por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eles partiram quase na mesma data ...- por Norma Hauer


Os anos foram diferentes, mas dois músicos que gravaram juntos, se apresentavam juntos, fizeram arranjos juntos, partiram quase na mesma data, embora em anos diferentes : BENEDITO LACERDA e PIXINGUINHA.

Benedito Lacerda faleceu em 16 de fevereiro de 1958 aos 55 anos e Pixinguinha no dia 17 de fevereiro de 1973, em pleno carnaval, aos 75 anos. Ambos, além de músicos, foram compositores de renome.

De Pixinguinha, citando “Carinhoso” já se tem uma demonstração de seu talento; “Rosa”, então nem se fala: é uma das mais bonitas canções de nosso cancioneiro. Além, disso, tivemos “Lamento”, “Naquele Tempo”; “Mais Três Dias”; “Volta para Casa”..., estes gravados com o conjunto que ele formou com Benedito Lacerda, ele no saxofone e Benedito na flauta.
Suas primeiras gravações, em 1918, foram “Rosa” e “Sofres, Porque Queres” .
Com o nome de “Oito Batutas” formou um grupo que se apresentou na Europa logo depois da 1ª guerra, sendo o primeiro grupo de brasileiros a visitar aquele continente. Ali, dentre outros “choros” ( sua especialidade) lançou “Carinhoso”.

Em 1938 a atriz Heloisa Helena solicitou a Pixinguinha que fizesse uma letra para “Carinhoso”, a fim de ela a apresentar em um espetáculo de nome “Joujoux e Balangandãs” no Theatro Municipal. Por não ser letrista, Pixinguinha chamou Braguinha (que ainda se apresentava como “João de Barro” (nome que adotou quando fez parte do “Bando de Tangarás”) para compor a letra de “Carinhoso”.
Orlando Silva, o primeiro a gravar “Carinhoso” contava uma história diferente. Afirmava que foi a pedido dele que Braguinha, autorizado por Pixinguinha, compôs a letra de “Carinhoso”.
A verdade, jamais se saberá.

Quanto a “Rosa” o caso é diferente. Orlando queria gravá-la, mas não tinha letra. Pixinguinha solicitou a um amigo de nome Octavio de Souza, que trabalhava nas oficinas da Central, no Engenho de Dentro (onde hoje é o Engenhão) que fizesse uma letra para “Rosa” e este compôs uma das mais belas letras de nossa música popular. Como não se tratava de um nome conhecido, Pixinguinha não o fez constar da primeira gravação de “Rosa”. Durante anos, desconhecia-se o autor da letra de “Rosa”. Foi Paulo Tapajós, grande pesquisador de nossa música, que o “descobriu”, “apertando” Pixinguinha quando este prestou depoimento no Museu da Imagem e do Som. Pixinguinha disse que Octavio de Souza já havia falecido e não deixara herdeiros.

ROSA


Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do Onipotente
Em prece comovente de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer.

BENEDITO LACERDA, ao lado de Aldo Cabral, compôs a música da quarta-feira de cinzas: “Carnaval da Minha Vida”.

“Quarta-feira de cinzas amanhece,
Na cidade há um silêncio que parece
Que o próprio mundo se despovoou...
Um toque de clarim, além distante
Vai levando consigo agonizante
O som do carnaval que já passou...”


Com Jorge Faraj, Benedito Lacerda compôs “É Quase a Felicidade” e “... E a Saudade Ficou”, gravadas por Carlos Galhardo em sua passagem pela gravadora “Odeon”.

Muito ainda se poderia falar sobre esses dois vultos de nossa música, mas este resumo dá uma idéia do talento de ambos.
Norma

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