por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

  Para ler em 2050

Tentativa de resumo de um texto do pensador português Boaventura de Sousa Santos. Texto que explica nosso tempo e como o avaliaremos daqui a 35 anos. Usarei outras ordens e resumirei as sentenças. Vamos lá.

Esta é uma época que imaginou excessivamente o futuro e terminou por se refugiar apenas no passado. E nesta época operam simultaneamente três poderes não democrático: capitalismo (trocas desiguais entre seres humanos supostamente iguais), colonialismo (naturalização da discriminação invertendo a equação tornando provocadores às vítimas) e patriarcado (estigmatização das mulheres e das orientações não heterossexuais) servindo-se de três outros sub-poderes, religiosos, mediáticos, geracionais, étnico-culturais, regionais. Nenhum sendo democrático se tornaram a base da democracia possível (democracia-realmente-existente).  

Nesta esteira, no estilo invertido daqueles paradigmas de linguagem do livro 1984 acontece o seguinte: substituição da causalidade pela simultaneidade, da história pela notícia, da memória pelo silêncio, o futuro pelo passado, o problema pela solução. Isso levou a: atrocidades sendo atribuídas às vítimas, agressores vangloriados na coragem da luta contra agressões, ladrões são juízes, as nefastas consequências das decisões de quem decide os reduziu a uma moral minúscula.

Vivemos numa época onde excessos são vividos como carência: a velocidade nunca chega a ser suficiente; destrói-se com justificativa na urgência do construir; o ouro é o coração da vida, mas com a forma de uma nuvem; todos são empreendedores e as provas em contrário são proibidas pelas provas a favor; a adaptação é tão fluida que não se distinguem adaptados de inadaptados; criaram-se campos de concentrações da heterodoxia (pela cidade, bares, discotecas, drogas, Facebook).

A realidade transformada em embalagem de venda. Paisagens são pacotes turísticos; fontes e nascentes são engarrafadas; desigualdade é mérito; miséria é austeridade; hipocrisia, direitos humanos; guerra civil descontrolada, intervenção humanitária; guerra civil mitigada, democracia; a guerra é a paz infinita; Guernika é apenas um quadro e catástrofes são apenas entretenimentos.

Assim as virtudes são cultivadas como vícios e vícios como virtudes; não se enaltece qualidade morais e éticas, apenas se degrada, avilta e nega a qualidade e virtudes do outro; acredita-se que a escuridão ilumina a luz; a opinião pública é igual à privada de quem tem poder para publicar e “o insulto tornou-se o meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente igual a um sábio”.

Uma civilização assim tende a ver gente demais e em nome de que nada contribuem para o bem-estar e, assim, começarem a descarta-las: velhos, imigrantes, jovens das periferias, dependentes químicos etc. E mais ainda o radicalismo que surge é de natureza estagnada e imobilista, movidos pelo tempo e falta de tempo, tornou a esperança exigente e cansativa; optando pela resignação.

Conquistou-se a simultaneidade dos deuses com os humanos, comercializando-os nos três mercados celestiais existentes, o do futuro para além da morte, o da caridade e o da guerra. Muitas religiões surgiram, cada qual parecida aos defeitos atribuídos às rivais, mas todas sendo o que dizem não ser: mercado de emoções.   


E conclui: a época criou um campo de plantas ruins como a última realidade da história, tentando esquecer o mais poderoso herbicida que existe para tal: a utopia.  

A nefasta "POLITIZAÇÃO" do Judiciário - José Nílton Mariano Saraiva

Apadrinhado por FHC, o juiz mato-grossense Gilmar Mendes, mais cedo do que ele próprio imaginava, porquanto queimando etapas e atropelando a hierarquia funcional, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal-STF. E talvez por isso mesmo, desde que empossado não guardou nenhuma sutileza ou pudor de que ali se encontrava para defender com unhas e dentes o seu “patrão” e respectivo partido (PSDB). Definitivamente, e sem amarras, a indesejada “politização” do Judiciário e, principalmente, sua “partidarização” se fez presente a partir da sua assunção.

É que, arrogante, bocão, prepotente e mau educado, Gilmar Mendes aproveitou-se da educação, fino trato e civilidade dos seus pares para exercer uma certa influência sobre eles, principalmente ao imiscuir em suas falas e decisões questões eminentemente tendenciosas e que causam estupor (a concessão, durante um plantão de final de semana, de dois “habeas corpus” em favor do bandido Daniel Dantas, que houvera sido preso pelo Juiz Federal Fausto de Sanctis em razão de crimes comprovados, é emblemática de como não respeitava os colegas e o rito processual).

Não há como olvidar, ainda, que, proprietário do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), Gilmar Mendes mantém sob sua tutela boa parte dos ministros do STF, porquanto professores contratados do dito-cujo, o que pressupõe uma subordinação tanto formal quanto suspeita, porquanto remunerados pelo próprio (afinal, querendo ou não, ir de encontro ao “patrão” certamente lhes causaria constrangimentos outros).

Hoje, numa prova inconteste de que privilegia sobremaneira o “padrinho-político” e está pouco se importando com seus atos, Gilmar Mendes trava uma arraigada batalha junto ao Supremo Tribunal Federal-STF e Tribunal Superior Eleitoral-TSE, a fim de tentar viabilizar o insano desejo de FHC que, sub-repticiamente, tenta desfechar um “golpe-paraguaio” teoricamente capaz de destituir uma Presidenta da República eleita por quase 55 milhões de votos, a fim de colocar em seu lugar o derrotado, vingativo, despreparado e fanfarrão “playboy do Leblon”, Aécio Neves.

Só que essa sua tentativa de encontrar “pêlo em casca ovo” ou “chifre em cabeça de cavalo” ao impetrar uma “pedido-de-investigação” nas contas da campanha de Dilma Rousseff, visando possivelmente encontrar alguma situação que alimente sua pretensão de anular o resultado das eleições, literalmente escafedeu-se quando a Procuradoria Geral da República houve por bem arquivar referida ação, tendo em vista que as razões elencadas “não apresentam consistência suficiente para autorizar, com justa causa, a adoção das sempre gravosas providências investigativas criminais”

Alfim, e para sepultar de vez a descabida e ilegal manobra encetada por Gilmar Mendes, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, de forma contundente houve por bem pedir o arquivamento da tal investigação, ao demonstrar as aberrações ali presentes, a saber:

01) “A inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas —exagerados— do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”;

02) Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm, os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”, e

03) A questão de fundo é que a pacificação social e estabilização das relações jurídicas é um das funções mais importantes de todo o Poder Judiciário, assumindo contornos de maior expressão na Justiça Eleitoral, que lida com a escolha de representantes para mandatos temporários”.

Se Gilmar Mendes refluirá ou não do seu exótico e desonesto desiderato de patrocinar um “terceiro turno” anômalo, pouco importa; o substantivo é que, finalmente, alguém com cacife suficiente se fez ouvir e bateu de frente com o prolixo e falastrão afilhado de FHC, mostrando-lhe que num regime democrático existem procedimentos e regras a serem cumpridas, independentemente de padrinhos e agremiações que ofereçam sustentação a quem quer que seja.

Portanto, não vingará o tão desejado objeto de desejo de FHC e do “playboy do Leblon” Aécio Neves; assim, o “impeachment” não passou de um sonho de verão de uma cambada de golpistas desqualificados.  

domingo, 30 de agosto de 2015

Saiba quem são os vilões

De primeira.
O outro.
Aquele que, aparentemente, lhe expulsaria da posição em que se encontra, criaria barreiras ao seu caminhar, prometeria um futuro diferente do desejado, que irritaria com o som alto, o gosto estético, o ideário alternante, a fé desviante e assim por diante.
Sobretudo aqueles que, na falta de explicação melhor, estariam na raiz da sentença prometida pelo sistema econômico de que ficará mais rico e mais moralista.
E isso não se cumprirá para a quase totalidade das pessoas. Este mal-estar generalizado de que não se chegará ao pódio do sucesso e da posição de "primus inter pares" como semideuses de um Olimpo do lixão.
Os liberais são os que mais vilões temem. A santificação da individualidade foi aprisionada ao pódio do lixão de modo que nunca se tem um valor moral sem que a medalha de ouro lhe seja dada.
Aos perdedores, as favas.
Não existe razão no jogo em que o objetivo é um obstáculo. Um paredão intransponível o qual ninguém escalará e nem derrubará. Apenas os que já estão do outro lado na ocupação prévia do pódio.
Como apenas se olha para o Olimpo do lixão, é na cata dos despejos que toda a história se dará. E cada mão que, junto à garrafa pet vazia, tentar chegar, será o vilão.
O menor. O mendigo, aos que vão a pé para aqueles que se movem em rodas. Os que dependem dos perdedores dependentes. Os filhos. O outro no casal. O vizinho aparentemente mais bem-sucedidos. Os que parecem ter mais sucesso.
E claro os torcedores e partidários adversários.
Os vilões brotam diariamente como vocábulos da sentença do sucesso impossível. Seriam necessárias outras sentenças que não geram vilões.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

VIDA-DE-VÍDEO-GAME

No cinema, nos jornais, telejornais e nos jogos eletrônicos há uma única narrativa dramática. O que numa piada com um soldado Pernambuco chamou-se de “vida de vídeo game”.

A vida que se vai abatendo em estágios sucessivos de destruição e pontos ganhos. Quando uma disputa assassina entre profissionais de mídia passa a ser filmada pelo próprio matador eis aís a estética da “vida-de-vídeo-game”.

E onde se encontra a fonte desta narrativa dramática? Nas oportunidades de decisão de produção, de distribuição e apropriação dos bens produzidos. Ou seja, na ordem das classes sociais. Classes que controlam (ou não) as decisões de produção e assim a distribuição e apropriação.

Israel aprisiona levas de Sudaneses e Eritreus que penetram seu território em busca do “shangri lá” europeu ou quem sabe no próprio estado judaico. Ficaram meses presos e depois foram soltos no deserto onde arrastam malas tentando ultrapassar barreiras policiais.

Isso é a maldade de Israel? Não. É a mesma narrativa globalizada da “vida-de-vídeo-game”. E o mais importante é uma narrativa audiovisual o mais amplo meio de emissão desta mensagem. Esta aqui é uma mistura de signos gráficos utilizados pela visão ao mesmo tempo carregando o aparelho fonador.

A narrativa dramática atual (audiovisual) é tão universal que toda a medicina andou neste sentido. E continua dramática: a regurgitação da mitral, o espeçamos de paredes, a infiltração gordurosa no fígado têm a mesma sintaxe da “vida-de-vídeo-game”.  


Elas não são iguais nem ao técnico que as interpreta. A seguir prossegue a cadeia de oportunidades de classes. 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CIRCULANDO NO PRESENTE DO INDICATIVO

Pisamos as calçadas das ruas do Rio de Janeiro no presente do indicativo. E tropeçamos como se pisássemos os becos do século XIX.

Correndo como as memórias de Um Sargento de Milícia. A memória arquitetônica com retalhos de anúncios de oficinas mecânicas e estreitas calçadas esburacadas, interrompidas por anchos postes de eletricidade, canos para dificultar o assédio de automóveis, jardineiras de plantas murchas e cacarecos espalhados como o lixo espacial.

As ruas foram tomadas, com de surpresa, por uma correnteza caudalosa de veículos motorizados, barulhentos e fumegantes. Aquele bucólico passar de carruagens, cavalos e bondes, mais do que denunciam, revelam nas páginas amareladas um presente condicionado.

Efetivamente as ruas do Rio de Janeiro têm um enorme problema de conteúdo e continente. As calçadas do século XIX são as mesmas apenas houve uma mudança na posição do X e do I na contagem do século.

E aí um drama humano, entre tantos desta urbanidade desvairada, abre a narrativa todos os dias entre as calçadas impróprias e as ruas apropriadas. Os novos proprietários deste espaço vital continuam atropelando pessoas tangenciado obstáculos no seu livre ir e vir.

No início dos anos 80 as grandes vítimas eram as crianças com mais de sete anos indo e vindo da escola. Agora são pessoas idosas, perdendo anos vida, ocupando leitos hospitalares e a solidão nas camas que formam escaras.


E a polícia expulsa dos ônibus jovens da zona norte com desejo do espaço aberto da praia. E o trânsito atropela, invalida e mata. Na avenida Atlântica gritaram toda a insatisfação e retornaram pelas ruas do Rio, pisando no presente do indicativo.       

"TUNGA" DESPROPOSITADA - José Nilton Mariano Saraiva

Em sendo um país de dimensão continental, naturalmente que o Brasil se nos apresenta bastante heterogêneo no que concerne às suas diversas regiões, em termos mercadológico, cultural, climático, meteorológico e por aí vai.

Nos restringindo apenas a duas dessas regiões, porquanto emblemáticas da diferenciação, enquanto no “Sul-Sudeste” vige um clima ameno e propício às mais diversas culturas, no “Nordeste” desde sempre a inclemência do sol, aliada à falta de chuvas, resulta em imensas dificuldades para sua população, daí a necessidade de um atendimento prioritário governamental para com esta parte do Brasil, sintetizado lá atrás na fala do Imperador-bufão Dom Pedro, que teria garantido que, se necessário fosse, venderia a até a última joia da coroa a fim de atenuar o sofrimento do povo nordestino.

Se verdadeira ou não tão demagógica intenção, fato é que, de lá até cá a idéia de um tratamento diferenciado para a Região Nordeste ganhou destaque, até que durante a Assembleia Nacional Constituinte (1988), restou reconhecida a urgente necessidade da criação de um “fundo-financeiro” específico que propiciasse a obtenção e alocação de recursos estáveis para Região. Estava criado o FNE, com recursos advindos da “renúncia fiscal” do Imposto de Renda, por parte de pessoas físicas e jurídicas. Para geri-lo e administrá-lo uma instituição especialista em Nordeste, porquanto criada com essa precípua finalidade pelo presidente Getúlio Vargas nos primórdios da década de 1950: o Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB).

E, em sã consciência, ninguém pode negar que essa parceria foi pra lá de eficiente e eficaz, porquanto a partir de então a Região Nordeste deu um salto qualitativo imenso, por conta de ações planejadas e executadas tanto no campo (agricultura) quanto na zona urbana (via industrialização).

Assim, hoje temos um moderno e multifacetado segmento industrial, dos mais heterogêneos e qualificados, que nada fica a dever aos grandes parques industriais do mundo, cidades modernas e acolhedoras, de par com uma agricultura diversificada e não mais sazonal, que, graças a um processo irrigatório ainda incipiente (daí a necessidade comprovada de que a transposição do Rio São Francisco seja concluída o mais breve) produz alimentos e cereais outros de primeira qualidade, inclusive para exportação.

Mas, eis que agora, o real “inimigo íntimo” da Presidenta Dilma Rousseff (que equivocadamente lhe concedeu carta branca para agir), ministro ”tucano” Joaquim Levy, no bojo do saco de maldades apresentado à população sob a denominação de “ajuste fiscal”, já anunciou a intenção de irresponsavelmente “tungar” em cerca de 30% (trinta por cento) os recursos destinados ao Nordeste, via FNE-BNB.

Tal medida, se efetivada, representará sério e indesejável entrave na política de debelar as “desigualdades regionais” (que deveria ser permanente e contínua), porquanto obstará os planos da Região Nordeste do Brasil de se livrar de vez das amarras do subdesenvolvimento, além de configurar uma despropositada volta ao passado, com tudo de maléfico que perdurou por longos anos; e ainda atingirá em cheio o BNB, esvaziando-o e transformando-o, porquanto retirando da sua alçada a chancela lhe atribuída lá atrás no governo Vargas, de instituição “indutora do desenvolvimento” nessa carente região do país.


Urge, pois, que desde já haja uma manifestação-convocação urgente por parte dos diversos segmentos sociais da região, visando “obrigar” a classe política a formar um “pool multipartidário” objetivando tomar uma atitude drástica de objeção ao pretendido pelo “ministro tucano”, fazendo-o demover um receituário que só interessa ao não conhecedores das agruras nordestinas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

HOJE HÁ 61 ANOS

No horário desta postagem, há 61 anos, fazia mais de 12 horas que o país vivia uma convulsão. Até a noite do dia anterior - 23 de agosto - o povo estava calado. Era a vez da gritaria na mídia, os discursos e textos de Lacerda, oficiais da Aeronáutica usurpando as instituições do Estado.

A cortina de fumaça golpista era tão densa de denúncias e desgraças que o povo estava sem fôlego. Esperando, que alguma brisa, que fosse, permitisse o livre correr de suas observações e sentimentos.

Getúlio Vargas não previu tudo o que daquele estampido em diante ocorreria. Ele entendeu o sufocamento político e antes de ser um cadáver político, transcendeu a arapuca inimiga e acordou o povo para a realidade.

O povo começou a quebrar todas as fontes da mídia que eram a sede da cortina de fumaça. Eles se acovardaram. Tiraram o Presidente, mas não conquistaram o governo. Tiveram que engolir as vozes do povo e os partidos que os representava.

Há 61 anos aquele corpo voltaria à sua terra natal. E hoje começamos a manhã aqui no Brasil recebendo a dura realidade da crise ampla da economia mundial. Especialmente nos polos dinâmicos que ainda restavam. O polo asiático e da Oceania.  

Mais do que nunca estaremos diante da necessidade de um projeto nacional para suportar os estragos que destes fatos virão. Precisamos pactuar soluções e compreender que é na dinâmica dos direitos sociais e do consumo do brasileiro que parte do problema se resolverá.


E que orientemos nossos espíritos para símbolos de nossa história, abandonemos as ideias de salvadores da pátria, fortaleçamos quadros e lideranças lúcidas, mas sobretudo tomemos vantagem da organização social, de todas as dimensões para que internalizemos o nosso próprio futuro. 

domingo, 23 de agosto de 2015

"CONTUNDÊNCIA" - José Nilton Mariano Saraiva

“Vazada” ao público por alguns sites, a robusta e primorosa “peça-denúncia” (85 páginas) produzida pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, contra o atual Presidente da Câmara Federal, senhor Eduardo Cunha, em razão do recebimento de “propinas” no assalto à Petrobras,  é de uma contundência tal que acaba por colocar os integrantes do Supremo Tribunal Federal numa imensa “saia-justa” (e bote “justa” nisso).

 É que os “detalhes” são tantos, tão pormenorizados e tão consistentes (tem até “doação” pra Igreja Evangélica), que fica difícil imaginar que algum membro daquela egrégia corte tenha condição de encontrar algum “atalho” ou “brecha” que possibilite qualquer manifestação contrária à penalização do meliante (COMO É PRAXE NAQUELA CASA,  MORMENTE QUANDO PODEROSOS SÃO ACUSADOS – vide o caso Daniel Dantas).

Assim, a expectativa é que o demagogo e corrupto Deputado Eduardo Cunha seja não só afastado sumariamente da Presidência da Câmara, assim como obrigado a ressarcir o dinheiro roubado, bem como banido da vida pública.

É o mínimo que o Supremo Tribunal Federal pode e deve decidir (se houver seriedade no trato da coisa pública) em respeito à nação.


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sexta-feira, 21 de agosto de 2015



A prova de que vivemos a era do FEBEAPÁ de Stanilaw Ponte Preta. Ninguém em espírito democrata quer fuzilar quem quer que seja (mas tem um povo aí, hein!). Acontece que existe, existiu e continuará a existir uma disputa política. E o centro dela é o que merece o povo brasileiro e qual o projeto de nação que garante este merecimento. Mas veja as razões do Bolsonaro: muita gente adversária do PSDB e do FHC tem amplas críticas do mesmo teor.
UM CESTO CHEIO DE “VEJA” E “CARAS”

No salão destes enormes centros de exames: análises clínicas e imagens. A espera de alguém que faz exame de hora marcada, presente em ponto, mas a ordem é de chegada. E tome paciência.

Algo a fazer?

Uma estante, qual “as nossas roupas velhas dependuras”, expunha revistas amarfanhadas e gordurosas de tantos dedos virando páginas. Títulos como Veja, Caras, Época e por aí vai.

É Copacabana e os leitores se adequam aos títulos. E pensei, da menos datada passearei os olhos na vaidade de artistas, semi e celebridades do eixo Rio-São Paulo.

Todo mundo interpretando algum bom estilo de ilhas e continentes, taças e comidas, além de álbuns imensos de reuniões, casamentos, batizados, aniversários e tanta desrazões mais para apenas um clic digital.

Em verdade se trata de roupa velha mesmo. O que os esperançosos da próxima chamada do laboratório se distraem mesmo são com o “face”, instagram, whatsap e outras telas luminosas mais que houver.

Mas aí minha atenção viajou mesmo nas caras do vai-e-vem nos balcões, tomadas e saídas de elevadores e à espera nas cadeiras acolchoadas. Isso sem contar a indefectível programação matutina da nossa querida TV aberta apresentando vendedores de saúde e outras normas fundamentais que logo se esgotam na próxima edição.

Aquele bem vestido corpo esguio, de bolsa pendurada no antebraço (todas as mulheres a carregam), cabelos mechados de louro, escovado, unhas luminosas e na ponta dos dedos um digitar na tela com a força simbólica de uma executiva empresarial. Conversava com uma mais jovem, embevecida diante da oportunidade, anotando freneticamente em sua tela o que a outra lhe diz.

Bermuda. Cabelos brancos. Peso acima das tabelas e a cintura nos últimos furos do cinto. É uma verdadeira coorte de aposentados, meio expediente ou que mais tempo houver para um jejum, uma picada na veia e um café com um pacotinho de biscoito cream cracker.

A mulher do cafezinho ausentou-se. Alguns começaram a operar a máquina por conta própria. Chega um senhor, pouco mais do que sessenta anos, com algum problema neurológico e, vendo os outros, também entra no balcão para acionar a máquina do café. No seu modo lento começa a operação.

Sua acompanhante, uma senhora afrodescendente, diz: não faça isso senão a moça-do-café briga com você. Alguém explica que todo mundo está a fazer o mesmo. Aceita, mas daí em diante quem dirige todas as suas iniciativas é ela. Que fica a busca de soluções até meia hora após saírem em busca de um táxi. Ele, obediente, a segue.

Senhas para receber exames. Envelopes carregados. Braços dobrados para estancar a picada da agulha. Um estalo de lábios no sabor do café. Passos como um passarinho fugindo da gaiola. A satisfação do dever cumprido.


O médico, no seu consultório com cestos cheios de Revistas Caras e da Veja, continua a expedir as idas àquele salão onde a expressão é o fluxo de um ramo da economia. 

"BARRIGA DE ALUGUEL" - José Nilton Mariano Saraiva

Quem algum dia imaginaria que o tradicional e glorioso PDT, de Getúlio Vargas e Leonel Brizola, se prestaria a servir como “barriga de aluguel” a fim de saciar a sede de poder de pessoas que vivem a usar a atividade política como um rentável meio-de-vida, daí não se importarem de trocar recorrentemente de partido, por mera conveniência ???

Como entender que uma agremiação de tantas batalhas e glórias, porquanto forjada na luta pelos direitos dos trabalhadores e dos mais necessitados, não mais que de repente se permita servir de hermético “bunker-protetor” de indivíduos sem identificação nenhuma com o ideário programático da sigla getulista ???

Afinal, ao aceitar o ingresso dos Ferreira Gomes em seus quadros, o PDT nada mais faz do que relegar o belo legado de fidelidade e coerência dos seus dois encimados líderes, porquanto o histórico dos novos integrantes da agremiação não deixa dúvidas: já se serviram, unicamente para o atendimento de demandas pessoais, de uma miscelânea de agremiações tão díspares quanto diametralmente heterogêneas ideológico-programaticamente, dentre as quais a antiga ARENA (Ditadura), PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS.

Além do que, ao aceitar sujeitar-se aos Ferreira Gomes, o PDT  trairá vergonhosamente um quadro histórico e da estirpe de um Heitor Ferrer, este, sim, um político digno, leal e merecedor do respeito de todos nós, mercê de uma atuação cuja característica maior é a coerência e o respeito à agremiação e aos seus eleitores,  daí o”caminhão” de votos que consegue carrear em cada eleição.

Ou alguém tem alguma dúvida que a principal “imposição” (dentre muitas que se seguirão) dos neo-integrantes que o PDT irá recepcionar, será servir de “rampa” para que o senhor Ciro Gomes tente decolar como candidato à Presidência da República e, em termos locais, garantir que a vaga para concorrer à Prefeitura de Fortaleza no próximo ano seja antecipadamente reservada para o atual detentor do cargo, um mero “soldado” dos Ferreira Gomes ??? (“rifando” o Heitor Ferrer).

No mais, lembremos do “estrago” que os Ferreira Gomes causaram à família “Novaes” (irmãos Sérgio e Eliana), aqui de Fortaleza, que, de dirigentes estaduais do PSB, literalmente foram “obrigados” a de lá se mandar após a chegada dos sobralenses, só retornando e retomando o comando da sigla após o falecido presidente nacional da agremiação, Eduardo Campos, negar-se peremptoriamente a ceder a Ciro Gomes a vaga de representante do PSB na corrida presidencial a ele (Eduardo) reservada.


Enfim, a realidade é que, por falta de seriedade e respeito aos seus eleitores e simpatizantes, o “atestado de óbito” do PDT já haja sido devidamente lavrado no cartório competente, e que na sua “laje-sepulcral” constará o vergonhoso epíteto de “barriga de aluguel”. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Roteiro lúbrico-licencioso dos logradouros cratenses

 J. Flávio Vieira

                                              Quem , por acaso, se detenha em fazer um catálogo dos  muitos logradouros de uma cidade há, certamente, que se deparar com múltiplos métodos de batismo. Por um lado, existe aquele  batistério oficial que vai , pouco a pouco, denominando as mais diversas localidades com nomes , a mor parte da vezes, totalmente apartados da história local. Quebram a doce tradição popular e sapecam epítetos homenageando os poderes político e econômico da cidade. Assim, aqui em Crato,  a Rua da Pedra Lavrada se transformou em Pedro II; a Rua das Laranjeiras em José Carvalho; a Rua Grande em João Pessoa; a Rua do Fogo em Senador Pompeu; a Rua das Flores em Dom Quintino; o Sítio Quebra em Vila São Francisco. Por outro lado, persiste um movimento de contra reforma, de base bem popular,  buscando, desesperadamente, manter as denominações tradicionais e, mais, tentando,  de forma organizada e brejeira,   alcunhar os novos bairros que vão, inevitavelmente, surgindo, impulsionados pelo progresso e aumento da população.  O “Sertãozinho”, as “Malvinas”, a “Vila Caveirinha”, a “Vila Guilherme”,  aqui em Crato , são exemplo de novos lugarejos batizados , mais recentemente, pela doce língua do nosso povo. Em pouco, certamente, a Câmara Municipal ( que se atém basicamente em dar títulos de cidadão e nome de ruas) no afã de puxar o saco de algum poderoso , lavrará leis  empurrando, goela abaixo, novas denominações ,  divorciadas , totalmente, da história local.

                                   Talvez, como uma reação normal, a estes abusos, o povo simples  cratense, untado da mais pura irreverência,  tenha, paralelamente, criado um “Roteiro Lúbrico –Licencioso dos Logradouros Cratenses”. No fundo,  ele percebe que, se desviando para o jocoso, o lascivo, o sensual, o codinome ganha alma e energia novas e dificulta, sensivelmente, a troca , a reclassificação. Convido meus leitores  junto comigo, a fazer, agora, um Tour por esse Crato mais erótico e libidinoso. Afivelem os cintos e as braguilhas !
                                   Comecemos a nossa viagem pela “Vila dos Priquitos”, já reclassificada, pelos locais de “Vila do Bom Nome” e bota bom nome, nisso! Fica o paraíso  logo acima da Caixa D´água e, por incrível que pareça, próxima a “Vila da Bunda Lavada” , a “Vila do Cu Aberto” e a do “Peito Vazando”.  Todas estas  têm uma vizinhança mais que adequada à lascívia : “A Vila do Pau em Pé” . Para controlar possíveis e previsíveis libações, estrategicamente, nas proximidades, foi que  se localizou, com muita propriedade:   “O Carrapato”. 
                                   Atrás do Colégio Diocesano, lembram os cratenses, existe o “Rabo da Gata”. Anos atrás, uma madama da cidade, foi perguntada, em Fortaleza onde morava. Querendo mostrar sua nobiliarquia caririense informou que residia num bangalô na Rua Nélson Alencar. Como o interlocutor não lembrasse bem onde era o local, pois saíra do Crato há muitos anos, ela, de peito inflado de silicone e empáfia, explicou :
                                   --- Moro logo ali,  numa mansão, embaixo do “Rabo da Gata” !
                                   Descendo  das Guaribas, pelo  “Campo Alegre”,   existe o “Pelado” que felizmente fica muito distante do “Cipó dos Tomás” que é lá perto da Ponta da Serra .  O “Cipó dos Tomás”, graças a Deus, fica também bem longe do “Fundão”  e também distante do “Pelado” , se fronteiriços poderiam trazer graves questões legais e morais.  
                                   Por outro lado, na saída de Crato, lembram os mais velhos, se situa “O Pau do Guarda” que, estrategicamente , logo abaixo, como era de se esperar,  se limita com “O Saquinho” .  Por incrível que possa parecer, logo atrás do “Pau do Guarda” tem a Rua Ana Triste, o que fez, um dos nossos filósofos cotidianos a estranhar tal vizinhança e o sobrenome sorumbático da nossa Ana. Com todo respeito ao nosso Tristão Gonçalves, o nosso herói confederado,  o filósofo concluiu pensativo :
                                   --- Logo perto do “Pau do Guarda”? Ora ! Essa Ana só é triste porque quer...

Crato, 17/08/15
                                    

  

domingo, 16 de agosto de 2015

A COLEIRA FROUXA DOS CÃES DA RUA

As manifestações foram menores. Mas pessoas circularam com bandeiras do país e vestidas de verde e amarelo. No meio delas a voz que se amplificou foi a organizada para hostilizar o governo e para pregar um coquetel corretamente identificado com o sabor do ódio. (Colheu-se imagem de duas senhoras da terceira idade com uma delas portando um cartaz com os seguintes dizeres: “Por que não mataram todos em 1964?”

Nos dias anteriores a grande mídia, empresários e lideranças da elite defenderam o mandato de Dilma. Imediatamente surgiu uma fórmula: Renan no Senado para se contrapor a Cunha na Câmara dos Deputados.

E, claro, uma agenda.

A agenda que interessa às vozes dos dias anteriores. Vozes poderosas: apoiadas no Ciclone mundial da globalização financeira; na forte ideologia liberal; no domínio da Justiça e agora do Legislativo. Nada revolucionário ou reformista à margem destas vozes poderá ocorrer.

Lá na lógica vocal, pois no rés-do-chão a realidade não é bem assim.

No momento algumas imagens do passado parecem voltar: a morte de Getúlio, o Golpe de 64, a primazia da violência de classe por meio das instituições do Estado, o cão da rua de coleira frouxa, a unanimidade de algum tribunal (o TCU?), as tentativas de acordão malsucedidas (Collor tentando fazer um ministério de notáveis), as fraquejadas públicas do PT (tipo fazer Lula Ministro para não ir para a cadeia).

Isso sem contar a enorme marca de batom na cueca da corrupção. Agora seletiva, apenas do PT, mas a lambança é ampla, geral e irrestrita.

Enquanto se cantam loas pelas vozes neodemocráticas há uma sensação fluida, que se infiltra pelas brechas, quando na verdade o Governo Dilma teria sido capturado. Faça o que as vozes recomendam e o café-da-manhã no Alvorada será duradouro até a data sucessória.

Só que as vozes dos dias anteriores bem gostariam do pódio eterno. Mas todos somos humanos. Cheios de ódios (como os porta vozes da rua), de amores, mas fatalmente ávidos por amanhãs. Somos fazedores de tempo.

Fazedores de tempo se aliam. Se juntam. Se movem, comovem e removem. Todos os fazedores de tempo conhecem suas potências e a realidade onde estas se exercem. E a realidade existe igual àquele efeito da energia gravitacional que lança uma nave sem energia própria ao limite do sistema solar.

As vozes não têm o pódio da história. O mérito de alguns só acontecerá enquanto não houver este amplo e distributivo demérito. Portanto nem esta ideia “luminar” do mérito se sustenta.

E o acordão de governabilidade continuará na corda bamba, mesmo com o cão de rua de coleira frouxa. Como sabemos outros cães poderão soltar-se de suas coleiras e também tomarem as ruas.


Afinal porque pagar tantos juros do governo se o dinheiro dos benefícios gerais não dá nem para uma tapioca com café?   

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A MANIFESTAÇÃO DA DISSOCIAÇÃO COGNITIVA

Leon Festinger, estudando psicologia social, nos livros When Prophecy Fails de 1956 e no livro A Theory of Congnitive Dissonance de 1957, analisou um fenômeno humano que contempla as ideias formadas com as contradições postas diante delas.

O fenômeno chamado de Dissonância Cognitiva foi bem explicado por J. Gager (especialmente nas religiões) conforme citação de Raza Aslan no seu livro Zelota. Diz Gager: “sob certas condições, uma comunidade religiosa cujas crenças fundamentais são contraditas pelos acontecimentos do mundo não necessariamente entra em colapso e se dissolve. Em vez disso, pode realizar a atividade missionária zelosa como uma resposta ao seu sentido de dissonância cognitiva, ou seja, uma condição de angústia e dúvida decorrente da não confirmação de uma crença importante”.

Diante da realidade que nega suas crenças, passam a realizar práticas coletivas e públicas que tentam negar a própria realidade em reforço de suas assertivas anteriores. Leon Festinger esclarece este mecanismo da psicologia social.

Diz Festinger: “A presença da dissonância dá origem a pressões para reduzir ou eliminar a dissonância. A intensidade da pressão para reduzir a dissonância é uma função da magnitude da dissonância. Para pegar um dado fundamental do século XX.

Quem acompanhou o “discurso” do Partido Comunista Brasileiro a respeito da União Soviética, especialmente no calor da Guerra Fria, sabe o quanto ele sofria uma Dissonância Cognitiva. E isso esticou tanto que as lutas entre “Revisionistas” e “não Revisionista”, Eurocomunistas e tantos debates mais redundou numa dissociação de fato a ponto de partes importantes aderirem a outra margem ideológica.

Quando leio, ouço ou alguém me diz sobre certos diagnósticos da realidade brasileira, percebo uma enorme Dissonância Cognitiva em certas pessoas ou grupos que concordam com certas visões. Muita gente pensa o país em termos sociais, de saúde, educação, desenvolvimento, urbanidade e outras característica fundamentais com dados de uma realidade que não existe mais.

Acontece que os dados são conhecidos até porque as informações passaram a ser mais detalhadas, completas e com maior divulgação que permitem acesso amplo. Mas como diz Vinícius: “você que olha e não vê”....e mais à frente “você vai ter que aprender”.

Hoje, quando no balanço de uma crise política e econômica, setores se radicalizaram e vieram para as ruas, quando sectários de extrema direita em pleno surto de dissonância cognitiva, se exaltam, no meio de tanta gente que deseja manifestar sua insatisfação política, este é um fenômeno de psicologia social bastante presente. Não são textos nas redes sociais que mudarão isso, mas certamente exaltam a grande conquista humana que foi a cognição.

Conhecer. Esta a grande marcha nas ruas. 
ONEROSOS “TATUZÕES” – José Nilton Mariano Saraiva

Quando o “agente público” se dispõe a contratar, a peso de ouro, uma grande construtora para a realização de obras estruturais de porte (hidroelétricas, rodoviasusinas, ferroviasmetrôs e por aí vai)implícita e explicitamente se pactua a responsabilidade da contratada em prover não só os recursos humanos especializados, mas, principalmente, todo o equipamento pesado e necessário para a consecução do planejado. É assim (ou deveria ser) em todo lugar do mundo (aqui ou na China): construtoras de nome e porte são proprietárias e-ou tratam de alugar toda a parafernália a ser usada em tais projetos.

Só que, no Estado do Ceará, quando da gestão dos megalomaníacos irmãos Ferreira Gomes, a coisa não funciona bem assim. E a prova da irresponsabilidade nos é dada agora, quando tomamos conhecimento da herança maldita deixada pelo ex-governador Cid Ferreira Gomes para o seu afilhado político e sucessor Camilo Santana: o “rico” Estado do Ceará – é vero, senhores, acreditem -  “torrou” incríveis e exorbitantes R$ 135.000.000,00 (cento e trinta e cinco milhões de reais) com a compra de dois “tatuzões”, maquinário que será utilizado (teoricamente) na construção da linha leste do metrô de Fortaleza.

Há que se levar em contaa fim que tenhamos condição de imaginar a dimensão da verdadeira “insanidade” perpetrada pelo então governador do Estado, que, à época, além do “preço galático” de tão sofisticado equipamento, estranhamente “pequenos-grandes” detalhes foram “esquecidos” ou desconsiderados, a saber:

01) para manobrar-operacionalizar tais equipamentos, obrigatoriamente serão necessários dezenas de “técnicos especializados” e, conseqüentemente, hiper bem remunerados, onerando sobremaneira o já combalido orçamento estadual (comenta-se, inclusive, que no mercado interno não existe disponível tal profissional, tornando-se necessário buscá-los lá fora);  

02)  até a “vovozinha de Taubaté (a milhares de quilômetros daqui)  sabe que, na atualidade, o Estado do Ceará não tem a mínima condição de suprir a energia elétrica (e até a própria “voltagem”) a ser usada para acionar referidas máquinas, o que, em termos práticos, significa que o tal maquinário simplesmente não poderá sequer ser “ligado na tomada”; e, finalmente,

03) e se algum dia, num futuro distante, tal equipamento tiver condição de ser utilizado, mesmo que por breve período, é perfeitamente factível questionar qual a destinação que lhe será dada “a posteriori”, na perspectiva de que Fortaleza não terá tão cedo condição (econômico-financeira) de comportar-construir linhas de metrô a torto e a direito.  

Alfim, embora saibamos seja o senhor Cid Ferreira Gomes graduado em Engenharia Civil (embora nunca tenha projetado ou sequer erguido uma banal choupana de taipa), é perfeitamente admissível deduzirmos tenha o então “gestor” Cid Ferreira Gomes, ante tão esdrúxula decisão e gasto, incorrido e praticado grave ato de “improbidade administrativa”, porquanto comprovadamente perdulário no uso do dinheiro público, já que desconsiderando a “inoportunidade” e “desnecessidade” de importar equipamento tão sofisticado e de uso temporal, num Estado onde recorrente e persistentemente grassa a fome e a sede.

Assim, face à deficitária (ou inexistente) relação “custo-benefício” implícita em sua aquisição, os onerosos e inoperantes “tatuzões” do Cid Gomes tenderão a se tornar, ao longo do tempo, símbolos frios, imóveis, silentes, desgastados e emblemáticos do descaso e desrespeito para com a sociedade e à seriedade.

Na realidade, verdadeiros monumentos à insensatez e ao descaso. 


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

LUTAR PELO DIREITO À SAÚDE

Na 3ª Conferência Nacional de Saúde tinha-se as condições socioeconômicas como determinantes da saúde pública. A construção de estratégia de Povo, Nação e Estado. Pela política que pudesse enfrentar contradições (obstáculos) e as lutas de classe que sustentam tais condições.

Nos anos 50, a partir dos países centrais, um novo fenômeno aconteceu, com a veloz e onerosa incorporação tecnológica à saúde. Após o chamado Complexo Industrial Militar capturando o financiamento estatal (da sociedade), o mesmo modelo de financiamento aconteceu com o Complexo Industrial da Saúde.

A natureza destes complexos é sua sofisticação estratégica agindo psicologicamente sobre o Povo (marketing amplo), o Projeto de Nação (divisão de classe e bem de serviço) e capturando o Estado (onerando estruturas operativas e procedimentos).

Sistema Único de Saúde tem a ver com o princípio da universalização, mas guarda uma datação que foi a junção do antigo Ministério da Saúde com o INAMPS. Ao mesmo tempo a privatização da atenção nas empresas, evoluindo para a Medicina de Grupo e depois para o modelo de Planos de Saúde. Já começamos 1988 com a porta para a ruptura do direito social de acesso universal.

O que resultou disso? Uma forte captura do Estado e uma divisão ideológica na Saúde Pública, onde as forças indutoras se encontram no Complexo Industrial da Saúde. Isso levou a um encaminhamento de “negócios” e “modelos de negócios” que perpassa todo o aparelho formador (graduação, pós-graduação, residências, etc.), congressos e sociedades de especialistas e profissionais; as agências reguladoras (ANVISA e ANS) e o setor de compras do SUS e de incorporação de tecnologia (Fundos de Saúde, Conselhos e Conferências).

A Agenda do Senado para o Governo Dilma, com leveza de manchetes na Rede Globo, é a persistência e a garantia que o modelo vigente não sofrerá interferência da sociedade e tampouco do Estado. Este é o debate desta especificidade no financiamento da saúde.  


Falta, especialmente vindo da academia e dos partidos políticos, um debate que unifique toda a luta da Saúde Pública, compreenda os mecanismos de ação dos agentes do Complexo, que supere estas contradições e retorne ao princípio do primado da sociedade sobre a particularidade de interesses meramente financeiros. Que o avanço tecnológico seja mais redistributivo em sentido amplo, inclusive na distribuição de seus lucros e com a mudança nos “modelos de negócio”. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015



Parábola.

Neste amálgama de tantas contradições,
Quando alguém enuncia uma parábola:

Onde se encontram as virtudes e os senões?
Os frutos que alimentam e os que envenenam?

E os machados que juntos às raízes ameaçam?
As árvores conforme os vaticínios de Deus,
Serão lenhadas e outras frutificarão na nova era.

E quando a parábola se anunciou logo os ímpios,
Correm a buscar aqueles que julgavam maus frutos.

A disparar balas sobre os corpos negros dos haitianos,
A lanhar as carnes vivas do transformista crucificado,
Levantando os malfeitos dos seus vizinhos petistas,
Buscando as falcatruas das mulheres que abortam,
Lançando a primeira pedra nos desejos carnais das mulheres,
Linchando os gatunos agarrados com o celular subtraído,
Levando para o mais profundo porão os delinquentes infantis,
Levantando o dedo acusador para tudo aquilo que, afinal, gera frutos.

A parábola dos frutos bons e maus desperta a fúria insana dos coletores,
Ao invés de aproximar, assemelhar, pode antecipar a confusão existente,
Incapaz de transformar o espírito despreparado para sua compreensão.

Ainda mais quando aquele que enunciou a parábola diz:

Aos ricos: “O que tem duas túnicas deve compartilhar com quem não tem nenhuma, aquele que tiver alimento deve fazer o mesmo”.

Aos coletores de impostos: “Não cobrai nada além daquilo que foi estabelecido para vós cobrardes”.

Para os soldados: “Não intimidai, não chantageai e contentai-vos com vossos salários”.


E há dois mil anos, como agora, o anunciante de tais ideias teve a cabeça cortada. Mas seu algoz, amedrontado, teve o castigo de ser exilado do seu povo. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

 O caminho é uma bela e útil simbologia, mas não deixa de ser um foco onde nos esquecemos de toda a extensa floresta que lhe margeia. Enfim, amar o vivido para amar ainda mais as vivências e a potência daquilo a viver.

José do Vale Pinheiro Feitosa
O homem é feroz. O homem é bicho feroz. O homem é capaz de tudo. O homem destrói outro ser humano.

É! O homem é feroz.

O homem não tem medo de nada não.

Deus tem poder e nós não temos poder. Deus é quem nos dá o poder. Nós não temos poder.

Nós temos coragem. Nós somos corajosos.

O poder sabe o que é que é. O poder a gente carrega dentro de si. A gente tem a certeza que Deus comanda nós.

A certeza é o poder”.
Raimundo Castro do Santos – o pescador Mundinho de Paracuru.

Algumas pessoas têm confiado o poder político supremo a monarquias, outros a oligarquia, outros ainda às massas. Nosso legislador, no entanto, não foi atraído por nenhuma dessas formas de política, mas deu a sua constituição sob a forma que – se uma expressão forçada for permitida – pode ser chamada de ‘teocracia’, colocando toda a soberania e autoridade nas mãos de Deus”.

Historiador Judeu Flávio Josefo.

Todo o debate brasileiro nos tempos atuais concentra-se no poder.

Naturalmente o poder do Estado, que no nosso caso é democrático e de direito. Basta apenas que compreendamos a nossa luz: democrático e de direito. Tudo que destas duas instituições (não são meros conceitos, são termos decompostos em definições e normas) se lhes aprouver, cabe na luta política legítima.

Todo aquele que se insurge contra a democracia e os direitos ali consignados são passíveis de defesa constitucional.

Mesmo que venha com as palavras bíblicas, as tábuas da moralidade, o código penal ou qualquer tempestade mental das quais surgem palavras amargas que mesmo lançadas ao vento, jamais clareiam a tormenta.


Gritos, xingamentos e palavrões apenas geram mais confusão e outras palavras amargas. 

domingo, 9 de agosto de 2015

VALE A PENA LER DE NOVO

DOM, 09/08/2015 - 10:29
, 09/08/2015 - 10:29
Uma crônica de 2006, para o dia dos pais
Antes dos 13 anos, declarei guerra a meu pai. Eu passara para o terceiro ano do ginásio, mudou o irmão Marista titular da classe, e tive a oportunidade de tirar o primeiro lugar, algo que não conseguira nos dois anos anteriores.Fui para casa de boletim na mala e peito estufado, e o velho nem ligou. À noite, no encontro de pais e alunos no Marista, um pai chegou perto de nós, saudou o meu feito e indagou se manteria a colocação. Seu Oscar respondeu irritado: "Problema dele". Anos depois, Chafik, seu melhor amigo, me contou que ele não se conformara com minha decisão de, aos 12 anos, me tornar jornalista, e não seu sucessor na Farmácia Central.
Desde aquela noite de 1963 um muro ergueu-se entre nós. No mês seguinte caí para 7º da classe, no terceiro mês para 15º, do quarto mês em diante fui o último para o todo e sempre. Puni o seu Oscar a cada prova mal feita, a cada gazeta engendrada, a cada rebelião contra os irmãos. Mas nos momentos cruciais, consegui o seu apoio, especialmente no dia em que o reitor Lino Teódulo foi à minha casa com acusações falsas, em represália à minha militância estudantil. Disse-lhe na cara que ele estava mentindo, e meu pai me apoiou.
Nem isso quebrou as nossas barreiras. Eu chegava em casa antes de meu pai chegar, refugiava-me na tia Rosita na hora do jantar, depois, quando ele descia de novo para fechar a farmácia corria para casa, para dormir antes que ele voltasse de vez. Mas de manhã bebia cada som que ele emitia, cada gesto de ansiedade, andando para lá e para cá no corredor de casa, os gemidos de quem carrega os fardos do mundo. E me punia por não poder ajudá-lo.
Ao longo da vida, guardei em frascos de cristal os poucos momentos de emoção que consegui compartilhar com ele, como o garimpeiro que procura a pepita na bateia. Registrei seu choro na morte da tia Marta, as lágrimas na missa de sétimo dia do vô Issa, seu sogro, a última ida a Poços de Caldas, para ser comunicado da morte de seu melhor amigo, e seu olhar quando divisou a cidade ao longe. Mais tarde, acompanhei seu silêncio quando tia Rosita morreu. Não contamos nada para ele, e ele nunca mais perguntou dela, para não ouvir a resposta que temia.
E me lembrei para sempre do dia em que o critiquei na casa do vô Issa por ter comprado um bilhete de loteria enquanto estávamos acampados por lá, procurando casa para alugar em São Paulo. Ele saiu para a rua, fui atrás e pedi a Deus as palavras que me permitissem explicar o que sentia. Abracei-o, aquele homem alto, chorando, e falei, falei e falei, disse-lhe que ele continuava o centro da família e que minha preocupação era apenas para que não demonstrasse desespero indo atrás de miragens. E só serenei quando ele se acalmou e me olhou com olhar de pai agradecido.
O segundo derrame chegou doze anos depois do primeiro. Só depois de morto e enterrado comecei minha longa caminhada atrás de meu pai. Passei a buscá-lo em cada contemporâneo, em cada amigo. Com as velhas senhoras de Poços descobri o galanteador, com os fregueses mais humildes da farmácia, uma generosidade que nunca pressenti.
Com os amigos, a pessoa aberta e alegre que submergiu com a crise da farmácia, mas que continuou sendo o mais gentil dos poçoscaldenses.
E quanto mais o buscava passava a descobrir o inverso, a busca que ele fazia de mim. Diariamente meu pai levava minhas irmãs ao Colégio São Domingos, e, na volta, pegava um amigo meu para almoçar e saber notícias minhas de São Paulo. Antonio Cândido me falou do orgulho com que ele relatava minhas primeiras reportagens. O padre Trajano me contava das notas que levava ao "Diário de Poços" relatando cada vitória em festival, em concurso literário. E minha mãe me contou que, no auge da minha crise de adolescência, ela perdeu a fé no meu futuro, e ele acreditou.
Às vezes sinto o travo da última conversa que não houve, dos beijos que não lhe dei. Mas em algumas noites o sinto ao meu lado, daquele modo silencioso com que ficava com a tia Rosita, sem nada falar, porque palavras eram desnecessárias. Apenas me olhando com aquele olhar de quem finalmente se fez entender.