por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


"Súplica" - por Socorro Moreira




DONANA
(Ana Amélia Ferreira de Menezes. Filha do Cel. Aristides Ferreira de Menezes, esposa de Alfredo Moreira Maia,minha avó paterna. Dizia-se parente dos Monteiros, Bezerra, Lobo, Norões, Pinheiro, Gonçalves, Milfont, *Aires...
Com todos os antigos do Crato, tinha alguma afinidade. Por ela sou parente de muitos, e com muito gosto! ) Quando abri os olhos, e o entendimento, ela estava na minha vida .Pés e mãos miudinhos, testa alta, e o sorriso mais lindo do mundo !
Depois que enviuvou, vestia-se com sobriedade, comprimento no tornozelo, mangas compridas, preto mesclado de branco, meias de algodão, mantilha na cabeça, rosário no pescoço.
Tinha um temperamento romântico, nostálgico... Chorou tantas dores, que perdeu os cílios, mas não perdeu o brilho do olhar. Cochilava no balanço da cadeira, rezando o terço, e vigiando a rotina da casa. Nada He passava despercebido. Era antenada, e tinha as "ouças" boas, como dizia minha mãe Valdenôra. Cantava pra espantar os males, quando a tristeza lhe pegava a alma... Voz sonora, entoada, como a de um passarinho engaiolado. Dizia-nos que cantara, na mocidade, nos teatros de revistas (musicais), com a autorização expressa do Cel. Aristides. Ganhava todos os papéis principais, e nos contava em detalhes sobre as fantasias, compatíveis com os personagens que interpretava. Foi a Noite, A Morte, A Primavera, A Florista, A Saudade, A lua, etc. etc. Era contra a escravatura. Nasceu no ano em que a lei Áurea foi promulgada. Falava do tronco e do trabalho escravizado com muita angústia, e compaixão. Viveu os resquícios desse tempo de opressão. Eram escravas, as suas amigas de infância. Com elas dividia as bonecas de pano, e as rapas do tacho.
Tinha a barriga farta, e adorava cozinhar. Inventava sempre uma novidade, distribuía com todos, e escondia um pouquinho, para nunca faltar. Se a gente lhe fazia um desagrado, logo avisava: “Dessa iguaria, você não verá nem o azul”, mas nunca cumpria a ameaça. Com ela aprendi a fazer sequilhos, pão-de-ló com erva - doce bolo de goma frita, ou no forno, enrolado em palha de banana; arroz com quiabo , carne batida com jerimum , feijão com toucinho , sempre acompanhado de frutas : banana, caju ou manga, em todas as refeições.
Adorava os netos. Emprestava-lhes o colo com direito a cafuné, para o sono das primeiras horas. Alcovitou os nossos primeiros namoros, sentiu a dor dos rompimentos, nos chamava de "malvada”, quando a culpa era da gente. "Vai pra baixa da égua”, dizia pra quem lhe pisava nos calos, mas logo explicava: Não é nome feio... "Baixa da Égua” é um lugar que fica nas proximidades de Missão Velha. Será?
Fuxicava da gente, perante os nossos pretendentes: "Cuidado com essa menina. Ela tem chita, e é das miudinhas”! Mas, no fundo, torcia pra que ninguém ficasse pra tia!
Escapou da morte aos 40 anos, e foi salva por Dr. Gesteira. Depois disso, ainda viveu com saúde e lucidez, por 53 anos, com apenas um rim. Ativa, participando de todas as festas, viajando pra cima e pra baixo, visitando parentes, com energia invejável!
Chorava a infância perdida, a vida na fazenda, nos engenhos de cana, nas casas de farinha, a perda de filhos, marido, e o desprestígio de ir ficando "velhinha". Mas era linda!
Linda, linda, linda como diria Bianca (minha neta ) , se ela fosse viva !
Era viciada em novelas de rádio, romance de amor... Como tinha a visão quase comprometida, obrigava-me a ler em voz alta, uns tantos livros, que como tesouros, os guardavam. “Li e “reli: “O Moço Loiro”, “O Herdeiro do Castelo,” A Escrava Isaura”, A Moreninha”, "O Tronco do Ipê" - os seus preferidos! Nunca vou esquecer “O Conde Mário, e Aninha” ( Personagens do Herdeiro do Castelo).Os homens acabavam convertidos pelos atributos de mulheres virtuosas. E o amor vencia! Eram felizes para sempre... Ninguém morria! )
Classificava por estereótipos a raça humana, sem uma gota de preconceito... Isso era interessante: "Fulano é alvo, loiro dos olhos azuis, corado que o sangue quer espirrar; mulheres que não têm sangue negro são desbundadas; moças de sangue europeu possuem cabelos finos, e encaracolados; as índias têm cor de canela, pele lisinha, sem acne, cabelos lisas, sem dar uma volta... Mas a beleza vem de dentro... Ta na alma! Ela era qualquer coisa de índia, de mestiça, de portuguesa... Casca de uma alma nobre!
Adorava presentes, e presentear: corte para fazer roupa nova, óleo para o cabelo, travessa, mantilha, velas, água de cheiro, leite de colônia, sabonete de juá, travesseiro de plumas de aves, mesclado com folhas de eucaliptos, urinol e candeeiro ao seu alcance, santuário coalhado de santos. Não fazia promessas com PE. Cícero. Para ela, ele não era santo... Era primo!
Não comprava remédio em farmácia. Fazia suas próprias meizinhas: chá de flor de abacate, boldo, macela, casca de laranja, capim- santo, erva-cidreira, e uma cibalena diária. Vida longa. Sem química, alimentação cem por cento naturais... Deu certo!
Não sabia bordar, fazer crochê,mas  rezava num cochicho eterno.
Teve um casamento feliz, um marido amoroso, quatro filhos criados (um deles, adotivo), genros. Noras e uma pancada de netos.
Faz-me falta àquela mulher... Muita falta! Falta da sua raça, fortaleza, e da grandeza do seu coração, que cabia o mundo!
"Um sorriso de Maria”, para enfeitar sua noite de anjo!

* Aires não é um nome de família. A prole do Seu Aristides era conhecida como Aires: Maria Aires, Ana Aires (Donana), Fantina Aires, Paulo Aires, Pedro Aires, Rubens Aires, Alfredo Aires, Júlio Aires, João Aires, etc.
Foi mãe de uma ruma de filhos, mas apenas ficaram adultos: José, Moreirinha, Auri, Ivone e Valdir (sobrinho, filho do coração ).
De Alfredo Moreira Filho (Moreirinha ) : Maria do Socorro Moreira Nunes , Verônica Maria Nunes Moreira , ZéliaMaria Nunes Moreira , Alfredo Moreira Neto , Teresa Maria Nunes Moreira , e CatarinaMaria  NunesMoreira.
De Ivone Moreira Aragão : Aderbal Moreira Aragão  , Maryane Moreira Aragão , Teresa Maria MoreiraAragão, Antonio Moreira Aragão (4 filhos ) ,Maria das Graças Moreira Aragão , Ivone Moreira Aragão  e Fátima Moreira Aragão.

 De Auri Moreira Montoril : Francisco Moreira Montoril, Bartolomeu Moreira Montoril e Socorro Moreira Montoril.
De José Menezes: Ana Maria Menezes.
Os Bisnetos , nem dá pra contar...
E os Tataranetos? Muita gente a caminho...

 “Aço frio de um punhal foi teu adeus pra mim..."

É a voz de Donana cantando, e espantando os males.


P.S. Minha bisavó, Ana Leopoldina Maia era filha do Cel. Maia com Tudinha Pereira Maia(irmã da mãe de Pe.Cícero).
Minha avó, Ana Amélia Menezes Moreira era prima de Pe.Cícero em segundo grau; Meu pai, primo em terceiro grau

Socorro Moreira.

eu, ateu,
peço a deus
que me deixe também indignado
com a morte de qualquer desconhecido
afinal de contas
... somos todos desconhecidos uns dos outros

eu ateu,
peço a deus
que me ensine a dividir parte de minha parte
com os desvalidos de qualquer sorte
afinal de contas
o ponto final de todo ônibus
é a morte.
O PÁSSARO DE FOGO

Um pássaro de fogo me visita
com ele
viajo para além do mundo
...
Uma trama se tece
entre os planetas
no conchavo dos nossos olhos arde

enquanto alçamos para além
as asas náufragas
no espetáculo sonhado

O pássaro queima este poema
com o seu sucedâneo
em luz e sombra

armamos o contorno do dilema
o solilóquio cego
o drama prévio

Qualquer sentido as nossas línguas queimam

- poema antigo, do tempo do Emparedado (1975), que reescrevi.
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BentoXVI: Crise e exaustão conservadora




Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.
A presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhou notável regularidade nos últimos tempos.

A frequência e a intensidade anunciavam algo nem sempre inteligível ao mundo exterior: o acirramento da disputa sucessória de Bento XVI nos bastidores da Santa Sé.
Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o ‘habemus papam’ refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica.

Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira.

A verdade é que a direita formada pelos grupos ‘Opus Dei’ (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), ‘Legionários’ e ‘Comunhão e Libertação’ (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado fim do seu papado nos bastidores do Vaticano.
Sua desistência oficializa a entrega de um comando de que já não dispunha.
Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha.

O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições. Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.

Quadro ecumênico da teologia, inicialmente um simpatizante das elaborações reformistas de pensadores como Hans Küng (leia seu perfil elaborado por José Luís Fiori, nesta pág.), Joseph Ratzinger escolheu o corrimão da direita para galgar os degraus do poder interno no Vaticano.

Estabeleceu-se entre o intelectual promissor e a beligerância conservadora uma endogamia de propósito específico: exterminar as ideias marxistas dentro do catolicismo.
Em meados dos anos 70/80 ele consolidaria essa comunhão emprestando seu vigor intelectual para se transformar em uma espécie de Joseph McCarty da fé.
Foi assim que exerceu o comando da temível Congregação para a Doutrina da Fé.

À frente desse sucedâneo da Santa Inquisição, Ratzinger foi diretamente responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação. O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados desse grupo, dentro e fora da igreja, esteve entre as suas presas. Advertido, punido e desautorizado, seus textos foram interditados e proscritos. Por ordem direta do futuro papa. Antes de assumir o cargo supremo da hierarquia, Ratzinger ‘entregou o serviço’ cobrado pelo conservadorismo.

Tornou-se mais uma peça da alavanca movida por gigantescas massas de forças que decretariam a supremacia dos livres mercados nos anos 80; a derrota do Estado do Bem Estar Social; o fim do comunismo e a ascensão dos governos neoliberais em todo o planeta.

Não bastava conquistar Estados, capturar bancos centrais, agências reguladoras e mercados financeiros. Era necessário colonizar corações e mentes para a nova era.
Sob a inspiração de Ratzinger, seu antecessor João Paulo II liquidou a rede de dioceses progressistas no Brasil, por exemplo. As pastorais católicas de forte presença no movimento de massas foram emasculadas em sua agenda ‘profana’. A capilaridade das comunidades eclesiais de base da igreja foi tangida de volta ao catecismo convencional.
Ratzinger recebeu o Anel do Pescador em 2005, no apogeu do ciclo histórico que ajudou a implantar.

Durou pouco. Três anos depois, em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou.

Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também).
Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer. Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora.

O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas penadas a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.

Na Igreja, o "vale-tudo" pelo poder


Dos 265 papas listados pela história oficial em quase dois mil anos, apenas quatro renunciaram: Bento IX (1045), Gregório VI (1046), Celestino V (1294) e Gregório XII (1415). E sequer eles foram precedentes comparáveis. Gregório XII, papa de Roma, foi forçado pelos cardeais a abdicar, enquanto os antipapas concorrentes João XXIII de Pisa (que não se confunda com o papa do mesmo título do século XX) e Bento XIII de Advinhão eram depostos, para por fim ao Grande Cisma do Ocidente e reunificar a Igreja. Bento IX renunciou para “vender” o cargo a Gregório VI que, por sua vez, foi “renunciado” à força pela maioria de seus bispos, com apoio do imperador Henrique III. Celestino V, um eremita respeitado como homem santo em Roma, foi eleito papa contra a vontade ao “ameaçar com a ira divina” o colégio de cardeais que se reunia havia dois anos sem chegar a um consenso. Em cinco meses no cargo mostrou-se completamente incompetente. “Aconselhado” pelo cardeal Benedetto Gaetani a abdicar, decretou o artigo do Código Canônico usado agora por Bento XVI. Gaetani elegeu-se papa Bonifácio VIII e por recear a influência do ex-papa, “mandou prender” o idoso Celestino, que morreu após dez meses de prisão. Bonifácio ficou quase nove anos no trono, mas se desentendeu com Felipe IV da França, quando este quis taxar a Igreja. Após se declarar superior aos reis e excomungar Felipe, foi capturado por tropas francesas que o “intimaram” a renunciar. Ao recusar, foi espancado e morreu três dias depois. Após a morte, sofreu a humilhação de ser destinado ao oitavo círculo do Inferno de Dante Alighieri, seu inimigo político, ao lado de Celestino V e Nicolau III.
Bento XVI
Sua renúncia evidenciou a incapacidade de controlar o conluio de interesses empresariais, políticos e clericais que ajudou a alimentar e hoje travam as tentativas de reforma tanto do Vaticano quanto da Itália – a corrupção secreta que viceja à sombra de qualquer autoritarismo. Provavelmente, será sucedido por um europeu igualmente conservador e intransigente para com os pecados da massa, mas mais tolerante para com os da Cúria, que manterá a Igreja no caminho firme, reto e seguro da decadência. 
(transcrito da revista Carta Capital)





Ilusões são geminadas com as esperanças.
 Invisíveis moram no céu.
 O olhar espreita estrelas tentando lê-las.
 E quando o céu é cego?
E quando o sol só vislumbra o tédio?
Quem sabe aconteça uma tarde de alegria?
Quem sabe um sonho surpreenda o sono?
No avesso da tristeza, o desejo de  ser feliz inexiste.
Cansaço das esperas.
Ressaca do encontro.
Preparamos a festa e choramos a despedida da orquestra.
O dia amanheceu e anoiteceu chuvoso.
Tempo úmido; telefone mudo; coração frio.
Na ordem prática da vida, resta sobreviver, até qualquer dia.

socorro moreira