por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Embargos Infringentes




J. Flávio Vieira

                               Wanderico ensinava Sociologia em Matozinho e era uma figuraça. Alto e esguio, cabelo grande preso por uma Maria-Chiquinha, barba longa e desgrenhada, roupas simples montadas em cima de umas chinelas currulepe. Fazia parte daquele protótipo de professor sociólogo, só que não mandava rasgar livros e nem pensava em se meter em Academias. Os alunos o adoravam : tanto por sua dedicação,  como pelo carinho que dedicava a todos na Escola. Wanderico chegara a Matozinho, há pelo menos vinte anos, quando se mudara da capital. Adaptou-se perfeitamente àquela vida provinciana e trouxe na bagagem uma larga experiência pedagógica. Sabia-se pouco do seu passado  na beira-mar , mas ali sempre levara uma vida monástica.  Devia ter seus cinqüenta e lá vai lapada. Morava sozinho, fizera-se sempre um solteirão convicto. Não é que não gostasse da fruta, tanto que namorava há mais de dez anos uma mocinha bem mais nova que ele: Afonsina.  Ela fora sua aluna no colégio e era de família humilde, mas queridíssima na Vila.
                        Wanderico , um sujeito desprendido, justificava sua solteirice crônica , sua aversão ao altar, com razões bastante pragmáticas. Entendia que o casamento era uma instituição que não podia dar certo porque precisava, necessariamente, assassinar o namoro. Comer a famosa saca de sal juntos mostrava-se motivo suficiente para deixar intragável  qualquer relacionamento. Namoro e paixão, dizia sempre, eram coisas boas demais para serem liquidificadas pelo matrimônio.  Unir as duas escovas de dentes deixava, imediatamente, o tesão banguelo. Deusulive !
                        A filosofia de Wanderico, no entanto, esbarrava em muitos obstáculos. Afonsina, como toda mulher , sonhava em casar e aquele relacionamento longo a vinha deixando na berlinda. Em Matozinho, já se perguntava nas beiras de rua, se aquilo era pra casar ou pra que diabos era. Namoro longo denotava , imediatamente, intimidades na mesma proporção e, ali, todas as amizades tinham que ser, necessariamente, em preto-e-branco.  Qualquer  possibilidade de meximento prematuro  em cabaço de moça era igual a cutucar marimbondo de chapéu, com vara curta.  Assim, como no julgamento do Mensalão, sequer provas se necessitavam, as evidências se faziam mais que suficientes para a pronta condenação do acusado.
                        Passados os primeiros anos do namoro, começaram as inevitáveis pressões pelo desenlace final . Os vizinhos cutucavam a família de  Afonsina e  se foi criando um clima cada vez mais turbulento. “O homem é loiça!” , “Já era casado na capital, não pode casar de novo, né?”, “Já provou da fruta e parece que já tinham comido uns gomes antes dele!”  Todos, no entanto,  respeitavam muito Wanderico e se sentiam constrangidos em acintosamente o colocar no canto da parede. Insinuações escaparam aqui e ali, sutis indiretas se teceram, mas o professor  parecia um verdadeiro artista fingindo-se de João-Sem-Braço. Comemorado, por fim, o aniversário de dez anos do namoro, num Natal onde todos estavam reunidos, o pai da moça foi às vias de fato e , delicadamente, colocou o noivo a par das  expectativas e preocupações da família diante do infindável casa-não-casa.  Wanderico fingiu entender tudo e prometeu :
                        --- Quando Julho chegar, nós casamos, prometo ! Podem preparar a festa.
                        Afonsina e os familiares ficaram felicíssimos com a promessa e começou-se a finalizar o enxoval que já se vinha preparando há tantos e tantos anos.  A notícia espalhou-se por toda Matozinho:  finalmente  iria cair por terra o último reduto do celibatarismo regional. Os amigos mais chegados, no entanto, desconfiaram da mudança  súbita de Wanderico, sem uma resistência stalingradense,  ele que mostrava-se , sempre, um empedernido inimigo  do altar e da água benta. Na primeira oportunidade, já em meados de abril, no Bar do Giba, numa mesa de bar, entre uma e outra lapada de cana, um companheiro quis saber:
                        --- E aí, Wanderico ? Como é , rapaz, temos enterro de gente viva em julho?
                        --- Não, amigos, ainda não tem nada certo!
                        --- Como não, homem de Deus ? Você não prometeu ao pai da moça que casava logo que julho chegasse?
                        ---  Pois é, mas  pelo visto ele vai demorar!
                        --- Julho vai demorar? Mas como, Wanderico, não  chega daqui a três meses? -- Quis saber o amigo, já meio exasperado.
                        --- Eu prometi casar  quando Júlio chegasse! Vocês é que não entenderam!  Júlio é um amigo meu que foi pras bandas de São Paulo há uns trinta anos e nunca mais deu notícia, nem sei se ainda está vivo!
                        Só então Matozinho entendeu que Wanderico, diante da ameaça de prisão perpétua,  tinha impetrado  seus embargos infringentes.

Uma boa nova!

Vizinha de Abidoral, na Rua José Carvalho, em Crato, foi inaugurada uma galeria permanente dos trabalhos de Pachelly Jamacaru.Vale a pena conferir!
Particularmente,  encantou-me  o extremo bom gosto do casal: Pachelly/Socorrinha.
Agora, a opção de presentes especiais está ampliada.
Lindas peças!
Parabéns, casal da nossa admiração!

Esses tais “recursos infringentes” – José Nilton Mariano Saraiva

Em razão da aposentadoria compulsória (em razão da idade), de dois dos ministros (Cesar Peluso e Carlos Ayres Brito) que compunham o pleno do Supremo Tribunal Federal e a conseqüente indicação dos respectivos substitutos (Luis Roberto Barroso e Teori Zavaschi), o julgamento do processo conhecido por “mensalão”, que já se encaminhava à sua fase crepuscular, findou por apresentar uma guinada espetacular, espécie de reviravolta inesperada: é que os dois novos integrantes daquela corte têm apresentado uma abordagem totalmente diferente da usada pelos antigos titulares e, aí, como do lado de lá (dos réus) temos tarimbados e caros advogados, que conhecem como ninguém o “caminho das pedras” (também conhecidos como “atalhos legais”) a história tende a ser (re)contada de outra forma.
Assim é que, quando os réus já haviam sido condenados e as penas respectivas estipuladas (em atendimento ao arrazoado não tão convincente do relator ministro Joaquim Barbosa), eis que a defesa aparece com a figura dos tais “recursos infringentes”, que se trata de uma manobra absolutamente legal, permissível desde que, quando do ato condenatório, o acusado (mesmo apenado) haja sido contemplado com pelo menos 04 (quatro) votos favoráveis por parte dos integrantes do pleno do Supremo Tribunal Federal.
E como em alguns supostos crimes aventados (formação de quadrilha, por exemplo) a votação do STF pela condenação foi praticamente dividida, existe a possibilidade, sim, de que tudo seja “zerado” e tenhamos um novo julgamento (para tanto, basta que, também aqui, os acusados obtenham pelo menos quatro votos favoráveis à aceitação dos tais “recursos infringentes”.

A essa altura seis (06) dos onze (11) ministros já votaram, com o placar apontando 4 x 2 pela aceitação do pedido da defesa (basta, portanto, mais um (01) voto, dos cinco (05) faltantes, para que a decisão anterior (condenação) seja revista).