por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Lakshimi Deusa da Abundância



19 de agosto- Dia Mundial da Fotografia !


Desencanto - idas e vindas- por Socorro Moreira


Existem idas sem voltas
Momentos saem da órbita
Desistem do seu destino


Existem voltas sem malas
Extraviadas do  amor
Teratram  do outro lado


Existe o ausente
Que não cabe no presente...


O riso palhaço
O olhar desconfiado
A palavra maldita
Que sufoca cruelmente
O respirar de uma flor.




Desencanto apaga o riso por encanto


Pôe a lágrima no canto


Embarga a voz na garganta


Não canta


Não discute, leva a mala


Deixa a chave da casa ,


Deixa perfume no ar


Irrita quem fica


Faz lembrar

Signos Zodiacais - Sinais para estrelar a vida- Por Stela Siebra Brito


(artigo escrito para a revista eletrônica, de Astrologia, Porto do Céu, em janeiro de 2000)


Chegou o ano 2000 e com ele o alvoroço nos corações e mentes das pessoas. Será este ano igual aos outros? Ou será diferente, por ser o início de um novo milênio? Talvez pela excitação reinante e o grande número de festas, não nos daremos conta que ele será mesmo igual aos outros, se não houver uma disposição interior em cada um de nós para fazê-lo diferente, para compreendê-lo de uma forma nova e única. Temos uma grande oportunidade para entrarmos noutra dimensão, transformando cada coisa menor da nossa vida em algo maior. Pensemos nisso. Pensemos em mudar, em nos libertarmos do medo de sermos nós mesmos. Pensemos em nos libertarmos da solidão e da desintegração cósmica, da nostalgia e saudade de algo mais.

É tempo de perceber a dimensão maior da vida, pois compreendendo a nossa inserção na ordem cósmica e divina, não ficaremos mais presos à nossa auto-imagem, fechados em nós mesmos, solitários, soltos ou distantes, ignorando nosso relacionamento com o Cosmos.

Vamos refletir e, sob um ponto de vista astrológico, mudar nossas vidas. Compreendendo nossa macro-integração, vamos experienciar os princípios de cada signo zodiacal e assim dar um significado real às nossas vidas.

Freqüentemente ficamos na aparência das coisas, na compreensão superficial dos conceitos, sem estudarmos nem aprofundarmos nossos pensamentos e elaborações mentais ou sensíveis. Conformamo-nos com o básico feijão com arroz, que alimenta apenas uma simples curiosidade de saber. Isso é muito comum para quase todos os assuntos, e aqui quero me referir especialmente ao interesse pela Astrologia.

Para nos conhecermos melhor e vivermos em harmonia com os princípios dos signos e planetas, é necessário conhecer nosso mapa de nascimento e seguir as orientações dadas pelo astrólogo.

É preciso compreender o verdadeiro sinal do signo e fazer brilhar seu significado. Quero aqui fazer um chamamento bem ariano, para arregimentarmos forças e empreendermos uma expedição, tal qual fizeram os argonautas em busca do tosão de ouro.

Nós também temos que buscar o ouro da nossa vida. E seja qual for o signo predominante no nosso mapa do céu, tudo começa com Áries, o signo que inaugura e conquista.

Vamos começar uma viagem buscando empreender e/ou intensificar o autêntico significado da Astrologia, num convite a expandir nossa alma na busca da realização pessoal e do crescimento espiritual.
O mapa natal, dividindo o céu em quatro casas angulares, parte do Ascendente e culmina no Meio do Céu, fazendo um percurso que visa reproduzir a ordem celeste na vida humana. E essa ordem celeste nos convida a uma vida de harmonia e realizações. Compreendendo os sinais astrológicos, saímos do egoísmo e da densidade da terra para a leveza integrativa e silenciosa do céu.

O mapa astrológico nos possibilita o equilíbrio entre os mundos físico e espiritual, entre o imanente e o transcendente. Como temos todos os signos no mapa, devemos ficar atentos para os sinais de todos eles e viajar de Áries a Peixes, compreendendo e experienciando seus ensinamentos.

Se queremos fazer nova e diferente a vida, aprendamos a estrelar cada signo do nosso mapa natal. E conseguiremos isso quando sairmos de um modo de vida insignificante para a compreensão dos sinais que podem nos possibilitar um cotidiano de vida mais significativo e, conseqüentemente, mais qualitativo.

Em ÁRIES estrelamos a vida quando, compreendendo os mitos de Crisômmos e dos Argonautas, inauguramos cada dia com agilidade e aventura. Vamos agilizar nossos projetos e arriscar suas realizações, explorando o melhor de nós mesmos para conquistar o melhor lá fora. Desengavetando e empreendendo estes projetos, desencadeamos a conquista do nosso próprio ouro, que é a nossa própria luz. O signo de Áries, impulsivo e do elemento Fogo, nos convida a desencadear novas e ousadas ações.

Já em TOURO, tal qual as princesas da mitologia grega, IO e EUROPA, não podemos nos deter até que atinjamos nosso objetivo. Resistência, persistência e coerência são ferramentas que não podemos dispensar para estrelamos a vida com a porção Touro do nosso mapa. Temos um nível de produção a atingir e devemos empregar todo esforço para consegui-lo. Touro, signo fixo e do elemento Terra, nos convida a uma praticidade nas nossas ações. Todo o entusiasmo acionado por Áries encontra em Touro a forma prática para ser desenvolvido com tenacidade e objetividade.

GÊMEOS – a amizade dos irmãos Castor e Pólux, que repartem alternadamente a imortalidade, é o ponto de partida para dar um significado geminiano às nossas vidas. Desenvolver amizades, trocar informações, aprender e ensinar são atitudes que ativam nosso pedacinho Gêmeos do Mapa do Céu. O que avaliamos como coisas opostas podem na realidade complementar-se. É bom verificar se não estamos olhando apenas para um lado das questões que se nos apresentam. Será que estamos dando um brilho no nosso lado espiritual, ou somente nos ocupamos das questões materiais? Gêmeos vai pedir que cuidemos dos dois lados, pois são pólos opostos que se abraçam.

Para estrelar CÂNCER que tal juntarmos as fotos antigas e recompormos o álbum de fotografias da nossa vida? Que tal cuidarmos de cicatrizar as feridas da alma, curando-nos de um emocionalismo que só nos impede de agarrarmo-nos ao que realmente nos impulsiona para um crescimento? Lendo e estudando o 2o. Trabalho de Hércules, compreenderemos melhor o mito do signo de Câncer. Temos que evocar nossas lembranças mais antigas e, assim como Hércules, que queimou todas as cabeças da Hidra de Lerna, temos que cicatrizar as questões emocionais, para que não fiquem sempre a renascer. Quando não conseguimos resolver bem um problema emocional, tendemos a transferir a carga para os outros. Estrelamos Câncer quando procuramos nossa intimidade, fazendo uma escalada interior, ativando nossa memória mais antiga. Assim, ambientando-nos com o mais íntimo da nossa alma, podemos recompor o quebra-cabeças, juntando os pedacinhos perdidos dos fatos da nossa história pessoal.

Em LEÃO, a alma busca encontrar seu verdadeiro brilho, saindo do egocentrismo exacerbado e devorador para entrar no cerne da luz. O mito nos remete ao 1o. Trabalho de Hércules: o Leão de Neméia. Vamos acender nosso brilho leonino, distanciando-nos do que é exibicionismo e concentrando-nos naquilo que verdadeiramente é valoroso. Não nos deixemos dominar pelas feras internas, mas aprendamos a asfixiá-las, pois assim poderemos triunfar sobre as possíveis monstruosidades do ego. Desta forma entraremos em contato com o que existe de grandioso e majestoso em nossa alma.

VIRGEM – estamos sendo simples, naturais e puros? A simplicidade, a naturalidade e a pureza são princípios que estrelam o signo de Virgem. O mito de Astréia, a virgem que viveu na Terra na Idade de Ouro, quando então a natureza era respeitada na sua sacralidade, convida-nos a uma análise apurada dos nossos atos. É um convite a trabalhar com meticulosidade, fazendo as necessárias faxinas e seleções, pois é preciso separar o joio do trigo. Em Virgem é preciso trabalhar para brilhar e, também, redescobrir e incrementar a relação espiritual com a Natureza, compreendendo que a Terra é generosa em sua abundância e fertilidade.

LIBRA - muitas vezes, impulsionados pelo desejo imediato de fazer as coisas, não ponderamos se aquela ação é realmente viável. Estrelar Libra é ponderar, é pesar e medir. Nada de inquietações ou decisões precipitadas! Temos que buscar o equilíbrio e agirmos de forma justa e social. O mito deste signo é a Balança de Astréia, que ao se retirar do mundo deixou-a com os homens, representando a Lei. A reflexão aqui nos conduz a analisar nossos atos: estamos sendo justos? Estamos lutando para legitimar nossos direitos? Na busca pela justiça não podemos esquecer a imparcialidade e a retidão.

ESCORPIÃO – o mito do Gigante Oríon ajuda-nos a entrar no mistério deste signo: ir além da forma aparente e superficial. Signo de Água, Escorpião suscita-nos um aprofundamento das questões e a viver nossas emoções com muita intensidade. Estrelar Escorpião é eliminar o excesso de emocionalismo, representado pelas paixões, é morrer e renascer cada vez que vivemos situações intensas, é sentir (e não compreender intelectualmente) que existe um mistério e que esse mistério, que faz tudo fluir, é quem indica o caminho do mais além, da verdadeira transformação.

Estrelar SAGITÁRIO é formular metas para nossa vida e, a cada meta atingida, formular outra e sempre mais outra. É um processo de perene elevação ou transcendência para um outro alvo. O mito de Quirão, o centauro sábio, nos ensina que para atingirmos a sabedoria temos que sair do mundo das emoções, passar pelo racional e transcender. O conhecimento permite esta ultrapassagem de “ser animal” para “ser espiritual”.

CAPRICÓRNIO – aqui o objetivo é se instalar, se sedimentar mesmo. Se queremos colher os frutos da abundância e concretizar nossos projetos, temos que ser obstinados e pacientes. Há dois mitos para este signo de elemento Terra: o da cabra Amaltéia e o de Pã, que impulsionam a lição capricorniana de abundância, consistência e totalidade. Estrelar Capricórnio é buscar a integralidade, usando todos os recursos para expulsar as fraquezas e sair do pânico, para nos sentirmos plenos e integrados ao Todo.

Estrelar AQUÁRIO é sair de um quadro de referências essencialmente subjetivo e pessoal, para olhar a vida com uma perspectiva objetiva, social, solidária e ampla. Vamos olhar bem para o futuro, com esperança e, sintonizados com idéias inovadoras, desenvolver uma sociedade mais justa e igualitária. Os ideais aquarianos estimulam consciência e interações sociais. Não podemos ficar de braços cruzados, olhando para nosso próprio umbigo, quando as mudanças e revoluções estão acontecendo. Vamos participar, cooperar e desenvolver nosso espírito de solidariedade. Vamos estrelar Aquário buscando a matriz primordial das coisas. Quando sairmos de um tipo de vida comum – centrados na nossa auto-imagem – para buscar o modelo original, estaremos nos repotencializando, nos libertando e oficializando nosso encontro com o Sagrado. Aí começamos a realizar e estrelar PEIXES.
E a proposta de PEIXES é a Fé.
Unificados pela Fé, deixemo-nos levar pela sensibilidade e, certamente, nossa serenidade e inspiração fluirão. Dessa forma estaremos mais aptos a viver com Amor, Fraternidade, Compaixão e Paz.


Stela Siebra Brito

Foto de Emerson Monteiro


Michel Moore em Cuba - Por Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes



O cineasta norte-americano Michael Moore, diretor de Fahrenheit 9/11 e massacre em columbine, levou alguns americanos a Cuba. O grupo era formado por vítimas do atentado de 11 de setembro (Torres gêmeas) e não tinham recursos para custear tratamentos nem plano de saúde. O polêmico diretor filmou a estadia na ilha caribenha e transformou as cenas no filme Sicko (traduzido como SOS saúde). No site abaixo pode ser visto um trecho do documentário.

http://video.google.com/videoplay?docid=-8478265773449174245&hl=pt-BR

Infância - Por Socorro Moreira



Ela acordou em 1959 aos 7 anos de idade.Morava num sobrado de família bem apanhada. Sabia que não era rica , mas tinha vida de princesa. Vestido de organdi e meias de seda. Tinha bonecas, livros de história, e uma coleção de fitas pro cabelo.Sua mãe era linda e triste. Parecia esconder mágoa ou segredo. Seu pai era boa pinta, gostava de desenhar , e cantava lindamente , no banheiro. Tão criança, e já apaixonada por um primo de 10 anos. Francisco estava por lá de férias, acompanhado pelo pai , irmão da sua avó. Ele jamais saberia ,ninguém jamais saberia , mas seu coração começou a bater mais forte.

A discoteca da casa era diversificada, mas só tinha coisa boa, coisa de muito bom gosto. Naquela manhã de domingo , Doris Day estava na agulha, cantando "que será será' ( Whatever wil be, will be).Tinha lido na Cinelândia, que a música era trilha sonora do filme :" O homem que sabia demais".Filme impróprio para crianças daquela idade, mas a música estava ali , no seu ouvido, entrando livre e maravilhosa !

A casa era enorme, e possuia muitos esconderijos. Sua avó sempre a encontrava . Vinha com um romance pela metade , debaixo do braço, e lhe pedia para ler, em voz alta, mais alguns capítulos - a história do "Moço Loiro"( Joaquim Manoel de Macedo) . O nome do personagem feminino era Honorina , mas ela achava que era "Mirtô" ( "... O ponto culminante, no entanto, situa-se quando, ao beijá-la, o moço rouba .... A fronte não cingi de *mirto e louro. Antes de verde rama engrinaldei-a ...")

- Vó, quando eu me casar, e tiver uma filha mulher, o nome será Mirtô. O que acha ?
- Mirtô é um nome lindo, e raro. Boa escolha !

-Mas existirão condes, herdeiros de castelo, ou posso casar-me com qualquer menino que toque bem acordeon ou realejo? Quero casar-me com alguém que toque todas as canções do mundo; que não precise sair para trabalhar; que fique brincando no jardim de criar rosas, e leve-me para o cinema todas as noites. Não quero perder uma película sequer... Quero assistir a todos os filmes proibidos, e tem mais : quero viajar de avião por todo o mundo, conhecer a Praia de Copacabana, Paris, e a Bahia de São Salvador. Não é lá , que a gente compra cocada , num taboleiro de damas ?Pois eu quero !

E a água de coco ? Papai diz que lá tem praias com muitos coqueiros. Eu quero conhecer a Igreja do Senhor do Bonfim.

Sentiu as mãos da vovó Ana , nos seus cabelos anelados.
- Não vá catar piolho, viu ? Hoje não... Cante uma moda do seu tempo de menina: " perdão Emília... Acho linda !

E a vó , numa voz de rouxinol , cantarola baixinho.
Lá na sala, Doris Day ainda canta. Seu pai deixa que o disco fique arranhado pelas repetições, enquanto traga o seu hollywood, e sorve uma Brahma do Recife, geladinha.

Dormiu. Dormiu no colo da vó, pés esticados numa cadeira.
Acordará entre lençóis quentinhos, provavelmente .

* Pensou, no seu entendimento de criança, que mirto, fosse um nome feminino ( Mirtô, na sua interpretação), uma vez que não conseguiu traduzir a palavra.


Federico García Lorca



Federico García Lorca (Fuente Vaqueros, 5 de junho de 1898 — Granada, 19 de agosto de 1936) foi um poeta e dramaturgo espanhol, e uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola devido ao seus alinhamentos políticos com a República Espanhola e por ser abertamente homossexual

 O POETA PEDE AO SEU AMOR
QUE LHE ESCREVA


Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.


O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.


Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.


Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.


( tradução: William Agel de Melo )

ARACY DE ALMEIDA - por Norma Hauer


Um grande vulto de nossa música popular nasceu a 19 de agosto do ano de 1914: ARACY DE ALMEIDA, conhecida como a maior intérprete de Noel Rosa, com quem conviveu muito, freqüentando as tabernas da Glória e da Lapa.

Foi na antiga Rádio Educadora do Brasil, onde Aracy deu seus primeiros passos como cantora popular, depois de cantar em igrejas evangélicas, que ela conheceu Noel, travando com ele uma forte amizade até que ele partisse aos 26 anos, em maio de 1937.

Sua primeira gravação foi na Colúmbia, com o samba "Em Plena Folia", mas foi quando gravou, de Noel e Hervê Cordovil, o samba "Triste Cuíca" que seu nome apareceu entre as cantoras de sua época. Ainda em vida de Noel, gravou "Cansei de Pedir";"Amor de Parceria";"Palpite Infeliz";"O X do Problema"; Eu Sei Sofrer": e "Último Desejo". Já em 1938, depois de Noel morto, gravou "Século do Progresso"; "Feitiço da Vila";"João Ninguém" e "Filosofia".

Mais tarde, no fim dos anos 40, lançou 2 álbuns com 10 discos de 78 rotações somente com músicas de Noel.

Depois de Noel, foi Haroldo Lobo, em dupla com Milton de Oliveira quem mais deu músicas para Aracy, como "O Passarinho do Relógio";"Passo do Canguru", "Miau Miau"...

Aracy, quando ingressou na Rádio Mayrink Veiga, já com César Ladeira na direção artística da emissora; foi denominada por ele como "O Samba em Pessoa". De fato, foi a maior intérprtete de sambas no tempo áureo do rádio. Apesar disso, gravou uma canção "Mamãe Baiana" e um samba-canção bem triste "Pedro Viola".

Em sua comunidade já tive ocasião de citar um fato reverente que aconteceu com ela e o compositor Pedro Caetano (que conta este caso em seu livro "50 Anos de Música Popular".

Aracy, como muitos sabem e gostam de comentar tinha uns ares meio masculinos por ter sido a única filha mulher entre cinco irmãos homens. Embora nunca tivesse se casado teve um caso amoroso (e rumoroso) com um goleiro do Vasco da Gama, conhecido como Rei.

Tivera uma forte briga com ele, caso que repercutiu nos jornais da época .

Pedro Caetano e Claudionor Cruz compuseram um samba de nome Engomadinho"

e levaram para Aracy gravar. Compareceram à gravadora e ela ainda não conhecia o samba, mas acreditava nos autores. No momento da gravação, lendo a letra do samba, disse "isso não gravo", exatamente na parte em que dizia "Rei do meu amor". Todos espantados perguntaram "por que?" Resposta: "Não quero dar cartaz àquele pilantra. Ou muda agora, ou..até amanhã. E ameaçou sair da gravadora.

-"Mas Aracy, disseram, não tem nada uma coisa com outra. Rei dos seresteiros nunca foi rei de futebol."

Aracy; não adianta, não vou dizer "rei do meu amor de modo nenhum"!

Foi difícil, mas Pedro Caetano mudou o último verso da última estrofe, que dizia:"Rei dos seresteiros, rei do meu amor", para "deste seresteiro, que é o meu amor. Aí ela gravou.

Aracy tinha uma forte personalidade, os compositores cederam e o samba tornou-se um grande sucesso.

Em 1950, Aracy foi "de armas e bagagens" para São Paulo; ali apresentou-se em alguns programas de TV, como "Programa do Bolinha";"Buzina do Chacrinha"; "Almoçando com as Estrelas", de Aerton Perlingeiro" e alguns outros, mas ficou famosa como a jurada "rabugenta" dos calouros de Sílvio Santos. Dava sempre notas baixas aos "coitados" dos calouros. Mas essa era sua personalidade.

Aracy regressou ao Rio de Janeiro, já doente, ficando dois meses em coma, falecendo em 26 de junho de 1974, em uma casa de saúde na Tijuca, sendo sepultada no Cemitério Jardim da Saudade

FRANCISCO ALVES - por Norma Hauer


Foi aqui no Rio, no Largo da Prainha, ali entre a Praça Mauá e o bairro da Saúde, que FRANCISCO ALVES nasceu em 19 de agosto de 1898. Francisco Alves foi um dos primeiros cantores a conhecer sucessos, antes mesmo da criação do rádio no Brasil.

Começou cantando em circos e teatros de revista, em 1918. Já em 1920 , em uma gravadora nova, artesanal, de nome POPULAR, de João Gonzaga, companheiro de Chiquinha fez sua primeira gravação com "Pé de Anjo", uma sátira de J.B.da Silva (Sinhô) ao grupo "Oito Batutas", de Pixinguinha.

"O Pé de Anjo" foi uma revista musical que estreou no Teatro São José e só depois a música-título recebeu uma gravação sendo o lançamento de Francisco Alves em disco.
Na outra face desse primeiro disco foi gravada "Fala, Meu Louro", também de Sinhô.

Nessa gravadora só lançou dois discos, passando depois para a Odeon, onde ainda se gravava mecanicamente e só quem possuía grande voz tinha condições de fazê-lo, como Chico Alves e Vicente Celestino.
A Odeon tinha um subsidiária de nome "Odeonete", onde Chico Alves gravou , ainda na fase mecânica.
Foi em 1927, novamente na Odeon, que Chico Alves gravou o primeiro disco, em gravação elétrica no Brasil . As músicas foram "Albertina" e "Passarinho do Má".
Francisco Alves e outros que estavam começando no final dos anos 20, ainda não acreditavam no rádio (inaugurado em 1923) que de acordo com a lei de então só podiam executar músicas clássicas, seguindo o "slogan" de Roquette Pinto "pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil" .

Achavam que música popular não era cultura.

Somente em 1929 Chico Alves começou sua carreira no rádio, mas foi um dos primeiros contratados da Rádio Mayrink Veiga, em 1933, quando passou a ser o "Rei da Voz", cognome dado por Cesar Ladeira.
Nessa época, já gravara mais de 100 discos e, embora falecido em 1952, foi o cantor que mais gravou em 78 rotações (500 discos) perto de 1000 músicas.

Francisco Alves inaugurou, em 25 de setembro de 1935, a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, onde não ficou muito tempo.

Pouco após a inauguração da Rádio Nacional, em setembro de 1936, Francsico Alves transferiu-se para lá, fazendo parte de seu elenco até seu falecimento, em 27 de setembro de 1952, em um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra, quando regressava de um programa em São Paulo.
Seus programas na Nacional eram ao meio-dia de domingos, quando quase todos os receptores de rádio estavam sintonizados nos então 980 khz do prefixo PRE-8 Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
A locutora Lúcia Helena abria seus programas com a frase"ao juntarem-se os ponteiros na metade do dia, ao soar o relógio dando as doze badaladas, os ouvintes da Rádio Nacional também se encontram com Francisco Alves-o Rei da Voz".

Daí ele abria com: "na carícia de um beijo, que ficou no desejo, boa noite, meu grande amor", início da valsa de José Maria de Abreu e Francisco Matoso, "Boa-Noite amor".

Haveria muito a falar de Francisco Alves, afinal ele foi a mola-mestre que deu origem a tudo que veio depois dele no rádio, na música, no carnaval (grandes sucessos)..."com pandeiro ou sem pandeiro, ê,ê,ê, eu brinco;com dinheiro ou sem dinheiro,ê,ê,ê eu brinco..."

Alguns cantores também foram "descobertos" por ele, como Orlando Silva, João Dias... deu grande força a Carmen Miranda, no início de sua carreira, a Mário Reis, com quem gravou uma série de músicas.
O próprio Orestes Barbosa, jornalista e poeta, apareceu no meio musical quando Francisco Alves musicou-lhes seus poemas, sendo que o primeiro foi "A Mulher que Ficou na Taça"... Carlos Galhardo quando resolveu tentar o rádio, foi de Francisco Alves que se aproximou
Tendo falecido em 1952, quando a televisão ainda "engatinhava", não teve chance de fazer parte de sua programação. Em 1976 a TV Globo tinha um programa de nome "Sexta-Feira Súper" e ali foi feita uma homenagem especial a Francisco Alves.

Quatro cantores de seu tempo, fizeram depoimentos sobre ele e, em quarteto, cantaram "A Voz do Violão", algo inédito e único. Gravei essa apresentação ( em áudio, apenas) e tenho as vozes de Orlando Silva, Gilberto Alves,
Sílvio Caldas e CARLOS GALHARDO interpretando "A Voz do Violão".

"Eu tenho um companheiro inseparável
Na voz do meu plangente violão."

Manhã de 2ª feira, 29 de setembro de 1952...Um grande féretro, o primeiro em que se usou um carro do Corpo de Bombeiros, atravessa as ruas do Rio de Janeiro, da Cinelândia (Câmara Municipal) onde o que restou de seu corpo foi velado (havia morrido queimado) até o Cemitério São João Batista acompanhado de uma multidão a pé cantando...

"Adeus, adeus, adeus...
Cinco letras que choram
Num prelúdio de dor.
Adeus, adeus, adeus,
É como o fim de uma estrada
Cortando a encruzilhada.
Ponto final de um romance de amor.

Quem parte, tem os olhos rasos dágua
Ao sentir a grande mágoa
Por se despedir de alguém.
Quem fica, também fica chorando
Com o coração penando
Querendo partir também

Foi no enterro de Francisco Alves que, pela primeira vez, a Câmara Municipal abriu seu salão para o velório de um cantor e foi também, o primeiro féretro realizado em um carro do Corpo dos Bombeiros, seguido com o povo a pé, até o Cemitério de São João Batista, em Botafogo.

Norma

As tias high-tech emburrecendo com a televisão - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Minhas tias Rosa, Maria e Raimunda estiveram, neste amanhecer, envolvidas numa quente discussão. Tudo por causa de uma notícia nos jornais on-line da internet. A “chamada da matéria” dizia: A televisão me deixou burro demais.

- Eita, que sujeito mais fraco, até a televisão é capaz de deixá-lo fraco das idéias! – Abriu o verbo minha tia Maria, mas Rosa, após ajustar os óculos e correr os olhos no corpo da matéria, logo questionou:

- Menina, num é o sujeito que é fraco. A televisão é que um veneno para a inteligência. Raimunda que aproveitava o diálogo das irmãs para avançar na leitura deu veredicto:

- É pesquisa, viu. Tudo foi pesquisa. Tá provado, comprovado e aprovado: “Assistir à televisão emburrece as crianças”. Eu bem digo que é melhor contar estrelas do que ficar vendo novela. Vocês não despregam os olhos da televisão na hora da novela. Quando é noticiário, todo mundo quer, até futebol já estão assistindo e agora deram para se viciar em filme. Vão ficar igualzinho a estas crianças do Canadá: piores em matemática, comendo junk food (pronunciada como junque fó odi) e sofrendo mais bullying (pronúncia do perfeito inglês dos sertões, não sem gaguejar na leitura: bu li li ingue). Raimunda terminou sua linha argumentativa e Rosa rebateu:

- Ora! Se eu ficar burra nas aritméticas eu tenho os dedos prá contar e estas comidas e sofrimento eu nem sei o que é. Tu sabes me esclarecer? Raimunda, embora tivesse ousado pronunciar as palavras estrangeiras, não tinha a menor idéia do que se tratava. Então, abriu os olhos e fez um belo discurso nacionalista como fuga do núcleo explicativo:

- É um absurdo. Falta de Governo. De vergonha na cara. A culpa, também, é deste povo besta que nem sabe defender o próprio valor. Nossa língua é mais completa e inteligente do que o tal do Inglês, mas estes abestados não sabem dizer nada que não seja falando estas palavras de abestado. Onde já se viu menina! Ninguém sabe nem explicar o que escreve. É tudo macaco de imitação, papagaio da língua solta, espelho que não tem ciência da imagem que reflete. – Raimunda salvou de explicar o que era Junk Food e Bullying a Rosa, pois Maria adiantou a conversa com outro trecho da matéria:

- Olhem aí! Viram! – as outras irmãs, ajustando mais ainda os óculos, aproximaram o rosto do monitor, enquanto Maria traduzia – Os americanos, franceses e australianos já nem querem que as crianças menores assistam à televisão. Até para crianças maiores querem limitar o tempo. Mas Rosa, na eterna dúvida, demonstrando que não ver televisão tanto assim:

- Mas e o que causa o problema? É a luz do aparelho da televisão, as imagens ou as besteiras dos programas que botam as crianças para assistir? Raimunda e Maria trocaram breve olhar e continuaram a leitura para ver se havia uma explicação para a dúvida da irmã, até que Maria falou:

- É a perda de tempo e aquisição de hábitos ruins. Se perde tempo, é porque fora da televisão teriam mais proveito. Se pegam coisa ruim, é porque os programas são ruins mesmo. Mas aí Raimunda rebate:

- Mas a burrice fica para toda a vida! – Rosa foi ao final e concluiu:

- O problema é dos programas e do aparelho da televisão com esta correria das imagens de um lado para outro, com som nas alturas, cores fortes e muito piscar de luz. Pronto, era o que Raimunda queria como lição do dia:

- Viram como é melhor a gente ficar juntas na internet. Nós temos tempo de discutir, conversar e não ficar de olho aboticado nesta tela.

A ROSA ESSENCIAL













A ROSA ESSENCIAL

A rosa domina o mundo.
As suas pétalas são de fogo e queimam
os meus olhos.
Paira entre a luz do azul e o verde
das folhas.

Vontade de comer a rosa.
Que as suas pétalas cresçam dentro do meu corpo.
Estou fora do tempo e levito
sobre o abismo.
Ah, aprisionar o tempo numa garrafa
e jogar a garrafa nas ondas revoltas
do mar.
Este é o tempo de amar, com urgência,
mas o tempo não existe.

Chega um cavalo e pasta a rosa,
mas a rosa não se consome jamais.
A rosa é eterna.

Chega a tartaruga
e leva a rosa no casco, como num trono.
A tartaruga sabe que o tempo não existe.

Deus paira sobre as águas, sobre
as espumas brancas, dançarinas, femininas.

Os pássaros chegam para o espetáculo
e me levam para o despenhadeiro
das águas da beleza, das águas com a dor
nos lábios, na ponta da língua.

Os pássaros me levam para junto de Deus.

A rosa domina o mundo.
A rosa em fogo.
A rosa que existiu antes do tempo.
A rosa que eliminou o tempo.