por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 24 de abril de 2011

Rasgando o pacote das lembranças...


Praia de Boa Viagem - Recife-Pe ( 1960)


Foi exatamente deste lugar, que eu vi o mar pela primeira vez.
Eu tinha 9 anos de idade.

Manhã de domingo inesquecível. 
Meu pai, minha mãe, irmãos menores ... 

Guardo na boca um sabor de sal. 
Nos olhos  , o sal da saudade.
Naquela noite meu corpo pegou fogo, 
mas não doeu.
Estava completa por tanta beleza.

A zoada do mar ... 
Ficara...
Cheiro e cor !

Meus olhos contemplam a foto, e, mais uma vez, sinto-me lá.
Eu, meu pai, minha mãe, meus irmãos ... 
- Pés afundados nas areias das lembranças.

socorro moreira

POEMA DE ISOPOR - por Ulisses Germano

 
O QUEBRA-CABEÇA DE CECÍLIA
 
Uma  peça do pedaço
Do nosso quebra-cabeça
Se encontra despadaçada
Formando um outro quebra-cabeça
Do pedaço da peça estilhaçada

Ulisses Germano





Agostinho dos Santos





Agostinho dos Santos (São Paulo, 25 de abril de 1932 — Paris, 12 de julho de 1973) foi um cantor e compositor brasileiro. Seu maior sucesso foi cantando músicas da peça e depois do filme Orfeu Negro, como Manhã de Carnaval e Felicidade. Participou da apresentação de Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova Iorque (1962). Faleceu, em 1973, em trágico desastre aéreo nas imediações do Aeroporto de Orly em Paris, no Vôo Varig 820.

Paulo Vanzolini


Origem: Wikipédia


Paulo Emílio Vanzolini (São Paulo, 25 de abril de 1924) é um zoólogo e compositor brasileiro, autor de sucessos como "Ronda", "Volta por Cima" e "Na Boca da Noite".
Criou a Teoria dos Refúgios a partir de estudos conjuntos com o geomorfologista Aziz Ab'Saber e com o americano Ernest Williams. Refúgio foi o nome dado ao fenômeno detectado nas expedições de Vanzolini pela Amazônia, quando o clima chega ao extremo de liquidar com uma formação vegetal, reduzindo-a a pequenas porções. Assim formam-se espaços vazios no meio da mata fechada.

Ella Fitzgerald



Ella Jane Fitzgerald (Newport News, 25 de abril de 1917 — Beverly Hills, 15 de junho de 1996) também conhecida como a "Primeira Dama da Canção" (em inglês: First Lady of Song) e "Lady Ella", foi uma popular cantora de jazz estadunidense. Com uma extensão vocal que abrangia três oitavas, era notória pela pureza de sua tonalidade, sua dicção, fraseado e entonação impecáveis, bem como uma habilidade de improviso "semelhante a um instrumento de sopro", particularmente no scat.

Considerada uma das intérpretes supremas do chamado Great American Songbook teve uma carreira que durou 59 anos, venceu 14 prêmios Grammy e recebeu a Medalha Nacional das Artes do presidente americano Ronald Reagan, bem como a Medalha Presidencial da Liberdade, do sucessor de Reagan, George H. W. Bush.
wikipédia

E o túmulo estava vazio! – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Na madrugada daquele domingo, pela contagem dos judeus, o terceiro dia após a morte de Jesus, duas mulheres se dirigiram ao túmulo onde o haviam sepultado. Pretendiam perfumar o corpo dele. Ao se aproximarem, houve um grande tremor de terra. Perceberam que a pedra que fechava o sepulcro estava retirada e um ser de luminosidade intensa e radiante estava sentado sobre a pedra. Era um anjo, um mensageiro enviado por Deus! Os guardas que vigiavam o sepulcro, tremendo de medo, ficaram como que paralisados, como se estivessem mortos. As duas mulheres também ficaram amedrontadas. Mas o anjo lhes disse: “Não tenham medo, o Jesus que vocês procuram está vivo, ressuscitou, conforme havia anunciado!” Elas saíram correndo para comunicar aos demais discípulos o que havia acontecido e que o mestre não estava mais no túmulo. De repente, Jesus ressuscitado apareceu a elas duas dizendo que fossem para a Galiléia e avisassem aos discípulos que ele iria se encontrar com eles. (Cf. Mt 28, 1–10).

Essa passagem do Evangelho anunciado na Vigília Pascal celebrada nas últimas horas desse sábado, me fez lembrar os últimos dias de vida do meu saudoso pai. Ele enfrentou há 46 anos, com a mesma idade com a qual me encontro hoje, o sofrimento e as dores que uma terrível moléstia o vitimou, com muita serenidade e a mesma esperança que aquelas duas seguidoras de Jesus demonstraram. A confiança de quem realmente viveu o projeto que Jesus nos deixou, acredita nele e espera pela ressurreição dos mortos. Aquelas duas mulheres acompanharam Jesus enquanto ele pregava pelas estradas e povoados da Galiléia e foram testemunhas da sua paixão morte e ressurreição. Enquanto elas esperavam por alguma coisa, os guardas representantes dos inimigos que levaram Jesus à morte vigiavam o túmulo para que nada acontecesse.

O projeto de Deus anunciado por Jesus e vivido com toda intensidade pelo meu pai, não nos leva à morte, mas é caminho para a vida. Aquela mesma fé na ressurreição, que meu pai demonstrou nos seus últimos momentos de vida, é um convite para todos que com ele conviveram para que continuemos a viver o projeto que Jesus nos deixou.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

ORAÇÃO DE SÃO JORGE

Chagas abertas, Sagrado Coração todo amor e bondade, o sangue do meu senhor Jesus Cristo, no corpo meu se derrame, hoje e sempre.
Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter, para me fazerem mal.
Armas de fogo o meu corpo não o alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem.
Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder da sua Santa e divina Graça, a virgem Maria de Nazaré, me cubra com o seu sagrado e divino manto, me protegendo em todas as minhas dores e aflições, e Deus com a sua Divina Misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos, e o glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria Nazaré, em nome da falange do Divino Espírito Santo, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas anulas defendendo-me com a sua força e como a sua grandeza, do poder dos meus inimigos carnais e espirituais e de todas as suas más influências, e que debaixo das patas do seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer que me possa prejudicar.
Assim seja com o poder de Deus e de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
Amém.

" Dia de São Jorge, do Livro e da Rosa"


No dia 23 de abril se comemora em Barcelona o dia de Sant Jordi (São Jorge). Este dia, conhecido como a festa do livro e da rosa, coincide com o aniversário de São Jorge, o santo padroeiro da Catalunha. Segundo a lenda, São Jorge matou o dragão que atemorizava o povo, e do sangue do dragão nasceu uma rosa que o santo deu de presente à sua princesa.

Para honrar a tradição catalã, o caval(h)eiro oferece uma Rosa de S. Jorge (Sant Jordi) à Dama. Esta, em troca, oferece-lhe um livro. Que lenda mais bela poderíamos ter para celebrar o Dia Mundial do Livro?

A cada ano as ruas de Barcelona ficam repletas de vendedores de rosas e de livros, especialmente na Rambla, que se transforma em uma verdadeira maré humana de vendedores e compradores de livros. Além disso, durante todo o dia os autores dos livros mais populares autografam os exemplares dos leitores, tanto na rua como em livrarias.
No dia de São Jorge, uma rosa e um livro. Esta tradição, que combina o fato religioso, a rosa como símbolo do amor e o livro como símbolo da cultura, transformou o dia 23 de Abril na data mais comemorada, por todos os catalães.

Em 1926 a Espanha instaurou o dia 23 de Abril como Dia do Livro pois esta data coincide com a morte de Cervantes, imitando a Inglaterra que já o celebrava no mesmo dia porque também coincide com a morte de Shakespeare. A celebração enraizou-se rapidamente em Barcelona e estendeu-se na Catalunha, mas o propósito oficial diluiu-se ao coincidir com o dia do Santo Padroeiro. Enquanto em outros lugares se mantinha de maneira muito escassa ou desaparecia, na Catalunha tornou-se um dos dias populares mais celebrados e ao mesmo tempo ajudou muito a potenciar a difusão e a venda do livro catalão. Assim, na Catalunha o 23 de Abril é o dia de São Jorge, da rosa e do livro: o dia do Santo Padroeiro, do amor e da cultura. É, decididamente, um dia de civismo, de cultura e de respeito entre todas as pessoas que vivem na Catalunha e, por extensão, todas as pessoas e todas as culturas do mundo.


http://dreamguides.edreams.pt/espanha/barcelona/sant-jordi
http://arteziletras.blogspot.com/2011/04/dia-do-cavaleiro-da-rosa-e-do-livro.html



Ele existe... é o Brandão, amigo poeta, recebendo
minha visita no sábado de aleluia. Aleluia!! irmãos!!!
Foi uma grande alegria encontrá-los
pessoalmente, ele e Sônia, num momento de poesia e
amizade. Convidei-os a participar do lançamento
do "Prosa e verso no Azul sonhado" . Vamos aguardar...

Renúncia - por socorro moreira








Deletar um projeto de amor

é matar uma célula amorosa

O efeito tristeza

esvazia por momentos ,

por dias, toda a nossa alegria.

Mas , já dizia minha vó:

Amor unilateral não tem função ...

É solidão braba,

corrosiva !



Renunciar é deixar que a solidão se dilua

escorra , e perca a noção da nostalgia.

Já, já...

o tempo muda...

Volta a primavera,

e com ela

as cores da fantasia !

(socorro moreira) 



Poeta
é ser dono de todos os sonhos
e não ter nenhum

Viver por palavras :
bolas de sabão de vida curta e bela
Vão, explodem com o toque do olhar

Poeta é a árvore que teima nascer
na areia do sertão
A gritar sua sede
A sonhar
com a nuvem carpideira

Poeta é silêncio
martírio de ser
Dizer-se poeta
é blasfêmia
Sentir-se poeta
é prosaico, simples ! 



Cor de mel - por Socorro Moreira



Depois da tempestade

vem a bonança?!


Esqueci que fui criança

Esqueci que sou mulher

Ganhei as asas de um anjo

Vou voar

querendo o céu ...


E nessa rota sem planos

Eu misturo o meu pincel

nas tintas que se derramam

do teu olhar cor de mel.

CONVERSA COM JESUS - por Rosa Guerrera



Hoje ( domingo) eu não pretendo ir á igreja para conversar com Jesus, aliás faz tanto tempo que não vou a uma missa , que nem lembro bem os seus rituais.
Hoje eu irei à praia , e pouco importa que chova ou que faça sol.
Sentarei na areia e olhando ternamente o verde mar as jangadas e as brancas velas , conversarei bem mais com o meu Senhor.
E Ele virá a mim ( tenho certeza ), descalço , camisa aberta ao peito., cabelos revoltos ao vento e num gesto manso e puro se sentará ao meu lado . E os nossos olhares se cruzarão numa compreensão mútua de carinho e de Fé.
E em nome de todos os homens eu lhe pedirei perdão pelas faltas cometidas , pelas revoltas momentâneas e pela descrença que tantas vezes invade muitos e muitos corações... inclusive o meu.
Nada de velas acesas , orações comuns , repetitivas em pedidos rotineiros.
Nossa conversa será simples como a simplicidade de Seus gestos , e verdadeira como a Verdade que existe nesse homem-Jesus , que sentado ao meu lado , olhará o horizonte espalhando raios de paz nos corações frios e endurecidos.
Ah Senhor! Espera-me na praia !
Vem na vela branca das jangadas ou na espuma alva da calma onda . Vem no sorriso da criança que constroi castelos na areia , ou na aparência tranquila do ancião que fuma o seu grotesco cachimbo olhando pensativo o encontro céu e mar .
Vem na alegria do vendedor ambulante , na pele morena do pescador, no carinho de dois adolescentes que se abraçam ...
Vem de qualquer maneira ao meu encontro. Vem de calça jeans desbotada, camisa amarrada na cintura , mas ... por favor : VEM .
Vem na figura de todos os homens e de todas as mulheres , para que eu possa cantar bem alto a minha Fé tantas vezes abalada.
E perdoa Senhor , essa conversa sem jeito. Ela é tão comum quanto a minha singularidade ... mas tão sincera e forte quanto o amor que trago por Ti nesse meu tão fraco e pequenino coração.

Pensamentos - Por José de Arimatéa dos Santos



Pensamentos
Que vem
E que vão
Ah!
Que tanto pensamento!
É melhor
Em vez de pensar
Por que não
Ir a luta?
Mas,
Para melhor realizarmos
Nossos sonhos
Temos que
Pensar
Foto e texto: José de Arimatéa dos Santos

Da beleza de Deus - por Ana Cecília S.Bastos





Olhos alados.
Palavras sem trégua.
Mas não escrevo, poesia distante.
Meu manuscrito circulando.
Leitores reticentes.
Dentro de mim o dragão, olhos alados.

Sou um continente e seus rios que correm, mansos e em fúria.
Sou as palavras desatadas quando algo me desperta, algo
gratuito e fortuito disperso
em algum atalho,
eu sem caminhos.

Apenas um caminho, e eu distante.
Rios fluem mansamente.
Persisto no erro, furiosamente.
Rios fluem, e sou eu.

Perco a palavra e o destino.
Só o amor de Deus me salva,
a mim,
que não fiz por merecer.


Remando contra a corrente. Foto de Mário Vítor.

O animal dos moteis - por Márcia Denser




“Mas sempre acabo em seus braços / do jeito
que você quer...” - Desabafo - Roberto Carlos

Deitamos ouvindo Roberto Carlos, a voz dos motéis, “por que me arrasto a seus pés?”. Porque sexo é isso mesmo. Essa gana de rastejar com Roberto, no coito dos motéis. Ele diz: esse motel já foi bom, e eu olho o banheiro, caixa amplificadora de fibroplast, as toalhas embaladas em sacos plásticos, os lençóis castanhos com ramagens duvidosas entre encardido e vestígios de cor, os três espelhos redondos, montados em curvim (um em frente ao outro, no meio a cama, o terceiro no teto, sobre a cama), claro que para transformar-nos numa espécie de confuso coquetel de siris assados: pernas, braços, carnes vivas, canteiro de patas, antenas, pêlos moventes, espiando de esguelha uma outra hidra em perspectiva no espelho da frente, de trás, de cima, de baixo, devassados, misturados, confundidos, a 850,00 a diária, porque (e então eu sei porque) todos os motéis é sempre o mesmo motel, o animal mitológico, a quimera que se arrasta interminávelmente na madrugada ao som de Roberto Carlos.
Apoiada nos cotovelos, a cabeça dela surge no horizonte do espelho. A brasa do cigarro, no ponto quase central da bola ensombrecida, como o primeiro sol de um universo, sopra a fumaça:
— Você já leu Hemingway?
— O que?
— Perguntei se você já leu...
— É importante? Ele soergue-se ligeiramente.
— Fatos. Parece que ele só se preocupa com os fatos, no princípio. Naquele conto do toureiro, não lembro o título. Começa que o sujeito bate na porta do patrão, quer voltar às corridas, o patrão não está interessado, diz: só nas noturnas, 300 pesos, discutem o salário. Muito seco, direto. De repente, o patrão olha bem na cara do toureiro e pensa: é assim que todos morrem. E pronto. Eis a cabeça do monstro, a cutilada no boca do estômago, Hemingway nos pega despre...
— E o cara? Morre? reprime um bocejo.
— A morte só o rodeia. Toda a tourada. Ele a persegue. Ela o arranha e o abandona. Mas ele volta a provocá-la. Como um cego. Ou um tolo. É inútil. Duas vezes entre os chifres do touro. Debaixo das patas dos cavalos. A espada se parte. Não acerta — o que é muito simples para um veterano — o local exato no dorso do animal, do diâmetro de uma moeda de prata. A morte apenas o maltrata, como e estivesse brincando, como se ele não a merecesse, como...
— Mas ele morre ou o quê?
— Não sei, o picador,
— Como não sabe? Então esse Hemingway é...
— Precisaria ler a estória
— Certo. Você já me contou.
A brasa desaparece no espelho, se apaga. É como uma sina, ela pensa, contemplar esta cabeça com fria ternura ou recorrer mais para trás, para uma piedade distante detonada pelo álcool, pela solidão, aquele sanduíche cinzento de noites de leitura e insônia e cigarros, como uma única noite boreal, amanhecer e crepúsculo, luz intermediária e intermitência de néon, de café, de galeria, de esperar sem mais esperar, suplicar, implorar por aquilo que sequer tem nome. O toureiro não merecia a morte. É como uma sina. Rastejar com Roberto: “você é mais que um problema / é uma loucura qualquer”, porque ele sabe de uma porção de coisas sem saber, coisas que eu ignoro. Lembra a Maga, uma personagem de Cortázar que, por sinal, ignora Hemingway e este, claro, além de vocês e todos, todos nós, amantes e condenados e Roberto.
Um touro espreita no fundo dos olhos dele: duas faíscas cúmplices transmitem a ordem ao dedo áspero que vadiamente começa a percorrer a coxa, queimado cilindro macio de luz negra. O dedo vai subindo, pincelando as penugens invisíveis — há partículas fosforescentes na superfície da pele — o dedo, e então são os dedos, vão se abrindo, agarrando, numa fofa mordida, a região dos pelos, capturando os lábios, separando-os com delicadeza: o indicador resvala pela fresta úmida. Imobiliza-o um instante lá dentro e então o leva à boca. A cabeça está inclinada sobre seu ventre, mas ela sabe que ele sorri: um garoto mergulhando o pão na panela e experimentando o molho. Olha-a, a mão agora pousada no seio, o tato pegajoso, feito clara de ovo.
— Você complica tudo. As faíscas divertidas, perversas. Como se fosse possível o amor, como se fosse muito fácil, muito simples. Possível. Fácil. Simples. Do diâmetro de uma moeda de prata. Uma fresta úmida. O ponto exato. Amor.
— Nunca estive na Espanha, ou no México. Ela acende outro cigarro.
— Ou aqui. Está precisando de um homem.
— Já pensei nisso. Aliás, não faço outra coisa.
— Pergunto se você já fez algo a respeito.
— Sinceramente...
— Por você mesma. Imagina que eu sou um idiota. Sei o que está pensando. Essa estória de toureiros fodidos e do tal Hemingway. Muito complicado, não acha?
— Então, nada de romance?
— As mulheres não mudem...
— Nem os homens. É bobagem. Penso: sinto-os pulsar aqui dentro, cegos, surdos, solitariamente, me tocando até a loucura, me penetrando até a loucura. Certo, o prazer também é meu, mas duplamente solitário, uma tarefa que cumprimos tão distraidamente, tão alheiamente como um violino que se tocasse a si próprio num dormitório de quartel, tarefa da qual só poderia, só deveria, nascer amor e música, no entanto...
— Roberto Carlos, aponta o alto-falante.
— Não estou falando de fundo musical, e depois isso é outra estória (“por que me arrasto?”).— Está querendo dizer que eu só me masturbo?
— Que nós.
— Isso. Que nós.
— Também não sente assim?
— Sei lá. Às vezes...
— É isso.
— O que quer? É bom pra mim, bom pra você...
— Exato. Bom-mim, bom-você, um em Guadalupe, outro no Japão, se fodendo por controle remoto.
— Garota engraçada, você. Vamos beber? Fisgou o cardápio na mesinha.
A brasa inflamou-se novamente no espelho: uma erupção solar. Mas este já é um outro capitulo: agora beber, começar a beber e ladeira abaixo.
— Vodca. Quero vodca.
— Pura? O telefone suspenso na pergunta, a expressão surpresa.
— Não. Com gelo.
Pousa o fone no gancho. Fita-a intrigado, ajustando o travesseiro.
O corpo enorme, em potente repouso, não faz parte do rosto. Coça os cabelinhos do peito. Ela está enrodilhada ao pé da cama (como se camas redondas tivessem alguma referência. São como o universo, não há direção, norte, sul, direita, esquerda, em cima, embaixo, esses caras são mesmo diabólicos, Deus é diabólico, ou seremos nós que...)Ele se inclina, acariciando-lhe as ancas dobradas, avaliando-as no espelho às suas costas, as nádegas projetando aquele invisível biquíni de sol. Afaga-lhe o rosto, os cabelos, hesitando, ganhando tempo, subornando, com medo de falar:
— Bebe sempre vodca pura?
— As bandejas passeiam no pátio repletas de coquetéis de frutas, martinis doces...— O que há de errado?
— Para as garotas boazinhas.
— E você? Não é? O dedo contorna os lábios: vai me calar, me silenciar com esse beijo, entupir-me com essa língua, porque esses encontros são acidentes vertiginosos cujo resultado é o titã de mil olhos, mil bocas famintas que murmuram te amo, te amo, e que respondem te amo, te amo, zumbindo num cercado de mentiras ciciantes de sons no espelho, dimensão da penumbra da vida, caixa de música abafando um só tema a repetir te amo, te amo, perseguindo o elo de uma cadeia prisioneira que nos abandona assim que sai da nossa boca, e a sua repetição implica na perseguição eterna daquilo que já esteve atrás da boca, do travesseiro. Ao formularmos com os lábios o rolo doce da língua e da saliva, saltamos à frente do tempo e imediatamente já nos sentimos abandonados por esse pássaro fugidio, que se debate te amo, te amo, ato irrefletido de cuspir, separar as coxas e tomar a primeira estocada, recuar, avançar, senti-lo rígido como um cilindro de aço vivo e então capturá-lo, mas, de leve, uns cinco centímetros, não mais, de repente, sugá-lo todo para dentro, frente a frente, de cócoras, como crianças agachadas brincando com bolinhas de gude, hipnotizadas pelo movimento das bolinhas que rolam, evoluem, param, prosseguem — o entrechoque das bolinhas liquidas — nova fisgada, novo recuo de quadris; as bocas navegando nas bocas, no rio das bocas, no mar das bocas, nas cavernas dos dentes e da língua, na correnteza das bocas, gargantas, ventres molhados e, lá embaixo, o borbulhar estourando as margens que recuam, cedem, enquanto ele bombeia, macho e terno, e bate e bate, martela o limite viscoso, implorando para nascer de novo, e combate e se estimula e a maltrata porque ela uiva, sussurra obscenidades — as primeiras palavras que um homem escuta, e as últimas — evoluindo, insuportável, maldita, insuportável, adorável, não é mais prazer, não é mais dor e é o milagre, a vertiginosa erupção, um terremoto visto ao longe e o centro de um furacão, assistir uma catástrofe atômica e, ao mesmo tempo, estar no centro dela, como Deus, como Deus, como Deus.
Depois do violento crepitar frio, o movimento cessa e então voltar a ouvir o vento se lastimando nas marquises dos edifícios, nas estruturas de aço da cidade industrial mais próxima e, não fosse o vento, poder ouvir até a nós mesmos (que é a última coisa que gostaríamos de ouvir na freqüência dos motéis), por isso, nosso ego logrado retorna, monstro rugidor e oceânico, às cavernas interiores, lá se aferrolhandoLá em cima, no espelho, duas, quatro, seis, oito larvas rotas, libertas do emaranhado.Termina a cerveja e dá-lhe uma palmada na coxa:
— Vamos (“pensando bem, amanhã eu nem vou trabalhar / e além do mais...”)— Ainda tem vodca. Ela aponta um dedo preguiçoso para o copo dois terços vazio.— Fica pra outra vez, já veste a camisa


(Extraído do livro Animal dos Motéis, Civilização Brasileira-Massao Ono / Editores — São Paulo, 1981, pág. 9)

Pra comer depois - Adélia Prado


Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
‘Eh bobagem!’
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo.

Perfil de um anjo



Em 1943, D. Almina Arraes tirou uma foto no estúdio do Sr. Júlio Saraiva, em Crato. Dias depois, um assistente do Sr. Júlio, Sr. Emetério, ex-funcionário da Aba Filmes de Fortaleza, foi entregar a fotografia na residência da fotografada e pediu autorização para levar uma cópia a fim de ser exposta em evento promovido por aquela empresa na capital cearense. A título de curiosidade, eis a peça que ficou um mês em exposição.
(Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes)

Olhando agora a sua foto , me comovo com a delicadeza dos seus traços.
Eram lindas as nossas mães ! Pareciam anjos , cuja auréola persiste em crescente brilho, a medida que o tempo passa.
Beleza quando é exterior e interior tem uma permanência misteriosa, que só os anjos possuem.
(Socorro Moreira)

Enquanto estou aqui ... - Por Socorro Moreira


Naquele mundo vivo
eu senti que preciso da luz
O escuro me adormece
e eu quero as cores do outro mundo

Quero achar quem partiu primeiro
Quero esperar, quem partirá...
Quero continuar
sem mandar em mim...
Entendendo que ser livre
é não deixar de amar

Estamos ainda aqui ...
o que fazer pra completar
o projeto divino?
Nada fazer...
Apenas viver ! ?

Escrever é comer
É engolir , e mastigar
o que nunca foi dito, nem visto.
Escrever é matar ou fazer nascer...
E essas duas coisas se alternam,
muitas vezes,
num único verso !

Minha Tia Dora - "A Iara do Rio Jaguaripe " - por Corujinha Baiana




Quando criança, em época de férias escolares, eu sempre passava uns dias na chácara da minha avó, em Nazaré das Farinhas, município do Recôncavo Baiano, banhado pelo rio Jaguaripe.

Para mim, isso era o máximo. Lá havia, entre outras atrações, muuuuuitos pés de sapoti, uma das frutas que eu mais gosto. Além disso, em Nazaré também havia a Feira de Caxixis - uma verdadeira farra quando a minha avó me levava, e me deixava escolher os que eu quisesse.

Assim, miniaturas de panelas, cuscuzeiros, tigelas, jarras, moringas, fruteiras e tudo que alimentava o meu mundo inocente de criança, era cuidadosamente colocado dentro de um mocó.

Mas em Nazaré, o que eu mais gostava mesmo, um verdadeiro encantamento, era ver a minha tia Dora lavar seus cabelos, sentada numa pedra, à beira do rio, que passava no fundo da chácara.

Minha tia era linda.Traços delicados, pele clara e macia, uma covinha no queixo e setenta e cinco centímetros de cabelos negros e lisos.Uma verdadeira Iara. Eu a admirava e, para mim, ela era uma deusa. Nunca me esqueço o encantamento que sentia, ao vê-la sentada, lavando os seus cabelos, à beira do rio.

Quando penteada, ela usava grossas tranças, em diferentes estilos .Um dia, as cruzava; no dia seguinte, as dobrava uma sobre a outra; noutro ainda, as enrolava sobre a cabeça como um ninho ...Mas quase sempre, as mantinha presas com laços de fita, que eram escolhidos com muito gosto, sempre em perfeita harmonia cromática com a roupa que usava.Lembro-me de que ela tinha uma variedade delas.

Em muitas ocasiões, ouvi pessoas da cidade se referirem à minha tia como a moça mais bonita do lugar. E eu ... orgulhosa. Afinal, ela era a minha tia.

Voltei para casa, passou o tempo, as aulas terminaram, e novamente, chegaram as férias. Mais uma vez, lá estava eu na chácara da minha avó, encantada com a minha tia. Mas dessa vez, o encantamento durou pouco.

Certa feita, não se sabe como, ao lavar os seus cabelos, eles embaraçaram, e formaram uns nós, deixando-a desesperada.

Amigas, parentes, minha avó, todos tentaram ajudá-la. Escova, óleo, pente largo, pente de dentes bem afastados, mas tudo em vão.

"Foi feitiço" - alguém falou. Dito e acreditado. - "Foi feitiço".Chamaram a rezadeira da cidade. Reza curta, reza comprida, reza cantada, até que o santo mostrou a solução: a solução que todos conheciam, mas que ninguém tinha a coragem de falar: " Para desembaraçar e desfazer os nós, tem que cortar o cabelo."

Eu não queria acreditar no que ouvia, mas tive que acreditar no que vi : minha tia a chorar, e seus cabelos pelo chão do quarto. Essa é uma triste imagem que eu tenho até hoje gravada na minha memória.

Depois dessa "tragédia", minha tia entristecida, ficou muito tempo sem sair de casa, esperando que seus cabelos crescessem ... mas eles nunca mais foram os mesmos.

Hoje, minha tia de cabelos curtos e grisalhos, sofre com a osteoporose, e anda com dificuldade. Mas na minha memória, ela continua sendo Minha Tia Dora - "A Iara do rio Jaguaripe".

( Coisas de Família - Corujinha Baiana - 17 de janeiro de 2010 )

CARLOS GALHARDO-MAIS UM 24 DE ABRIL- por Norma Hauer


“Você não gosta de mim...”

Foi assim que ele iniciou sua primeira gravação, no ano de 1933. Na época, talvez ninguém gostasse dele, mas a partir dessa e de outras gravações, ele passou a ser adorado por centenas, milhares, talvez milhões de pessoas.
Hoje, estando no mês de abril, vamos recordá-lo, dizendo que ele nasceu em 24 de abril de 1913.
E quem é ele? Onde ele nasceu?
Ele é CARLOS GALHARDO. Nasceu em Buenos Aires, na Argentina. Com 2 meses já estava residindo em São Paulo e com 1 ano no Rio de Janeiro, mais precisamente no Estácio.
Assim, foi curtíssima sua vida em Buenos Aires e mesmo em São Paulo.
Na realidade, ele poderia considerar-se carioca, porque aqui viveu , pode-se dizer, quase toda sua vida. Ele amava o Brasil, mais do que muitos brasileiros que vivem sonhando com outros países, lamentando ter nascido aqui.
Ele, porém, se dizia paulista. Nunca soube por que. Afinal viveu pouco em São Paulo. Nunca toquei nesse assunto com ele.
E não é isso que importa.
O que importa é que ele enriqueceu nosso cancioneiro trazendo-nos alegria com sua belíssima voz. Aquela voz que apareceu pela primeira vez , no mês de outubro de 1932, frente ao microfone na Rádio Educadora do Brasil (atual Rádio Tamoio) entoando uma bonita valsa de Romualdo Peixoto (o então conhecido pianista Nonô) e Luiz Iglesias, de nome “Destino”.
Essa valsa marcou seu destino como o maior intérprete de valsas brasileiras. Ele, porém, nunca a gravou. O único registro que existe é no Museu da Imagem e do Som, onde ele a cantou quando deu um depoimento sobre sua vida artística. Possuo uma cópia desse registro.
Apesar de seu “destino” ter sido cantar valsas, aquela sua primeira gravação (“Você não Gosta de Mim”) foi um frevo da autoria dos Irmãos Valença, de Pernambuco.
Falando em frevo, esse foi o primeiro, mas não o único gravado por Carlos Galhardo; no total, 41 frevos fizeram parte de seu repertório.

Nos anos 40, nas vésperas do carnaval, a Rádio Mayrink Veiga apresentava um programa de nome “Onda do Frevo” e ali Carlos Galhardo lançou dezenas deles. Foi o cantor que mais gravou frevos fora de Pernambuco.
Além desse frevo que marcou sua primeira gravação, as 14 gravações posteriores foram de marchas e sambas. Curioso ?
É que Mr.Evans, responsável pela Victor Brasileira (como então era conhecida a RCA Victor) cismava que Carlos Galhardo não era cantor romântico, para gravar valsas e canções. E assim continuaria, se ele não se transferisse pala a Colúmbia, ali levado por seu grande amigo, o compositor Roberto Martins.
E foi quando ele “estourou” com uma “Cortina de Veludo” que lhe abriu as portas para o “mundo das valsas e canções”. A partir daí, foi um não cessar de sucessos.
Depois da Colúmbia, ele foi para a Odeon onde gravou uma série de valsas: “...E o Destino Desfolhou”; “Assim Acaba um Grande Amor”; “Apenas Tu”; “Sonhos Azuis”; “Amar Até Morrer” e ainda lançou Ataulfo Alves como autor de valsas com “A Você” e “No Apartamento Discreto”.
Voltando à Victor (onde se manteve por 35 anos) gravou uma série de valsas, a maioria de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, autores de “Cortina de Veludo”.
A primeira foi “Italiana”, depois vieram “Madame Pompadour”; “Lenda Árabe” e muitas outras de vários compositores até que, em 1943, “estourou” com “Fascinação”, música de Marchetti que recebeu letra de Armando Louzada. Letra original. Não é versão, mesmo porque a valsa “Fascinação” não tinha letra.
Se ficar falando sobre Carlos Galhardo, acabo escrevendo um compêndio e isso já fiz quando escrevi sua biografia de nome “Carlos Galhardo-Uma Voz que é Um Poema”, em 1988.

Neste domingo de Páscoa, em que Carlos Galhardo completaria 98 anos não posso deixar de lembrar que foi exatamente na Páscoa de 1943, que “caiu” no dia 25 de abril (o dia 24 foi Aleluia) que o conheci pessoalmente. Daí...
Os anos se passaram, outros meses de abril foram transcorrendo até que para o querido cantor Carlos Galhardo o último foi o de 1985, quando ele completou 72 anos. Foi a última vez que falei com ele.
No dia 25 de julho desse ano a maior tristeza : ele partiu para a viagem sem volta, passando a ser, como ele cantou em “Estrela Cadente” “uma estrela que correu no céu em busca de outros mundos”.

Lembrar hoje de Carlos Galhardo é sentir sua presença que, na data de 24 de abril de 1913, abriu os olhos para o mundo e ouviu uma "Cantiga de Ninar", que lançaria em discos 23 anos depois, quando abriu uma "Cortina de Veludo"
Essa Cortina abriu também as portas para as valsas e canções que o acompanharam por toda a vida.
Carlos Galhardo foi, talvez, o cantor que mais ritmos gravou em sua carreira; foi o primeiro artista, sem ser nordestino, que gravou frevos; foi o único que lançou uma valsa em pleno carnaval: "Nós Queremos Uma Valsa”; foi o primeiro a gravar composições para São Jorge (foram cinco); foi quem mais gravou para datas especiais:"Bodas de Prata";"Boas Festas";"Valsa dos Noivos"; "Valsa da Vovozinha";"Valsa da Formatura"; "Valsa dos Quinze Anos"...
Foi o primeiro a gravar para o dia das mães "Mãezinha Querida", sendo "Sublime Herança" uma das mais bonitas; foi um dos poucos a gravar para as festas da Penha: "Sinos da Penha"; foi o único a gravar para "São Brás".
Foi também o único a gravar um tango para o carnaval: "Morocha Linda", assim como uma quadrilha "Quadrilha no Carnaval"...

Gravou guarânias "Orgulho"; baiões "Quando eu Era Pequenino"; bolero "Te Quiero,Dijiste"; canção italiana; "Cara Piccina; rumba "Crioula"; sambas "Sei que é Covardia"; foxes "Rosa de Maio";
marchas “Carolina”; canções "Conversando com a Saudade"...

E ele era o "Rei da Valsa"! Imagine se não o fosse...

Em 24 de abril ele chegou e só trouxe beleza; em 25 de julho ele partiu e não deixou apenas sua voz em centenas de gravações, mas deixou uma grande SAUDADE. É tempo de relembrá-lo em toda sua pujança.

Nesta hora o estamos relembrando com a palavra SAUDADE no coração.
.
Obrigada, muito obrigada Carlos Galhardo por tudo que você nos deixou, ao lado, também de sua amizade que tive a alegria de compartilhar.
Um grande abraço de agradecimentos onde você se encontra.

Não quero terminar sem colocar aqui a letra da "cortina" que se abriu para que ele entrasse "no mundo das valsas e canções",

CORTINA DE VELUDO
Autores Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago

No apartamento azul
Do nosso coração
Há rosas de Istambul
Em jarros do Japão.
É um sonho oriental
De mágico esplendor,
A aurora boreal
Na aurora de um amor.

E uma cortina de veludo
Esconde a porta oval
Por onde
Um dia hás de entrar.
E essa cortina há de se fechar
Sobre o teu vulto quando
Ele a vier transpor
E não mais se abrirá,
Meu amor.


Norma

Memory


Barbra Streisand



Barbara Joana Streisand, (Brooklyn, Nova Iorque, 24 de abril de 1942), conhecida como Barbra Streisand, é uma cantora, compositora, atriz, diretora e produtora cinematográfica norte-americana, Vencedora de 2 Oscar tendo sido indicada a mais três estatuetas. Ela divide com Cher a distinção de ter sido premiada com o Óscar de Melhor Atriz e também ter gravado um single número um no Hot 100 da Billboard.

wikipédia

Um filme, uma música



Shirley MacLean Beaty, conhecida como Shirley MacLaine (Richmond, 24 de abril de 1934) é uma atriz estadunidense.


Carlos Galhardo



Carlos Galhardo, nascido Catello Carlos Guagliardi (Buenos Aires, 24 de abril de 1913 — Rio de Janeiro, 25 de julho de 1985) foi um dos principais cantores da Era do Rádio.


Dia Internacional do Livro - 23 de abril. Dia em que Shakespeare, Cervantes e Inca Garcilaso embarcaram na Barca da Morte



Desde 1995, 23 de abril é o Dia Internacional do Livro. A data foi escolhida pela Unesco em homenagem a William Shakespeare e Miguel de Cervantes, dois grandes autores que morreram no mesmo 23 de abril de 1616. E o Inca Garcilaso de la Vega.
Quando soube da data, num 23 de abril de 2005, fiz este poema.


A BARCA DA MORTE

O mar lembra a morte.

O grande sineiro toca
o sino da montanha,

tange nuvens,
carneiros loucos,

bois que mugem
ruminando o milho do mistério.

Ó tempo,
timoneiro do destino esconso,

para onde me levas
nessa nau entre os vagalhões despedaçada?

A memória do mar,
a memória da morte

nas flores de abril cruel.

Levanto a rosa de fogo
diante de um velho crânio.

Cavalguei para a fábula
com a dor escorrendo nos lábios.

Sentado na barca
aguardo o último cálice de vinho.

Já vejo a minha face
na água da eternidade.

O mar vai e vem na praia
e apaga as pegadas

descomunais
na areia delicada.

Atrelo o arado a um tigre
e continuo lavrando o meu campo de estrelas.

O poema é um nó sereno sob a harpa quebrada
dos pássaros do crepúsculo.

Estou pequeno
esculpindo palavras toscas num tronco seco.

Eu sou o que não partiu.

Eu
fincado no chão como uma estaca.

Se fosse na infância
iria florir o meu bordão.

Já quebrei as pernas descuidadas
nas esquinas do mundo.

A ferrugem nas juntas
é o meu ouro.

A morte cose as minhas meias
junto ao fogão.

Nenhum fogo,
as cinzas frias

e a morte a fiar, a fiar
na roca que não pára.

Estendo a minha mortalha
entre as brumas e as escoriações.

Eleva-se a minha alma em êxtase na barca e canta
a água que vem e vai

com o estandarte do sol
e a terra ferida.

Diviso à minha frente o horizonte aberto
e a morte.

O sol sangra no mar da morte.