por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 8 de março de 2012

Um dia quis a paz dos santos,
a imensa tolerância dos santos,
o fastio do consumismo de tantos,
e me pus a matutar pelos cantos,

Os santos existem como prantos,
pois mortos estão os santos.

(José do Vale Feitosa)

Anni Settanta - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não existe outra fórmula de testar coisas que podem ser apenas de nossa história pessoal ou da história geral da humanidade, que não aquela pela qual nos fazemos denominador comum. Quando o mundo se divide por nós ou quando invertemos a fração e nos dividimos pelo mundo. E vou usar esta canção que fez muito sucesso no Festival de San Remo em 1970. Ricchi e Poveri, um vocal formado por duas moças e dois rapazes, cantou Che sará.

Aí estou na última noite da minha vida na cidade interiorana em que nasci. Poucos conterrâneos sabem que nasci e me criei num sítio, nunca morei na cidade. Saí da zona rural diretamente para a capital do estado. E nesta noite simbólica, uns seis primos e mais alguns amigos, passamos no quintal de casa, sob pés de cajarana tocando violão e tomando algumas doses. Ali todos se despediam de um estilo de vida, de um mundo simples e uma era prestes a ser ultrapassada.

Por isso quando relembro a chegada à capital a tenho como a emergência de uma nova era. E por certo não foi apenas um rito de transição entre a adolescência e a vida adulta. Eram os anos dos grandes festivais de música aqui e em todos os países. Elvis, The Beatles entre tantos que chegaram ao primeiro plano formaram o grande palco desta transição, o grande e simbólico palco de uma nova era.

Do mercado global, das comunicações de massa, de uma linguagem cultural urbana e ao mesmo tempo universal. No Festival de San Remo o grupo vocal com o Che Sará dizia: Paese mio che stai sulla collina / disteso come un vecchio addormentato / la noia l'abbandono / niente son la tua malattia / paese mio ti lascio e vado via / che sarà che sarà che sarà / che sarà della mia vita chi lo sa / so far tutto o forse niente / da domani si vedrà / e sarà sarà quel che sara.

Abandonam seu lugar sobre uma colina. Lugar velho e adormecido. Abandonam o tédio e se deixam ir. E vão em frente. O que será da minha vida? O que será eu não sei, se faço tudo ou nada, amanhã se verá! O que será? O que será? Eis aí o nosso denominador comum: aqueles festivais eram a linguagem universal da última e grande migração em busca do palco geral da globalização. A diferença naquele momento é que havia um show via satélite ou vídeos reproduzindo para toda a humanidade o momento de ruptura de eras.

Na verdade a perda de um tempo e o achado de outro nunca foi uma sensação solitária. O disco, os grandes shows, os estádios lotados para assistir aos Beatles e a grande estrutura da produção mundial de tournées eram os ensaios do que seria o futuro e hoje o é. Agora mais banalizado, sem aquele olhar de esperança ou perplexidade, apenas um tédio que lentamente baixa nas câmaras solitárias cuja janela única de saída é a tela de computadores ou a televisão. Ambas se tornando cada vez mais a mesma coisa.

A propósito: o nome do vocal é Ricos e Pobres.


Por Socorro Moreira

A paz desejada
tem notas dissonantes
tem tristeza no canto,
esperança vazia.
-Custa muito terminar o dia !

De repente
o céu escurece,
a cidade se ilumina,
e eu acendo em mim todas as velas.

Cheiro de perfume no ar...
Uma flor acabou de desabrochar !

Conversando com Abel Silva - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Coração sem perdão,
Diga fale por mim,
Quem roubou,
toda a minha alegria.

Um das mais gratas tecnologias dos tempos atuais foi a digitalização das antigas e novas gravações da discografia mundial. Com elas tivemos a realização da vontade, a satisfação de ouvir qualquer canção que desejássemos. Sem aquele sentimento de raridade, sem aquelas portas por aonde as canções iam ao tempo e só de raro novamente a ouvíamos.

O amor me pegou,
Me pegou,
Prá valer,
Ai que a dor do querer,
Muda o tempo e a maré
Vendaval sobre o mar azul.

Assim foi que comprei um CD que era uma coletânea de 15 belíssimas canções na voz, mais bela ainda que as canções, a de Naná Caymmi. Aqueles apanhados da EMI chamados de “Meus Momentos”. E na faixa 11 uma canção intitulada “Neste Mesmo Lugar”, composição de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas.

Tantas vezes chorei,
Quase desesperei,
E jurei, nunca mais
Seus carinhos.

Acontece que por isso mesmo comprei um CD “O Essencial de João Bosco” e na faixa 7 estava lá “Quando o Amor Acontece”, composição de João Bosco e Abel Silva. O João é do conhecimento geral e, dos entendidos, também o Abel Silva. Poeta, letrista de grandes compositores dos anos 80 e 90, ele acreano e profundamente carioca.

Ninguém tira do amor,
Ninguém tira,
Pois é,
Nem Doutor,
Nem Pajé,
O que queima e seduz,
Enlouquece,
O veneno da Mulher.

E estávamos numa mesa na mais duradoura e hoje inexistente casa noturna da Lagoa Rodrigo de Freitas. Era o Mistura Fina cujo terreno se transformou num edifício para a alta classe média. Um aniversário com metade da casa ocupada pelos convidados. Na mesa em que me encontrava, entre outros o Abel Silva e a sua companheira.

O amor quando acontece,
A gente esquece logo que sofreu um dia,
Ilusão,
O meu coração marcado,
Tinha um nome tatuado,
Que ainda doía.

Conversa sobre o geral e o particular. Até que entre um dado e outro da vida perguntei ao Abel sobre a dúvida que havia da capa dos dois discos. Afinal a composição era ou não dele e do João Bosco?

Pulsava só,
A solidão,
O amor quando acontece,
A gente esquece logo que sofreu um dia,
Esquece sim,
Quem mandou chegar tão perto,
Se era certo outro engano,
Coração cigano.
Agora eu choro,
Assim.

Ele tomou-se de brios pela sua composição. Queria saber do disco da Naná. Abel Silva, na altura em que se encontrava, não era diferente de qualquer artista na mais remota e esquecida região. Era como todos nós, ciente da sua propriedade. Agora coletiva, além e muito depois daquele momento em que a realizamos.


POST SCRIPTUM

Se tivesse ido à internet estava lá:

Aqui, neste mesmo lugar
Neste mesmo lugar de nós dois
Jamais poderia pensar
Que voltasse sozinha depois
O mesmo garçom se aproxima
Parece que nada mudou
Porém qualquer coisa não rima
Com o tempo feliz que passou
Por uma ironia cruel
Alguém começou a cantar
Um samba-canção de Noel
Que viu nosso amor começar
Só falta agora a porta se abrir
E ele ao lado de outra chegar
E por mim passar
Sem me olhar.

Mas ainda era muito ligado nas mídias locais ao invés da rede.


A PERFEITA CANÇÃO DE AMOR - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Hoje, uma chamada do Bom Dia Brasil da TV Globo foi que o Roberto Carlos pretenderia compor a mais perfeita canção de amor. Foi a chamada, mas não vi a matéria e posso estar enganado. Mas vamos que seja a “perfeita canção de amor”.

Que não é a mesma coisa da canção do amor perfeito, ou o amor perfeito na canção, ou o amor na canção perfeita. No primeiro caso trataria de compor uma canção que representasse o amor perfeito. No segundo iria listar todas as canções que trataram do amor perfeito e no terceiro trataria de listar as canções perfeitas que trataram do amor.

A perfeita canção de amor como a chamada queria que o Roberto compusesse tem lá os seus problemas. Vamos começar pelo problema principal: o amor. Abramos o dicionário e tomemos um susto pela quantidade acepções que existe para ele. São 14 acepções gerais no Houaiss e mais 10 secundárias. Por isso mesmo são 3 derivações por extensão de sentido, 3 por metonímia e uma de sentido figurado. Existem 8 rubricas, sendo 4 de religião, 2 de mitologia e 2 botânica.

De qualquer modo tantas acepções já se originavam no Latim, onde se encontra a etimologia da palavra. O latim já tinha as seguintes: amizade, dedicação, afeição, ternura, desejo grande, paixão, objeto amado. Seguramente que qualquer filósofo diria que são afins, mas há de se considerar que objeto amado não é a mesma coisa de desejo grande e tampouco de paixão.

Se não bastante tanto para o Roberto Carlos, ainda haveria o largo problema de que o amor tem sido tratado nas canções tanto como agonia do impossível quanto a fastio do seu exercício. Não é incomum que se trate dos conflitos provocados em razão da sua prática. Do desejo de vingança pelo amor perdido. Da profunda dor de seu fim ou de sua distância.

Uma perfeita canção de amor deveria resolver dois problemas o da perfeição da canção e do amor. Talvez se houvesse um modo de resumir tantas acepções do amor. Não basta escolher uma só, mesmo que o Roberto apenas queira compor, com é comum, uma canção de gênero, do amor entre homens e mulheres. Mas não existe nada de menos, ou menor, no amor dentro do mesmo sexo, como o amor homossexual, cujas acepções tratam da mesma base sentimental.

De qualquer modo, num esforço ligeiro, os blogs são rápidos no tema, consegui breve senso comum que é a afetividade. A afeição como algo que permeia todas as acepções. Mesmo isso seria vago. Talvez a solução para o termo não se encontre no dicionário.

Talvez se encontre mesmo neste imenso desejo de eternidade dos seres humanos, mesmo reconhecendo o seu fim. Todo o exercício do amor é uma compulsão pela permanência, não apenas a imanência, mas esta localizada no tempo e no espaço.

Amo-te sobre as dunas de Paracuru nesta noite de lua cheia.


Enquanto escuto o barulho da chuva ...- por Socorro Moreira


Chove
Estive entre o PC e a varanda.
Na cabeça uma preocupação
No peito uma ardência ...
Tenho pensado em mamãe.
Já tentei rezar as orações que ela me ensinou.
Lembrei todas as suas fases de vida
Suas dores e alegrias...
É tão viva a sua presença !
E é com essa mulher que eu entendo
todos os dias da minha vida.
Fui a baunilha do seu bolo...
"O avental todo sujo de ovo... "
Como começar tudo de novo ?
De onde viemos?
-É pra lá que a gente vai,
do jeito que imaginamos.
Meu céu é boêmio.
O dela é sagrado...
Como nos cruzaremos?
Pro amor,
deixo o encargo !

Minha picoense querida : Dona Valda !


Ela me embalava cantando o Hino do Piauí,
e como se não bastasse chamava o boi do Piauí,
quando eu custava a dormir.
Essa mulher tão bela, que encantou meu pai,
falava-me das carnaúbas, das tempestades no céu,
dos conflitos na terra , dos galopes nas estradas,
dos caminhões rumo ao Crato...

Foi minha professora primária
Foi mestra por toda vida
Pregou-me a pacência
Esclareceu coisas em mim
Algumas mal resolvidas !

Ensinou-me a cozinhar
Ajudou-me com meus filhos
Cuidou das minhas tristezas
e vibrou com as alegrias
Foi cumplice dos meus amores
Foi sogra de muitos deles,
e sofreu nos desencontros...

Eu sai dela, e ela entrou em mim.
TER mãe é melhor do quer SER mãe. O TER ajuda na compreensão do SER.

Canção das Mulheres- Lya Luft- Colaboração de Cristina Diôgo





Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco — em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou sua culpa.
Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo “Olha que estou tendo muita paciência com você!”
Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: “Mas que chateação essa sua mania, volta pra cama!”
Que se eu peço um segundo drinque no restaurante o outro não comente logo: “Pôxa, mais um?”
Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro — filho, amigo, amante, marido — não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa — uma mulher.

tela : Ana _Kaminski

flor da calçada




mergulhar na agitação das ruas
rever-se em cada rosto indisposto
desmanchar a distância das mãos
que se aprende sem esforço
sem pressa sem remorso

uma pergunta:                            
por que passar batido
sem dizer coisa que se entenda?
outra pergunta:
como é possível fazer-se entender
com essa fala tão pequena?

qualquer pergunta fica sem resposta
qualquer resposta não responde
ao que vem de tanta incerteza
dessa sede de calma
em nervos desencapados

qualquer coisa amorosa
aguarda a chance onde
tirar de quem passa
o olhar que esconde
a flor da calçada

A mulher e seu dia internacional - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não se fala no dia da mulher essencialmente pelo gênero. Não falamos de todas as propriedades biológicas comuns às mulheres. O dia da mulher é para lembrar o seu papel social e cultural. Ele se constitui numa forma de “libertar” a mulher para o trabalho. Geradora de expansão econômica num modelo de economia que se baseia no contínuo crescimento de consumidores e por consequência no avanço do lucro auferido pela inversão de capital.

Isso é o que ele mais se caracteriza nos dias de hoje, especialmente para as mulheres de classe média. Mas as origens do Dia Mundial da Mulher estão na luta de mulheres operárias, que eram esmagadas no trabalho do final do século XIX para o início do século XX como toda a classe operária sempre foi. Então neste momento a mulher cumpria um papel de revisão geral do trabalho e não apenas de sua condição de gênero.

Dizer que as mulheres são um sonho, uma flor, uma luz, um perfume é como encantá-las diante da vida. Mas o dia da Mulher é a quebra do encanto, das formas opressoras que sobre elas recaem, mas, sobretudo dos modos como a civilização que mais liberdade deu para a inventividade é justamente aquela que mais busca, numa cadeia parasitária, o lucro sobre a realização do outro.

E digamos assim: o modo atual de exploração do homem pelo homem não tem gênero, aliás, ele até precisa quebrar o machismo como modo de expansão de lucro. Do mesmo modo a expansão capitalista que aconteceu territorialmente, de um continente para outro, precisa continuar crescendo em lucro, de uma classe para outra, dentro da família mesmo que a destrua, e na tecnologia como a biotecnologia quando todos pagarão pedágio para sobreviver mais alguns anos.

Ao liberar a força de trabalho da mulher, fragmentando a renda e a família, o capitalismo não tem comichões morais com a criação de filhos e menos ainda com a proteção dos mesmos. As creches, as escolas, os balés, as piscinas, as línguas estrangeiras, a televisão e a internet são o substituto para a presença feminina, especialmente materna, no desenvolvimento de crianças.

Os “democratas” só não querem que organismos sociais, políticos e do Estado sejam parte do substitutivo. Eles entendem que o “livre mercado” é uma babá muito mais eficiente para os filhos. Que as entidades privadas serão mais “protetoras” e mais “eficientes” no balanço entre custo e benefício. Os “democratas” que tinham horror aos substitutivos de natureza socialista, via Estado, agora estimulam a solução extra familiar como mais uma forma de expansão dos negócios.

Por isso o dia Internacional da Mulher continua sendo uma crítica ao trabalho, às suas escolhas, às suas finalidades, à razão de realizar um determinado trabalho. O Dia Internacional da Mulher é, sobretudo, uma forte crítica da expansão consumista e da exploração das trabalhadoras.

CINEMA BRASILEIRO È DESTAQUE EM FESTIVAL DE CINEMA NA ESPANHA




MÃE E FILHA, novo filme de Petrus Cariri conta a história de um amor recheado de representações de luto, perda, silencio, gestos e muito carinho. "Uma senhora, sua filha e seu neto, morto em uma caixa de papelão. Bastou um fio de narrativa, ambientado na cidade fantasma de Cococi, para que o filme Mãe e Filha acontecesse. A imagem como criadora de acontecimento talvez seja o que mais se aproxima das intenções do segundo longa-metragem do cineasta cearense Petrus Cariry. Esta experiência singular convoca ao espectador uma nova forma de perceber e sentir o mundo inventado no cinema.

No filme de Petrus, há poucas falas e, quando elas surgem, quase sempre são murmuradas. Quando o luto já não pode mais ser dito em forma de palavras, tudo o que sobra é estar no mundo. Respirar aquilo que permanece ao nosso redor. Proporcionar relações por meio de gestos mínimos. Mas esta conexão também passa pelo mistério e pelo medo, por um clima sombrio que a princípio não conseguimos decifrar" (imagem em Movimento)



" O filme representa o Brasil no Festival de cinema de de Las Palmas: MÃE E FILHA" conta a história de uma mulher que viaja para o interior para entregar o filho morto. "MÃE E FILHA" de Petrus Cariry concorre na seleção oficial do evento

O cinema emergente de países latino-americanos como o Brasil, o Chile e a Bolivia, e asiáticos como as Filipinas, será exibido na seleção oficial do 13º Festival Internacional de Cinema de Las Palmas de Gran Canaria, no arquipélago atlântico das Canárias.

O evento será "austero mas com a melhor programação" de sua história, disse nesta terça-feira em entrevista coletiva o diretor Claudio Utrera, ao apresentar os 155 títulos que formam a programação desta edição. Dos 15 longas-metragens que concorrerão na seleção oficial do evento, que acontece entre 16 e 24 de março, está o brasileiro "MÃE E FILHA", do cineasta brasileiro Petrus Cariry.

Claudio Utrera destacou a produção portuguesa "Tabu", de Miguel Gomes - a quem o festival já premiou em 2009 - dada a "controvérsia" que levantou na última edição da Festival de Berlim.

Outros filmes que estão na seleção oficial são a coprodução greco-francesa-albanesa "Amnesty", de Bouyar Alimani; o espanhol "Ensayo final para Utopia", de Andréas Duque, que participou da última edição do festival com seu filme "Color perro que huye", assim como a mexicana "Azar", de Michel Lipkes, e "Zoológico", uma produção chilena dirigida por Rodrigo Marán.

Utrera afirmou que o cinema "mais emergente" da atualidade se localiza em países latino-americanos como a Bolívia, o Chile e o Brasil, e também em outros europeus como a França, em asiáticos, como as Filipinas, e também no Irã.

O diretor do evento não duvidou em afirmar que a seleção informativa do festival deste ano será "a mais forte de sua história", dada a categoria do trabalho de seus diretores, entre os quais destacou a japonesa Naomi Kawase, que apresentará seu último filme, "Hanezu no tsuki".

Entre as novidades do festival está um concerto de trilhas sonoras um dia antes do encerramento do evento com a Orquestra Filarmïônica de Gran Canária, sob a batuta do compositor e diretor do Festival Internacional de Música de Cinema de Tenerife, Diego Navarro. Nesse concerto, a orquestra interpretará¡ temas da cinematografia asiática originais de Shigeru Umebayashi, autor fetiche de cineastas como Wong Kar Wai e Zhang Yimou, e a trilha sonora do filme "Perfume - A História de um Assassino". (FONTE: GAZETA DO POVO-Caderno GQuarta-feira, 07/03/2012)

Rozilene P. de Souza - Mulheres

Rozilene P. de Souza - Mulheres


Mulheres fracas, fortes.
Não importa.
Mulheres mostram que mesmo através da fragilidade.
São fortes o bastante para erguerem sempre cabeça
Sem desistir, pois sabemos que somos capazes de vencer.

Temos a delicadeza das flores
A força de ser mãe,
O carinho de ser esposa,
Reciprocidade de ser amiga,
A paixão de ser amante,
E o amor por ser mulher!

Somos fêmeas guerreiras, vencedoras,
Somos sempre o tema de um poema
Distribuímos paixão, meiguice, força, carinho, amor.

Somos um pouco de tudo
Calmas, agitadas, lentas!
Vaidosas, charmosas, turbulentas.

Mulheres fortes e lutadoras.
Mulheres conquistadoras
Que amam e querem ser amadas
Elegantes e repletas de inteligência

Com paciência
O mundo soube conquistar.
Mulheres duras, fracas.
Mulheres de todas raças
Mulheres guerreiras
Mulheres sem fronteiras
Mulheres... Mulheres...

Minha homenagem a todas as mulheres que participam deste blog, através da poesia de Rozilene P. de Souza


O Lado Quente do Ser
Marina Lima /Antonio Cícero

Eu gosto de ser mulher
Sonhar arder de amor
Desde que sou uma menina
De ser feliz ou sofrer
Com quem eu faça calor
Esse querer me ilumina

E eu não quero amor, nada de menos
Dispense os jogos desses mais ou menos
Pra que pequenos vícios
Se o amor são fogos que se acendem sem artifícios

Eu já quis ser bailarina
São coisas que não esqueço
E continuo ainda a sê-la
Minha vida me alucina
É como um filme que faço
Mas faço melhor ainda do que as estrelas

Então eu digo amor, chegue mais perto
E prove ao certo qual é o meu sabor
Ouça meu peito agora
Venha compor uma trilha sonora para o amor

Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
E canta mais docemente







Receita de Mulher
Vinicius de Moraes

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os menbros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhavel na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferencia grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.

Recado por e-mail

“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando.” (Guimarães Rosa)

O Guimarães Rosa estava certo. Você, minha querida, é um exemplo disso. Pelo o que eu tenho acompanhado de você, houve uma significativa mudança. E para melhor.

É óbvio que, na nossa vida, existem contratempos. Alguns bem difíceis. Mas, por outro lado existem momentos gloriosos. E viver é isso aí. É mesclar bons e maus momentos. E de tudo tirar lições.

Você, nos últimos anos tem vivenciado momentos aparentemente difíceis. Mas, guerreira como voce é tem conseguido ultrapassar essas barreiras. Vencido grandes batalhas.

Hoje, dia 8 de março, é o Dia Internacional da Mulher. Uma data muito importante. Muito embora para mim, não é uma data puramente comercial. E eu, como um admirador inconteste de pessoas como você, aproveito a oportunidade para felicitá-la pelo Dia de Hoje. Parabéns, minha querida.

* Amigo, compartilho sua mensagem com todas as mulheres do Azul Sonhado.

Música na madrugada


"De conversa em conversa" com Hugo Linard- por Socorro Moreira


Catadores de versos:(CV)
Hugo, você é referência musical da nossa infância, adolescência, e contemporaneidade. Apesar desta viva realidade conhecemos pouco das suas origens e construção artística...

Hugo Linard:(HL) 

Nasci no dia 16 de abril de 1947, no Hospital São Francisco de Assis, na cidade do Crato, assistido pelo memorável Dr.Macário de Brito.
Fui batizado, e vivi a primeira infância com meus pais, Irineu Sisnando de Alencar e  Helena Gomes Alencar  Linard , na cidade vizinha de Santana do Cariri.

CV
Quando aconteceu seu amor pela música? Quando descobriu seu potencial artístico?

HL
Ganhei minha primeira sanfona aos cinco anos de idade. Presente do tio Vicente Gomes Linard.
Em 1953 fiz a minha primeira apresentação pública, por ocasião da festa do centenário do Crato, ladeado pelos insignes músicos: Luiz Gonzaga e Hildelito Parente. Na ocasião tocamos e cantamos “Baião da Penha”, música até hoje solicitada e cantada por todos.

CV

Além dos músicos citados você teve orientação técnica de algum mestre?

HL
Sim. Estudei teclado( acordeom e piano) com o ilustre prof. Arnaldo Saupeter (polonês), fundador da Escola Branca Bilhar. Naquele templo fui contemporâneo de figuras conhecidas da nossa comunidade, como a maestrina Divani Cabral, Neide Barreto, Ana Cristina Barreto., Diana Pierre, Lúcia Cabral, entre outros.. Esse período de estudo prolongou-se até os meus 12 anos  , quando atingi certa autonomia, e destreza necessária para iniciar minha vida profissional.

CV
Estamos curiosos em saber o seu percurso artístico, após um aprendizado de sete anos.

HL

Participei do Clube do "Cezinho", no palco/auditório da Rádio Araripe, na época, situada na Rua Nelson Alencar. Em 1957 fundamos o primeiro grupo: “Ritmistas Cratenses” (eu, meu pai e  Geraldo Pereira).
Em 1959 conheci Auceli Sobreira, radialista de Juazeiro do Norte, que trabalhava na Rádio Educadora, em fase experimental. Foi justo este cara, que rebatizou o nosso grupo de “Azes do Rítmo”!
A primeira formação tinha como gestor o meu pai(Irineu) e os músicos:
Walderi Linard- contrabaixo
Seu Chiquinho- baterista
Mozart Benício( irmão de Hidelgardo)- pistom
Cosminho- saxofone
José Birau- percussão
Luiz Soares- cantor
Esse grupo apresentou-se na inauguração da Rádio Educadora do Cariri.
Nos anos 60 aconteceram várias substituições. Ganhamos outras formações que incluem talentos como: Nena (baterista); Fanca, Jairo Starkey, Peixoto (cantores) Bach Freire( guitarrista) Izânio( contrabaixista); Cleivan Paiva(guitarrista);Joãozinho Barbicha(cantor);Paulo Hosback( baterista);Mano de Campina Grande(guitarrista e cantor);José de Heleno( saxofone);Xavier( contrabaixo); Castelo(bateria);José Augusto Maropo( guitarra), Jairo Starkey( percussão); Cacá Malaquias( saxofone);Joãozinho e Fanca(voclistas). 

CV

Somos testemunhas de um tempo, em que você tocou no Conjunto do grande maestro Hidelgardo Benício. Conte-nos sobre esta experiência, motivo de nossas lembranças e saudades.

HL

Quando em 1959 Hildelito Parente ingressou no Banco do Brasil, Hidelgardo convidou-me para substituí-lo. Aí convivi com novos e antigos companheiros, como os cantores Peixoto e José Flávio Teles, Haroldo (pistom); Wandir (contrabaixo); José dos Prazeres (ritmista); Tonico (bateria); o saudoso e talentoso Nélio Clayton Falcão (guitarrista).
Tenho fotos desta época. Fico lhes devendo!

CV

Durante a década de 60 e 70, você por vezes ausentou-se do Crato?

HL
Tive uma breve mais significativa passagem pela Banda UM, em Fortaleza (1980), e uma época em Maceió (86/87.) . Em 1988 voltei para o Crato, e aqui estou até os dias de hoje.

CV
Além de “Azes do Ritmo” e Hidelgardo e seu Conjunto, existiu alguma outra banda da qual você foi fundador e/ou participante?

HL

Em 1986 fundamos a Banda Magazine, de Juazeiro do Norte.Nesta oportunidade trabalhei com músicos talentosos,que ainda circulam entre nós, como Demontier( baterista)Toinho Pereira(contrabaixo); Paulo Lobo( trombone); Cabelo(pistom);Nivando(saxofone);Jairo Starkey(percussão) Aurílio , Leninha Sobreira e Célia( cantores).

CV

A data 14 de abril marcará historicamente sua vida de músico- Reconhecido talento!
Já pensou na formação da banda que fará agitar corpo e coração?
Será um encontro de gerações. Um repertório eclético e de fino gosto. Os caririenses estão com saudades de dançar, de ouvir a boa música de todos os tempos. O que nos diz desta programação?

HL

O Cariri merece um espaço para os músicos e amantes da música. É tão raro um evento aberto, quando os casais poderão voltar a dançar soltos, livremente, ou de “feição colada”(como nos velhos tempos...!).Faremos isso acontecer.
Fico no teclado/acordeom; Robson, Cleudo Soares e Neném (saxofone); Ítalo (pistom); Paulo Lobo e Ivanildo ( trombone); Jarbas(guitarra); Marcelo Randemarck( contrabaixo);Cássio(bateria); Toinho(percussão); Leninha,minha filha ,e Álvaro( cantores.)
Conto com algumas participações especiais que figuram como surpresa...!

CV

Algum agradecimento especial?

HL

Mestres musicais são todos meus companheiros de trabalho. Com todos aprendi muito!
Mestre, escola vida: meus pais, minha esposa, e alguns dos muitos professores. Estudei em quase todos os educandários do Crato... Era peralta!
Devo muito aos inesquecíveis:
Mons.Montenegro, PE.David Moreira, Alderico, José do Vale Feitosa, Hermógenes, Dr.José Newton, Dr.José Nilo, Vieirinha, Dona Maria Nilza, Ivone Pequeno, Lurdinha Esmeraldo, Dona Rute, Djacir, Anilda Arraes, Chiquinha Piancó, PE Gomes, Lúcia Madeira,Auzir, entre outros.

CV

Um apelido que deixou de ser público...

Um sonho a realizar...

HL
Apelido? "Hugo da macaca". Alguns colegas de escola lembram dessa história...
 
Compor uma orquestra com sustentabilidade.
O- orquestra
R- de ritmos
L- latinos
A-americanos
C- do Crato

ORLAC

CV

Hugo, conte com o nosso apoio e a nossa alegria.
Sucesso!
Que o seu sonho encontre os caminhos da realização!
Grande abraço, no Azul dos nossos sonhos!