por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 8 de março de 2012

Conversando com Abel Silva - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Coração sem perdão,
Diga fale por mim,
Quem roubou,
toda a minha alegria.

Um das mais gratas tecnologias dos tempos atuais foi a digitalização das antigas e novas gravações da discografia mundial. Com elas tivemos a realização da vontade, a satisfação de ouvir qualquer canção que desejássemos. Sem aquele sentimento de raridade, sem aquelas portas por aonde as canções iam ao tempo e só de raro novamente a ouvíamos.

O amor me pegou,
Me pegou,
Prá valer,
Ai que a dor do querer,
Muda o tempo e a maré
Vendaval sobre o mar azul.

Assim foi que comprei um CD que era uma coletânea de 15 belíssimas canções na voz, mais bela ainda que as canções, a de Naná Caymmi. Aqueles apanhados da EMI chamados de “Meus Momentos”. E na faixa 11 uma canção intitulada “Neste Mesmo Lugar”, composição de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas.

Tantas vezes chorei,
Quase desesperei,
E jurei, nunca mais
Seus carinhos.

Acontece que por isso mesmo comprei um CD “O Essencial de João Bosco” e na faixa 7 estava lá “Quando o Amor Acontece”, composição de João Bosco e Abel Silva. O João é do conhecimento geral e, dos entendidos, também o Abel Silva. Poeta, letrista de grandes compositores dos anos 80 e 90, ele acreano e profundamente carioca.

Ninguém tira do amor,
Ninguém tira,
Pois é,
Nem Doutor,
Nem Pajé,
O que queima e seduz,
Enlouquece,
O veneno da Mulher.

E estávamos numa mesa na mais duradoura e hoje inexistente casa noturna da Lagoa Rodrigo de Freitas. Era o Mistura Fina cujo terreno se transformou num edifício para a alta classe média. Um aniversário com metade da casa ocupada pelos convidados. Na mesa em que me encontrava, entre outros o Abel Silva e a sua companheira.

O amor quando acontece,
A gente esquece logo que sofreu um dia,
Ilusão,
O meu coração marcado,
Tinha um nome tatuado,
Que ainda doía.

Conversa sobre o geral e o particular. Até que entre um dado e outro da vida perguntei ao Abel sobre a dúvida que havia da capa dos dois discos. Afinal a composição era ou não dele e do João Bosco?

Pulsava só,
A solidão,
O amor quando acontece,
A gente esquece logo que sofreu um dia,
Esquece sim,
Quem mandou chegar tão perto,
Se era certo outro engano,
Coração cigano.
Agora eu choro,
Assim.

Ele tomou-se de brios pela sua composição. Queria saber do disco da Naná. Abel Silva, na altura em que se encontrava, não era diferente de qualquer artista na mais remota e esquecida região. Era como todos nós, ciente da sua propriedade. Agora coletiva, além e muito depois daquele momento em que a realizamos.


POST SCRIPTUM

Se tivesse ido à internet estava lá:

Aqui, neste mesmo lugar
Neste mesmo lugar de nós dois
Jamais poderia pensar
Que voltasse sozinha depois
O mesmo garçom se aproxima
Parece que nada mudou
Porém qualquer coisa não rima
Com o tempo feliz que passou
Por uma ironia cruel
Alguém começou a cantar
Um samba-canção de Noel
Que viu nosso amor começar
Só falta agora a porta se abrir
E ele ao lado de outra chegar
E por mim passar
Sem me olhar.

Mas ainda era muito ligado nas mídias locais ao invés da rede.


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