por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

IRONIAS DE PATATIVA AO PROCESSO DE APOSENTADORIA



Em texto postado na semana passada, fiz referência a poesia de Patativa do Assaré escrita durante processo de requerimento da sua aposentadoria do FUNRURAL. Transcrevo os versos:

Aposentadoria de Mané do Riachão


Seu moço, fique ciente
De tudo que eu vou contar,
Sou um pobre penitente
Nasci no dia do azá,
Por capricho eu vim ao mundo
perto de um riacho fundo
no mais feio grutião
e como alí fui nascido,
Fiquei sendo conhecido
Por Mané do Riachão.

Passei a vida penando
no mais crué padecê,
Como tratô trabaindo
Pru filizardo comê,
A minha sorte é trucida
Pá miorar minha vida
Já Rezei e fiz premessa
Mas isso tudo é tolice,
uma cigana me disse
que eu nasci foi de trevessa.

Sofrendo grande cancêra
Virei bola de biá
Trabaino na carrêra
Daqui pra ali pra culá
Fui um eterno criado
Sempre fazendo mandado
Ajudando aos home rico,
Eu andei de grau em grau
taliquá o pica-pau
Caçando broca em angico.

Sempre entrano pelo cano
E sem podê trabaiá,
Com sessenta e sete ano
percurei me aposentar,
Fui batê lá no iscritoro
Depois eu fui no cartoro
Porém de nada valeu,
Veja o que foi , cidadão,
que aquele tabelião
Achou de falar prá eu.

Me disse aquele escrivão
Frangino o côro da testa:
- Seu Mané do Riachão
Esses seus papé não presta,
Isto aqui não vale nada,
Quem fez esta palelada
Era um cara vagabundo,
Prá fazê seu apusento
Tem que trazê decumento
Lá do começo do mundo.

E me disse que só dava
Prá fazê meu aposento
Com coisa que eu só achava
No antigo Testamento,
Eu que tava prazentêro
mode recebê o dinhêro
me disse aquele iscrivão
Que precisava do nome
E tombém do subrenome
de Eva e seu marido Adão.

E além da Identidade
De Eva e seu marido Adão
Nome da niversidade
Onde estudou Salomão
e outras coisa custosa,
Bem custosa e cabulosa
Que neste mundo revela
A escritura sagrada
Quatro dedo da quêxada
que Sanção brigou com ela.

Com a manobra e mais manobra
Prá puder me aposentar,
Levá o nome da cobra
que mandou Eva pecar
E além de tanto fuxico,
O registro e currico
De Nabucodonosô,
Dizê onde ele morreu,
Onde foi que ele nasceu
e aonde se batizou.

Veja moço, que novela,
Veja que grande caipora
A pior de todas elas
O senhô vai vê agora,
Pra que eu me aposentasse,
Disse que tombém levasse
Terra de cada cratera
Dos vulcão dos istrangero
E o nome do vaquêro
Que amançou a besta fera.

Escutei achando ruim
Com a paciência fraca
E ele olhando prá mim
com os olhos de jaraca
Disse a coisa aqui é braba
Precisa que você saba
que sou iscrivão
ou estas coisa apresenta
ou você não se aposenta
Seu Mané do Riachão

Veja moço, o grande horrô
Sei que vou morrer depressa
Bem que a cigana falou
que eu nasci foi de trevessa
Cheio de necessidade
Vou viver da caridade
Uma esmola cidadão
Lhe peço no santo nome
Não deixe morre de fome
O Mané do Riachão

Um comentário:

socorro moreira disse...

Parabéns!
Postagem ímpar!

Abs