por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 12 de junho de 2011

CANÇÃO PARA VIOLETA ARRAES - por Ulisses Germano



        Não conheci pessoalmente Dona Violeta Arraes, mas o meu grande e saudadoso amigo Luiz Ernani de Alencar Arraes e Silva (Lula) me presenteou um dia passando o seu celular para que eu conversasse um pouco com esta mulher que fez história no Cariri. Trocamos algumas palavras sobre o Crato e logo nos despedimos carinhosamente. Cheguei a enviar uma carta para ela contendo esta letra. Agora nas férias irei gravar com arranjo de Hugo Linard e o Maestro Bonifácio e um coral infantil. Violeta - uma flor de mulher que espalhou encantamento numa existência plena de realizações.



CANÇÃO PARA VIOLETA ARRAES
(Letra e Música: Ulisses Germano)

Tudo de bom
Que ainda restou
Tem a flor e a cor
Da tua presença
Violeta, Violeta, Violeta

A brincadeira mais doce
Que a gente brincou
Tem a flor e a cor
Da tua presença
Violeta, Violeta, Violeta


Carinho a gente dá
Quando está
Com vontade de dizer
A palavra que não sai
Quando a gente vai
Declarar o amor 
A uma mulher


Tudo de bom
Que ainda restou
Tem a flor e a cor
Da tua presença
Violeta, Violeta, Violeta


Na vida tudo tem
U'a razão de ser
E de estar
Sentir me fez pensar
Na flor e na cor 
Que traz o nome 
De mulher

Crato-CE.

SILVINO NETO- por Norma Hauer


Ele hoje está aqui porque compôs a primeira valsa para o Dia dos Namorados, assim:

VALSA DOS NAMORADOS

Valsa do amor,
Valsa da felicidade
Valsa do adeus,
Valsa da saudade...
Um milhão de valsas
Embalando os bem amados
Valsa do adeus,
Valsa dos namorados.

Pelos salões, pelos bosques em flor,
Mil namorados, em busca do amor.
Entre mil beijos, sorrindo ouvirão
Em todos os cantos esta canção.
Aos namorados pertence o luar,
Noite de lua nos fazem sonhar
Aos namorados pertence o além
E esta valsa, também.

Esta composição foi gravada por Francisco Alves em 78 rotações e, posteriormente, em LP por Carlos Galhardo.

Seu autor: SILVINO NETO, humorista que, bem antes de Chico Anísio, fazia vários personagens no rádio: Pimpinela, Anastácio, Seu Acácio...
Deixou um herdeiro, também humorista, mas não "criador": PAULO SILVINO.

SILVINO NETO, o primeiro a compor para o Dia dos Namorados, faleceu exatamente em um 12 de junho , do ano de 1991.



Norma

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)





Lídia

Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros 
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, Tudo é alheio 
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro 
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios, 
Seja sacro por nosso. 

Fernando Pessoa



Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


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Santo António de Lisboa


Portal dos Santos

Santo António (português europeu) ou Antônio (português brasileiro)de Lisboa, internacionalmente conhecido como Santo António de Pádua, OFM (Lisboa, 15 de Agosto de 1191-1195 ? - Pádua, 13 de Junho de 1231), de seu nome de batismo Fernando de Bulhões, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII.

Primeiramente foi frade agostiniano, tendo ingressado como noviço (1210) no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, tendo posteriormente ido para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde fez seus estudos de Direito. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França. No ano de 1221 passou a fazer parte do Capítulo Geral da Ordem de Assis, a convite do próprio Francisco, o fundador. Foi professor de Teologia e grande pregador. Foi convidado por São Francisco para pregar contra os Albigenses em França. Foi transferido depois para Bolonha e de seguida para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos.

Santo António de Lisboa é considerado por muitos católicos um grande taumaturgo, sendo-lhe atribuído um notável número de milagres, desde os primeiros tempos após a sua morte até aos dias de hoje.

Protetor dos noivos, é tradição em Lisboa realizar-se um casamento coletivo, no dia 13 de Junho, na sua igreja, junto à Sé de Lisboa.

POEMA JUNTINHO - por Ulisses Germano





euteamotantotanto
queseriaincapaz 
dedizerotantoquanto
possoamaraindamais


O surgir da rima-Por: Rosemary Borges Xavier

Na ponta de cada amor existe um ímã que logo se transforma em rima...

UMA LONGA VIAGEM - Marcos Barreto de Melo

Lembro-me do tempo em que eu era criança e via o meu pai fazer uma longa e demorada viagem para a fazenda Boqueirão, no município pernambucano de Bodocó. Tudo me parecia muito distante, um mundo desconhecido e quase inatingível. Os preparativos para a viagem começavam cerca de três dias antes da data marcada e seguiam um verdadeiro ritual. O meu pai não falava em viagem, mas era fácil para nós descobrirmos seus planos pelas cenas incomuns que ocorriam ao nosso redor.
Via o meu pai ir ao Crato para comprar numa serraria algumas peças de pau d’arco aparelhadas e entregá-las ao mestre Zé Nanor, que em menos de dois dias de labuta preparava uma bela cancela. Em seguida, uma primeira pintura em vermelho era aplicada.
À sombra de uma generosa e frondosa árvore que cobria o oitão da nossa casa, trabalhava o nosso compadre Neco Soares, exibindo toda a sua habilidade no trato de arreios de couro. Fazendo marras de chocalho, cordas de couro, cabeçadas, rédeas para animal, consertando selas ou arrumando cangalhas. Estava desfeito todo o segredo. O meu pai iria mesmo viajar nos próximos dias.
Na véspera da viagem, com o sol já para se esconder, via os serviçais da fazenda arrumar os “trens” na carroceria daquela saudosa picape Chevrolet. Sacas de milho e de feijão para semente, algumas bolas de arame farpado, carro de mão, pá, uma enxada bem encaibrada, um esticador de arame farpado, sacas de sal, veneno pra lagarta e remédio para curar bicheira na vacaria.
De madruga, eu acordava com a movimentação dos viajantes entre a sala e o alpendre. A minha mãe acordava muito cedo e ia para a cozinha preparar o café da manhã. Eu me levantava em meio àquela madrugada fria, agasalhado num velho e macio pijama de flanela, cuja estampa de “soldadinhos” ainda tenho bem guardada em minha lembrança. Não podia deixar meu pai viajar sem que me despedisse dele. E quando ele saia, eu pedia a sua benção. Somente depois de ver o carro virar a curva da estrada e se perder na escuridão, eu voltava a dormir no quentinho da minha rede. Mas antes, ainda rezava e pedia a papai do céu para acompanhá-lo em sua viagem. Pedia também para que ele não demorasse muito a voltar.
Depois de alguns longos dias, imagino hoje que não mais que uma semana, ele voltava sem nos avisar. Era aquela alegria quando víamos a picape coberta de poeira e de lama aproximar-se de nossa casa. Com ela vinha também um cheiro diferente de uma terra distante e desconhecida. Tinha um cheiro agradável, de mato que a gente não conhecia, de marmeleiro, de muçambê. E quando ele descia do carro, estávamos os filhos em fila ao seu redor novamente a lhe pedir a benção.
E na carroceria da camionete, logo descobríamos um carneirinho a berrar, cuja mãe morrera de parto. De agora em diante, ele seria criado por nós. Tínhamos agora mais uma tarefa. Mas, seria também um novo brinquedo, uma nova diversão. E no dia seguinte, com o meu pai já em casa, a vida voltava ao seu normal. Até que viesse mais uma nova e longa viagem.

AMIGOS- por Rosa Guerrera



Nunca fui de buscar amigos em quantidade , mas de encontrá-los muitas vezes por acaso dentro das suas qualidades .
E esses quando surgem nas nossas vidas , são como flores que devemos cultivar e cuidar , porque nem o tempo nem o vento conseguirão arrancá-los de dentro de nós , e o que é mais importante : mesmo que a distância ou a morte nos separe ,eles não podem ser apagados do nosso peito porque os levaremos eternamente nas melhores das nossas recordações .
Enfim , o amigo verdadeiro é como uma tatuagem impressa para sempre no nosso coração ,e perfume que fica no nosso corpo depois de um abraço fiel e aconchegante.


Rosa@

Por Artur da Távola


Quem não tem namoradoé alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.Difícil por que namorado de verdade é muito raro.Necessita de adivinhação, de pele, de saliva,lágrimas, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil .
Mas namorado é mesmo difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito,mas ser aquele a quem quer se protegere quando se chega ao lado dele a gente treme,sua frio e quase desmaia, pedindo proteção.A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira,basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor,é quem não sabe o gosto de namorar.Se você tem três pretendentes , dois paqueras,um envolvimento e dois amantes,mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva,cinema sessão das duas, medo do pai,sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho,quem se acaricia sem vontade de virar sorveteou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida,escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas,do carinho escondido na hora em que passa o filme,de flor catada no muro e entregue de repente,de poesia de Fernando Pessoa,Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar,de gargalhadas quando fala junto ou descobre a meia rasgada,de ânsia enorme de viajar junto para a Escóciaou mesmo metrô, nuvem, cavalo alado,tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado,fazer sesta abraçado, fazer compras junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor,nem ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele,abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e do amado e sai com ela para parques, fliperama,beira d´agua, show de Milton Nascimento,bosques enluarados, ruas de sonho ou musical do metrô.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele,quem não dedica livros, quem não recorta artigos,quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar,quem gosta sem curtir, quem curte sem se aprofundar.Não tem namorado quem nunca sentiu o gostode ser lembrado de repente no fim de semana,de madrugada ou no meio dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar,quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações,quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem não fala sozinho,não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre
e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos,ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar.Enfeite-se com margaridas e ternuras
escove a alma com leves fricções de esperança.De alma escovada e coração estouvado,saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.Acorde com gosto de caquie sorria lírios para quem passar debaixo de sua janela.Ponha intenções de quermesse em seus olhose beba licor de conto de fadas.Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta
e do céu descesse uma névoa de borboletas,cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu
aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar
e de repente começar a fazer sentido.

Artur da Távola



Presença

Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos...

É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, a folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo...

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...

Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato...

E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Para uma Menina com uma Flor- Vinicius de Moraes



Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.

E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;

é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

Colaboração de Vera Barbosa

VELHO LIVRO por Rosa Guerrera




Comparo a minha vida
a um velho livro
de contabilidade ...
Onde todos os prejuízos que tive
foram motivados
por um erro de cálculo :
Antecipei o coração á razão !

E sem pressentir ,
tropecei na minha própria sombra.



Branca no azul - por Socorro Moreira


 Síndrome domingueira
Parece que a cidade perdeu
uma semana de vida ,
e tem preguiça , no recomeço.
Até na cozinha
as panelas vadiam.

Hoje estou sem quereres
Sem afazeres
Andei nas ruas enluaradas
silenciosamente azuis
Procurei não pensar
Apenas usei o olhar
que perambula no  silêncio.

Perco o caminho do coração
Invento um caminho de paz
Sinto o vento
e desacelero os passos...
Minha casa é bem ali
Eu tenho a  chave.




Poesia para o Dia dos Namorados


                   
             
 POEMA DE AMOR

Tomei o coração na mão
como uma maçã
e cravei os dentes vermelhos.
Estava em êxtase,
transverberado,
com toda a poesia do mundo
escorrendo
dos beiços, cantando na língua.

Eu a beijei com sofreguidão,
como uma bicicleta.
Ela floresceu dentro de mim,
com tanto perfume
quanto um jasmineiro à noite.
Mas era apenas
a poesia
como um cavalo domado sob os lençóis.


CAVALGADA

Os seus olhos são como pombas brancas
ou dois canários dourados
tomando banho à beira d’água.

Você voa em busca do ninho.

Depois, o seu peito pulsa e o meu peito pulsa,
e nós ofegamos, eu montado a cavalo
e você, a minha potranca.

Nós nos amamos.
Relinchamos felizes.


O NINHO

Agasalhei o meu corpo
como um ninho
com os ovos do desejo.



Para o dia 12 de junho


Itamar Assumpção



Itamar de Assumpção (Tietê, 13 de setembro de 1949 — São Paulo, 12 de junho de 2003) foi um compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical brasileiro, que se destacou na cena independente e alternativa de São Paulo nos anos 1980 e 1990.



"Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário
e no seu lugar
vou colocar outro absurdo."
Itamar Assunção



Quem arrasta os dias
quando você está fora?
quem empurra as noites
para que você entre?
quem colocou entre nós
esses parênteses?
Itamar Assunção


Na próxima encarnação
Não quero saber de barra
Replay de formiga não
Eu quero nascer cigarra
Nascer Tom Zé, Jamelão
Cantar, Violeta Parra
Zé Kéti, Duke Ellington
Com banda, orquestra e fanfarra
Itamar Assunção