por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 13 de junho de 2011


Jamelão








Êta Dor De Cotovelo
Jamelão

Êtá dor de cotovelo dos diabos
Que saudade,que vontade
De morrer
que adianta eu encobrir
As aparências
Se me olhando
Todo mundo vai lhe ver.

Êtá dor de cotovelo
dos infernos,
Deste jeito não vai dar
Pra lhe esperar
Qualquer dia tomo um fogo
as escondidas
Choro e saio por aí
Pra lhe buscar.

Êtá dor que não devolve
Quem se ama
Êtá dor que ninguém quer
Dizer que tem
Disfarçada num sorriso mentiroso
É um pedaço de saudade
De alguém.




José Bispo Clementino dos Santos, mais conhecido como Jamelão (Rio de Janeiro, 12 de maio de 1913 – Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008), foi um cantor brasileiro, tradicional intérprete dos sambas-enredo da escola de samba Mangueira.

Jorge Luis Borges



Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, 14 de junho de 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.


A CHUVA

 
A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo freqüentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A umedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.
 
 (Tradução de Renato Suttana)


Leila Diniz



Leila Roque Diniz (Niterói, 25 de março de 1945 — Nova Délhi, Índia, 14 de junho de 1972) foi uma atriz brasileira.

Por Norma Hauer


ELE NÃO NASCEU EM JUNHO...
Mas faleceu em 16 de junho de 1963

Não é esse o motivo que o faz presente na data de hoje, mas sim por ser o dia de Santo Antônio, que ele homenageou com esta composição:

ISSO É LÁ COM SANTO ANTÕNIO
Autor Lamartine Babo
Gravação original de Carmen Miranda e Mário Reis

Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio...
São João disse que não
São João disse que não
Isso é lá com Santo Anônio.
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio...
Matimônio, Matrimõnio,,,
Isso é lá ´com Santo Antônio.

Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
São João ficou zangado
São João só dá cartão com direiro a batizado
Implorei a São João, desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Anotnio...
Matrimônio, matrimõnio...
Isso é lá com Santo Antônio.

São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Aos portões do paraíso
Disse o santo num sorriso,
Minha gente eu sou porteiro
Nunca fui casamenrteiro
São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Aos portões do paraíso...
Matrimônio, matrimônuo...
Isso é lá com Santo Antônio

Lamartine era muito "gozador" e fez essa brincadeira com os três santos famosos de junho.

Norma

"Complexo de vira-lata" - José Nilton Mariano Saraiva

Versatilidade era com ele mesmo. Nordestino de Pernambuco, mas radicado no Rio de Janeiro desde a mais tenra idade, o autodidata Nelson Rodrigues, um dos nossos consagrados escritores (e teatrólogo de mão cheia), também prestava sua competente colaboração à crônica esportiva tupiniquim, a partir da sua concorrida coluna diária, reproduzida em diversos jornais Brasil afora.
Torcedor declarado e apaixonado do Fluminense (o famoso carioca “tricolor das laranjeiras”), ainda assim Nelson Rodrigues procurava ser o mais imparcial possível em suas memoráveis análises e na didática exteriorização dos posicionamentos, não se furtando de colocar nas alturas ou dá o devido crédito a um Vasco, Botafogo, São Paulo, Santos, Cruzeiro e outros, quando faziam por merecer. Na análise individual dos times, então, os chamados jogadores “fora-de-série” (Ademir, Garrincha, Zizinho, Pelé, Tostão, Gérson, Nilton Santos e outros) mereceram crônicas épicas, marcantes, definitivas, imortais, até.
No entanto, um pequeno detalhe o importunava, o deixava por demais pessimista, cabreiro e, até, um tanto quanto descrente: a explosiva e latente instabilidade emocional que se apossava dos nossos principais atletas, ou a recorrente metamorfose que os acometia, quando, convocados a defender a Seleção Brasileira, tinham que se defrontar com os “branquelos galalaus europeus”, também conhecidos por “cinturas-duras”, tal a falta de habilidade para tratar a bola (aqui ou lá fora, em Copas do Mundo, ou não). Era uma tremedeira generalizada, uma basbaquice sem tamanho, uma “defecada” coletiva, um colossal e invulgar acovardamento. Parecia até que o brasileiro não passava de um desclassificado qualquer, um ser humano de quinta categoria, um crônico derrotado de primeira hora. E foi buscando retratar tudo isso que, frasista de primeira hora, ainda que a contragosto Nelson Rodrigues chegou à conclusão nada agradável, ao diagnóstico por demais cáustico, ao humilhante vaticínio de que o jogador brasileiro se deixava possuir, em tais ocasiões, por um incompreensível “complexo de vira-lata”.
Se tão pejorativa denominação repercutiu ou não no íntimo de cada um (teriam mesmo “tutano” pra absorver e decifrar tal conceito ???), só uma espécie de tese sócio-antropológica pra efetivamente comprovar. Fato é que, depois daí, depois das muitas decepções patrocinadas aqui e alhures, depois dos seguidos fracassos pelos campos de futebol mundo afora, deu-se como que uma espécie de “estalo”, uma bem-vinda “ressurreição” do futebol do Brasil, culminando com a conquista do título de “Campeão Mundial”, lá na longínqua e siberiana Suécia (em 1958), quando Pelé e, principalmente Garrincha, assustaram os “branquelos” e emudeceram o mundo. Repetimos a dose em gramados do sul-americano Chile (em 1962), no apogeu de Garrincha (já que Pelé, lesionado, não participou). Mas fracassamos humilhantemente na Inglaterra (em 1966), em razão das brigas políticas internas dos dirigentes de então (já aí, os jogadores brasileiros começaram a ser vistos com outros olhos no “velho continente”, a ponto de aqueles que mais se destacassem serem adquiridos por times de lá). No México (em 1970), com a paz restabelecida, formamos um imbatível time e conquistamos, em definitivo, o cobiçado troféu Jules Rimet (Copa do Mundo).
A partir daí, todo mundo sabe da história, de cór e salteado: a televisão literalmente “entrou em campo”, dedicando um valioso espaço (e, principalmente, transmitindo as partidas “ao vivo”, formando uma legião de novos admiradores), providenciando patrocinadores/anunciantes de peso, profissionalizando de vez o ambiente, e transformando o futebol numa milionária fonte de recursos e prestígio (basta dizer que a FIFA, associação gestora do esporte, hoje tem mais associados que a própria ONU).
Nossos jogadores começaram a ser vistos com outros olhos no “velho continente”, estabeleceu-se a convicção de que se tratavam de verdadeiros “artistas” no trato da bola e, assim, abriu-se um mercado por demais atraente e promissor e o futebol virou a coqueluche que é hoje.
Mas, como uma mesma moeda sempre nos apresenta duas faces distintas, aqui a policitagem suja não tardou a aparecer: interesses escusos “pintaram no pedaço” (dirigentes que ao assumirem nada tinham, saíam milionários ao final de cada mandato); a mediocridade fez moradia (como entender como um jogador (???) horroroso como um tal “Valdir Papel” tenha tido oportunidade de envergar a gloriosa jaqueta do Vasco da Gama ???); eclodiram escândalos monumentais (as eleições da FIFA tornaram-se um rentável balcão de negócios de mão dupla: pra eleitores e eleitos); a pilantragem e o mau-caratismo deram o ar de sua graça (Eurico Miranda, no Vasco, que o diga); jogadores, mesmo os “pernas-de-pau”, passaram a faturar valores astronômicos e fora da realidade do país, resultando numa corrida desenfreada em busca do “novo eldorado”; e, enfim, estabeleceram-se de vez os empresário-aproveitadores (um verdadeiro exército de mafiosos espertalhões), resultando em muita gente ficar podre de rica às custas do futebol.
Alfim, e pra encurtar a história, apesar disso tudo faturamos o título em mais duas oportunidades (Estados Unidos, 1994 e Japão, 2002) e muito, mas muito mais importante: mandamos para o espaço sideral, remetemos ao cafundó-dos-infernos e implodimos de vez e definitivamente com o tal “complexo de vira-lata”, já que hoje respeitados em todo o mundo como os “reis do futebol”.
Mas aí já é outra história.

Cardápio da Alma por Martha Medeiros - Colaboração de Vera Barbosa




Arroz, feijão, bife, ovo. Isso nós temos no prato, é a fonte de energia que nos faz levantar de manhã e sair para trabalhar. Nossa meta primeira é a sobrevivência do corpo. Mas como anda a dieta da alma? Outro dia, no meio da tarde, senti uma fome me revirando por dentro. Uma fome que me deixou melancólica. Me dei conta de que estava indo pouco ao cinema, conversando pouco com as pessoas, e senti uma abstinência de viajar que me deixou até meio tonta. Minha geladeira, afortunadamente, está cheia, e ando até um pouco acima do meu peso ideal, mas me senti desnutrida.

Você já se sentiu assim também, precisando se alimentar?

Revista, jornal, internet, isso tudo nos informa, nos situa no mundo, mas não sacia. A informação entra dentro da casa da gente em doses cavalares e nos encontra passivos, a gente apenas seleciona o que nos interessa e despreza o resto, e nem levantamos da cadeira neste processo. Para alimentar a alma, é obrigatório sair de casa. Sair à caça. Perseguir.

Se não há silêncio a sua volta, cace o silêncio onde ele se esconde, pegue uma estradinha de terra batida, visite um sítio, uma cachoeira, ou vá para a beira da praia, o litoral é bonito nesta época, tem uma luz diferente, o mar parece maior, há menos gente.

Cace o afeto, procure quem você gosta de verdade, tire férias de rancores e mágoas, abrace forte, sorria, permita que lhe cacem também. Cace a liberdade que anda tão rara, liberdade de pensamento, de atitudes, vá ao encontro de tudo que não tem regras, patrulha, horários.

Cace o amanhã, o novo, o que ainda não foi contaminado por críticas, modismos, conceitos, vá atrás do que é surpreendente, o que se expande na sua frente, o que lhe provoca prazer de olhar, sentir, sorver. Entre numa galeria de arte. Vá assistir a um filme de um diretor que não conhece. Olhe para sua cidade com olhos de estrangeiro, como se você fosse um turista. Abra portas. E páginas.

Arroz, feijão, bife, ovo. Isso me mantém de pé, mas não acaba com meu cansaço diante de uma vida que, se eu me descuido, torna-se repetitiva, monótona, entediante. Mas nada de descuido. Vou me entupir de calorias na alma. Há fartas sugestões no cardápio. Quero engordar no lugar certo. O ritmo dos dias é tão intenso que às vezes a gente esquece de se alimentar direito.

Por Eduardo Alves da Costa, em 1964.



"Na primeira noite
Eles aproximam-se
E colhem uma Flor
Do nosso jardim
E não dizemos nada.

Na segunda noite,
Já não se escondem:
Pisam as flores
Matam o nosso cão,
E não dizemos nada.

Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada."


Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.

Rainer Maria Rilke

Almas em bando- socorro moreira



"A vida é a arte do encontro...”

A morte, quisera...
Será também?
Medito sobre a natureza humana
E me enxergo, projeto "in extremis”

Quem sabe,
todos,
em outros planos,
livres da matéria
possamos dançar
um tango?

O cansaço chega...
De lagartas a borboletas
Almas em bando
A voar no infinito
que desconhecemos

-Viver é testemunhar
a morte dos nossos dias...

Uma paisagem banal - por Rejane Gonçalves



Trata-se de um quadro de dimensão singular pendurado no topo do mundo. Nele há uma profusão de imagens, de coisas que se sobrepõem umas às outras, de cores em constante luta com seus tons contrários. É como se o tempo tivesse borrado a tinta; tudo acontece em meio a pesadas brumas. Percebe-se, mesmo assim, a tela cortada ao centro por uma cerca não muito alta, de troncos retorcidos, feito braços dispostos em tranças a ornamentar uma cabeça de fartos cabelos. Do lado onde, dizem alguns, a paisagem parece mais nítida, está um cavaleiro montado em seu cavalo bravio. Segura fortemente as rédeas e todo o seu corpo empenha-se no sentido de impedir o animal de pular a cerca. Do outro lado desta, onde, dizem alguns, a paisagem é confusa e pródiga em abismos, acaba de pisar o chão um cavalo, trazendo montado em seu dorso um cavaleiro bravio. Seu corpo quase deitado sobre o animal e suas mãos, por onde escorrem as rédeas, parecem indicar não ter ele conseguido ser do outro cavaleiro uma parelha, pois que ultrapassou a cerca.
Os viandantes com gestos disformes passam ao largo. Todos, com raríssimas exceções, evitam uma observação demorada desse quadro de dimensão singular. É sabido que uma maior apreensão da paisagem transporta o rosto do incauto observador às alturas, sobrepondo-o ao rosto de um dos cavaleiros. Essa esquisita peculiaridade do quadro é na maioria das vezes incômoda e talvez fatal. Por isto é que os viandantes passam ao largo. Tapam os olhos dos filhos e repetem em ladainha o que há muito tempo ouviram com a força de um massacre de mil martelos zunindo em suas cabeças:
− Desses dois homens montados... de um diz-se que é louco, do outro diz-se que é são.

setembro/ 1987

Rejane Gonçalves

Rejane Gonçalves é contista, nasceu em Caruaru-PE e tem laços familiares cratenses firmados desde os anos 70. Atualmente mora em Recife.

AMIGO(A) por Rosa Guerrera


Deixa que eu fique aqui
Sempre a teu lado
A escutar tua voz,
Ouvir sonhos partidos...
E na mudez aprender tua linguagem
E gargalhar ao som do teu sorriso.

Deixa que eu tire a dor
Que tens na alma,
E dê a tua angústia,a harmonia...
Que eu transforme em versos
Tuas dores
Cantando em compassos
De folia.

Deixa que hoje
Com a alma em festa
Eu agradeça aos céus a alegria,
De sermos tão amigos (as)
Companheiras(os)
Sempre na Fé , na dor, sem fantasias

E se amanhã a morte ou o acaso
Traçar em nossas vidas um “adeus”...
Na tua lembrança fique o meu abraço,
E que eu leve em meu peito o rosto teu!

123 anos de Fernando Pessoa
13, junho, 2011



O português Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, completaria 123 anos neste 13 de junho de 2011 caso ainda estivesse vivo. Pessoa foi um dos principais poetas da língua portuguesa, ajudando a formar a literatura e o vocabulário de nossa língua.

Nascido em Lisboa, Fernando Pessoa foi criado em Durban, na África do Sul, onde viveu dos 6 anos até os 17. Por lá, aprendeu a língua inglesa, a partir da qual traduziria poemas para o português e criaria grande parte de sua produção artística (segundo a Wikipedia, três de suas quatro obras reconhecidas – 35 Sonnets e English Poems I e II – contra apenas um livro publicado em português – Mensagem – este no ano anterior ao de sua morte).

Mesmo com tanta produção em inglês, sua produção em português não deve ser negligenciada. Na verdade, seus textos em nossa língua estão dispersos pois colaborou com vários meios diferentes, inclusive a Revista Atena, da qual foi diretor. Fernando Pessoa também não se limitou a essas duas línguas, tendo produzido poemas também na língua francesa.

Fernando Pessoa faleceu em Lisboa, sua cidade natal, em 30 de novembro de 1935, aos 47 anos, de cirrose hepática.  

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