por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Crato x Mauriti



(Mauriti anos 50)


Desde menina faço esse percurso, e hoje aconteceu, como em tantas vezes: Crato, Barbalha, Missão Velha, Milagres, Rosário, e Mauriti.
Antes de chegar, o banho no poço dos Dantas, vacaria e engenho velho, quase dentro da cidade. Casas de amigos, que não foram reformadas, a praça, a igreja, e a casa de Tia Auri.

Como podemos deixar de conviver com tanta gente que fez parte de todas as fases da nossa vida? 90 anos, e mais de 90 amigos. Metade , quase da sua idade; a outra metade quase da minha... E umas crianças, que estão animando a casa.
Procurei o fogão de lenha, o pilão, o pé de siriguela... Abracei e conversei com rostos familiares, que apesar do tempo passado, ainda me reconheceram. Procurei os batentes da igreja, aonde uma turma de meninas se reunia pra ouvir histórias, contadas no giz. Minha prima confessou, que tem histórias escritas e guardadas, mas não pensa em publicá-las. Considerei o pendor natural, que ela sempre teve, e fiquei curiosa para ler as prosas. Quem sabe? Ela nem desconfia que agora vivo pescando contos pro nosso alimento diário.
Tia Auri é linda e lúcida! Foi professora primária de várias gerações, e nos acolheu na infância e adolescência, quando passávamos por lá as nossas férias escolares. Vi o álbum de família, meus pais bem jovens ainda, e muita gente que ficou para trás. Emocionei-me com o presente. Estávamos todos ali, rezando, cantando, e nos deliciando com ótimos quitutes.

Meu olhar buscou o que nunca mudou. Meu pensamento recordou momentos de festas. Flertes na pracinha, e os meus pares de dança.
Maria ainda estava lá. Perguntei-lhe se ela ainda era louca por samba. Disse-me que já se aquietara. Perguntei-lhe pelos tachos de doce de leite, de goiaba, de canjica... Disse-me que o povo da casa já não come doce.
Mas ela estava lá, a nossa morena Maria, lata d’água na cabeça , fibra das mulheres que não envelhecem, perdem apenas a faceirice, e a vontade de ganhar o mundo, num samba de pé de serra. Acho que era lá pros lados da Palestina...!
Eu e Zélia resolvemos amiudar as nossas visitas, daqui pra frente. Afinal, tia Auri é a nossa última tia viva. Merece todos os nossos dengos, e ainda é tempo!


Hoje foi seu aniversário de 90 anos !

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