por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A poesia de José Augusto Siebra















Ouvindo estrelas

Noite. O firmamento
Está de estrelas salpicado.
A lua brinca entre elas
Qual um ente enamorado.

Como é lindo à meia-noite
Conversar com as estrelas,
Fitá-las no firmamento
Amá-las, ouvir e vê-las.

Gosto de amar as estrelas,
Elas namoram comigo,
Escuto o que me dizem,
Quanto segredo não digo!

Como é bom ouvir estrelas
Quando a noite está quieta.
Mas as estrelas só amam
Só conversam com poeta.

Foi do seio das estrelas
Que nasceu a poesia
Regada por uma lágrima
De um soluço de Maria.

Quando à noite estou dormindo
Ouço alguém a me chamar
São estrelas que me chamam
Pois me querem namorar.

Levanto-me, abro a porta,
Saio quase na carreira
Passo logo a ouvi-las
Nos amamos a noite inteira.

Quando a noite vai morrendo
Que no céu desponta a aurora
As estrelas se despedem
Num soluço e vão embora.

Passo, pois, o dia triste
Sinto medo de perdê-las
Peço a Deus que a noite venha
Pois desejo ouvir e vê-las.

"Moonlight Serenade " - Uma Música Inesquecível

Uma música maravilhosa, num arranjo maravilhoso da ínesquecível e maravilhosa orquestra de Glenn Miller.


ABOBRINHAS ROMANCEADAS NO AZUL SONHADO - Ulisses Germano

 
Outro dia lá em casa
Esperando o sol baixar
Vi que o tempo não atrasa
Nem se ocupa em adiantar
Pra que pressa e ligeireza
Ninguém mede com presteza
A hora do amor chegar

Sei que estou romanceando
Delirando em minha seita
Mas continuarei falando
Da mesma doce receita
Ja que o único remédio
Pra curar a dor do tédio
Vem do amor que a gente aceita

Observe por favor
Cada passo do pensar
Quando a gente está um horror
É porque parou de amar
Então tudo fica feio
E a vida cai no enleio
Difícil de desatar
U.G.

Dedicado a todos os leitores do Azul Sonhado 
"I know not what tomorrow wil bring"
Fernando Pessoa

Vamos comemorar o Azul Sonhado - Por Heládio teles Duarte

Águas no sonho !

Equilíbrio ecológico - EmersonMonteiro

Durante bom tempo me imaginei conhecendo a Floresta Amazônia, o que povoava os meus sonhos brasileiros desde que me entendo de gente, do início dos primeiros estudos, digamos assim. Lá um dia, há pouco mais de cinco anos, veio essa oportunidade. De malas e cuias, segui ao lado de alguns companheiros de pesquisa, rumo à hiléia brasileira, percurso de dois dias, com intervalo para dormir já em Araguaína, no estado de Tocantins, após cruzarmos o Piauí e o Maranhão. Na bela cidade maranhense de Carolina, dos tempos do Império, atravessáramos as águas caudalosas do Rio Tocantins, largo e volumoso, o mais largo dos até agora que conheço.
No dia seguinte, logo cedo, passado o Araguaia, chegamos às terras do Pará, estabelecendo-nos em uma fazenda às margens do rio por dez longos dias, para conhecer o ecossistema amazônico, orgulho da raça, com isso presenciando diversos momentos da floresta e da ação do homem no que respeita à sua devastação.
Vimos de perto a agressão indiscriminada que caracteriza o sistema de posse do modelo desenvolvido para estabelecimento da criação extensiva do gado bovino. Movidos no afã de tornar produtiva a área, visando o criatório da raça nelore, centenas e centenas de estabelecimentos em dimensões a perder de vista, empresários do País inteiro, fixam bases em regiões planas e chuvosas, eliminando a constituição florestal primitiva através da força de tratores e queimadas, no sentido de plantar capim e construir currais. Vastidões lunares do reino vegetal somem em pouco tempo, deixando espaço aos tapetes de pastos, administradas pelos peões vindos de fora. Nisso trabalham sob os olhos oficiais das normas, assistidos de órgãos competentes do País. Produzem a carne que alimentarão largas faixas de consumidores do mundo inteiro, a peso de ouro. São manadas e manadas de reses criadas em trechos próprios para manejos, a remoer silenciosas das pastagens em uso.
Vimos de um tudo no que tange aos estragos impostos ao patrimônio das matas nativas. Tiradas as árvores maiores, madeira de lei e custo inestimável em termos da natureza primária dos séculos que lhes deu vida, o que resta em pouco tempo calcina mediante a ação do fogo, revirado a correntes vigorosas arrastadas por tratores descomunais. O quadro corta corações. Onde antes só havia o verde frondoso do mistério milenar e escuro, altivo caules esfacelados dão conta de troncos enegrecidos, parecidos aos vestígios das lindas bocas tornadas em dentes cariados e feios, eliminados ao furor das chamas. Aconselho não aos que nunca visitaram o paraíso amazônico a conhecê-lo nesses pontos entristecidos pela façanha dos matadores de floresta.
Idênticas práticas avistamos, também, no Tocantins e no Maranhão, estados vocacionados à implantação das fazendas de soja, moda e febre continuada que sacode os planaltos do Norte por meio da agroindústria e maravilha os resultados positivos das balanças do Brasil no exterior.
Quando ouço, pois, as declarações anuais dos funcionários de governo que contiveram a devastação amazônica em tanto e tanto por cento, desconsolado sacudo a cabeça por saber de perto que o gigante é maior muitas vezes do que contavam as distantes lendas trazidas no vento.

Uma dor do tamanho da Piriquara - José do Vale Pinheiro Feitosa



Um dos espaços mais belos do litoral noroeste do Ceará é aquele da Planície que forma a Ponta da Piriquara. Um corpo alongado, raso, em que se tornam mais formosas as Dunas brancas e os coqueirais adensando como matas primitivas.

Na planície pastam vacas e os jumentos em bandos que não retornaram ao estado selvagem, mas donos já não existem a reclamar-lhes trabalho. Anus brancos e pretos, carcarás, bem-te-vis, algum gavião e urubus planando.

Um vento planetário sem igual acelera o formato plano da região. Alguns reservatórios de águas das chuvas entremeados no relevo através da cianinha de touceiras de guajiru, muricis, cajus e coqueiros.
Na Piriquara a juventude despreocupada, da Europa e outros continentes, escolheu para aproveitamento veloz dos ventos em prática de Kite Surf. Ali as ondas podem formar tubos, não como o Havai, mas tubos do mesmo modo.

Uma noite de lua cheia na vastidão e solidão da Piriquara é o último refúgio do mundo tal qual ele inventou este que aqui digita. As luas cheias nascem mais anchas e sua circunavegação tem um hemisfério de mais brilho que ilumina o alvo da existência.

A silhueta do mundo da Piriquara no plenilúnio é como uma imanescência de um mistério além dos conceitos utilitaristas com os quais identificamos as coisas. Identificamos o coqueiro pela água e a polpa, o murici com o picolé e o jumento mesmo quando uma carga de simbolismo cristão.

Luminescência que diz eternidade quando o cotidiano apenas soletra mortalidade. A Piriquara com o sol mesmo que estourando as cores e a luz ainda revela um momento que traduz a realidade muito além deste pragmatismo pequeno burguês que teima com despensa entulhada.

Se poeta fosse cantaria laudas infandas à Piriquara. Faria Confissões como um Agostinho, em busca da unidade que contém tudo que existe entre os céus e o mundo e mesmo além destes mesmos. A unidade que compreende o conteúdo universal e que vai muito além do incompreensível e escapa de qualquer tentativa de dar-lhe um continente limitante.

Pois acordei. O Governador Cid Gomes assinou um decreto para total transformação da Piriquara: um conjunto de prédios para 2014 abrigar a Copa do Mundo, estruturas para treinamento da seleção Espanhola, campos de futebol, escolinhas de futebol e depois dois hotéis, um conjunto de edifícios residenciais, shoppings, campos de golfe. Uma nova cidade no artifício do estilo ocidental.

Meu coração sangra por uma dor em vão. Que parece dor de alguém abastado, dado e posto que ama esta planície como intocada do velho estilo de viver. Uma dor que esperava este parto arrasador, o resultado desta prenhez de um monstro chamado progresso.

Uma dor solitária. Isolada, mágoa intensa, mas sem par. Pronta apenas para manter o monocórdio tom de cantochão de uma missa de sétimo dia. O corpo da resistência já foi enterrado. Na parede de um açougue de Paracuru existe um cartaz com um salmo que pede diariamente por mais empresas, pois empregos faltam. Faltam empregos que vindos darão rendas aos que estão e atrairão milhares que igualmente desempregados ficarão.

Xico Sá- Por Gustavo Ranieri






Não há tema que não faça parte das crônicas de costume de Xico Sá: desde a nova moda de esmaltes coloridos Kama Sutra, passando pelo golpe ‘Boa-noite Cinderela’, até o efeito que uma derrota do Corinthians para o São Paulo tem na vida de um casal na segunda-feira. Bastou ter uma pitada, ainda que escondida, de curiosidade, para Xico destilar de seus dedos no teclado o aprofundamento da história. “Adoro misturar a alta cultura com o mundo brega. Sou seduzido por essa coisa de embaralhar dizeres de para-choque de caminhão com filosofia alemã.”

Filho de um pequeno agricultor e de uma dona de casa, Francisco Reginaldo de Sá Menezes, o Xico, nasceu no árido Crato, microrregião do Cariri, no Ceará, em 6 de outubro de 1973. Mas foi no Recife, onde morou dos 16 aos 28 anos – antes de fixar residência em São Paulo –, que vislumbrou as peças do quebra-cabeça de seu futuro: boêmia, literatura e jornalismo.

Nas mesas de botequim, ele logo ficou conhecido pela graça e habilidade ao falar sobre o amor – sim, o amor! –, assunto que permeia boa parte de sua carreira literária, marcada por 20 títulos publicados, entre individuais e coautorias. Destaque para os mais recentes Modos de macho e modinhas de fêmea e Chabadabadá. “Hoje em dia, me pedem muito conselho amoroso. E costumo acertar bastante as previsões, porque me baseio na minha própria canalhice”, brinca.

Nesta entrevista, realizada em um bar da Vila Madalena, em São Paulo, onde o autor costuma se reunir com outros escritores e boêmios inveterados nas noites de sexta, ele fala sobre sua trajetória de vida, carreira jornalística, literatura e, claro, sobre o amor – “flor da obsessão máxima”, como costuma dizer.


Como era o menino Xico Sá?
No Crato, microrregião do Cariri, você já dava sinais de ser o futuro jornalista e escritor? 

Para você ter uma ideia, me criei em um sítio chamado Sítio das Cobras, que fica no município de Santana de Cariri. Lá, fui conhecer TV já perto dos 10 anos. Agora, se a gente for falar de comunicação, eu tinha uma relação muito grande com rádio. E nessa época também peguei gosto muito grande pela leitura. Tive um professor, o Geraldo, que me apresentou Vidas secas, de Graciliano Ramos. Embora hoje goste mais de Angústia, também dele, foi o Vidas secas que me pegou para ser um leitor..

Quais as imagens mais marcantes da sua infância? 

As caçadas me marcaram muito. As brincadeiras eram muito ligadas ao caçar. E lembro que ia com meu pai e ficava a noite toda no mato, com cachorro e uma lanterna, atrás de tatus.

E você trabalhava na roça também?

Sim, claro. Era a brincadeira misturada com a roça, porque a gente tinha que trabalhar desde muito cedo. Cabia-me a função de espantar pássaros das plantações de arroz. Mas isso foi até os meus 10 anos. Aos 11, fui com minha mãe e meus irmãos morar em Juazeiro. Lá eu estudava e vendia passarinhos na frente do cinema.

Como assim?

Eu era um passarinheiro sem fim. Ia pro sítio e trazia gaiolas imensas de pintassilgos e galos-de-campina. E, como era viciado em quadrinhos, fazia uns escambos loucos com os passarinhos.

Nessa época, você já gostava de escrever? 

Comecei a escrever mais aos 15 anos, principalmente poesias, influenciadas pelos repentistas, mas o gosto ficou forte quando cheguei ao Recife, por volta dos 16 anos, e fui morar sozinho em uma pensão. Foi lá que conheci muitos poetas, porque são mais de 200 por metro quadrado. Estava em um lugar onde o nego estava tomando cerveja e discutindo com o livro na mão. Nesse entorno, se reuniam todos os intelectuais, putas e ladrões. Era uma efervescência e tanto.

E como você ganhava dinheiro para sobreviver? 

? Fui trabalhar na Mesbla [extinta loja de departamentos]. Datilografava a ficha do crediário e ligava para o serviço de aprovação de crédito. Mas trabalhei também em uma ótica e ainda como auxiliar de trânsito, orientando as velhinhas. Quando entrei na Universidade Federal de Pernambuco, virei bolsista da biblioteca e depois estagiário do jornal universitário. Em seguida, fui para a livraria Livro Sete [onde hoje é a Livraria Cultura Paço Alfândega, no Recife], como vendedor.

E as mulheres, quando elas entraram na pauta diária da sua vida? 

Mulher foi muito tardio, por isso se tornou a flor da obsessão máxima. Até a época de Juazeiro, eu não tinha noção do que era.

Contudo, no livro Modos de macho e modinhas de fêmea, você relata o “sexo rural”... Sim, era uma coisa de transar com as cabritas. Mas eu era careta no mundo rural, porque pegava cabrita por ser mais fácil (risos). Além do mais, a cabrita é mais terna, tinha um olhinho de Sophia Loren.

Mas fazia sexo com a cabra todos os dias? 

Era circunstancial, quando dava vontade. Claro que você já tem a sua preferida, a namoradinha (risos). Mas, como disse, ficava mais na maciez ali da cabra, enquanto meus primos se lambuzavam na pocilga, com jumenta, vaca. Era um épico, porque transar com uma vaca exige um trabalho de Hércules (risos).

Namorar mesmo aconteceu então com quantos anos? 

A primeira namorada foi no Recife. A virgindade com afeto só perdi aos 18 anos.

Você é famoso por escrever muito sobre o amor. Desde quando esta temática é constante? 

Em Juazeiro, na época em que comecei a fazer poesia, tinha um vizinho que era locutor de rádio e fazia um programa chamado ‘Temas de Amor’. Era meio um consultório sentimental. E ele me chamou para escrever pequenos textos de conforto para a mulher que mandava sua história. Daí, lia no ar a carta e logo em seguida mandava o som de um Waldick Soriano ou Altemar Dutra.

Mas hoje, depois de tantos textos, o que é o amor? 

Não tenho a menor ideia ainda (risos), mas tenho algumas pistas. Acho que o amor é um puta encontro entre duas pessoas e o mais importante é não pensar mais na eternidade da relação. Quando você mata a eternidade, você ama de forma mais honesta e muito mais comovida, sem se assustar com o inevitável fim das coisas.

Assim sendo, podemos dizer que você é um eterno apaixonado? 

Minha paixão acontece a cada 15 minutos e tem noite que vai abaixando a cota e, então me apaixono a cada 5 minutos. Para você ter uma ideia, já morei junto cinco vezes e tive relacionamentos que duraram sempre acima de três anos. Acho que a verdadeira sacanagem de uma boa relação está numa história mais longa, para existir o erotismo de fato.

E ter sido casado tantas vezes te dá uma bagagem que possibilita não cometer mais alguns erros no relacionamento, não? 

O ruim para a mulher é que o homem sempre vai ser melhor para a próxima, infinitamente melhor. Já com as mulheres não acho que isso acontece, porque elas são um negócio maluco, um “claricismo lispectorismo” absurdo. Todas são meio indecifráveis e sensacionais ao mesmo tempo. Mas a gente melhora. Eu melhorei em tudo a cada gestão (risos).

Você é colunista da Folha de S. Paulo, comentarista de esportes no programa Cartão Verde da TV Cultura e suas crônicas ainda podem ser lidas em diversos jornais. Como foi sua trajetória jornalística? 
Comecei no Recife no Tabloide Esportivo. Depois, cobri esportes e fiz caderno de polícia no Jornal do Commercio. Fiz frilas para O Estado de S. Paulo e entrei na Veja do Nordeste. Dela fui levado pelo meu chefe para a sucursal de Brasília. E da Veja fui para a Folha de S. Paulo, veículo para o qual cobri grandes escândalos políticos nos anos 1990.

Aliás, você ficou conhecido com as reportagens sobre PC Farias, o pivô do escândalo de corrupção que derrubou Fernando Collor da Presidência. 
Acompanhei todos os passos do PC desde que ele se tornou o grande inimigo público. E consegui me dar bem, porque durante muito tempo ele só dava entrevistas para mim. Acredito muito que devido a essa coisa de a Folha ter um contraponto, de querer ouvir o outro lado. Cheguei até a ir à Tailândia quando ele foi preso. Uma das imagens mais marcantes da minha vida é o subsolo da polícia de imigração tailandesa em Bangcoc. O cara que era tido como o mais rico do Brasil estava ali, num lugar de ratazanas, algo medieval. E foi essa relação até a sua morte.

Você, no entanto, contou que se sentia angustiado como um jornalista “sério”. 
Queria ser escritor; por isso, vivi um grande conflito, uma angústia de estar longe do meu caminho. Mas daí, em 1997, a Suzana Singer e o Marcos Augusto Gonçalves, como sabiam que eu falava muito sobre temas amorosos nas conversas de bar, me chamaram para escrever na Revista da Folha uma ‘Coluna Macho’. Era para ser o contraponto da já existente ‘Coluna GLS’. E então, eu, que escrevia sobre escândalos, corrupção e tinha ganhado até o Prêmio Esso de Jornalismo, só precisei escrever uma coluna de 1.500 caracteres para a recepção do público ser imensa. No outro dia, chegavam cartas na redação e as pessoas me paravam na rua. Mas continuei no jornalismo burocrático um total de 11 anos, de 1990 a 2001. No paralelo, fazia a coluna. Era um grande alívio, pois via que ela me daria um novo mundo.

Aliás, em suas colunas, além de mulher e futebol, você também vira e mexe fala da feiura. Ser “feio” é um complexo ou já foi? 

Hoje, tenho minha escrita para me defender, minha aparição publica. Mas quando você é um moleque do Cariri feio e vai na festa da padroeira e nenhuma mulher olha para ti, não posso negar que é uma experiência que fica para o resto da vida.

Tem uma crônica na qual você se baseia em um estudo publicado no Daily Mail, da Inglaterra, para concluir que as mulheres casadas com homens feios são mais felizes. O que os feios têm a oferecer a mais? É a sua chance de fazer uma boa propaganda? 

É autopropaganda, mas os feios têm mais a oferecer mesmo (risos). Eles têm mais esforço, mais devoção. Eles não têm a arrogância e a prepotência do galã. Até durante a conquista, comparando com o boxe, o feio ganha por pontos, enquanto o galã vence pelo nocaute. O feio se esforça mais para manter o casamento, para manter a história. E o mais maluco é que descobri cedo que as mulheres topam qualquer história amorosa se gostarem de ti.

Mas suas namoradas são sempre bonitas? 

No começo, quando comecei a namorar umas mulheres muito bonitas, achava que era uma pegadinha de Deus. Eu olhava procurando as câmeras escondidas (risos). E dizia pra mim mesmo: “Não, não tá certo isso para a natureza. Não tá certo... essa diferença de beleza” (risos). Mas todas com quem casei são lindas.

O que hoje te dá mais dinheiro? 

Cara, Finalmente comecei a ganhar algo mais substancial. Dá para mensurar quanto o livro vende. Claro, tudo isso para o nosso universo. Avise o vosso público que, para nós, qualquer R$ 1.500 é dinheiro. Mas, hoje, o que me banca é a crônica. Depois do livro Modos de macho e modinhas de fêmea, inventei uma coluna que é vendida para uma agência. Esta, por sua vez, revende para publicações de todo o país. Também ganho dinheiro com palestras, porque a minha aparição na TV ajuda muito para aumentar o cachê.

Além dos livros já citados, você publicou um total de dez, como Tripa de cadela & outras fábulas bêbadas e Catecismo de devoções, intimidades & pornografias. O que vem pela frente em breve? 
Além de três livros que estão fora da lista porque são meio amadores, artesanais. Já sobre novos projetos, vou encerrar uma trilogia involuntária que começou com o Modos de macho e modinhas de fêmea, na sequência veio o Chabadabadá e agora deve sair o último, em julho, pela Editora Record. Tem também o romance Big Jato e Ninguém morre de amor nos trópicos, este último com narrativas mais sujas, um lado B meu mais literário.

O que você está lendo atualmente? 

Acabei de reler O homem que foi quinta-feira, de G. K. Chesterton. E tem um livro que é a minha bíblia, Folhas de relva, de Walt Whitman. É o livro mais sábio da existência. Quando você abrir, no dia que for, onde você estiver, vai ser tocado por ele.

E o que você está ouvindo de boa música? 

Bom, tenho sempre essa antena muito ligada para o que se produz lá no Nordeste. Eu posso citar o Cidadão Instigado, Nação Zumbi, além de Otto e Mundo Livre S/A. E aqui em São Paulo tem umas coisas muito boas, como Romulo Fróes. Outra paixão minha é o Wander Wildner.

Para encerrar, qual é a melhor definição de Xico Sá? 
Digamos: “O homem, o mito e a fraude”. Não me levo a sério nunca (risos).

*Revista da Cultura

A dor - Aloísio / Socorro Moreira

A dor se mostra
Com um tom sombrio
Pensamento distante
E um olhar vazio
Aloísio


Depois que passa
É uma negativa
Nunca revelada...
"A dor da gente não sai no jornal..."(1)

Socorro Moreira

(1) Notícia de Jornal (Luis Reis / Haroldo Barbosa)

Dica de cinema : O Cisne Negro

Eles partiram quase na mesma data ...- por Norma Hauer


Os anos foram diferentes, mas dois músicos que gravaram juntos, se apresentavam juntos, fizeram arranjos juntos, partiram quase na mesma data, embora em anos diferentes : BENEDITO LACERDA e PIXINGUINHA.

Benedito Lacerda faleceu em 16 de fevereiro de 1958 aos 55 anos e Pixinguinha no dia 17 de fevereiro de 1973, em pleno carnaval, aos 75 anos. Ambos, além de músicos, foram compositores de renome.

De Pixinguinha, citando “Carinhoso” já se tem uma demonstração de seu talento; “Rosa”, então nem se fala: é uma das mais bonitas canções de nosso cancioneiro. Além, disso, tivemos “Lamento”, “Naquele Tempo”; “Mais Três Dias”; “Volta para Casa”..., estes gravados com o conjunto que ele formou com Benedito Lacerda, ele no saxofone e Benedito na flauta.
Suas primeiras gravações, em 1918, foram “Rosa” e “Sofres, Porque Queres” .
Com o nome de “Oito Batutas” formou um grupo que se apresentou na Europa logo depois da 1ª guerra, sendo o primeiro grupo de brasileiros a visitar aquele continente. Ali, dentre outros “choros” ( sua especialidade) lançou “Carinhoso”.

Em 1938 a atriz Heloisa Helena solicitou a Pixinguinha que fizesse uma letra para “Carinhoso”, a fim de ela a apresentar em um espetáculo de nome “Joujoux e Balangandãs” no Theatro Municipal. Por não ser letrista, Pixinguinha chamou Braguinha (que ainda se apresentava como “João de Barro” (nome que adotou quando fez parte do “Bando de Tangarás”) para compor a letra de “Carinhoso”.
Orlando Silva, o primeiro a gravar “Carinhoso” contava uma história diferente. Afirmava que foi a pedido dele que Braguinha, autorizado por Pixinguinha, compôs a letra de “Carinhoso”.
A verdade, jamais se saberá.

Quanto a “Rosa” o caso é diferente. Orlando queria gravá-la, mas não tinha letra. Pixinguinha solicitou a um amigo de nome Octavio de Souza, que trabalhava nas oficinas da Central, no Engenho de Dentro (onde hoje é o Engenhão) que fizesse uma letra para “Rosa” e este compôs uma das mais belas letras de nossa música popular. Como não se tratava de um nome conhecido, Pixinguinha não o fez constar da primeira gravação de “Rosa”. Durante anos, desconhecia-se o autor da letra de “Rosa”. Foi Paulo Tapajós, grande pesquisador de nossa música, que o “descobriu”, “apertando” Pixinguinha quando este prestou depoimento no Museu da Imagem e do Som. Pixinguinha disse que Octavio de Souza já havia falecido e não deixara herdeiros.

ROSA


Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do Onipotente
Em prece comovente de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer.

BENEDITO LACERDA, ao lado de Aldo Cabral, compôs a música da quarta-feira de cinzas: “Carnaval da Minha Vida”.

“Quarta-feira de cinzas amanhece,
Na cidade há um silêncio que parece
Que o próprio mundo se despovoou...
Um toque de clarim, além distante
Vai levando consigo agonizante
O som do carnaval que já passou...”


Com Jorge Faraj, Benedito Lacerda compôs “É Quase a Felicidade” e “... E a Saudade Ficou”, gravadas por Carlos Galhardo em sua passagem pela gravadora “Odeon”.

Muito ainda se poderia falar sobre esses dois vultos de nossa música, mas este resumo dá uma idéia do talento de ambos.
Norma

Sobre o Rock progressivo ...




"Não existem palavras que possam definir o timbre vocal de Peter Hammill, você é jogado diretamente entre algum planeta sombrio e uma estrela nova. Com esse disco eu descobri que podia fazer associação entre o mundo material e o imaterial. Suas letras têm um existencialismo desleixado, mas só aparentemente. A sonoridade é inusitada. Muitos falam mal do rock progressivo e muita coisa ruim foi lançada mesmo. Mas essa banda inglesa é diferente, e como."

(marcos vinícius  leonel) 


Curtas.

Vou existindo num barco
onde embarco,
desembarco,
atraco lanchas e velas,
sorrindo ao vento, na rota do tempo.

INSTITUTO DE ECOCIDADANIA JURITI NA FESTA DO PROJETO GENEROSIDADE

A entrega do prêmio, aconteceu na noite desta segunta-feira (14/02), no prêdio da Editora Globo, em São Paulo.
O Projeto Generosidade tem a intenção de revelar e repercutir ações e exemplos de gente que faz e promove o bem no Brasil. Ao longo de todo o ano passado, 56 reportagens foram produzidas pelas 13 revistas da Editora Globo. Além disso, 262 histórias foram enviadas por meio do site e dos leitores das revistas.
Do total de inscritos, foram eleitas dez projetos finalistas. Entre eles, há entidades que formam empreendedores, pois acreditam que a geração de renda cria pessoas independentes e produtivas. Outras veem na educação de qualidade e na geração de emprego a chance de mudar destinos. Há ainda iniciativas que desafiam o estado das coisas: o engenheiro José Roberto Fonseca descobriu um jeito de levar água ao sertão alagoano. O Instituto Juriti leva a internet ao sertão do Ceará, enquanto na Vez da Voz os deficientes produzem um telejornal para pessoas como eles. O TV Cela, um programa feito e apresentado por detentas, virou ferramenta de inclusão social dentro da cadeia. E há mais: uma entidade ajuda crianças a enfrentar os percalços do câncer, ao mesmo tempo que outra dá apoio a jovens mães que buscam se livrar das drogas e da prostituição. Um projeto usa o lixo para dar emprego aos moradores de rua de São Paulo e outros utilizam o design como ferramenta de transformação social.

As 10 histórias de maior relevância foram escolhidas por um conselho de jornalistas da Editora Globo e parceiros das Organizações Globo: Marcus Aurélio de Carvalho – da Rádio Globo e Joelma Ambrózio – do Canal Futura e enviadas a um corpo de dez jurados para a seleção final.

Benedito Lacerda



Benedicto Lacerda (Macaé, 14 de março de 1903 — Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1958) foi um compositor, flautista e maestro brasileiro.

Nasceu em Macaé do estado do Rio de Janeiro, e desde pequeno freqüentou a Sociedade Musical Nova Aurora.


Céu Abstrato- por socorro moreira



Entro em contato com as minhas diversas realidades, e contabilizo o passado passivo e o presente ativo. As reservas futuras alcançam os prognósticos naturais, e o imprevisível!
Mesmo assim sinto medo do desconhecido. Medo maior das verdades conhecidas, mesmo que sejam administráveis.
Tudo que vai, volta. A gente só enxerga o que foi significante. As voltas na tortuosidade da vida chegam foscas ou resplandecidas!
Ontem revi-me!
O que poderia ter sido e não foi; o que foi e poderia ter sido... E o que nunca foi, apenas imagino!

Sai da canseira do entendimento.Estou na plenitude da aceitação... Mas sei que daqui a pouco a roda da vida indispõe minha paz, e eu preciso que ela não aceite convites para encarar  novas tempestades!


Instantâneos - por José do Vale Pinheiro Feitosa


A busca da luz

E primeiro veio a luz. Depois tudo o mais. Qual um espécime do coletivo adicional, vez que posterior, deu-se por buscar o primeiro de tudo. A luz. O século das luzes, a luz divina, a iluminação dos errantes caminhos que se enganam em penumbras e escuridão.

Uma parede perfeitamente caiada. Luminosa aos Watts da eletricidade. E vem da penumbra de galhos, de ventos, de sopros e assobios. Vem a borboleta em busca da luz. Atraída pela luz. Impreterivelmente ao encosto branco da parede. Em sua busca da luz encontra a língua rápida e digestiva da lagartixa de parede.

A posse

Numa baixa do terreno a água mina e forma um poço no qual se banha. Um choro. A água é muda ainda mais pelo canto do vento na folhagem, é o contraponto para os sons do choro dela. Tira as roupas, molha no poço e nua sai até a margem onde as estende ao sol.

E chorando, novamente vestida, vai até uma cerca do outro lado da rua onde sobre um arame farpado espalha todo o seu guarda roupas. E chora. Agitada retorna ao poço e chora. E novamente com outras peças pingando água, chora. Chora.

Acusação

Enquanto o vento do litoral cearense revela o quanto é litoral, do Ceará, as estrelas iluminam e a noite beira mais de vinte e duas horas: ela dorme. Num canto de muro. Um muro qualquer de alguma rua da cidade.

Nas calçadas acusa pessoas por roubo. Não aos transeuntes presentes aos seus gritos acusatórios, mas a alguém especificamente. Uma ou duas pessoas às quais cita os nomes. A cidade inteira com um riso amarelo, esquece os acusados, mas não a acusação.

O carnaval da Saudade- 2010 - Por Roberto Jamacaru





O anúncio divulgado em dezembro de 2009 de que em fevereiro próximo voltaria ser realizado, nos salões do Crato Tênis Clube, mais um evento do Carnaval da Saudade, foi o suficiente para deixar em estado de alerta os foliões do Cariri, muitos dos quais residentes em Fortaleza, Recife e tantas outras cidades espalhadas por esses Brasil afora.
Às 22h do sábado, dia 06, quase todas as ruas do bairro Pimenta já estavam tomadas de carros sinalizando que, lá dentro, nos salões do CTC, o número de gente seria bem maior... Não deu outra! Numa simples olhadela dava para ver que todas as dependências do velho clube estavam lotadas de piratas, xeiques, pierrôs, colombinas e tantas outras fantasias, típicas dessa folia momina.
Com o toque inicial do tradicional prefixo musical, gritos, assobios e risos incontidos ecoaram salão adentro onde, na base dos passes, cordõzinhos, dedinhos para o céu e arremesso para o alto de confetes e serpentinas, o ambiente transformou-se num verdadeiro quartel da folia. A partir desse momento foram mandados para o espaço as tristezas, a falta de bom humor, as mágoas, as depressões e as vergonhas contidas de pular, cantar e sorrir gratuitamente em nome da alegria e da vida.
A cada música, uma identificação e uma reação:
“Quanto riso, oh! Quanta alegria...!”,... E isso se via estampado nos rostos dos garotões e garotonas maneiras de 15 a 20 anos, assim como também nos “gatões e gatonas” de 30, 40, 50, 60, 70, 80...

“Se você pensa que cachaça é água...!”, ... Não havia exceção! Até eu, que não bebo, tava lá meio meladão!

“Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?”. ... Convenhamos, sem essa turma, chefiada pelo glamouroso Wellington Cabeleireiro, onde a tradição das plumas, dos paetês, das exuberantes fantasias e das irreverências, que são suas marcas maiores, o carnaval do Crato fica pobre e sem graça. Só que, graças a Deus, todas “elas” estavam lá.

“Bandeira branca, amor, eu peço paz...!”. ... Essa foi a hora mágica da reconciliação onde todos enamorados procuraram se abraçar numa atitude clara de que o amor, no desamor, não vale a pena.

“Aquele lencinho, que você deixou, foi um pedacinho da saudade que ficou...!”. ... Quem nasceu nas décadas de 50, 60 e 70 sabe que as lembrancinhas guardadas de um grande amor às vezes falam mais que mil palavras.

“Oi balancê, balancê... Quero dançar com você...!”. ... De volta os agitos, os gritos, os trenzinhos e mais uma vez todo mundo saiu pulando e cantando se conseguir se segurar.

Lá para as cinco da madrugada, veio a culminância!
O Cotejo da folia, ainda cheio de energias e alegrias, liderado pela banda que não parava de tocar, seguiu rumo à praça Siqueira Campos, no centro da cidade, onde, nesse velho corso, o Crato reviveu a sua velha apoteose.
Nesse logradouro, o som dessa felicidade subiu por entre as folhas de suas velhas palmeiras e fez acordar, lá no céu, os anjos e os foliões cratenses de sempre como Zeba, Juvêncio Mariano, Pedro Maia, Capela, Mestre Azul, Silvinha Pirão, Cândido Figueiredo, Salgado, Ossian Araripe, Hildegardo, Seu Irineu, Zé dos Prazeres, Paulo Frota, Tércio Cabeleireiro, Vicente Ludugero e tantos outros.
“Ai! Ai! Ai, ai... Ta chegando a hora, o dia já vem raiando meu bem e eu tenho que ir embora...!”.

De volta para o futuro, em 2011 teremos mais, muito mais!

Roberto Jamacaru

Carnaval da saudade/2010 - (Frevo, suor e cerveja!)

(Tatiana, David, Fátima,João Marni, Eu e Rosineide)

A minha geração pode ficar entocada o ano todo, mas surge do nada , no Carnaval da Saudade.
Ano passado  foram muitos os reencontros , no cordão da alegria.
"...Mas este ano, meu bem/ tá combinado/ nós vamos brincar separados"...
E haja frevo, macha e samba.
!!!
Uma geração grisalha , saltita no salão, sem mais saudades !
Encontrei o meu passado, e senti-me confortável , no presente da animação.

"Recordar é viver/ eu ontem sonhei com você"...

"Pombo correio/ voa ligeiro..." 

Traz o povo do estrangeiro , pra brincar o carnaval...
Banho no Grangeiro completa o ritual
No ar, um cheirinho de perfume
Perfume de Carnaval!