por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Lilliput



J. FLÁVIO VIEIRA

                                               O mundo de Madalena era minúsculo. As fronteiras percorriam-se facilmente sem  atropelos. O centro do universo brotava no pequeno sítio onde vivia e estendia-se , quando muito, À pequenina vila onde, religiosamente, ia aos domingos fazer a feira. A cidade enchia-lhe o coração de um certo travo, como se alcançasse a mordida final da polpa do caju. Tudo ali lhe parecia desproporcional e barulhento:  o nanico arruado cintilava-lhe aos olhos como a metrópole , a capital do seu mundo prenhe  dos hipnotizantes avanços tecnológicos : a luz elétrica, o calçamento tosco ( para ela ladrilhado com pedrinhas de brilhante), a praça, a igrejinha. Todo domingo chocava-se o mundo minimalista de  Madalena com a aparente grandiosidade  da Vila, dir-se-ia Gulliver saindo de Liliput e adentrando os portais de Brobdingnag.
                                    Como não se emprenhar  da pequenez do planeta, visto através do translúcido filtro do sítio ? Para o pinto  os horizontes  não terminam na casca do ovo ? Ali, a lua cheia beijava-lhe o terreiro em reverência quase que religiosa. As estrelas refletidas na lâmina do açude podiam ser bebidas com a concha das mãos e o sol , onipresente, morava no quarto da frente, envolto no seu cobertor de fogo e de luz. Até o outro mundo percebia-se convidativo ,ali defronte,  num cemiteriozinho improvisado, perto da casa, com suas cruzes tronchas e suas flores murchas. Talvez, por isso mesmo, a vila saltava-lhe aos olhos como um estorvo, uma outra longínqua galáxia.
                                   Madalena ouvia, vez por outra, falar de terras estranhas e distantes. Recife, Rio, São Paulo...Na sua escala, no entanto, não deviam ser locais tão remotos. O Oiapoque terminava no pequizeiro defronte da casinha de taipa e o Chuí iniciava-se longo adiante , no fim do quintal.  Os feirantes , vorazes engolidores de estrada, falavam das terríveis e penosas viagens a muitas lonjuras. Madalena, no entanto, assegurava-os, alimentando o riso de muitos, que atrás de sua casa tinha uma veredazinha que era pertinho de todo canto deste mundão de meu Deus. Na feira, o povo mangava daquela pretensão, daquele portal particular da roceira e apelidaram a vereda de : “Caminho de  Madalena”. Queriam que algum fazedor de mandado se apressasse?  Sapecavam:
                                   --- Vá pelo Caminho de Madalena, viu  ?
                                   Se alguma pessoa chegava atrasado num trato, a pergunta fazia-se inevitável :
                                   --- Por que não veio pelo caminho de Madalena ?
                                   Diferentemente de Liliput, no entanto, aos olhos de Madalena era o mundo que se revelava microscópico e não as pessoas. Os homens e as mulheres desnudavam-se enormes  e coloridas talvez como um contraste natural ao opaco-cinza do restante da aquarela. Os sonhos, também, tantas e tantas vezes, trespassavam    as fronteiras daquele mundinho, a contragosto da sonhadora, e deslindavam-se para além  dos limites extremos do pequizeiro e do quintal  fazendo-se palco mais que suficiente para o enredo de uma vida.  E aos poucos se ia aprendendo que nas muitas viagens,  físicas e sentimentais,  empreendidas na existência, nesta contínua corrida de obstáculos ,  pode-se buscar, sempre,  um atalho menos penoso, uma via mais expressa: um Caminho de Madalena.

Crato, 22/11/13

Namore um "barrigudinho" (transcrição)

Tenho um conselho valioso para dar aqui: se você acabou de conhecer um rapaz, ficou com ele algumas vezes e já estar começando a imaginar o dia do seu casamento e o nome dos seus filhos, pare agora e me escute. Na próxima vez que encontrá-lo, tente disfarçar, tente descobrir como é sua barriga. Se for musculosa, torneada, estilo `tanquinho´, fuja!  Comece a correr agora e só pare quando estiver a uma distância segura. É fria, vai por mim. Homem bom de verdade precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chopp. Se não, não presta. Estou me referindo àqueles que, por não colocarem a beleza física acima de tudo (como fazem os malditos metrossexuais), acabaram cultivando uma pancinha adorável. Esses, sim, são pra manter por perto. E eu digo por quê. Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota, em cima do balcão. Se fizer isso, é pra fazer graça pra turma e provavelmente será engraçado, mesmo. Já os `tanquinhos´ farão isso esperando que todas as mulheres do recinto caiam de amores - e eu tenho dó das que caem. Quando sentam em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que os pançudos pedem pra beber? Cerveja! Ou coca-cola. Tudo bem também. Mas você nunca os verá pedindo suco. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com `clight´ que trouxe de casa. E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação. E no quesito comida, os homens com barriguinha também não deixam a desejar. Você nunca irá ouvir um ah, amor, `Quarteirão´ é gostoso, mas você podia provar uma `McSalad´ com água de coco. Nunca! Esses homens entendem que, se eles não estão em forma perfeita o tempo todo, você também não precisa estar. Mais uma vez, repito: não é pra chegar ao exagero total e mamar leite condensado na lata todo dia! Mas uma gordurinha aqui e ali não matará um relacionamento. Se ele souber cozinhar, então, bingo! Encontrou a sorte grande, amiga. Ele vai fazer pra você todas as delícias que sabe, e nunca torcerá o nariz quando você repetir o prato. Pelo contrário, ficará feliz. Outra coisa fundamental: homens barrigudinhos são confortáveis! Experimente pegar a tábua de passar roupas e deitar em cima dela. Pois essa é a sensação de se deitar no peito de um musculoso besta. Terrível! Gostoso mesmo é se encaixar no ombro de um fofinho, isso que é conforto. E na hora de dormir de conchinha, então? Parece que a barriga se encaixa perfeitamente na nossa lombar, e fica sensacional. Homens com barriga não são metidos, nem prepotentes, nem donos do mundo. Eles sabem conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E eles aprenderam a conversar, a ser bem humorados, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. É por isso que eu digo que homens com barriguinha sabem fazer uma mulher feliz. CHEGA DE VIADAGEM!  O mundo inteiro sabe que quem gosta de homem bonito são os viados. Mulher quer homem inteligente, carinhoso e boa praça. Chega de ter a consciência pesada após beber aquela cervejinha, ou aquele vinho, e comer aqueles petiscos. Passe adiante para todos os barrigudos e simpatizantes.

De Rosa Maria Guerrera para o Azul Sonhado

São muitas as pessoas  que desfilam pelos corredores das nossas vidas. E acontecem  de maneira  curiosa ,ora  em forma de pequenos esbarros , ora em encontros que ficam para sempre em nossos corações.
 Muitas representam luzes que piscam iguais aqueles enfeites de Natal , e que só duram realmente por um período de festas e alegrias. Outras trazem no olhar  o brilho radiante do sol e que penetram de uma maneira rara os dias  cinzas do nosso viver  se infiltrando  de tal maneira no nosso eu , que deixam cicatrizes profundas nas nossas lembranças.
 Em cada coração ( penso eu ) existe um " você" que sentou ao lado dos nossos pensamentos e rabiscou frases  de ternura  que por muito tempo resistiu  a vendavais , borrascas ,lágrimas e até despedidas..
Aquele você que nos ensinou a sorrir,a desbravar montes nunca antes escalados , a mergulhar sem receios em mares desconhecidos ,e  a viver cada dia como fosse a primeira vez de um grande sentimento.
Aquele você que nos impulsionou a fugir do " eu sozinho", para conhecermos de perto a beleza do "nós ".
Essas pessoas não foram esbarros , foram encontros .
 Encontro com a alegria , encontro com a pureza , encontro com o amor , encontro com a verdade.
E elas ficam , mesmo que tenham partido , por um golpe do destino ou até pela necessidade de um adeus.
E não importa o tempo em que tenham vivido conosco ,  mas o tempo que desafiando as correntezas da vida , se tornou para nós , um tempo imortal .