por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

R$ 86.000.000,00 - José Nilton Mariano Saraiva


Você, que com muito sacrifício paga em dia os escorchantes impostos cobrados pelo Governo do Estado do Ceará, não pode deixar de lavrar seu protesto veemente, de manifestar-se de alguma forma, de exercitar sua cidadania. É que, segundo dados oficiais disponibilizados pelo valente Deputado Heitor Ferrer, um dos poucos na Assembléia Legislativa do Ceará que não tem rabo preso, o Governo Cid Gomes, no período 2008 a 2012, literalmente “jogou fora” o montante de R$ 86.000.000,00 (oitenta e seis milhões de reais) via pagamento a seresteiros, sertanejos, forrozeiros e por aí vai.
Para um Estado onde tudo falta, onde a população interiorana passa fome e sede, onde não existe saneamento, habitação, postos de saúde, etc,  gastar em média R$ 17.200.000,00 (dezessete milhões e duzentos mil reais) por ano com esse tipo de promoção, no mínimo configura falta de respeito para com o contribuinte.
Mas, como pimenta nos olhos dos outros é refresco, um dos Tribunais Estaduais (certamente que estimulado pelo Governador) decidiu que o Ministério Público Estadual está proibido de questionar números ou solicitar qualquer documentação relacionada a gastos governamentais.
Assim, resta-nos torcer para que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal se sensibilizem e procurem um jeito de examinar essa autentica farra com o dinheiro público por parte de um governo que se diz sério, mas que, por baixo dos panos, pratica manobras pra lá de suspeitas. 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Horda de marginais - José Nilton Mariano Saraiva



Ao raiar do ano 2000, de férias no Rio de Janeiro, tivemos oportunidade de ver em ação a tal torcida organizada “Gaviões da Fiel”, do Corinthians. E podemos garantir: trata-se de uma coisa assustadora, de arrepiar qualquer um, fazer tremer estátua de pedra. Aos hurros, proferindo palavras de ordem, aquela horda descontrolada de marginais penetrou na estação do metrô em Copacabana e, literalmente, passou como um rolo compressor, verdadeiro redemoinho, por sobre o que encontrou pela frente; catracas, os parrudos seguranças e torcedores do time adversário e por aí vai (ainda bem que os seguranças, pós-passagem e refeitos do susto, num átimo de coerência, nos recomendaram – torcedores do Vasco da Gama - que, se não quiséssemos ser trucidados, tirássemos imediatamente a camisa do time, adversário do Corinthians naquele jogo da final do Campeonato Mundial, dali a pouco, no Maracanã.
Dali até aqui, foram muitas (mas sempre suportadas) as confusões patrocinadas pela “Fiel”, mas eis que, agora, 13 anos depois, os marginais que se dizem torcedores (e que são financiados pelo clube, sim, em suas andanças pelos estádios de futebol por esse mundo afora), chegaram às raias do absurdo: assassinam de forma violenta e covarde um jovem adolescente e, ainda por cima, em um outro país.
 E aí, temos a palhaçada, verdadeira canalhice, patrocinada pela principal emissora de TV do país (Rede Globo), de par com a CBF e torcedores corintianos integrantes de segmentos da mídia esportiva: ante a perspectiva real de o clube ser penalizado com a exclusão de uma competição internacional, dada a repercussão mundial do fato e em sendo o Corinthians um chamariz de audiência e, conseqüentemente, patrocinadores, imediatamente deram um jeito de arranjar um “menor de idade” (acompanhado da mãe), que, orientado com perguntas e respostas devidamente ensaiadas, prestou depoimento exclusivo àquela emissora, em horário nobre, garantindo ter sido o responsável isolado pela barbárie (na realidade, não exista prova nenhuma de que realmente estava presente ao estádio, mas, só em alegar tratar-se de um “menor de idade”, a Globo se previne, na perspectiva de que nada lhe acontecerá; quanto à família, será regiamente “recompensada”, a posteriori).
A matéria foi reprisada nos dias seguintes, nos diversos telejornais da emissora (manhã, tarde e noite), de forma que se firme na mente dos incautos e desprovidos de consciência crítica que tudo não passou de uma fatalidade, que o “coitadinho” não tinha consciência do que estava fazendo, que não direcionou a bomba para a torcida contrária e, enfim, que a vida segue e nada adiantará ficar remoendo coisas da espécie; a Globo continuará bancando o Corinthians, ad infinitum, e arrecadando milhões com os patrocinadores, enquanto os marginais das “organizadas” continuarão impunes e aprontando (covardes e ridículos, alguns dos bandidos que foram presos, portando e exibindo “santinhos” do Cristo, tiveram até a desfaçatez de se dirigir, claro que pela Globo, à presidenta Dilma Roussef, solicitando que o governo brasileiro intervenha para a sua soltura).
O que mais revolta nisso tudo é que, embora todos saibamos tratar-se de uma farsa grotesca, visando não prejudicar os ganhos futuros da Globo, os formadores de opinião de outros veículos de comunicação não questionam, não se interessam no aprofundamento da questão, portam-se como verdadeiros cúmplices da barbárie.
Mas... por que estranhar: afinal, Obama não disse que matou Osama e, embora ninguém tenha visto o corpo, até hoje muitos acreditam seja aquela a verdade verdadeira ???     

Que nenhum Papa morra. - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A renúncia do atual Papa Bento XVI declarada no início deste mês e a ser concretizada neste dia 28 de fevereiro, foi um acontecimento surpreendente até mesmo para aqueles que não se dizem católicos. Considerações dos entendidos em Vaticano à parte, para mim foi uma atitude bastante coerente e que deveria ser regulamentada daqui para a frente. Por que não colocar para os papas uma regra já existente para os bispos? A aposentadoria automática aos 80 anos. Afinal, dirigir uma organização com mais de um bilhão de seguidores é uma tarefa que, além das qualidades espirituais e intelectuais exige também muita aptidão física. E esta última condição torna-se difícil de ser encontrada numa ancião.

Durante a minha vida já acompanhei a mudança cinco papas: por morte de Pio XII; Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II. Em todas as ocasiões havia o mesmo ritual de notícias que os meios de comunicação social voltam a nos proporcionar atualmente.

Lembro-me que os colégios católicos decretavam três dias feriados após a notícia da morte de um papa. E na morte do Papa Paulo VI, em 1978, o meu primeiro filho, à época com apenas quatro anos, ficou muito contente com o feriado. Vinte dias depois, todos estávamos aliviados porque tínhamos um novo Papa: João Paulo I, que reinou durante apenas um mês. Na manhã de 28 de setembro de 1978, eu soube pelo meu filho, que retornava da escola acompanhado da sua mãe e comemorando mais um feriado: "o Papa morreu de novo!" 

Em menos de vinte dias, foi eleito e empossado o Papa João Paulo II, de 58 anos, um jovem, em comparação com seus antecessores. E o tempo passou, e alguns meses depois, acredito que no ano seguinte, o nosso primeiro filho entranhou a falta de um feriado. E então exclamou à sua mãe: "Nunca mais morreu um papa!"

A renúncia do Papa Bento XVI me encheu de esperanças para o futuro. Não custa sonhar em grandes mudanças para a Igreja. Em primeiro lugar, sonho com a extinção do celibato. Isto permitiria a ordenação de maior número de sacerdotes, que estariam mais presentes no meio das comunidades carentes. Desejo também a ordenação de mulheres. Quantas Teresa de Calcutá poderiam surgir? 

Sonhar é possível. E eu sonho com uma Igreja voltada para o povo sofredor e focada na pessoa de Jesus Cristo, que viveu pobre e no meio de gente pobre e humilde. 

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

IRONIAS DE PATATIVA AO PROCESSO DE APOSENTADORIA



Em texto postado na semana passada, fiz referência a poesia de Patativa do Assaré escrita durante processo de requerimento da sua aposentadoria do FUNRURAL. Transcrevo os versos:

Aposentadoria de Mané do Riachão


Seu moço, fique ciente
De tudo que eu vou contar,
Sou um pobre penitente
Nasci no dia do azá,
Por capricho eu vim ao mundo
perto de um riacho fundo
no mais feio grutião
e como alí fui nascido,
Fiquei sendo conhecido
Por Mané do Riachão.

Passei a vida penando
no mais crué padecê,
Como tratô trabaindo
Pru filizardo comê,
A minha sorte é trucida
Pá miorar minha vida
Já Rezei e fiz premessa
Mas isso tudo é tolice,
uma cigana me disse
que eu nasci foi de trevessa.

Sofrendo grande cancêra
Virei bola de biá
Trabaino na carrêra
Daqui pra ali pra culá
Fui um eterno criado
Sempre fazendo mandado
Ajudando aos home rico,
Eu andei de grau em grau
taliquá o pica-pau
Caçando broca em angico.

Sempre entrano pelo cano
E sem podê trabaiá,
Com sessenta e sete ano
percurei me aposentar,
Fui batê lá no iscritoro
Depois eu fui no cartoro
Porém de nada valeu,
Veja o que foi , cidadão,
que aquele tabelião
Achou de falar prá eu.

Me disse aquele escrivão
Frangino o côro da testa:
- Seu Mané do Riachão
Esses seus papé não presta,
Isto aqui não vale nada,
Quem fez esta palelada
Era um cara vagabundo,
Prá fazê seu apusento
Tem que trazê decumento
Lá do começo do mundo.

E me disse que só dava
Prá fazê meu aposento
Com coisa que eu só achava
No antigo Testamento,
Eu que tava prazentêro
mode recebê o dinhêro
me disse aquele iscrivão
Que precisava do nome
E tombém do subrenome
de Eva e seu marido Adão.

E além da Identidade
De Eva e seu marido Adão
Nome da niversidade
Onde estudou Salomão
e outras coisa custosa,
Bem custosa e cabulosa
Que neste mundo revela
A escritura sagrada
Quatro dedo da quêxada
que Sanção brigou com ela.

Com a manobra e mais manobra
Prá puder me aposentar,
Levá o nome da cobra
que mandou Eva pecar
E além de tanto fuxico,
O registro e currico
De Nabucodonosô,
Dizê onde ele morreu,
Onde foi que ele nasceu
e aonde se batizou.

Veja moço, que novela,
Veja que grande caipora
A pior de todas elas
O senhô vai vê agora,
Pra que eu me aposentasse,
Disse que tombém levasse
Terra de cada cratera
Dos vulcão dos istrangero
E o nome do vaquêro
Que amançou a besta fera.

Escutei achando ruim
Com a paciência fraca
E ele olhando prá mim
com os olhos de jaraca
Disse a coisa aqui é braba
Precisa que você saba
que sou iscrivão
ou estas coisa apresenta
ou você não se aposenta
Seu Mané do Riachão

Veja moço, o grande horrô
Sei que vou morrer depressa
Bem que a cigana falou
que eu nasci foi de trevessa
Cheio de necessidade
Vou viver da caridade
Uma esmola cidadão
Lhe peço no santo nome
Não deixe morre de fome
O Mané do Riachão

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MAIS UM MOTIVO DE ORGULHO PARA D. ALMINA - 3






A jovem médica cratense, Thais Pinheiro Callou, neta de D. Almina Arraes, filha de José Luna Callou e Mª Benigna Arraes (Bida), depois de ter mostrado seu brilhantismo obteendo nota máxima na especialização do Hospital Santa Luzia em Recife, confirmou suas qualidades no concurso de especialização na USP, em São Paulo, agora ratifica seu valor na seleção de médicos promovida pela Santa Casa, também de São Paulo. Com a mais recente vitória, Dra. Thais portará o título de especialista também em córnea.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Caio Fernando Abreu










Página oficial www.caiofernandoabreu.com
Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".

SENHOR DEPUTADO, UM MÍNIMO DE RESPEITO – José Nilton Mariano Saraiva


Quando se dispõe a escolher um determinado candidato, concedendo-lhe, através do voto, um passaporte/mandato para tomar assento numa das várias Assembléias Legislativas (vereador, deputado ou senador) naturalmente que a população espera que o próprio seja emissário e portador das demandas que lhe afligem, através de um trabalho diuturno, sério e de alto nível, consubstanciado em propostas práticas e exeqüíveis; afinal, os problemas são muitos e diversificados, e eles, parlamentares, são a caixa de ressonância da coletividade.
Muitas dessas “Excelências”, no entanto, por despreparo, descompromisso, ou até mesmo por não terem idéia da seriedade do compromisso assumido, terminam por transformar o ambiente parlamentar numa espécie de circo de quinta categoria, estuário das suas ironias e piadas de mau gosto.
A mais nova deu-se dias atrás, quando do “batismo” da rodovia estadual CE-350, que liga os municípios de Pacatuba/Maranguape/Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza: pois bem, a deputada Fernanda Pessoa sugeriu que, para homenagear os índios Pitaguarys, antigos donos de uma parte das terras, a rodovia referenciada recebesse  tal denominação (Pitaguarys); já o parlamentar Lucilvio Girão, legislando em causa própria, sugeriu que o patrono da mesmo fosse um parente, Luis Girão, porquanto teria prestado relevantes serviços a uma das comunidades; e aí, durante a áspera discussão que se seguiu, um terceiro deputado – Ely Aguiar - resolveu fazer gracinha, transformar a arena parlamentar num ambiente circense, ao sugerir que a rodovia fosse batizada com dois nomes distintos: Pitaguarys, no sentido de quem demanda da capital para o interior; e Luis Girão, para quem vem em sentido contrário, do interior para a capital (não, não é brincadeira; o fato foi noticiado pelo jornal O POVO).
Será que o nobre deputado, que tem sua base eleitoral no Crato, não poderia privar os conterrâneos de um espetáculo tão deprimente ??? Será que a população cratense votou nele pra isso ???  Será que o Crato não tem sérios problemas a serem levados ao plenário da Assembléia, visando debatê-los e solucioná-los ???
Senhor Deputado, um mínimo de respeito para com aqueles cratenses que o sufragaram nas urnas (não nos incluímos aí). Se não pode ajudar, pelo menos não nos mate de vergonha...       

Sinopse - História da Independência de Juazeiro do Norte - Daniel Walker

Em 1907 o povoado de Juazeiro estava em franco desenvolvimento e pagando pesados impostos ao Crato. Um cidadão filho da terra, rico fazendeiro, divulgou um boletim no qual convocava a população para uma reunião cívica em que a emancipação do povoado era o principal tema da pauta. A reunião foi um fiasco! Pouca gente compareceu. Alguém aventou a hipótese de que a população, embora desejosa de ver o povoado livre, estava dividida devido a divergências ideológicas e, por isso, vez por outra se desentendia. Na verdade, a população juazeirense, ontem como hoje, é formada por dois tipos de habitantes: os filhos da terra, chamados nativos, e os adventícios, chamados genericamente de romeiros, pois para aqui vieram atraídos pelas pregações de um padre, líder carismático autêntico, e pela crença num fato que todos acreditam como sendo milagre. Este fato, basicamente, consistiu no sangramento da hóstia na boca de uma beata quando a mesma comungava, além de outros fenômenos igualmente estranhos. O filho da terra e rico fazendeiro referido acima conseguiu a adesão de dois destemidos adventícios para engrossar as fileiras do movimento: um padre cratense fugido de sua cidade por questões políticas com o prefeito e um médico baiano com habilidade em advocacia, embora não fosse advogado formado, que para aqui veio se oferecer para resolver pendências jurídicas referentes a umas minas de cobre do padre que vivia no lugar, mas estava suspenso das ordens eclesiásticas, o líder carismático já citado. Por coincidência, os dois forasteiros também eram jornalistas. Assim, melhor preparado, o grupo resolveu fundar um jornal, cujo objetivo seria servir de ponta-de-lança do movimento de independência do povoado. Mas, apesar de todo o empenho o empreendimento não crescia da forma desejada. Algumas razões impediam-no: o fazendeiro rico não se dava bem com o prefeito do município-sede e os adventícios chamados romeiros se achavam discriminados pela população nativa. Era preciso, então, o surgimento de um fato novo, porém forte o suficiente para esquentar os ânimos da população e capaz de deixar todos com os nervos à flor da pele, prontos para fazer valer a reivindicação tão justa. E, por incrível que pareça, em vez de um apenas, surgiram três. Um atentado de morte contra o médico baiano; uma frase insultuosa ao povo juazeirense proferida no Crato durante uma visita pastoral do bispo auxiliar de Fortaleza, por um padre da comitiva e finalmente, a determinação desastrosa do prefeito cratense que ameaçou de forma ostensiva usar a força policial para receber os impostos atrasados, que os contribuintes resolveram não pagar mais. A ordem do prefeito era severa: em caso de resistência, bala! Pronto, estava criado o ambiente propício para o líder carismático do lugar agir. Ele até então se encontrava receoso, pois era adepto da política da boa vizinhança, e também não queria se indispor com o prefeito cratense, seu amigo, cujo pai havia contribuído de forma bastante efetiva para sua ordenação. E como se não bastasse, era ele próprio um cratense da gema. A situação era dramática e clamava por uma decisão imediata, pois um conflito armado estava prestes a ocorrer. O líder carismático, o padre dos romeiros, estava num dilema: honrar sua naturalidade cratense ou defender a terra que adotou, optando, assim, pela cidadania juazeirense. Com a frase pronunciada em tom enérgico - “Sou filho do Crato, mas Juazeiro é meu filho” -, o líder carismático desfraldou finalmente a bandeira de independência, e o povoado se tornou livre. Esta história narrada desta forma, em rápidas pinceladas, é importante demais para terminar aqui. Precisa, portanto, ser contada com mais detalhes. E somente agora, cerca de cem anos após o fato ter acontecido, surge um livro para tratar exclusivamente dele: HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA DE JUAZEIRO DO NORTE, de Daniel Walker.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

por socorro moreira






As histórias de fadas sugeriam que depois da dificuldade o final feliz acontecia  e,  a plenitude adquiria fórum na eternidade.Desconfiava que a vida real fosse diferente, e pra neutralizar minhas poucas esperanças, lia história românticas, compulsivamente. Nada como Romeu e Julieta. Os amores precisavam terminar juntos e pra sempre- isso me agradava.
Logo na adolescência comecei a derramar as primeiras lágrimas por pequenos desencontros. Imaginava que o caminho da vida era curto, porem intenso. O preço por cada vivência era cobrado com lágrimas. A leveza de um instante mágico voava naturalmente, e só restava uma saudade duradoura. Não existiam fórmulas para que a felicidade perdurasse,
Com o passar dos anos, a roda da vida, em seu giro, voltava ao mesmo ponto, e encontrava a casa, a cara, e até a mangueira da calçada desaparecidos ou com marcas que antes nem existiam. Nos primeiros instantes o coração pulsava um amor latente. Na seqüência a realidade imperava outras atitudes, e os caminhos novamente se descruzavam.
O que é o amor?
O que faz manter o amor?
Qual o papel do destino, nas nossas escolhas, se é que elas existem?
Assumir um amor é superam o impossível, é esperar o final feliz, quando a tristeza da morte arrebata um dos dois?
Depois da morte tudo é luz, num escuro, onde poucos ou nenhum se reconhecem?
A beleza do encontro se faz na terra com dor; a beleza do encontro se faz no céu sem uma nota de desamor?
As pessoas se separam porque no fundo nunca amaram?
As pessoas se separam por seus destinos terem sido violados, por causas injustas e despretensiosas?
Existe a necessidade de objetivos comum, doação, tolerância, pra que se possa vencer o desgaste natural de uma relação?
Encarar a solidão é perder a capacidade da ilusão. É perder a memória das histórias de fadas, e encarar a humanidade como um grande celeiro de príncipes e princesas, que precisam uns dos outros.
O resto é sexo. Um susto, um suspiro passageiro, que não poderia enganar os sentidos. È um ato natural, que pode acontecer sem nenhum compromisso. Um dia ele vai ficando longe do nosso desejo. Um dia ele vai ficando com preguiça de tentar sentir o que já não sente.
Um dia tudo vira ternura, carinho, e o bem estar de um abraço, ou um afago de mãos.
Não se enganem, nem enganem... O mundo já vive de muitos enganos. A verdade é que a vida tem fim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PATATIVA - PREFEITURA SEM PREFEITO





Prefeitura sem Prefeito, uma das poesias famosas de Patativa do Assaré, declamada por ele mesmo no programa de Jô Soares, usada em várias cidades pela oposição para atingir prefeitos tidos como omissos, provocou a prisão do poeta, o que serviu para aumentar sua fama. No entanto, raramente é relacionada com o “inspirador” dos versos, pois raríssimas pessoas sabem quem foi o Edil alvo da ironia.
                Juntando fragmentos de conversas guardadas na memória, inclusive com o Poeta  e, recentemente, obtendo a confirmação de Raulberto Onofre,  me arrisco contar a história.
                O ocupante da prefeitura na época era o Sr. Raul Onofre Paiva.  Era filiado à ARENA, partido dos Coronéis e de apoio aos militares do golpe militar de 1964.  Sem nenhuma preocupação ideológica, o Sr. Raul via na aliança com a situação a melhor, se não única, forma de atrair obras e verbas para seu carente município.  Já Patativa, antenado com o sofrimento da população, sabia que o modelo implantado jamais faria as reformas nem adotaria medidas visando melhorar a distribuição de rendas, por isso simpatizava com o então MDB. Na campanha eleitoral ficaram em lados opostos.  O candidato arenista ficou magoado com os improvisos do poeta popular pedindo votos para o adversário dele.  
                O apoio de Patativa não foi suficiente para dar a vitória ao seu candidato, venceu o Sr. Raul Onofre.  Assumindo a prefeitura, separou dois dias da semana para audiências públicas, um dia para os habitantes da zona rural e outro para os moradores da cidade.
                Patativa, completando 65 anos, requereu pedido de aposentadoria rural, mas, para o deferimento precisava de declaração do Prefeito, pois ele, como pequeno proprietário, não tinha “patrão”.
                Ainda ressentido com a participação do poeta em prol do adversário, o Prefeito não concedeu audiência a Patativa.  No dia destinado aos moradores do campo, ele alegava que Patativa morava na cidade (de fato, ele tinha uma casa na praça principal da cidade).  No dia dos moradores urbanos, ele dizia que o requerente morava no sítio. Noutras ocasiões, saía sem receber o eleitor e mandava dizer que não estava.  Em vista disto, foi brindado com a poesia.  Como era época de autoritarismo, o Sargento da PM, que atuava como Delegado, considerou os versos como ofensa à autoridade municipal e decretou a prisão do nome mais conhecido de Assaré.  A atitude do policial, na ânsia de querer agradar ao prefeito, causou revolta tão grande na população que foi obrigado a revogá-la meia hora depois.
                A peregrinação de Patativa pela aposentadoria a que fazia jus rendeu duas poesias extraordinárias: a já citada Prefeitura sem Prefeito e a “Aposentadoria de Mané do Riachão”.
Prefeitura sem prefeito
Nessa vida atroz e dura
Tudo pode acontecer
Muito breve há de se ver
Prefeito sem prefeitura;
Vejo que alguém me censura
E não fica satisfeito
Porém, eu ando sem jeito,
Sem esperança e sem fé,
Por ver no meu Assaré
Prefeitura sem prefeito

Por não ter literatura,
Nunca pude discernir
Se poderá existir
Prefeito sem prefeitura.
Porém, mesmo sem leitura,
Sem nenhum curso ter feito,
Eu conheço do direito
E sem lição de ninguém
Descobri onde é que tem
Prefeitura sem prefeito.

Ainda que alguém me diga
Que viu um mudo falando
Um elefante dançando
No lombo de uma formiga,
Não me causará intriga,
Escutarei com respeito,
Não mentiu este sujeito.
Muito mais barbaridade
É haver numa cidade
Prefeitura sem prefeito.

Não vou teimar com quem diz
Que viu ferro dar azeite,
Um avestruz dando leite
E pedra criar raiz,
Ema apanhar de perdiz
Um rio fora do leito,
Um aleijão sem defeito
E um morto declarar guerra,
Porque vejo em minha terra
Prefeitura sem prefeito.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Colaboração de Altina Siebra

Ivone Gebara
Escritora, filósofa e teóloga

Depois da louvável atitude do ancião Bento XVI renunciando ao governo da Igreja Católica Romana sucederam-se entrevistas com alguns bispos e sacerdotes nas rádios e televisões de todo o país. Sem dúvida, um acontecimento de tal importância para a Igreja Católica Romana é notícia e leva a previsões, elucubrações de variados tipos, sobretudo de suspeitas, intrigas e conflitos dentro dos muros do Vaticano que teriam apressado a decisão do papa.
No contexto das primeiras notícias, o que chamou a minha atenção foi algo à primeira vista pequeno e insignificante para os analistas que tratam dos assuntos do Vaticano. Trata-se da forma como alguns padres entrevistados ou padres liderando uma programação televisiva, quando perguntados sobre quem seria o novo papa saíssem pela tangente. Apelavam para a inspiração ou vontade do Espírito Santo como aquele do qual dependia a escolha do novo pontífice romano. Nada de pensar em pessoas concretas para responder a situações mundiais desafiantes, nada de suscitar uma reflexão na comunidade, nada de falar dos problemas atuais da Igreja que a tem levado a um significativo marasmo, nada de ouvir os clamores da comunidade católica por uma democratização significativa das estruturas anacrônicas de sustentação da Igreja institucional. A formação teológica desses padres comunicadores não lhes permite sair de um discurso padrão trivial e abstrato bem conhecido, um discurso que continua fazendo apelo a forças ocultas e de certa forma confirmando seu próprio poder. A contínua referência ao Espírito Santo a partir de um misterioso modelo hierárquico é uma forma de camuflar os reais problemas da Igreja e uma forma de retórica religiosa para não desvendar os conflitos internos que a instituição tem vivido. A teologia do Espírito Santo continua para eles mágica e expressando explicações que já não conseguem mais falar aos corações e às consciências de muitas pessoas que têm apreço pelo legado do Movimento de Jesus de Nazaré. É uma teologia que continua igualmente a provocar a passividade do povo crente frente às muitas dominações inclusive as religiosas. Continuam repetindo fórmulas como se estas satisfizessem a maioria das pessoas.
Entristece-me o fato de verificar mais uma vez que os religiosos e alguns leigos atuando nos meios de comunicação não percebam que estamos num mundo em que os discursos precisam ser mais assertivos e marcados por referências filosóficas para além da tradicional escolástica. Um referencial humanista os tornaria bem mais compreensivos para o comum das pessoas incluindo-se aqui os não católicos e os não religiosos. A responsabilidade da mídia religiosa é enorme e inclui a importância de mostrar o quanto a história da Igreja depende das relações e interferências de todas as histórias dos países e das pessoas individuais. Já é tempo de sairmos dessa linguagem metafísica abstrata como se um Deus iria se ocupar especialmente de eleger o novo papa prescindindo dos conflitos, desafios, iniqüidades e qualidades humanas. Já é tempo de enfrentarmos um cristianismo que admita o conflito das vontades humanas e que no final de um processo eletivo, nem sempre a escolha feita pode ser considerada a melhor para o conjunto. Enfrentar a história da Igreja como uma história construída por todos e todas nós é testemunhar respeito por nós mesmas/os e mostrar a responsabilidade que todas e todos que nos consideramos membros da comunidade católica romana temos. A eleição de um novo papa é algo que tem a ver com o conjunto das comunidades católicas espalhadas pelo mundo e não apenas com uma elite idosa minoritária e masculina. Por isso, é preciso ir mais além de um discurso justificativo do poder papal e enfrentar-se aos problemas e desafios reais que estamos vivendo. Sem dúvida, para isso as dificuldades são muitas e enfrentá-las exige novas convicções e o desejo real de promover mudanças que favoreçam a convivência humana.
Preocupa-me mais uma vez que não se discuta de forma mais aberta o fato de o governo da Igreja institucional ser entregue a pessoas idosas que apesar de suas qualidades e sabedoria já não conseguem mais enfrentar com vigor e desenvoltura os desafios que estas funções representam. Até quando a gerontocracia masculina papal será o doublé da imagem de um Deus branco, idoso e de barbas brancas? Haveria alguma possibilidade de sair desse esquema ou de ao menos começar uma discussão em vista de uma organização futura diferente? Haveria alguma possibilidade de abrir essas discussões nas comunidades cristãs populares que têm o direito à informação e à formação cristã mais ajustada aos nossos tempos?
Sabemos o quanto a força das religiões depende de desafios e comportamentos frutos de convicções capazes de sustentar a vida de muitos grupos. Entretanto, as convicções religiosas não podem se reduzir a uma visão estática das tradições e nem a uma visão deliberadamente ingênua das relações humanas. As convicções religiosas igualmente não podem ser reduzidas a onda de devoções as mais variadas que se propagam através dos meios de comunicação. E mais, não podemos continuar tratando o povo como ignorante e incapaz de perguntas inteligentes e astutas em relação à Igreja. Entretanto, os padres comunicadores acreditam tratar com pessoas passivas e entre elas estão muitos jovens que desenvolvem um culto romântico em torno da figura do papa. Os religiosos mantêm essa situação muitas vezes cômoda por ignorância ou por avidez de poder. Provar a interferência divina nas escolhas que a Igreja Católica hierárquica, prescindindo da vontade das comunidades cristãs espalhadas pelo mundo é um exemplo flagrante dessa situação. É como se quisessem reafirmar erroneamente que a Igreja é em primeiro lugar o clero e as autoridades cardinalícias às quais é dado o poder de eleger o novo papa e que esta é a vontade de Deus. Aos milhares de fiéis cabe apenas rezar para que o Espírito Santo escolha o melhor e esperar até que a fumaça branca anuncie uma vez mais o "habemus papam”. De maneira hábil sempre estão tentando fazer os fiéis escapar da história real, de sua responsabilidade coletiva e apelar para forças superiores que dirijam a história e a Igreja.
É pena que esses formadores de opinião pública estejam ainda vivendo num mundo teologicamente e talvez até historicamente pré-moderno em que o sagrado parece se separar do mundo real e pousar numa esfera superior de poderes à qual apenas alguns poucos têm acesso quase direto. É desolador ver como a consciência crítica em relação às suas próprias crenças infantis não tenha sido acordada em beneficio próprio e em benefício da comunidade cristã. Parece até que acentuamos os muitos obscurantismos religiosos presentes em todas as épocas enquanto o Evangelho de Jesus continuamente convoca para a responsabilidade comum de uns em relação aos outros.
Sabendo das muitas dificuldades enfrentadas pelo papa Bento XVI durante seu curto ministério papal, as empresas de comunicação católica apenas ressaltam suas qualidades, sua doação à Igreja, sua inteligência teológica, seu pensamento vigoroso como se quisessem mais uma vez esconder os limites de sua personalidade e de sua postura política não apenas como pontífice, mas também por muitos anos, como presidente da Congregação da Doutrina da Fé, o antigo Santo Ofício. Não permitem que as contradições humanas do homem Joseph Ratzinger apareçam e que sua intransigência legalista e o tratamento punitivo que caracterizaram, em parte, sua pessoa sejam lembrados. Falam desde sua eleição, sobretudo de um papado de transição. Sem dúvida de transição, mas de transição para que?
Gostaria que a atitude louvável de renúncia de Bento XVI pudesse ser vivida como um momento privilegiado para convidar as comunidades católicas a repensar suas estruturas de governo e os privilégios medievais que esta estrutura ainda oferece. Estes privilégios tanto do ponto de vista econômico quanto político e sócio cultural mantêm o papado e o Vaticano como um Estado masculino à parte. Mas um Estado masculino com representação diplomática influente e servido por milhares de mulheres através do mundo nas diferentes instâncias de sua organização. Esse fato nos convida igualmente a pensar sobre o tipo de relações sociais de gênero que esse Estado continua mantendo na história social e política da atualidade.
As estruturas pré-modernas que ainda mantém esse poder religioso precisam ser confrontadas com os anseios democráticos de nossos povos na busca de novas formas de organização que se coadunem melhor com os tempos e grupos plurais de hoje. Precisam ser confrontadas com as lutas das mulheres, das minorias e maiorias raciais, de pessoas de diferentes orientações sexuais e escolhas, de pensadores, de cientistas e de trabalhadores das mais distintas profissões. Precisam ser retrabalhadas na linha de um diálogo maior e mais profícuo com outros credos religiosos e sabedorias espalhadas pelo mundo.
E para terminar, quero voltar ao Espírito Santo, a esse vento que sopra em cada uma/um de nós, a esse sopro em nós e maior do que nós que nos aproxima e nos faz interdependentes de todos os viventes. Um sopro de muitas formas, cores, sabores e intensidades. Sopro de compaixão e ternura, sopro de igualdade e diferença. Este sopro não pode mais ser usado para justificar e manter estruturas privilegiadas de poder e tradições mais antigas ou medievais como se fossem uma lei ou uma norma indiscutível e imutável. O vento, o ar, o espírito sopra onde quer e ninguém deve se atrever a querer ser ainda uma vez seu proprietário. O espírito é a força que nos aproxima uns dos outros, é a atração que permite que nos reconheçamos como semelhantes e diferentes, como amigas e amigos e que juntos/as busquemos caminhos de convivência, de paz e justiça. Esses caminhos do espírito são os que nos permitem reagir às forças opressoras que nascem de nossa própria humanidade, os que nos levam a denunciar as forças que impedem a circulação da seiva da vida, os que nos levam a des-cobrir os segredos ocultos dos poderosos. Por isso, o espírito se mostra em ações de misericórdia, em pão partilhado, em poder partilhado, em cura das feridas, em reforma agrária, em comércio justo, em armas transformadas em arados, enfim, em vida em abundância para todas/os. Esse parece ser o poder do espírito em nós, poder que necessita ser acordado a cada novo momento de nossa história e ser acordado por nós, entre nós e para nós.

Fevereiro 2013.

Reinos de pó



Ricardo III ,da Inglaterra, reinou por um período curtíssimo : entre 1483 e 1485. Sua enviesada ascensão à coroa , historicamente, parece eivada de crimes e assassinatos, o que sempre foi comum nas monarquias absolutistas. Para chegar ao trono, na sucessão de Henrique IV que morrera subitamente, Ricardo precisou dizimar inimigos  e, também, candidatos naturais ao cargo, além de utilizar de manobras jurídicas e armações como a anulação do casamento do seu antecessor por suposta bigamia.  Coroado , Ricardo levou Ricardo V e o Duque de York , seus sobrinhos, à Torre de Londres de onde nunca mais voltaram. Mexendo no instável castelo de cartas dos interesses da aristocracia inglesa, rapidamente, se iniciou uma enorme campanha contra o rei, sob suspeita de usurpação do trono  e que culminou com a Guerra das Rosas , encabeçada pelo Duque de Buckingham e Henrique Tudor , o Conde de Richmond. Em agosto de 1485, as tropas leais ao rei e as revolucionárias do Conde se confrontam na Batalha de Bosworth Field e Ricardo III termina abatido no confronto; dando-se início à Dinastia de Tudor. Apesar do reinado meteórico, ele se tornou , por sua dúbia personalidade, um dos monarcas mais populares do Reino Unido, tendo sido, inclusive, tema de uma das mais importantes peças de Shakespeare. Além de tudo, aumentando a aura de mistério, seu corpo jamais tinha sido encontrado. Ficou célebre o epílogo shakespeareano em que Ricardo III , a pé, sendo perseguido pela sanha do exército adversário, cita, no desespero,  a famosa frase : “Meu Reino por um Cavalo !”
                   No último dia quatro de fevereiro, quinhentos e vinte e oito anos depois da fatídica batalha, escavações num estacionamento em Leicester, no centro da Inglaterra, encontraram um esqueleto que, depois, se confirmou pertencer a Ricardo III. Tinha 32 anos na época da morte, uma profunda escoliose , sinais de trauma craniano por objeto cortante  e uma ponta de flecha entre as vértebras. Exames científicos como Datação pelo Carbono 14 e DNA confirmaram o fim do mistério que já varava meio milênio.
                   Ricardo III estava inumado num simples estacionamento e seu esqueleto não carregava quaisquer diferenças que por acaso o distinguissem de qualquer um dos   mais humildes plebeus do seu reino.  A confirmação da sua identidade , pelo exame de DNA, foi através da comparação com um dos seus últimos descendentes : Michel Ibsen, um marceneiro canadense, radicado em Londres e que não carrega consigo nenhum traço de  nobreza esperado  para um remanescente da Casa de York. O pretenso sangue azul que por acaso teria corrido nas suas veias, também, não tingiu a ossada encontrada, nem a tornou mais colorida e menos opaca do que os remanescentes de qualquer mendigo da Inglaterra. Na morte não há castas: é de pó que são construídas todas as coisas. Vaidade, riqueza, poder , ambição, egoísmo acabam todos no fim da batalha, quando o golpe de misericórdia já está armado e nós trocaríamos todas elas por um  cavalo que nos levasse para bem longe do equitativo  reino do nada, da escuridão e do pó.

J. Flávio Vieira