por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"Mar de lama" - Rodrigo Viana

QUA, 15/10/2014 - 15:28
ATUALIZADO EM 15/10/2014 - 16:30
Por Rodrigo Vianna, na Revista Fórum
Se Dilma ganhar, essa eleição vai significar também a vingança de Getúlio Vargas contra  o lacerdismo”.
Sei que o tempo presente nos chama. Mas um pouco de História vai bem. Na verdade, vou falar de um passado que é  presente… Vocês sabem que Carlos Lacerda (foto ao lado) foi o governador do Rio (e jornalista, e dono de jornal) que fazia oposição violenta contra Getúlio Vargas e o trabalhismo – isso tudo lá nos anos 1950 e 1960. Chamado de “O Corvo” pelos getulistas, Lacerda era bancado pelos EUA. E tinha apoio de uma classe média furiosa com os direitos trabalhistas, com a criação da Petrobrás e com a entrada em cena da “ralé” (que passava a definir eleições – votando em Vargas ou nos candidatos apoiados por ele). Qual era o discurso de Lacerda? Vargas seria um “corrupto”, um “bandido comandando uma quadrilha”.  Isso lembra alguma coisa a vocês?
Em 1954, o cerco se apertou. A imprensa passou a falar em “Mar de Lama” no governo. Vargas foi cercado no palácio. E num gesto dramático (esse papo de que no Brasil não há conflitos, e de que tudo se resolve “na boa”, é balela!) o presidente meteu uma bala no peito. Ali, Vargas virou o jogo. O povão que começava a ser influenciado pela campanha midiática anti-Vargas, ficou do lado do morto. Não preciso dizer que “O Globo” e quase toda a imprensa estavam ao lado de Lacerda contra Vargas. O povão queimou carros e gráfica da família Marinho em 1954 – pra se vingar.
Pois bem, o conservadorismo brasileiro é tão pouco criativo que nem disfarça. Saltemos ao século XXI… Em 2006 (quando o PSDB imaginava que Lula seria derrotado fragorosamente graças ao “Mensalão”), FHC lamentava “a falta que faz um Carlos Lacerda para tocar fogo no palheiro” (leia aqui). Na falta de um Lacerda de verdade, o PSDB terceirizou (eles são bons nisso): surgiram dezenas de lacerdinhas nos jornais, rádios, TVs e na revista da marginal. São blogueiros e jornalistas que fazem a agitação verbal para o PSDB – reproduzindo o mesmo discurso que hoje escutamos nas ruas: “o PT é uma quadrilha que precisa ser escorraçada”.
Na campanha de 2014, Aécio Neves surfa nessa onda. Aproveita também os erros do PT e – sem programa que não seja arrocho e desemprego – Aécio tenta ganhar a eleição no grito: “Fora, PT”, “abaixo a corrupção”. No debate da Band, qual foi a grande “sacada’ de Aécio? Dizer que o Brasil vive um “Mar de Lama”. Hehe… É a mesma palavra de ordem dos que levaram Vargas ao suicídio em 1954. A direita é a mesma. Só que Dilma não vai meter bala no coração. Não. Dilma disparou de volta, na testa de Aécio.
O rapaz mineiro (que fala em meritocracia, mas vive do que herdou da família) ficou atônito quando Dilma falou nos casos de corrupção do PSDB, e falou no episódio do aeroporto construído dentro da fazenda de um tio de Aécio. Falou também dos casos de nepotismo (Aécio empregou meia dúzia de parentes no governo de Minas). O rapaz perdeu o rebolado.
Se Aécio fosse um monge budista, ainda assim esse discurso moralista de que “todo o problema do Brasil é a corrupção” não faria sentido (e a desigualdade? e o racismo? e a violência policial? e o poder do sistema financeiro? e o poder da Globo? Nada disso importa, né…).
Mas pior: Aécio não tem moral pra falar em corrupção. Nem em bons costumes. Ele é o típico falso moralista – acusado até de bater na mulher. Aécio foi desmascarado por Dilma no debate da Band.
Verdade que o “Mar de Lama” de Aécio foi parar na capa do “Estadão”. O combalido diário paulistano vibrou: a Família Mesquita (dona do jornal, apesar de endividada) deve ter achado que voltaram os bons tempos: uma manchete com cheiro de anos 50 - lembrou-me @pedrozm / Pedro Malavolta via twitter (a mensagem dele foi a inspiração para esse textos).
Com seu “Mar de Lama”, Aécio cheira (ôps) a naftalina. É o passado que volta à cena, com um terno bonitinho e sotaque mineiro. E o passado precisa ser derrotado de vez. Dilma, como venho dizendo desde 2010, significa o (re) encontro do PT com o varguismo. Dilma traz a herança  brizolista, trabalhista, foi do velho PDT. Ela se formou nessa tradição. Se Dilma ganhar (e tem toda as condições pra isso, numa batalha que será duríssima), será a vitória de Vargas contra Lacerda. Só que dessa vez o tiro será disparado contra o outro lado. Um tiro no lacerdismo rastaquera de Aécio, com seus aeroportos feitos em fazendas da família, com seus parentes no governo, com sua irmãzinha que tenta calar a imprensa. Lacerda ainda tinha estilo. Aécio só tem a Globo, a Veja e seus lacerdinhas amestrados.


Sobre o DE(em)BATE presidencial - José Nilton Mariano Saraiva

Bem que, antes de começar o programa, quando entrevistada, a presidente Dilma Rousseff manifestou a esperança de que fosse um debate "propositivo" (sério, com apresentação de propostas) para o qual se achava preparada. Como, quando começou, previsivelmente o Aécio Neves partiu pra baixaria, com destaque para a corrupção na Petrobrás, o DEBATE acabou melancolicamente em EMBATE. 

Isso porque, evidentemente, Dilma Rousseff não ia ficar calada e passiva ante a saraivada desferida pela metralhadora giratória do oponente; assim, a cada agressão sofrida respondia com fatos reais e acontecidos num passado não tão distante. Como quando, aproveitando o gancho da corrupção da Petrobras, olhando olho no olho, perguntou ao senhor Aécio Neves: "Candidato, onde estão os envolvidos com o CASO SIVAM ? Todos soltos. Os envolvidos com a COMPRA DE VOTOS DA REELEIÇÃO ? Todos soltos. Os envolvidos na PASTA COR DE ROSA ? Todos soltos. Os envolvidos no CARTEL DOS METRÔS E TRENS DE SÃO PAULO ? Todos soltos. Os envolvidos no caso do MENSALÃO TUCANO MINEIRO ? Todos soltos. Eu não acho isso moral e nem ético.". E concluiu, contundentemente: O que eu não quero é isso, candidato. Eu quero todos aqueles culpados presos. É essa a minha indignação, que o senhor não enxerga. 
Como o Aécio tergiversou, ao afirmar que “A senhora busca comparar outras coisas, muito diferentes, não queira nos igualar”, Dilma Rousseff foi absolutamente cirúrgica: “Candidato, gostaria muito que o senhor explicasse aqui para o telespectador por que isso tudo que eu listei é outra coisa. É outra coisa porque não foi investigado nem punido.” Aécio Neves emudeceu.
Num outro instante, quando foi questionado por Dilma Rousseff sobre a construção do aeroporto na cidade de Cláudio, em terras da família Aécio Neves afirmou que “o Ministério Público Federal atestou a regularidade dessa obra” Dilma Rousseff simplesmente lhe lembrou que: “O Ministério Público não aceitou a ação criminal, candidato. Mas mandou investigar a obra do aeroporto de Cláudio no que se refere a IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA”; e aí fez questão de didaticamente indagar a quem assistia: “Sabem o que é improbidade administrativa? É MAU USO DO DINHEIRO PÚBLICO.”
Alfim, uma novidade que decerto surpreendeu o tucano deu-se quando a Presidenta colocou o “nepotismo” no cardápio e de forma incisiva, sacou: “Hoje, no Brasil, é proibido o nepotismo, candidato. E o senhor tem: uma irmã, um tio, três primos e três primas no governo de Minas Gerais. Agora, pode olhar o governo federal. Não vai achar um parente meu.”
Enfim, o formato do programa da Band permitiu que os candidatos se lançassem à jugular do adversário com incrível disposição e avidez e se agredissem mutuamente. 

Daí o DEBATE ter-se transformado em EMBATE e de certa forma decepcionado o público em geral (conforme manifestações posteriores), porquanto todos esperavam a apresentação de propostas objetivas do que pretendem fazer pelo Brasil. 



Deus sabe como andamos necessitados de manhãs, talvez de apenas uma manhã. Basta uma. JOÃO CABRAL DE MELO NETO nos diz como tecê-la.


Tecendo a manhã
"Um galo sozinho não tece uma manhã:...
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos
Se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão."
(João Cabral de melo Neto)
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