por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Tudo pelo poder" - José Nilton Mariano Saraiva

Jovem, sólida formação acadêmica, com “fôlego” pra dar e vender, unanimemente reconhecido (até pelos adversários) como um profissional competente na função que exerce (assessoria de comunicação), mas um tanto quanto ingênuo e romântico para a intensidade e o tipo de desafio lhe anteposto, o vibrante idealista Gosling (Stephen Meyers) sofre um “choque de realidade e desencanto” ao bater de frente com a trapaça, a corrupção, o jogo sujo e a deslealdade do seu superior hierárquico, Hoffman (Philip Seymour), no decorrer da campanha política do governador Mike Morris (George Clooney), candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos.
Matreiro, experiente, passado na casca-do-alho e essencialmente um mau caráter, Hoffmam é aquele tipo desprovido de quaisquer escrúpulos, desconhecedor do que seja padrões morais e, até por isso mesmo considerado um gênio para aquela espécie de “sujeirada”, onde a palavra dita agora não vale no minuto seguinte e a “ética” mandou lembranças. O tal do “rolo compressor”, na completa acepção do termo, já que capaz de passar por cima da própria genitora, se necessário.
Sua influência é tamanha, que até o próprio governador-candidato a presidente (Clooney), aparentemente detentor de rígidos padrões morais e comportamentais, paulatinamente vê-se obrigado a passar por uma metamorfose impressionante, sob pena de não conseguir chegar lá. E haja concessões, e tome desdizer o que dissera antes, e haja benevolência e esquecimento pra aceitar aliar-se a figuras renegadas há pouco, tudo em nome da vitória final.
Pois bem, lá pras tantas (no auge da campanha), bastou que o idealista Gosling tivesse aceitado encontrar-se (sem maiores compromissos) com o coordenador do comitê do adversário, para que o mundo desabasse sobre ele, já que acusado por Hoffmam de ser um “traíra”, um entreguista e de se achar interessado em "ocupar o meu lugar”. Demissão sumária, sem choro nem vela.
Como houvera se envolvido com uma jovem e bela estagiária, atuante no comitê do candidato, quase que por acaso Gosling descobre a “fórmula mágica” de reverter tal situação; grávida... do governador-candidato a presidente e por ele desprezada, a jovem opta pelo suicídio, devidamente abafado pelo candidato e Hoffman.
Esta a senha para que, a partir de então, Gosling renuncie a toda sua ingenuidade e romantismo e, como bom aluno, passe a adotar o mesmo jogo sujo de que houvera sido vítima: exige do governador-candidato à presidência a demissão imediata de Hoffman (sob pena de “abrir o bocão” para a imprensa, acusando-o da gravidez indesejada e do suicídio da jovem), se auto-nomeia coordenador-chefe em seu lugar e assume as rédeas da campanha a partir dali.
Por essa razão, o bem ritmado e atualíssimo “Tudo pelo Poder”, recentemente lançado, é um desses filmes que marcam e, certamente, deverá ser laureado pela Academia. Se faz merecedor (George Clooney, Stephen Meyers e Philip Seymour têm atuação irrepreensíveis).
Vale a pena conferir.


Amanhã é o dia DELE!

Alfredo Moreira Neto  
Mano querido, exija dois presentes!

Grande abraço

NATAL DIFERENTE - Isabela Pinheiro

Houve um natal diferente
Onde ninguém ganhou presente
Não tinha enfeites para pendurar
Nem arvore de natal para enfeitar
Apenas um boneco de pano branco rasgado
Mas não tinha paredes para ele ficar pendurado
O dinheiro acabou
E fome foi o que minha família passou
O Papai Noel não veio nos visitar
Nem trouxe presentes para nos agradar,
Mas o sorriso não tiramos do rosto,
Pois é o nascimento de jesus
E quando ele nascer
Felicidade ele vai nos trazer,
Passou da meia noite
O que eu pensava era verdade,
Uma casa minha família ganhou,
Peru tinha em uma mesa
Em cima de uma toalha vermelha
E como grande troféu da noite
Uma linda arvore de natal
Com enfeites coloridos,
Para uma ceia chamamos nossos amigos,
Foi o natal mas feliz que a minha família já deu a mim.

Isabela Pinheiro
10 anos

Vovô Natalino e o Natal de Trevas em Matozinho


A notícia chegou em Matozinho ainda pela manhã, quando os burros dos leiteiros ainda cruzavam as ruas, enchendo os bules, de porta em porta. A cidade ficou consternada. Padre Andrelino falecera na capital. Fora pároco de Matozinho , por uns onze meses , em substituição ao Padre Arcelino que adoecera gravemente . A tristeza que se abateu sobre a Vila tinha muitas razões para se multiplicar. Andrelino mal varara os quarenta anos e, na sua passagem meteórica por Matozinho, tinha se irmanado tanto com a cidade que se tornara um matozense honorário, desses que nem precisam receber o título na Câmara Municipal. Por polêmicas ações do seu apostolado, terminara afastado da paróquia e, depois, tido por louco, soube-se ter sido interno em hospital psiquiátrico na capital. O povo nunca se conformou com o triste destino do nosso Arcelino , ainda mais agora quando se divulgou, por baixo dos panos , o motivo do falecimento : suicídio por enforcamento. Caiu, por sobre a cidade, um clima pesado, como todos se sentido atormentados por um novo pecado original. Parecia impensável o trágico fim do sacerdote. Logo ele? Tão alegre , sempre com um sorriso pendente dos lábios, tão repleto de esperanças e idéias novas ! Tão dinâmico e confiante na possibilidade de mudar o curso das coisas e tornar o mundo mais respirável! Por que desistiu de forma tão trágica e categórica?

As rodinhas de praça, as mesas do Bar do Giba e a assembléia da Botica de Janjão até que tentaram trazer uma resposta. As versões, no entanto, são desencontradas e múltiplas , passeiam pelo terreno do homicídio, da psiquiatria, da terapêutica errada e até de uma suposta trama envolvendo grupos de comerciantes e sacerdotes no sentido de por fim à vida dele. Quem sabe , o leitor, não poderia dar uma ajudazinha em desvendar o enigma?

Andrelino assumiu a paróquia de Santa Genoveva e, rapidamente, percebeu-se que era um padre diferente. Criou um Projeto chamado “A Deus o que é de Deus”, administrado pelos próprios diocesanos. Arrecadavam donativos e óbolos que eram doados aos mais carentes, sem qualquer interferência da Diocese. Os administradores descontavam apenas um pequeno valor para manutenção do sacerdote e da Igreja. Acabou com as procissões intermináveis, afastou as beatas do templo e pediu-as se envolverem em movimentos sociais sob pretexto de que ajudar aos mais desfavorecidos já era uma oração. Dispensou, ainda ,as confissões, pedindo aos fiéis que se confessassem diretamente com Deus e suas consciências. Proibiu o corte anual de árvore para montar a bandeira da Santa Genoveva na Festa do Pau da padroeira, aquilo era uma agressão à natureza: montem em cano de PVC! Acabou, também, com as regalias que tinham os matozenses mais ricos: missas domésticas, encomendações especiais, concelebrações em aniversários e solenidades. Vários imóveis doados para Santa Genoveva foram vendidos também , com fins de ajudar às vítimas da inundação do Rio Paranaporã. Cristo não faria isso, perguntou o sacerdote ? Ou ele preferiria ser latifundiário e assistir ao sofrimento e abandono do seu povo ?

No entanto, a gota d´água que entornou o copo do Pe Andrelino, veio no Natal. Taí um consenso , arrancado das rodinhas de bar, praça e botica. É que as mudanças propostas foram enormes, se comparadas aos Natais da tradição. Andrelino brigou com o prefeito Sinderval Bandeira, pois esse criara o que ele chamou de “Natal de Trevas”. Nenhuma iluminaçãozinha na cidade, para lembrar a data, era demais! Em plena época de luzes da China, aquilo era inadmissível! Depois, Andrelino pediu a todos que construíssem árvores de Natal com espécies da própria região : pau d´arco, faveiras, timbaúbas, coração de negro. Pinheiro e Cipreste não tem nada a ver com Matozinho , minha gente ! E mais, não cortassem as árvores que aquilo era uma afronta à vida e a Deus. Desbancou, também, a figura do Papai Noel, um velho broco e cego que só avista criança rica e mais: anda num trenó, puxado por umas tal de rena, no meio da neve. Quem já viu esse tipo de condução? Quem já viu neve? Quem conhece rena, meu povo ? Pode um desgraçado desse vir bater num lugar seco como Matozinho? Mandou buscar, então, uma figura em barro construída por Zé do Carmo, um artesão de Goiânia em Pernambuco, chamada de Vovô Natalino, com cara de nordestino e olhar afável e carinhoso: a partir de hoje, esse é nosso Papai Noel ! O padre, ainda, acabou com o tal de amigo secreto: a partir dali todos os amigos seriam visíveis e declarados. E mais: pediu ( para desespero dos comerciantes )para que a troca de presente cessasse, que aquilo não era coisa de Deus. Trocassem por alimentos e distribuíssem com os pobres, aquilo sim era bem mais condizente com o espírito de Natal. Andrelino lembrou ainda do falso clima de solidariedade quase compulsória desse período. Que as pessoas se tornassem caritativas, mas com espírito libertário: lutassem para que um dia a caridade já não fosse necessária e se substituísse por justiça social. Pediu ainda que a ceia fosse servida na Praça da Sé, numa mesa enorme, lembrando que todos somos irmãos e devemos dividir a mesma mesa. E mais: nada de Panetone, de uvas, de Passas , de Nozes, de vinhos. Vocês acham que foi isso que Cristo comeu na manjedoura? Tragam à nossa mesa o nosso maná do dia a dia : passa-raivas, sequilhos, quebra-queixos, muncunzá, macaúbas, araticum, siriguelas e aluá. É com esse maná que devemos regar o nosso Natal.

O Natal de Trevas , dizem todos, foi o mais iluminado de Matozinho. Logo depois, sabe-se lá porque, Andrelino foi afastado e depois interno no hospício. Aos que lamentaram o enforcamento de Andrelino, alguém lembrou que aquilo nada tinha de estranho: o próprio aniversariante , autor de tantas idéias parecidas, não fora crucificado ? Não era apenas a mesma história que se recontava?

J. Flávio Vieira

Campanha "Queremos seu Cacareco"

Você deve ter em casa aquele cabo velho de USB, o cartão de memória que não usa mais, aquela maquina de fotografar antigona, uma tesoura velha, um gravadozinho, uma extensão...e muitas outras coisas que nunca utiliza....já pensou em doar? Queremos todo os seus cacarecos para construimos o nosso Laboratório de Estudos, Vivencias e Experimentos em Arte Contemporânea.

Sua doação...pode fazer a arte circular coletivamente.....


O amor é preguiçoso. Carece de sono, sonhos, e uma vontade misteriosa de persistir no ramo. Ramo de laranjeira, pés de vento, zero compromisso.

Que 2012 seja um ano amoroso para todo o mundo!

socorro moreira

O programa Anonymus Gourmet é apresentado pelo jornalista, advogado e escritor José Antonio Pinheiro Machado. O personagem Anonymus foi criado por ele em 1982, no livro "O Brasileiro que ganhou o Prêmio Nobel", que tinha como subtítulo "Uma Aventura de Anonymus Gourmet". O Anonymus Gourmet é apresentado desde 5 de abril de 2003 na RBS TV aos sábados pela manhã. O objetivo do programa é sempre apresentar receitas simples, fáceis, baratas e saborosas com um truque ou toque do Anonymus. Os programas fazem parte do Núcleo de Produção da RBS TV, que tem na gerência Alice Urbim. A produção dos programas é de Adam Scheffel e a direção de Vivian Cunha.

Aspectos sentimentais do signo Capricórnio :: Graziella Marraccini ::


Capricórnio é um signo de Terra, Cardeal, governado pelo planeta Saturno (Veja também em: Signos Astrológicos). Como os outros signos de Terra, Capricórnio é ligado aos bens materiais e a todas as coisas terrenas. Na terra ele simboliza a própria Terra, os lugares elevados, as montanhas, e os lugares isolados e inacessíveis. Sendo muito prático, como os outros signos do mesmo elementos, o capricorniano ‘não dá um ponto sem nó’, no sentido que ele ambiciona sempre alguma coisa em troca do que faz.

O símbolo do capricórnio é uma figura ‘meio bode e meio peixe’, o que mostra a ambivalência deste signo, que é a evolução da vida na Água (seu oposto é o signo de Câncer) para subir na Terra. No simbolismo antigo, a cauda do Capricórnio lembra também uma serpente, que é uma das mais antigas representações da sabedoria instintiva, sabedoria da própria terra. Ao mesmo tempo, o seu lado peixe, conhece as profundezas do mar, ou seja, as profundezas da psique e das emoções humanas. Este cabrito montês, trabalhador incansável, perseverante, astuto e ambicioso, é antes de tudo um grande caçador de mistério. Ele consegue controlar com astúcia os meandros da natureza humana, sejam eles interiores e exteriores.

Ele é sem dúvida mestre em guardar segredos. E isto diz respeito aos próprios sentimentos também. Talvez haja ali uma dificuldade de traduzir ‘em miúdos’ algo que não é facilmente controlável, de forma que ao falar de sentimentos, ele precisa saber bem onde põe os pés (ou as patas!).

Ele é muito realista e não fará nada por impulso. O objetivo do capricorniano é sempre o de colocar os pés sobre algo concreto, ‘muito concreto’, portanto fará escolhas razoáveis e seguras. O romance não é para ele. O mito do Deus Saturno nos diz algo sobre este signo. Saturno é um dos Titãs, os deuses da Terra, filhos de Gaia, a Grande Deusa Mãe. Saturno é Kronos na Mitologia Grega, Deus do Tempo, que veio aprisionar seus filhos na cadeia das reincarnações. Do mesmo modo o capricorniano aprisiona a si próprio dentro de muros de trabalho, dever e ambição e passa muito tempo de sua vida somente acumulando responsabilidades e... dinheiro. Em detrimento, as vezes da sua vida sentimental. Porém, ele também aspira o lado espiritual da vida, mas ele irá, também neste campo, tentar alcançar o topo e buscará o autocontrole, a vontade, a estabilidade interiores que o associam à figura do Pai.

O Homem de Capricórnio

Quando jovem, o homem de Capricórnio pode parecer um pequeno cabrito sem rumo, às vezes assoberbado por tantas responsabilidades e poderá parecer até bastante inseguro, especialmente do ponto de vista sentimental. Tendo uma meta terrena para atingir, ele deixa de lado os seus próprios sentimentos e vai seguindo firmemente o caminho traçado pela ‘tradição’. Ele segue o caminho dos antepassados, com passos firmes e tem uma maneira peculiar de demostrar o seu amor. Dificilmente ele dirá "Querida, eu te amo!", naquele tom romântico e meloso dos signos de água. Mas ele demostrará seu amor compartilhando com você seus projetos e construindo com você um futuro firme e garantido. Ele fará seu papel de pai e marido de forma firme e segura, o que é um comportamento tipicamente masculino. O papel da mulher de um capricorniano deverá portanto ser essencialmente feminino. Se ele é o Grande Pai ela deverá ser a Grande Mãe e deverá desempenhar seu papel, dando-lhe, principalmente, filhos... homens! Sim, porque para ele o mundo é masculino e, mesmo respeitando o lado feminino da vida, ele está convencido da supremacia que o universo masculino tem sobre o feminino. O mais difícil nestes relacionamentos, é que esta figura paterna acabe se tornando um pouco tirana, e neste caso a mulher que estará ao lado de um capricorniano não poderá se mostrar mais competente e forte do que ele, pois isto retiraria sua autoridade. A não ser que esta competência seja num campo ‘estritamente feminino’, é claro!

O capricorniano típico é seguro, e se compromete somente se é "para toda a vida". Porém não tente modificá-lo, aceite-o como ele é, e você terá um companheiro seguro e confiável para a vida toda.

A Mulher de Capricórnio

Apesar do mito do Capricórnio ser ligado à figura do Grande Pai, a mulher de Capricórnio não é masculinizada. Muitas vezes elas assumem muito cedo as rédeas de sua vida, e não raramente também aquelas de outros familiares. Mas esta mulher, apesar de forte e segura, possui uma certa dose de feminilidade, de sensibilidade, que tem dificuldade de se expressar abertamente. Sempre bem-vestida e bonita, ela nunca será espalhafatosa mas terá um certo charme, um certo ar de mistério, que consegue ser muito atraente para certos homens. Normalmente a mulher de Capricórnio dará muita importância à sua carreira, mas também poderá ser uma amante e uma esposa dedicada, que ajudará o marido em sua própria carreira, com seus conselhos e seu senso prático, manipulando-o de forma astuciosa para conseguir obter aquele resultado que ela deseja. Como mãe também ela pode ser manipuladora, porque é instintivo nela exercer o poder do comando e o seu desejo de realizar algo é tão forte que, se ela não trabalhar fora, se realizará através dos filhos e do marido.

Acredito que a mulher de Capricórnio deva tentar buscar dentro dela o seu lado feminino escondido, o seu lado Câncer, o seu lado Água. Desta forma ela se tornará mais feminina e terá menos decepções amorosas. Sim, porque a Capricorniana se decepciona facilmente e se queixa muito do fato que os homens não lhe oferecem a necessária ‘segurança’. Isto está ligado ao mito do ‘Pai’ que elas trazem dentro de si. E se esta figura paterna não for bem resolvida, terão problemas nos relacionamentos e se decepcionarão sempre com os homens que considerarão ‘mais fracos’. Com o tempo, elas poderão no entanto desenvolver o seu lado mais caloroso e acolhedor e se tornarem muito sábias.

Capricórnio e o amor

Como já falei, o capricorniano típico não lida bem com sentimentos, que ele considera ‘pouco seguros’. Como ele gosta de pisar em terra firme, buscará relacionamentos estáveis e bem do tipo ‘tradicional’, e aos poucos construirá os alicerces firmes para a sua ascensão social. Não existe pessoa mais segura para companheira do que uma pessoa de capricórnio! No entanto, se você busca emoções, novidades, surpresas, enfim, uma vida cheia de ‘fogo de artifícios’ fique longe dele. Ele lhe oferecerá segurança, conforto material, uma boa posição social, mas nunca grandes surpresas e noitadas loucas! O amor do capricorniano é demostrado no dia à dia, naquilo que ele oferece ao seu companheiro para dar-lhe estabilidade e firmeza. E isto não é pouco, não é?

A PARTÍCULA DE DEUS



Não sei se existe uma partícula de Deus
ou a primeira massa
depois do Big Bang.
Não preciso explicar a origem do universo.
Enquanto se procura o bóson de Higgs
com o Grande Colisor
de Hádrons
de Cern,
eu continuo a me extasiar com as panelas
da cozinha
ou com o infinito das estrelas.





Eu apresento a página branca.

Contra:

Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras.

Eu apresento a página branca.

A árvore sem sementes.

O vidro sem nada na frente.

Contra a água.
Arnaldo Antunes