por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 15 de maio de 2011

ALCIDES GERARDI- por Norma Hauer


Na data de 15 de maio, em 1918, nascia em `Porto Alegre o cantor Alcides Gerardi,que teve passagem importante em nossa música popular.
´ Ainda jovem, veio trabalhar com o pai aqui no Rio de Janeiro
Em pouco tempo, deixou esse trabalho que não era o que queria e, tendo uma bonita voz, passou a crooner de cassino ,até juntar-se a um grupo que tomou o nome de "Namorados do Luar", em 1939.

Dois anos depois formou, com Marília Batista (que fizera dupla famosa com Noel Rosa) e seu irmão Henrique Batista, o trio "Os Três Marrecos".

Em 1944 passou a crooner da Rádio Transmissora (atual Globo) e em 1946 gravou, na Odeon, seu primeiro disco em 78 rotações, com a composição "Lourdes".
Seguiu sua carreira solo, indo cantar na Rádio Tupi até que em 1953 ingressou na Nacional, onde ficou até seu falecimento em um acidente na Via Dutra, em 1º de março de 1978, quando regressava de um "show" em São Paulo, da mesma forma que Francisco Alves.
Seus maiores sucessos foram "Antonico",de Ismael Silva

"Oh Antonico,vou-lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade"...

Dizem que o favor era para o próprio Ismael Silva que estava numa "péssima", financeiramente.
Com tantas músicas gravadas, Ismael não enriqueceu, como também acontecia com quase todos de sua época, principalmente os moradores de favelas.

Outros sucessos de Alcides Gerardi, foram "Brotinho Maluco", "Suely" e o mais conhecido e que muitos cantores gravaram depois de Alcides Gerardi:"Cabecinha no Ombro"

"Encosta sua cabecinha no meu ombro e chora
E conta sua mágoa toda para mim.
Quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora
Que não vai embora
Porque gosta de mim"

Como já disse, Alcides Gerardi morreu da mesma maneira trágica que morreu seu colega Francisco Alves 26 anos antes: acidente na Via Dutra, regressando de um “show” em São Paulo.

Isso no dia 1° de março de 1978, sem completar 60 anos.


Norma

Sammy Davis, Jr.




Sammy Davis, Jr. (Harlem, Nova Iorque, 8 de Dezembro de 1925 — Beverly Hills, 16 de Maio de 1990) foi um destacado artista estadunidense dentro do século 20; era cantor, ator e dançarino. Faleceu em decorrência de uma câncer na garganta.

Um primor !



Olho D'água

Composição : Caetano Veloso e Wally Salomão

Por entre avenca, feto e taquara poca
No seio-limo da mata ciliar
Corre arregalada a matéria-prima essencial
O vero olho da terra é o cristal d'água
E não há no reino mineral
Nenhum poder de pedra que estanque
O jorro das gotinhas
Rasgando as entranhas da terra
Sedentas por ver o sol
Sedentas por ver o sol
Sedentas por ver o sol
Secas por vê-lo
Dourar o vale e a serra
Pupila, íris, pálpebra, retina
Ah! se esse olho d'água filtrasse
A sentina do mundo e da minha alma
E o nojo e a lama lavasse
E o eco pagão aos meus ouvidos recordasse
Que o olho por onde eu vejo Deus
É o mesmo olho por onde Ele me vê

Olho de lince (Jards Macalé e Waly Salomão)



Quem fala que sou esquisito hermético
É porque não dou sopa estou sempre elétrico
Nada que se aproxima nada me é estranho
Fulano sicrano e beltrano
Seja pedra seja planta seja bicho seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta
Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
Experimento tudo nunca me iludo
Quero crer no que vem por ao beco escuro
Me iludo passando presente futuro
Revir na palma da mão o dado
Presente futuro passado
Tudo sentir de todas as maneiras
É a chave de ouro do meu jogo
De minha mais alta razão
Na seqüência de diferentes naipes
Quem fala de mim tem paixão.

Canção na Plenitude - Lya Luft




Não tenho mais os olhos de menina

nem corpo adolescente, e a pele

translúcida há muito se manchou.

Há rugas onde havia sedas,

sou uma estrutura agrandada pelos anos

e o peso dos fardos bons ou ruins.

(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo

o que perdi: dou-te os meus ganhos.

A maturidade que consegue rir

quando em outros tempos choraria,

busca te agradar

quando antigamente quereria

apenas ser amada.

Posso dar-te muito mais do que beleza

e juventude agora: esses dourados anos

me ensinaram a amar melhor, com mais paciência

e não menos ardor, a entender-te

se precisas, a aguardar-te quando vais,

a dar-te regaço de amante e colo de amiga,

e sobretudo força -- que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável

cujas marés -- mesmo se fogem -- retornam,

cujas correntes ocultas não levam destroços

mas o sonho interminável das sereias.

Postado por socorro moreira às 22:28 0 comentários

Poema de Maiakovsky

"Na primeira noite

Eles aproximam-se

E colhem uma Flor

Do nosso jardim

E não dizemos nada.

Na segunda noite,

Já não se escondem:

Pisam as flores

Matam o nosso cão,

E não dizemos nada.

Até que um dia

O mais frágil deles

Entra sozinho em nossa casa,

Rouba-nos a lua e,

Conhecendo nosso medo,

Arranca-nos a voz da garganta

E porque não dissemos nada,

Já não podemos dizer nada."

Soneto- Chico Buarque



Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio

Chico Buarque

AMIGO(A)- por Rosa Guerrera


Deixa que eu fique aqui
Sempre a teu lado
A escutar tua voz,
Ouvir sonhos partidos...
E na mudez aprender tua linguagem
E gargalhar ao som do teu sorriso.

Deixa que eu tire a dor
Que tens na alma,
E dê a tua angústia,a harmonia...
Que eu transforme em versos
Tuas dores
Cantando em compassos
De folia.

Deixa que hoje
Com a alma em festa
Eu agradeça aos céus a alegria,
De sermos tão amigos (as)
Companheiras(os)
Sempre na Fé , na dor, sem fantasias

E se amanhã a morte ou o acaso
Traçar em nossas vidas um “adeus”...
Na tua lembrança fique o meu abraço,
E que eu leve em meu peito o rosto teu!

 por Rosa Guerrera

 rosa guerrera

Fulinaimagem - Artur Gomes



o que trago embaixo as solas dos sapatos

é fato

bagana acesa sobra do cigarro

é sarro

dentro do carro ainda ouço Jimmi Hendrix

quando quero

dancei bolero

sampleAndo rock and roll

pra colher lírios há que se por o pé na lama

a seda pura é foto síntese do papel

tem flor de lótus nos bordéis Copacabana

procuro um mix da guitarra de Santanna

com os espinhos da Rosa de Noel


Artur Gomes

A poesia de Artur Gomes


Jura Secreta 92

quero tudo que em teu corpo grita
silêncio onde a palavra é gozo
a lua em tua pele espelha
aquilo que tu’alma aflita
reclama por inda não ter repouso

Artur Gomes
http://poeticasfulinaimicas.blogspot.com

Rondó em água e pedra - por Ana Cecília S.Bastos




Tenho poemas de pedra.
E o coração?
Sei eu onde anda,
febril e morno?

Eu só sei onde a tinta
derrama e pinta
seus feios véus.

Seu eu onde a água
insana lava
essa teias ?


Ana Cecília


Amor no Cangaço- Por Aurélia Benício Barros Milfont



I

No dia quatro de Junho
Na Fazenda Ingazeira
Nasceu o terceiro filho
De Maria e Zé Ferreira
Chorou tão forte o menino
Quaeassustou a parteira

II
Na hora do batizado
O Pe. se admirou
Ao olhar pra Virgulino
Ele já profetizou
Vai ser valente  o moleque
Um cabra macho! - falou

III

Igual a toda criança
O garoto foi crescendo
Correndo pela caatinga
Dia-a-dia convivendo
Com a pobreza e a morte
Os segredos aprendendo

(...)

"Ser cordelista é escrever para divertir, emocionar ou fazer pensar o mundo de um jeito diferente"

Aurélia Benício

Lembrando Assis Valente


Este Samba foi Feito Pra Você
Assis Valente
Composição : Assis Valente / Humberto Porto - 1935


Este samba foi feito pra você
Pra você numa noite de luar
Na noite em que eu fiquei sem o teu amor
Sozinho pelas ruas a vagar


Noite em que você de mim se afastou
Tendo no riso uma condenação
Noite em que você sorrindo matou
Toda a esperança do meu coração


Este samba foi feito pra você...
E pela rua este samba a cantar
Vi um alguém na tristeza gemer
Era o amor que você quis matar
Meu coração que você fez sofrer
Este samba foi feito pra você...

Uns animais eletrônicos - Emerson Monteiro


Bem ali detrás há poucos instantes de meros segundos, essenciais, no entanto, fora tomado daquela mesma sensação esquisita que agora volta a se repetir, a querer, todo custo, se projetar, sair pela ponta dos dedos, na emoção frívola de palavras vivas, indo diretas desde a corrente sanguínea ao papel, esguicho contínuo de uma sensação solitária, a formar definições e falas, bichos vivos, fugitivos. Na mão, fechado, quente, o pulsar heróico do coração do bicho feito pequeno pássaro animado, impaciente, aqui prisioneiro, no meio dos dedos e da palma, à pressão relativa sobre o celular que o retém preenchendo esse âmbito dos sentidos, já dominando a força aquecida no bloco inteiro das percepções vitais da pessoa instalada no comando central dos acontecimentos.
Nisso, a energia sincopa em toda casa. Dá um, dois picos intermitentes, saltos de dentro da madrugada para o dia surgindo nas luzes do nascente, que sorrateiras penetravam pelos quadrados de vidro laterais da porta, como quem quer rever os escuros da noite na sombra que começava, lentamente, a despertar para as novas claridades. Foram eles, os dois pulos de intensidade na energia, e todos receberam o jato de paralisação das funções, sinais suspensos na sobrevivência do ser gente e máquina em que humanos se transformaram.
Aquele espectro sideral de moléculas atadas à condição material na força das circunstâncias obtusas do firmamento, presas no alto do espaço, apenas estagnara em forma de protagonistas vazios da ausência de movimento aparente. Por dentro, no entanto, espasmo cataléptico misturava o sabor do tremer do telefone preso na mão, pássaro contido nas dobras das falanges ao longo do corpo da máquina comprimida.
Imagem paralisada no alvorecer que cessara de vez no cessar da energia da rede silenciada, a virar borrão afixado na inércia que deslizava durante o rio das coisas, sem conter mais no bojo de si o elemento estarrecido em pleno voo, nesse abismo que divide escuro e de iluminação. Parado ficara, permanecera, cartaz preso às margens da longa estrada do tempo.
Lá adiante nas horas, contudo, ainda que avisado durante algumas chamadas perdidas, pelo mecanismo estreitado nos dedos e na palma, acordaria atônito, aos sopapos secos da geladeira refeita no retorno da corrente aos músculos. Isso horas depois, Sol alto no céu, antes do pino do meio-dia, fora das cogitações possíveis e quase vítima do desespero, ouvindo o estalo das coisas descongelando abafadas no interior da fria composição.
Esfregava os olhos quando adquiriu a oportunidade para ativar, outra vez, os mecanismos do domingo junto aos sistemas externos, porém fundamentais à existência dos humanos, dependentes vorazes da corrente elétrica. Agradecido, contudo, estendeu a mão e depôs sobre a mesa o pássaro impaciente, a única via de contato real quando perdera os impulsos do mundo, naquela crise de abstinência temporária dos multimeios.

Uma paisagem banal - por Rejane Gonçalves




Trata-se de um quadro de dimensão singular pendurado no topo do mundo. Nele há uma profusão de imagens, de coisas que se sobrepõem umas às outras, de cores em constante luta com seus tons contrários. É como se o tempo tivesse borrado a tinta; tudo acontece em meio a pesadas brumas. Percebe-se, mesmo assim, a tela cortada ao centro por uma cerca não muito alta, de troncos retorcidos, feito braços dispostos em tranças a ornamentar uma cabeça de fartos cabelos. Do lado onde, dizem alguns, a paisagem parece mais nítida, está um cavaleiro montado em seu cavalo bravio. Segura fortemente as rédeas e todo o seu corpo empenha-se no sentido de impedir o animal de pular a cerca. Do outro lado desta, onde, dizem alguns, a paisagem é confusa e pródiga em abismos, acaba de pisar o chão um cavalo, trazendo montado em seu dorso um cavaleiro bravio. Seu corpo quase deitado sobre o animal e suas mãos, por onde escorrem as rédeas, parecem indicar não ter ele conseguido ser do outro cavaleiro uma parelha, pois que ultrapassou a cerca.
Os viandantes com gestos disformes passam ao largo. Todos, com raríssimas exceções, evitam uma observação demorada desse quadro de dimensão singular. É sabido que uma maior apreensão da paisagem transporta o rosto do incauto observador às alturas, sobrepondo-o ao rosto de um dos cavaleiros. Essa esquisita peculiaridade do quadro é na maioria das vezes incômoda e talvez fatal. Por isto é que os viandantes passam ao largo. Tapam os olhos dos filhos e repetem em ladainha o que há muito tempo ouviram com a força de um massacre de mil martelos zunindo em suas cabeças:
− Desses dois homens montados... de um diz-se que é louco, do outro diz-se que é são.

setembro/ 1987

Rejane Gonçalves

Rejane Gonçalves é contista, nasceu em Caruaru-PE e tem laços familiares cratenses firmados desde os anos 70. Atualmente mora em Recife.





Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.




Rainer Maria Rilke

Compromisso com o desconhecido - por Socorro Moreira







Essa liberdade

da qual não abro mão

Me depara contigo

sempre que me afasto.


Essa alma que nunca foi tua

É vadia, mas vive cega

tateando a tua ...


Lágrimas não vertidas

Ficam invertidas no fundo do nada

Fertilizam canteiros

em qualquer das praças

- Flores que alimentam formigas ...

Nos olhos do meu canto.


O perdão ,se foi feito pra gente pedir ,

nunca aprendi ...

Leio em todas as placas do invisível...

Que o amor resiste !

A vida tem jeito...- socorro moreira





Ando sentindo uma nuvem de tristeza espalhada pelos cantos , e altos. Não enxergo a desgraça, apenas aflição e descontentamento generalizado . Hora de reprogramar a vida , eu acho ! Reprogramar a partir dos sonhos , objetivos , quereres , e limitações. A propósito , meu amigo Cosme passou por aqui com seu sorriso de anjo-de-guarda , que ele joga fora , e disse-me : rico é quem vive bem , dentro das suas limitações. Claro que perguntei de imediato : quem te ensinou isso , menino ?
- Achei por aí...Não sei quando , nem onde.
- Grande verdade !
Dizia pro meu filho Victor ( meu sábio médico): a partir de amanhã não fumo cigarros ; troco leite de vaca por " Soya"; vou abolir lactínios , refrigerantes , biscoitos , doces e enlatados . Assumo de vez o arroz integral , a fruta com seus bagaços , e farinha de aveia... Porque "veia" tem mesmo é que se cuidar, senão a vaca vai para o brejo, e fica por lá.
Prometi-me também fazer caminhadas diárias , hidratar a pele , fazer hidro-ginástica, assistir por aí o por-do-sol , a cada dois dias, inventar estórias , e deixar de falar tanto das minhas.
Minha vida foi animada demais nas estradas.Mudanças e amores...- tantos !
A vida amorosa , sempre está em movimento. Quase uma paixão , um encanto inteiro, amor sublimado , e de brincadeira, amor que chega , amor que passa, amor que fica , e amor fantasma !
Tristeza é pensar que a vida é sempre do mesmo jeito, e que ela não tem jeito !


O Livro do Azul Sonhado- Coletânea em prosa e verso







ExpoCrato (10 a 17.07.2011).


Neste período, acontecerão nas paralelas, as festividades de lançamento do nosso livro.
Alem de encontros musicais e performances poéticas , acontecerá o dia "D" com o lançamento oficial.
As pessoas que moram noutras localidades já podem desde já se programar e participar dos diversos encontros que marcarão este evento- fruto da nossa arte!


Quem desejar hospedagem , se manifestem porque tentaremos acomodá-los.


Quaisquer dúvidas, usem o e-mail: sauska_8@hotmail.com

Amor unilateral ?- por socorro moreira




Acho sincero o silêncio do amor não declarado.Por mais sutil que seja a sentença, ele considera o imponderável.
O amor decantado vive da própria essência e prolifera num habitat especial , paralelo à realidade.
Ele é incerto, sendo unilateral.
Ele é completo no percurso das heras.Ele não vive na espreita, sabe a falta do encalço.Não posso condena-lo, se o campo é imaginário.Meu juízo perdoa a falta de reciprocidade.Levianamente extrapolo em palavras, e deito no rio dos sentimentos as pedras que nos separam. Permeia águas correntes, que deslizam, nos mares dos prazeres.Unificar o amor é objetivo perene.Objetivo maior é deixa-lo livre, corrente que circunda os fios interiores.
Quando um dia passar, vou entender que foi vivido, no fórum da eternidade.
Macacos me mordam, corujas guardem os meu segredo...Meu amor é crédito, sem cartão de saque.
É previdência , na providência do vazio, quando se instala.
Nada trágico. Tudo dentro do previsto mensal. E assim os anos e ânimos se sucedem. Começou  em janeiro de um ano infindo.

Hilda Hilst- ( 21.04.1930 a 04.02.2004)





"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."



Loucuras - Rosa Guerrera



Já fiz coisas incríveis !
Já escorreguei num arco íris
e caí lentamente nos braços de um grande amor.

Já enxerguei o meu perfil
num olhar cheio de desejo
e mergulhei despida
em mares tempestuosos e lagos serenos ...

Já parei na contra mão da vida,
e sem me importar com os semaforos do destino
plantei flores nas mais altas montanhas .

Já senti até estrelas no céu da minha boca!

Já pintei brancas nuvens ...
num céu vermelho de paixão !
E sujei o meu corpo de chocolate
para que fosse provado em mim
o delírio da entrega ...

Já falei tolices !
Repeti versos!
Reprisei desejos!
Tive o mundo preso nas minhas mãos
nos claros caminhos do escuro...

E nessa complexidade
de coisas incríveis,
já conheci e vivenciei as maiores loucuras do amor .

por rosa guerrera 





A poesia de Artur Gomes (a Ana Augusta Rodrigues)


Aqui
onde rio e mar
se beijam
aqui no fim do mundo
onde terra e céu
se abraçam
num ato sexual.

Aqui
no fim do dia
um barco preso na corda
um peixe preso no anzol
a terra varrida ao vento
casas varridas ao temporal…

Aqui
no mesmo teto
pássaros sobre os calcanhares
homens sobre os girassóis
onde rio e mar se beijam
re-nascem nossos filhos
quando terra e céu se abraçam
sem ter nem mães nem pais

Onde o seu refúgio
é nu / meu peito aflito
e a minha solidão
nu / teu corpo é
paz.


arturgomes
http://juras-secretas.blogspot.com/

Erotismo em Branco - Márcia Denser




A porta se abrirá lentamente e eu verei o que tem detrás.

Branca de Neve: O Conto de Fadas

Quando se fala em conto de fadas, fala-se, automaticamente, sobre crianças, sobre o espaço infantil. Segundo Noemi Paz:

O conto de fadas é uma alegoria da passagem iniciática na qual o herói representa a alma perdida no mundo a lutar contra os poderes inferiores de sua própria natureza e contra os enigmas que a vida lhe propõe, até encontrar, após aceitar e realizar as provas, os meios para a sua própria redenção. 1

Sabe-se que o conto de fadas provém do conto maravilhoso e, além de se constituir da literatura popular, manteve-se vivo e se propagou devido à tradição oral. "Branca de Neve"é um dos contos de fadas mais conhecidos e faz parte do imaginário infantil. Como todo conto de fadas, sofre variações conforme o tempo e o espaço.

Neste trabalho, utiliza-se, porém, apenas uma versão: a de Jacob e Wihlelm Grimm. Nessa versão, Branca de Neve é a concretização do desejo de sua mãe em ter uma criança bela. O conto inicia-se assim:


Era uma vez uma rainha. Um dia, no meio do inverno, quando flocos de neve grandes como plumas caíam do céu, ela estava sentada a costurar, junto de uma janela com uma moldura de ébano. Enquanto costurava, olhou para a neve e espetou o dedo com a agulha. Três gotas de sangue caíram sobre a neve. O vermelho pareceu tão bonito contra a neve branca que ela pensou: "Ah, se eu tivesse um filhinho branco como a neve, vermelho como o sangue e tão negro como a madeira da moldura da janela." Pouco tempo depois, deu à luz uma menininha que era branca como a neve, vermelha como o sangue e negra como o ébano. Chamaram-na Branca de Neve. A rainha morreu depois do nascimento da criança.2
Branca de Neve nasce conforme sua mãe desejou: com a tez alva, com as bochechas vermelhas tais qual a cor de uma maçã - fruto proibido, elemento simbólico do prazer, da perdição - e com os cabelos negros. Agrega em si um cromatismo sugestivo, pois o branco faz lembrar a pureza, a inocência; o vermelho, a paixão, a sexualidade e suas madeixas escuras remetem à noite, à escuridão, ao sofrimento.

Segundo Bruno Bettelheim, a história de Branca de Neve, aparentemente inocente e infantil, está carregada de símbolos relacionados à sexualidade, à sensualidade e ao erotismo. Diz ele sobre o referido conto:


Aqui a estória propõe os problemas a resolver: inocência sexual, brancura, contrastada com o desejo sexual, simbolizado pelo sangue vermelho. Os contos de fadas preparam a criança para aceitar um acontecimento que seria conturbador: o sangramento sexual, como na menstruação, e posteriormente na relação sexual quando o hímen é rompido. Ouvindo as primeiras frases de Branca de Neve a criança aprende que uma quantidade pequena de sangue - três gotas (sendo o número três o mais associado no inconsciente com o sexo). - é uma pré-condição para a concepção, porque a criança só nasce depois do sangramento. Aqui, então, o sangramento (sexual) está intimamente ligado ao acontecimento "feliz"; sem explicações detalhadas a criança aprende que nenhuma criança - nem mesmo ela - poderia nascer sem sangramento.3
Por intermédio do espelho - metáfora do voz da consciência feminina, narcísica, invejosa e vulgar - a madrasta da bela moça fica ciente da beleza insuperável da enteada e exige que um caçador mate-a, na floresta, e leve para ela seus pulmões e seu fígado, como prova de que a matou. O caçador, diante da beleza de Branca de Neve, em vez de cumprir as ordens dadas, deixa a moça fugir livre pela floresta julgando que essa não fosse resistir, por muito tempo, sozinha num lugar que mantém tantas ameaças.

A fim de enganar a mandante do crime, o caçador mata um javali que cruzou o seu caminho, arranca-lhe os pulmões e o fígado e os leva ao seu destino. A mulher come as peças, acreditando estar comendo a filha de seu marido. Esse ato canibalesco alude à sabedoria popular que a faz acreditar que, ingerindo partes de Branca de Neve, pode adquirir sua beleza, tornando-se, enfim, a mais bela das mulheres.

Ao contrário do esperado, Branca de Neve resiste e chega à casa dos sete anões. Ao avistarem a moça, a reação é de surpresa e contentamento: "Ó céus, ó céus!" todos exclamaram. ‘Que bela menina!’Os anões ficam tão encantados com aquela visão que resolveram não acordá-la, deixá-la continuar dormindo em sua caminha." (2004: 96). Diante de tamanha beleza, a acolhem sob a condição de ser responsável pelas tarefas domésticas. Os anões lhe dizem: "Se quiser cuidar da casa para nós, cozinhar, fazer as camas, lavar, costurar, tricotar e manter tudo limpo e arrumadinho, pode ficar conosco, e nada lhe faltará." (2004: 91).

Vale lembrar as próprias palavras do conto para observar o estado dos diminutos homens frente à imagem de Branca de Neve. Nesse primeiro momento, o campo lexical acolhe os vocábulos: "bela" e "encantados". Por ser a moça "bela", é capaz de deixar os homens à sua volta "encantados". Sobre esse natural poder de sedução da personagem da história infantil, Francesco Alberoni, em seu livro O Erotismo comenta:


Existem mesmo duas imagens arquetípicas da sedução feminina. A Bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela, onde o homem é atraído pela beleza. Apaixona-se e a mulher parte com ele. A segunda é a da feiticeira (Circe, Alcina) que prende o homem com um encanto. O mito nos diz que Branca de Neve ou a Bela Adormecida estão enamoradas do príncipe.4
Na verdade, na história infantil, os anões não "partem com ela". Esses homens, por serem pequenos, não representam perigo sexual tampouco despertam algum tipo de desejo na bela jovem. Eles a mantém "cativa" da forma que podem e ela responde à pergunta dos anfitriões: " ‘Sim quero ficar, não desejo outra coisa’, Branca de neve respondeu e ficou com eles." (2004: 97).

O enunciado ambíguo sugere algumas interpretações distintas daquelas pueris. Esse "desejo" de ficar pode, aqui e ali, comparar-se à vontade de ser mulher, adulta, objeto de desejo daqueles seres que a acolhem num momento tão difícil. Recorrendo a Bettelheim, pode-se perceber uma visão menos infantil dos anões:


Estes ‘homenzinhos’ de corpos atarracados e trabalhando na mineração - penetram habilidosamente em cavidades escuras - sugerem conotações fálicas. De certo não são homens em qualquer sentido sexual - seu modo de vida e o interesse em bens materiais sugerem uma existência pré-edípica.5
Bruno Bettelheim aponta também, ainda a respeito dos anões, que os conselhos que são dados à Branca de Neve para que não deixe ninguém entrar em casa, quando estiver sozinha, simbolizam, na verdade, o alerta de não deixar ninguém entrar, inclusive, nela. No entanto, tais conselhos são negligenciados, já que a jovem se deixa enganar três vezes pela madrasta disfarçada que bate à porta e anuncia: "Mercadorias bonitas a precinho camarada." (2004: 92).

Curiosamente, em todas as vezes é oferecido a jovem algo que mexa com sua vaidade ou com seu desejo mais secreto. Na primeira vez, a velha ofereceu cadarços multicoloridos, a velha colocou o cadarço tão apertado no pé da moça que ela ficou sem ar e caiu no chão como se estivesse morta; da segunda vez, o "obscuro objeto de desejo" da jovem foi um pente envenenado e - mesmo sendo advertida, outra vez, para não atender a ninguém - sob a fala da velha: "Agora vou pentear seu cabelo como ele merece." - deixou-se enganar, novamente, e, assim que o pente tocou seus cabelos, o veneno fez efeito e a moça caiu no chão. Nessas duas vezes, os anões retornam e conseguem ajudar Branca de Neve. Em contrapartida, na última investida da madrasta, o objeto oferecido foi uma maçã - elemento que faz parte do imaginário coletivo como símbolo do desejo, da paixão, mas também da perdição.

Como se vê, a jovem se deixa levar por seus impulsos e, num misto de ingenuidade e cobiça, cai em tentação. A partir desse último argumento simbólico (a maçã), a madrasta consegue deixar Branca de Neve semi-morta por um longo tempo, pois essa, envenenada, fica atravessada em sua garganta.

Um momento que instiga a imaginação do leitor "adulto" ocorre quando os anões chegam e encontram, pela terceira vez, a mocinha caída no chão. A fim de procurar algo que pudesse ser venenoso, os anões desatam seu corpete, penteiam seu cabelo e banham-na com água e vinho. Nossa! Se essa cena for narrada fora de contexto, pode, perfeitamente, sugerir uma bacanal feita por necrófilos: sete homens, intimamente, em volta de uma mulher morta que conserva ainda a beleza da vida.

Supondo estar a bela moça morta, os homenzinhos colocam-na num caixão de vidro e levam-na para o alto da montanha onde poderá ser sua beleza admirada e cobiçada para sempre, uma vez que, mesmo, aparentemente morta, exibe as bochechas vermelhas como se estivesse viva. Essa "exibição" e o fato de estarem ainda vermelhas as bochechas da moça evocam, mais uma vez, a cor da paixão, a cor da maçã, a cor das gotas de sangue. Não se pode perder de vista que a rainha dividiu a maçã com a Branca de Neve antes de ela morrer, aludindo assim à própria divisão da libido, da sensualidade.

Ao final, como a maioria dos contos de fadas, maniqueísta, o bem vence o mal. Branca de Neve é achada por um príncipe que por ela enamorou-se. Com o consentimento dos anões, resolve levá-la e num descuido de seus criados, ao transportar o caixão de Branca, um solavanco solta o pedaço de maçã envenenada que estava entalado na garganta da bela moça.

É certo que a madrasta recebe seu castigo. Ela é convidada para ir ao casamento da enteada e, mesmo com toda sua inveja e ciúme vai. Ao chegar lá:


Sapatos de ferro já haviam sido aquecidos para ela sobre um fogo de carvões. Foram levados com tenazes e postos bem na sua frente. Ela teve de calçar os sapatos de ferro incandescentes e dançar com eles até cair morta no chão.6
Sobre essa passagem Bettelheim aponta:


O ciúme de sexual incontrolável, que tenta arruinar os outros, se destrói a si mesmo - simbolizado não só pelos sapatos de ferro em brasa mas pela morte que causam, dançando com eles. Simbolicamente, a estória diz que a paixão descontrolada deve ser refreada ou será a ruína da própria pessoa. Só a morte da rainha ciumenta (a eliminação de toda turbulência interna e externa) pode contribuir para um mundo feliz.7
Dessa forma, percebe-se que, até um conto universalmente conhecido e, superficialmente, inocente, apresenta em seus implícitos uma série de sugestões sensuais e eróticas. É possível reconhecer, numa leitura mais ampla e direcionada, os vestígios de uma sociedade cristã, repressora e manipuladora da libido alheia.



Como lidar com a rejeição amorosa


"Não! Definitivamente não é fácil se sentir rejeitado(a) por alguém que se ama. Pior é viver na expectativa de mudança, preso a um fio desgastado de nylon, na beira do precipício. É mais ou menos isso! Você sabe que não há o que mudar, mas se mantém por perto caso haja um sinal de fumaça vindo em sua direção.
Mas diante de tanto desprezo, por que ainda alimenta esperança? Onde está o seu amor próprio? Sim, você vai dizer: - É fácil falar! É claro que é fácil dissertar teses de autoajuda quando o sentimento não nos toca. Sentir-se rejeitado(a) faz da pessoa alguém menor, em segundo plano, com a sensação de derrota frente a uma situação em que nada se pode fazer. Cabe ao outro a decisão, o veredicto, o "fique" ou o "vá embora". É cruel demais sentir-se impotente. Você se pergunta: - Onde foi que eu errei?
Não houve erro, mas equívoco por parte da outra pessoa. É provável que só agora ela tenha se tocado de que você não é exatamente aquilo que ela esperava, ou era mais do que ela esperava. Quem pode saber o que o outro sente de fato? Na verdade, tateamos as emoções aos poucos, no decorrer dos dias, à medida que vamos conhecendo aquele ser que ali está, com diferenças e singularidades, com características convergentes e dessemelhanças insuportáveis. Mas como se apaixona por alguém errado? Não é uma escolha, é questão de química, de pele, de emoção, de atração, não há explicação lógica para as nossas escolhas sentimentais.
O que fazer então? O caldo já entornou e você está arrasado, olhando para o teto para ver se ele desaba. Não! Não vai adiantar ensimesmar-se, compadecer-se de si mesmo. É preciso, primeiramente, fazer cair a ficha, aceitar o fim do relacionamento e não esperar mais nenhum capítulo dessa história. Feito isso, é começar a se desfazer de cada detalhe que o coloque para baixo, que lhe traga lembranças ruins. Tudo bem, eu entendo, demora um pouco para assimilar o fato. Eu espero! Mas lembre-se: o fato é que você se apaixonou por alguém que não lhe quer mais, fantasiou demais, envolveu-se demais, entregou-se de corpo e alma.
E ele(a)? Sim, até lhe deu uma bolinha, mas VOCÊ não é o tipo de recheio que ele(a) mais aprecia, o perfume que lhe agrada, tampouco a música que mais gosta de ouvir... Então, o que lhe resta? Chorar alguns litros de lágrimas? Nem choro nem vela! Quem lhe disse que as coisas mudam? É pura perda de tempo ficar esperando que ele(a) se compadeça das suas lágrimas sofridas e venha correndo para os seus braços chamando-o(a) de "amor da minha vida". Ele(a) não fará isso. O tempo corre, voa, as coisas acontecem em fração de segundos e não espera por você na esquina até que alcance o bonde.
Rejeição! Que palavra feia! Tire isso da sua mente, olhe-se no espelho, veja quem você é. Está vendo? Uma pessoa que merece sorrir, sair para o mundo, rodopiar no parque de diversões e até ostentar um "quezinho" de arrogância, tipo "eu sou mais eu" quando o vir passar. Deixe livre o seu caminho, quem sabe para um outro envolvimento. Veja: enquanto você lê esse texto, o mundo está acontecendo, e, se esse filme não teve um final feliz; pegue outro na locadora, preferivelmente de comédia, pois se a paixão é ilusória e dói o peito, o humor dói a barriga, mas é de tanto rir, não é mesmo? "

Luciana P.

LIEBESTOD - morte de amor - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Tristão e Isolda de Wagner apresenta uma das mais belas canções dos dois últimos séculos que reverencia o amor erótico no limite entre a permanência e a morte.

Vozes da tristeza,
continente no baú.
costurado: flores de rebites,
tampa: ecos dos tempos,
força dúbia: penetrante e evasiva,
que das frestas surge,
envolvendo genitálias,
fisgando ermos insulares,
em multiplicidade continental.

Revolvendo brisas matinais,
inocências virgens,
arrebatando a castidade,
voluptuosa canção,
poderosa, sucessiva, impreterível,
surgindo,
ocupando,
esgueirando-se,
afirmando-se.

Traços e pautas,
impregnações de ondas emocionais,
mágica revelação,
repuxos e avanços,
suave e permanente,
fugaz promitente,
rápida feito raio,
espalhafatoso trovão,
se tenta e esvai-se rápido.

Novamente é o mesmo,
veio e imergiu,
película lacustre de nuvens refletidas,
pausa breve,
sucedida dos pingos circulares,
indeciso e efêmeros,
tanto é silêncio,
quantos decibéis,
quase retirante,
gritos de chegança.

Surge como golfinhos,
silvando e, lindo, mergulhando,
deixando espumas translúcidas,
agora não mais indefinidas,
todas majestades,
em dourado de explosões,
chocalhando úvulas palatinas,
e cordoalhas ventriculares,
apaixonando cada fragmento
desta vida explodida.

A cauda submerge,
total como o corpo dos cetáceos,
jato forte da respiração,
inundando céus de aerossóis,
arco-íris sobre a cabeça,
num segundo de arranque,
minha vida inteira,
conjugando-se em verbo regular.

Caudais intransponíveis,
desta balsa louca dos vendavais,
ao mesmo que revolução
também costa verdejante,
cheia de flores multicores,
quase grito,
afinal grito
e minha voz se mistura ao redemoinho de fogo.

No auge que distrai,
das entranhas revoltas que reconstroem,
todo o drama da humanidade
e seus desejos loucos de permanência,
acima da morte,
fazendo filhos
numa paixão de corpos,
convulsas copulações.

E lá chegas
Isolda?


A fraqueza dos meus olhos não viram,
a voz do ciúme traidor
abriu a vela negra,
no barco que tua ausência presumiu-se
quando a vida em momento pós-ejaculado,
minha respiração acalmando-se,
pálpebras em sombra,
os olhos sonhando,
com o filho
que nossa morte de amor gerou.

por José do Vale Pinheiro Feitosa