. Cidadezinha sem meios de comunicação, rapidamente Curimã se transformou na celebridade do lugar : uma espécie de Neymar na Vila Belmiro. Recolheu-se um pouco, fez mistério, mas à noite, não pode resistir à tietagem. Reuniu uma centena de curiosos no oitão da casa e começou a narrar sua peregrinação às terras de Manuel Bandeira. Botou um pouco de tempero na história, exagerou daqui, esticou dacolá. Às duas horas da manhã não tinha chegado nem em Recife ainda. A seção foi então suspensa e, no dia seguinte, reabriram-se os trabalhos, com a mesma audiência. Como não temos a intenção de fazer um romance, vamos resumir a história de Curimã, centrando no mais interessante do relato: os detalhes da investigação diagnóstica e do tratamento.

Curimã necessitou fazer vários exames especializados. Dentre eles, uma punção na coluna para recolher e estudar o líquido que por ali existe e que tem o nome complicado de Céfalo-Raquidiano. Assim descreveu Zé , suas agruras naquele dia, para uma platéia volumosa e boquiaberta.

--- Me botaram dobrado dentro de uma cumbuca. Aí chegou um carcará com uma suvela e começou a enfiar no meu cangote, sem pena, meu sinhô!Parecia que enviava a gaita em saco de milho. Vuco-vuco-vuco ! Só não caguei porque não tinha merda pronta! Quando ele parou, pensei que tinha acabado , mas nada ! Começou a chupar um negócio do meu Tum-tum, tanto, tanto que até os cabelos arrepiados se pentearam em procura do xunxo! Quando terminou parece que eu tinha botado Brilhantina Glostora na cabeleira !

No dia seguinte, Curimã foi encaminhado a uma Clínica Radiológica especializada em exames neurológicos. Fico na sala de espera, meio cabreiro, observando a clientela: um com a boca torta, outro com a banda morta, aquele cego, este mouco, aquele tresvariando. Pelo carrego dos companheiros imaginou que sua situação não era das melhores. Lá para as tantas, saiu uma mocinha numa maca, da sala de radiologia, toda se contorcendo, em plena crise convulsiva. Zé, espantado, fez a pergunta que lhe pareceu mais cabível naquelas horas:

--- Espere ! Todo que entra lá dentro, sai assim ?

Curimã teceu loas intermináveis ao Dr. Manoel Caetano. Aquilo sim é que era um médico ! Salvou minha vida, sem qualquer pagamento! Deus te dê fartura e felicidade e te livre do mal vizinho! Perguntado como estava pela multidão de curiosos, disse que estava muito bem, graças a Deus e ao Dr. Manoel Caetano. Precisava agora só pagar a promessa que havia feito com os Nove Reis Magros. Algum dos circunstantes achou aquilo estranho :

--- Ainda bem que você se recuperou, Zé ! Devia ser muito chato aquilo de tá vendo tudo duplicado. Mas você não tá enganado, rapaz ? Os Reis Magros são apenas três !

--- Três ? Mas rapazes , é mesmo ? Pois acho que foi isso! Eu tava vendo tudo dobrado, pois depois da cirurgia do Dr. Manoel Caetano , curei : comecei a ver tudo triplicado !

J. Flávio Vieira

Junto com Kadhafi quem mais morrerá? José do Vale Pinheiro Feitosa

De todas as conveniências e soluções que o assassinato de Muammar Kadhafi resultar, uma é inegável. Existe uma população armada pelas potências ocidentais, Europa, mais a Inglaterra e os EUA. A morte de Kadhafi foi uma ação de intervenção estrangeira na Líbia.

A intervenção estrangeira foi executada pelos povos mais envolvidos neste tipo de ação desde o século XV. A base do colonialismo é Européia e a estrutura do imperialismo é da junção pós-segunda guerra dos EUA com a Europa ocidental, até o fim da União Soviética.

A destruição física da Líbia promovida pela OTAN e com o armamento entregue aos rebeldes por ela não é um capítulo terminal de uma ditadura. Pelo contrário é o capítulo mais evidente do princípio de guerras em consequência da crise do capitalismo. Quem acompanhou o fim das colônias na África e os movimentos de libertação da Ásia bem sabe o quanto são processos destrutivos e pendulares. Situações políticas contraditórias se sucedem em hegemonia em questão de horas.

A morte de Kadhafi já deu o réquiem deste momento: o assassinato dos inimigos políticos do império. Só em 2011 os EUA e a Europa estiveram envolvidos em três grandes e evidentes assassinatos. Esta prática pode se ampliar de modo a tornar a política algo parecido com as máfias em luta. Nada impede, por exemplo, que um presidente americano ou europeu sofra atentado.

O outro lado é o cinismo que todo assassinato “mafioso” traz e o quanto afasta a sociedade da democracia e da construção de síntese nos ambientes contraditórios. Ora a morte comemorada do inimigo é a mesma comemorada pelo inimigo sobre nossos mortos. Quem não tem medida para evitar tais assassinatos, sabe disso tudo, resta-lhe o cinismo.

Querem observar algo cínico? A Arábia Saudita e o Marrocos, alguém tem visto alguma catilinária televisiva ou jornalista contra tais regimes? Está bem podem alegar que o povo não se encontra nas ruas, mas o Yemen? Qual a razão da sobrevivência do regime? Há uma aliança entre EUA e o regime, tai a morte eleitoral daquele líder da Al Qaeda. As imagens na televisão são absolutamente cínicas: a multidão na rua e o presidente restabelecido dos tiros levados, cercado por uma enorme assembléia de membros do regime.

Retornando ao efeito pendular e instável desta ordem. Como ficam os interesses da China, do Brasil e de muitos outros países que foram estimulados a investir na unidade territorial e produtiva da Líbia? Vão ter que pagar pedágio para Europeus e Americanos? E aí todo mundo vai aceitar barato tais medidas?

Quem acompanhou toda emergência do fim destes regimes fechados e a longo prazo, especialmente em populações ávidas por uma boa qualidade de consumo, sabe o quanto são instáveis. Existe em todo o norte da África, a rondar as forças em luta, a possibilidade que desta primavera logo surja um outono, com o crescimento de regimes religiosos fundamentalistas. A possibilidade de regimes autoritários de viés fascista aumenta muito nestes momentos. Além, é claro, uma desagregação nacional como ocorreu na Somália, por exemplo.

Começando um dia chuvoso...


François Truffaut



François Truffaut (Paris, 6 de Fevereiro de 1932 — Neuilly-sur-Seine, 21 de Outubro de 1984) foi um cineasta francês. Um dos fundadores do movimento cinematográfico conhecido como Nouvelle Vague[1] e um dos maiores ícones da história do cinema do século XX, em quase 25 anos de carreira como diretor Truffaut dirigiu 26 filmes, conseguindo conciliar um grande sucesso de público e de crítica na maior parte deles. Os temas principais de sua obra foram as mulheres, a paixão e a infância. Além da direção cinematográfica, ele foi também roteirista, produtor e ator.

Junto com Jean-Luc Godard, Truffaut foi uma das mais influentes figuras do novo cinema francês e inspirou cineastas como Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Brian De Palma e Martin Scorsese.

[esco

Por motivos técnicos estive desconectada por muito tempo.
Surpreendi-me ,alegremente, com a beleza das novas últimas postagens.
Viva Lídia Batista, Nicodemos, Emerson, Rosemary Borges, Zé do Vale, Domingos Sávio, Ulisses, Liduína...!
- Vocês fizeram a festa , e os leitores também!