por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 9 de abril de 2011

cinco poemas sem penas




              
POEMA DE AMOR

Tomei o coração na mão como uma maçã
e cravei os dentes vermelhos. Estava em êxtase,
transverberado, com toda a poesia do mundo
escorrendo dos beiços, cantando na língua.

Eu a beijei com sofreguidão, como uma bicicleta.
Ela floresceu dentro de mim, com tanto perfume
quanto um jasmineiro à noite. Mas era apenas
a poesia como um cavalo domado sob os lençóis.


HERMAN MELVILLE

Os ceifeiros são baleias no campo de trigo.


O POEMA SEM PENAS

Um poema sem penas
como uma açucena ao luar.


          Veja meus poemas urbanos em:  http://gregoriovaz.blogspot.com/


Porque hoje é Domingo! - Para Aurélia Benício





A matinal terminou às 14:h. A estas alturas , todo mundo já almoçou, e descansa as pernas para encarar a Siqueira Campos, de noitinha.
Era assim a rotina domingueira da geração dos anos 60. Muita música, muita serenata, muita dança, muito cinema, e muito namoro também.
Todo bolero,valsa,  tango, chorinho, jaz, mambo, samba, nos faz lembrar Hildegardo Benício. Ao som do seu conjunto, fechávamos os olhos, espertávamos os pés, dançávamos e sonhávamos.
Fiz isso muito pouco, mas fiz !
Lamento o passado não voltar...Não perderia uma valsa!
Lembranças e saudades, extensivas a outros músicos da época, como Peixoto, Jayro, Hugo, Zé Flávio Teles, Nélio, Zé dos Prazeres,Wandir, Véin,Lifanco , etc,etc.
* Os três últimos, bem lembrados por Zé Nilton.

Hildegardo e Seu Conjunto - José Flávio Vieira



Foto do acervo de H. Cabral. Nela a Banda mais furiosa dos anos 60-70 : "Hildegardo e Seu Conjunto" que depois desaguou no "Os Ases do Ritmo" . Consultei o nosso Sir Jayro Starkey que consultou o Peixoto e abaixo vai a formação exata da Banda na época, segundo ele uma das melhores que ela já possuiu. O Conjunto Musical fez a trilha sonora de toda uma geração e muitos dos que lêem o blog hoje não existiram sem o clima romântico proporcionado por esta Banda.

Guitarra: Nélio C.Falcão
Cantor: Zé Flávio
Sax: Hildegardo Benício
Contra Baixo: Wandy
Ritmo (percussão): Zé dos Prazeres
Baterista: Tonico (atualmente na banda de música do Crato)
Trumpete: Haroldo, irmão de Tonico
Acordeon: Alexandre

De Aurélia Benício para o Azul Sonhado




"Sou filha do Cariri
Sou poeta popular
Nos meus versos conto histórias
Sò lendo tu vais gostar
Falo de amor e saudade
O que o coração mandar"
( Aurélia Benicio )

*
Aurélia é filha do nosso inesquecível maestro Hildegardo Benício.
Bem-vinda, querida!

Dos bastidores para Ulisses Germano



Caro matutador
que matutando leva a vida a cantar
se cinquenta, se oitenta, se noventa
vai se lá adivinhar...
mas que cantando vale a pena
isso sim é festejar!!!

(anônimo)

De Bastinha Job para Ulisses Germano


Um dia especial
Lindo no azul de viver
Inspiração sem igual,
Semente sã do saber
Sucesso a você almejo
E tudo de bom desejo
Saúde, paz pra valer!

Bastinha Job


Gesto Obsceno- Por Rejane Gonçalves



Não preciso dizer o que foi feito de minha vida sem Quasímodo. Todas as manhãs eu me lembro dos sonhos que à noite não me deixam dormir; o repetitivo sopro da boca de velhos, jovens, crianças, bebês e até mesmo fetos, a me assanhar os cabelos, a abrir caminhos nos meus ouvidos, a voz lamuriosa a me dizer com a boca emprestada de Quasímodo, as palavras num cata-vento, numa dança, num rodopio: escrevo como quem morre em casa, a vida teimando em não sair do quarto, a mãe aos prantos à cabeceira, o zelo dos amigos sentado no sofá da sala, o desespero dos que saem para fumar lá fora e deixam recomendado, qualquer coisa avisem.
Quasímodo sentou-se ao meu lado, mostrou as costas das mãos uma vez aos céus, uma vez à terra. Queria sentir a água que deveria aparecer num fino chuvisco, o suficiente para afastar as pessoas da praça, deixando-a só. Para nós. Somente ele e eu.
Batia-me nos braços quando os agitava um pouco e me chutava os pés se não os mantivesse cruzados. Tempos vão chegar em que dois pedaços de corda, retirados de um dos seus múltiplos bolsos, me imobilizariam pés e mãos e uma mordaça feita com o cachecol enrolado em sua cintura me vedaria a boca. Quasímodo, não se enganem, é a encarnação da delicadeza; apenas não suporta a atenção dos outros debruçada sobre ele ou sobre mim. Fiz o possível para matar, em Quasímodo, esses costumes, e por não conseguir, deixava que os soltassem e me prendesse. Só me rebelei no dia em que ele retirou a faixa que lhe prendia as pontas da trança e quis me vendar com o pano sujo de marrom. Não que eu tivesse medo de me ver cega, ou nojo do tecido quase petrificado de poeira, ou pavor das duas serpentes entrelaçadas, meio adormecidas na grande curvatura de suas costas, ou pesar de expor meu olfato, tão sensível, ao mau cheiro; o que me mortifica mesmo, não se enganem, é não ver Quasímodo; a única criatura que silenciosamente ouve e só depois pensa e passado muito tempo decide: eu falo. Eu não falo.
Na tarde enoitecida, senti na ponta do queixo o toque das mãos chuviscadas. Vejam, no deserto, Quasímodo senta-se ao meu lado e elas erguem meu rosto, obrigam-me a olhar para ele. Posso ter me enganado. Isto me acontece com freqüência, já a vocês, não. Ouçam, a voz me invadindo, há pouco, pertence a ele? O odor, eu sei, é o dele, e a hora de me chegar, também. Descubro alucinada que nunca o ouvi falar. Não conheço a voz de Quasímodo. Acabo de me dar conta de que não sei se ela é aguda ou grave, indiferente ou afetuosa. Vocês sabem, não me enganem. O que ele disse, as perguntas que, me asseguram, ele fez, e todos, sem exceção, tratam de repetir, poderiam ter sido estas, embora o tom não possua nenhuma parecença com a voz de Quasímodo, a qual, eu afirmo, nunca ouvi: não te perdes nos atalhos de minha escrita curvilínea, não tombas ao peso da pena que se entorta, não te cortas, de vez em quando, na aspereza dos traços, não manchas os dedos de sangue nos inúmeros ferimentos do papel, não percebes o ímã a me puxar a cabeça para baixo, a curvar meu pescoço, envergando-me o tronco, eu, Quasímodo, um arco, cuja corda posta ao rés do chão dificulta, ou mesmo subtrai para todo o sempre a oportunidade do arremesso; mesmo os menos ousados. Afirma, ainda, a boca de todos vocês num movimento uníssono que Quasímodo escreve como quem morre em casa. Eu que vivo sentada ao lado dele, confesso desconhecer por completo sua escrita. Nunca li Quasímodo. Ele nunca nada me mostrou.
Ainda conservo posto em minhas mãos o rosto dele nessa tarde de não mordaça. Antes de falar penso, por um longo tempo, se não deveria ter pousado meus cinco sentidos nas janelas e portas onde vocês habitam. Calculei mal a passagem das horas; vendadas estariam portas e janelas e meus olhos abertos não veriam ninguém. De qualquer maneira, fiz uso desnecessário de um pensamento quase matemático, pois múltiplas são as portas e as janelas, até mais que os bolsos de Quasímodo. Daí, consternada, eu lhe disse por trás da porta de um sorriso fechado: se te mortifica tanto escrever como quem morre em casa, se a pena, no percurso entre o tinteiro e o papel, sob tal peso, entorta, posso te livrar da casa.
Quasímodo puxou-me a corda das mãos e dos pés, olhou-me demoradamente a boca, como a certificar-se se ela estava ou não amordaçada e colocou nos bolsos, um muito distante do outro, os dois pedaços de corda. Levantou-se, antes que no relógio o tempo ditasse a hora, e com ele foi arremetida toda a sinuosidade de sua figura oblonga. Eu quis falar que não fizera por mal, fora apenas uma idéia absurda, tentativa desesperada de descobrir que poesia há em não ser Quasímodo, engano inocente em noite de pouca lua e muita ou nenhuma mordaça; eu quis dizer, eu quis muito dizer: teria sido na verdade a maior prova do meu amor por ti.
A última vez em que vi Quasímodo foi por partes. Metade e meia de sua figura já haviam dobrado a esquina; o pouco que sobrara ergueu um dos braços, lançou-o rápido e com desenvoltura para trás; pensei se não queria se desfazer dele, do braço, ou livrá-lo da manga suja do casaco encardido, ou deixá-lo ali para que eu o recolhesse, ou se não poderia ser apenas o gesto corriqueiro da cobra que some e larga a pele. Naquele mesmo braço, a mão estirou os cinco dedos, logo depois quatro deles desapareceram feito tivessem sido decepados e o dedo médio elevou-se em riste, esticou-se até que de todo fosse esgotada a capacidade de sua compridez.

Rejane Gonçalves

Árias Pequenas. Para Bandolim-Hilda Hilst




Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores

Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.




(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Árias Pequenas. Para Bandolim - XI)
(Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)

Domingos que se foram ...- por Rosa Guerrera



As vezes o dia de domingo me traz saudades .Não aquele tipo de saudade que dói , que machuca , que deixa a gente meio pra baixo , como se diz na gíria. É uma saudade gostosa , de fatos alegres, quando as “tardes de domingo ( como canta o Roberto Carlos ) eram mais jovens”, pertencentes a “velhos tempos’, “belos dias” .E assim deixo rolar na minha mente o terraço da minha casa, as canções divertidas ao som do violão,os papos sobre namoricos ,os garotos bonitos, os beijinhos as escondidas , o sorriso da minha mãe, e um relógio que pouco se importava em marcar tempo ou hora.Afinal , quem não teve um tempo onde o próprio tempo nos deixava a vontade , sem exigências ou compromissos ! Será que éramos felizes e não sabíamos, ou apenas estávamos engatinhando em busca da felicidade?Hoje sinceramente não consigo analisar o porque daqueles encontros barulhentos que aconteciam todos os domingos no terraço da minha casa. Por quanto tempo existiram, também não lembro. Sei apenas que as jovens tarde foram envelhecendo a medida que fomos crescendo e o terraço foi se esvaziando pouco a pouco.Éramos talvez dez ou onze participantes daquelas tardes domingueiras que terminavam sempre depois das 8 horas da noite .E ansiosos esperávamos durante a semana o próximo domingo...E dessa maneira muitos e muitos domingos marcaram os vários calendários da minha vida .Mas como o destino dá sempre passos para a frente, aquela turminha foi seguindo cada um o seu caminho.Veio o período da faculdade, do primeiro emprego , das primeiras responsabilidades e os domingos foram tomando outro aspecto.
Quando nos encontrávamos , já não existia o som do violão , e as nossas conversas eram outras, muitas até marcadas por decepções amorosas, experiências amargas, romances inacabados , enfim : o domingo passou a ser um dia comum como todos os demais .Saí daquela casa faz mais de 30 anos , mas por incrível que pareça , todas as vezes que passo em frente a ela , olho a varanda daqueles dias alegres , e na minha mente sou quase capaz de ouvir o violão e as gargalhadas daquela turminha bagunceira e despreocupada que marcaram de tanta ternura a minha vida.E a saudade que bate no meu peito , é exatamente como falei no começo : é gostosa , é gostosa demais!

Destino - por Lupeu lacerda



O destino não tem tino. Nem tento de gol. Se mastiga na autofagia dos instintos básicos. Nada do que a gente conta é verdade. É a pétala que quer falar da flor como se flor fosse. Ela, ele, elas, eles não conhecem a flor. Depois de passada a faixa do final da corrida se descobre que nada há a ser descoberto. Somos fundos demais em nossos rasos, ou rasos demais em nossos precipícios. Ninguém se salvará. Não há do que. Pode acreditar. A ilusão enfuna as velas e sai navegando em busca de um amor que não faz jus a nada. Não poderia. Por não ser. O anão não grita com os gigantes, não por medo, por não ser escutado. Então é destino. Fica quieto e cumpre. Acerta lá com deus, cobra dele: que porra foi essa meu irmão? O destino. Não esqueça. Fique sendo notado por não notar.




No teu lindo azul sonhado
Mora um verso que bendiz
Que a luz do azulado
Faz a gente ser feliz!

ABOBRINHAS ENQUADRADAS - por Ulisses Germano



OITO QUADRAS PSICOLOGIZADAS
(CINQUENTA ANOS DEPOIS....)

I

Intuindo de onde veio 
O pensar diz o que é
Sentimento tem um freio
Quando a sensação dá fé

II
O espelho de Narciso
Se encantou com seu olhar
E ficou todo indeciso
Sem saber a quem amar

III
Os botões de quem caduca
Na intenção de poetar
Sabe que a sua cuca
É quem pode lhe curar

IV
Autocomiseração
Sempre, sempre é periosa
Quem produz lamentação
Perde a vida prazerosa

Vou pedir para São Pedro
A cópia de sua chave
Gratidão é o segredo
Pra sair de todo entrave

VI
 Ninguém nunca vai achar
Onde mora a consciência
Ela não tem um lugar
Nunca quis ter residência

VII
Estudar a própria mente
É viver no matutar
De um martelo que só sente
O seu próprio martelar

VIII
Deixo minhas abobrinhas
Descansando em seu divã
Versando nas entrelhinas
Sobre o mundo titantã!

Ulisses Germano
09/04/2011

     P.S. Dedicado a todos as Amigas e Amigos, que são meus abrigos e minha razão de ser como vivente e aprendente deste planeta maravilhosamente errante!
Ulicis





Essa é pra Ulisses!