por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Pensamentos, Palavras e Obras - José do Vale Pinheiro Feitosa

Na religião católica existe o pecado por pensamento, palavra e obra. O pecado, nesta religião, é irmão do perdão ou da remissão tão bem exaltada na oração, quando se diz crer na remissão dos pecados. Haverá um julgamento divino mas a generosidade do pai implica no perdão.

Agora a mídia nacional pegou o chicote e o brande contra a sociedade desde a sua vitória espetacular do mensalão quando se utilizou a teoria do domínio do fato para culpar pessoas. Partiu para acionar o domínio do fato até em quem solta foguetes. Claro que com uma razão objetiva: este foguete matou um dos seus.

O Professor Nilo Batista, titular de Direito Penal da Universidade do Estado da Guanabara, ex-Secretário de Segurança Pública, Vice-Governador e Governador do Estado do Rio, escreveu um artigo no blog do Professor Clécio Lemos, expondo a fragilidade da imputação por crime doloso, do delegado de polícia, feita aos rapazes envolvidos com o episódio do rojão que levou à morte o cinegrafista da Rede Bandeirante.

Por mais que se revolte com esta morte gratuita, de um trabalhador na sua tarefa de ganhar a vida, é preciso ir para a obra que é onde o direito e o mundo real funciona. Pensamentos apenas são pecados porque a religião vai até a intimidade das pessoas e preceitua normas e regras em benefício do que considera a pureza do espírito.

O pensamento e as palavras podem expressar desejos (se bem que palavras podem implicar em punição legal) mas a ação, ao querer fazer, a obra é onde o direito pode efetivamente funcionar. Nilo Batista argumenta “nas dificuldades de imputar objetivamente ao manifestante que acendeu e lançou ao solo o rojão o resultado morte do cinegrafista”.

Ele aponta inúmeras fragilidades: rojões não são armas, são licitamente comercializados, o seu uso em festas públicas é lícito, o seu trajeto é errático e flexuoso, não tem mira certa, o rojão foi aceso no chão, não visava a cabeça e foi lançado contra policiais protegidos que revidavam com armas de controle que podem ser letais. E Nilo termina que talvez seja esta a primeira vez de se imputar um homicídio doloso provocado por um rojão.

Com isso ele aponta que para imputação do dolo é preciso determinar a causação adequada e cita Spinoza para melhor definir os conceitos: “chamo de causa adequada aquela cujo efeito pode ser percebido clara e distintamente por ela mesma; chamo de causa inadequada ou parcial, por outro lado, aquela cujo efeito não pode ser compreendido por ela só”. Por isso, levanta Nilo, se o delegado tentasse uma reconstituição do ocorrido, iria verificar que o disparo do rojão não teria um curso causal dominável pelo autor.

E Nilo Batista vai além, não se restringe a expor a fragilidade da imputação da polícia judiciária, ele aponta para uma campanha midiática perigosa e que agride o Estado Democrático de Direito. E termina seu artigo com estas palavras: “O domínio do fato, que fez as delícias de muita gente no “caso mensalão”, pode ser agora um artefato teórico perigoso, se lançado ao caso do momento. Até quando as forças políticas progressistas não se darão conta dos perigos que a hipertrofia do sistema penal traz para a democracia? O sistema penal, Presidenta, também pratica, e massivamente, seus malfeitos.

Agora tem muita gente que cultiva a boa prática cristã e que termina embarcando na punição como solução principal. 

Marcelino Pão e Vinho - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Necessitando preparar uma documentação, procurei a um  cartório para os necessários registros. Fui atendido com muita distinção por um funcionário bastante eficiente e eficaz, que trazia no crachá o nome Marcelino. Lembrei-me do filme e perguntei a ele se o nome era uma homenagem ao filme "Marcelino pão e vinho". Ele apenas sorriu e disse ser o nome do seu avô. Senti-me bastante envelhecido ao pensar que o avô daquele jovem poderia ter a minha idade...
   
Aqueles que foram crianças nos anos de 1955 a 1956 devem lembrar do filme "Marcelino Pão e Vinho" com um pequeno ator chamado Pablito Calvo. Foi um sucesso tão grande, que a história do pequeno órfão abandonado na portaria de um convento de 12 frades  virou até álbum de figurinha. Foi o meu primeiro e único álbum de figurinhas, pois depois dele não tive mais paciência de continuar com  outros. Comprava os envelopes com as figurinhas e depois de certo tempo, as figurinhas contidas nos novos envelopes eram em sua maioria repetidas. A muito custo e com ajuda de colegas que me orientaram a permutar tais figuras repetidas, consegui  preencher o meu álbum com a história do filme completa. Não deixava de ler as noticias nos jornais e na revista "O Cruzeiro" sobre o filme.

O ator principal que representava o menino Marcelino veio ao Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro, para o lançamento do filme. Fiquei admirado quando soube pela revista "O Cruzeiro" que o lançamento do filme teve de ser adiado por um dia, pois o pequeno astro Pablito Calvo, "o Marcelino", havia se "empanzinado" por haver comido uma grande quantidade de bananas. Lembro-me que fiquei admirado por ele ter gostado tanto assim de bananas e alguém me explicou que na Espanha, o país do "Marcelino", não havia bananas. Lá, naquela época, banana era como se fosse maçã aqui para nós.

Quase um ano depois, o filme passou aqui no Crato no Cine Moderno. Alguém lembra que o Crato possuía quatro salas de cinemas? Pois é pura verdade, acreditem! Que pena!

Assistindo ao filme, fiquei com muito medo quando o pequeno Marcelino entrou numa sala escura, cujo acesso lhe era proibido pelos frades. Ao vê-lo conversar com Jesus pregado numa cruz, fiquei com muito medo, pois naquela época era moda nos fazerem medo de almas.

Como o tempo passou tão rapidamente... Todos nós crescemos, construímos nossas vidas, assim também como Pablito Calvo, o pequeno Marcelino, do qual a grande imprensa brasileira  se esqueceu, assim como esqueceram de Joselito e Marisol, outros atores mirim que a Espanha nos brindou nos idos tempos da nossa infância. Pablito Calvo se formou em engenharia e conforme a imprensa brasileira noticiou, faleceu em 011 de fevereiro de 200 aos 54 anos de idade de um derrame cerebral.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo