por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 2 de abril de 2011

ABOBRINHAS POÉTICAS: QUATRO QUADRAS PARA JOÃO NICODEMOS - por Ulisses Germano


Vejo que João Nicodemos
Pulou a cerca do Estado
Do seu som sempre ouviremos
O soar de um enamorado

II
A rabeca tão bem feita
Que ele um dia fabricou
Toca bem e até enfeita
De tão bela que ficou

III
Não falo mais da saudade
Palavra mais do que gasta
Para um ser da minha idade
Ser seu amigo já basta

IV
Sei que ele está construindo
Estudando e trabalhando
Muitos chorinhos ouvindo
Pra depois sair tocando

Ulisses Germano
Crato, 02042011










Entre a cegueira e a visão – Por Padre Virgílio Ciaccio

A cegueira é uma das mais terríveis limitações da vida. Mas nós também, ainda que tenhamos visão invejável, freqüentamos com assiduidade o mundo dos cegos.

Somos cegos quando não prestamos atenção na presença de Deus em nossa história e nos voltamos para interesses de pouca valia. Somos videntes quando sabemos perceber a passagem de Deus ao nosso lado, atendemos às suas propostas e cobranças e aceitamos com gratidão a salvação que ele nos traz.

Somos cegos quando nem tomamos conhecimento do nosso semelhante e, entre nós e ele, erguemos barreiras de cor, de classe social e de religião – de modo que ele não venha a cruzar o nosso caminho. Somos videntes na hora em que o aceitamos como companheiro de viagem e como irmão muito querido.

Somos cegos na hora em que fechamos olhos e coração ao sofrimento, às lágrimas e ao abandono de tantos excluídos condenados a morte prematura pela falta de remédios, alimentação e moradia. Somos videntes quando temos a coragem de entrar na tribulação e na tragédia deles; quando nos tornamos solidários com sua cruz e nos pomos a seu serviço, a fim de levantá-los e restituir-lhes a dignidade de filhos de Deus.

Somos cegos na hora em que jogamos nas costas dos outros a responsabilidade pelas coisas erradas que acontecem em nosso meio. Mas somos videntes quando admitimos a nossa injustiça, violência e dureza de coração e nos emendamos, com coragem, de nosso pecado.

Somos cegos quando nos julgamos dono da verdade e, roubando o lugar de Deus, lançamos sentenças de vida e de morte em cima do irmão que errou. Somos videntes quando do nosso irmão, ainda que pecador, nos fazemos defensores, lembrados de que a nossa luta deve ser contra o pecado, não contra o pecador.

Brilhe para nós um raio da luz de Cristo, a fim de que possamos andar sempre com o amor, a justiça e a verdade.

Por Padre Virgílio Ciaccio, ssp

Extraído do jornal “O Domingo” dia 04.04.2011. Postado por Carlos Eduardo Esmeraldo.

negar é afirmar duas vezes

quem faz o que pode, não faz.

(Geraldo Urano) 

 

Por Lupeu Lacerda


Fico imaginando o vestido dela. Tafetá? A cor de seu batom, uma coisa suave acho. E um rosto como uma tela de um desses artistas que nunca fizeram sucesso. Empoeirado. Por isso mesmo bonito. Uma banda chamada bárbaros da bossa cantava as músicas que embalavam aquela noite que parece, quando são as primeiras, não ter fim. O fundo do olho de uma pessoa assusta. É um buraco que brilha, e fala uma língua que prescinde de palavras. Sempre tive medo de me meter olho adentro das pessoas. Mas com ou sem medo, as vezes era necessário. E olhar um olho é como enfiar uma mão dentro das coisas da pessoa. É como uma zombaria. Um pau entrando boceta adentro tem menos dano. O peito dói. E a má água será sempre bebida em goles generosos. Até que eu sou educado, mas às vezes não dá. 

por lupeu lacerda

Émile Zola



Émile Zola (Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola) (Paris, 2 de abril de 1840 — Paris, 29 de setembro de 1902) foi um consagrado escritor francês, considerado criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista além uma importante figura libertária da França. Foi presumivelmente assassinado por desconhecidos em 1902, quatro anos depois de ter publicado o famoso artigo J'accuse, em que acusa os responsáveis pelo processo fraudulento de que Alfred Dreyfus foi vítima.

wikipédia

RUA DE POBRE-Marilita Pozzoli


RUA DE POBRE

Rua de pobre não carece asfalto:
pobre não tem automóvel...
Rua de pobre não carece luz:
pobre deita cedinho...
Não precisa também numeração:
não vem carteiro,
não vem telegrama,
não passa lixeiro.

Cada casa é indicada por um acidente:
aquele do tôco é do João Dorminhoco.
A da laje no terreiro,
é do Zuza Pedreiro.
Essa da gaiola,
é da Maria Paxola.
A da trepadeira
é da Luiza Peixeira.
Tem casa torta pra lá,
tem casa torta pra cá.
Casa inclinada pra frente,
casa empinada pra trás.
Parecem formar ballet,
parece que vão cair
mas continuam de pé...

Vem lá de dentro uns berros de mulher:
Pass pá dento Juaninha!!!
E Joaninha num berreiro:
"Mãe, furmiga tão me cumendo,
eu caí no furmigueiro!
"Do outro lado alarido
um cão que quebrou panela
e apanha como um danado!
E sai cada palavrão!...
Coitado do pobre cão!

Um papagaio se expande
numa algarávia maluca:
"O lelê carapeba é pêxe de má
Ô lele carapeba é pêxe de má.
Currupaco — papaco
Currupaco — papaco.
Lôro... Lôro..."

E tem menino sambudo
brincando na enxurrada
pra se esquecer da maleita...
Lá na esquina, um vadio
tira dois dedos de prosa
com a morena dengosa
que vai à venda comprar.
Bebe um trago de aguardente
e oferece pra toda gente
sem mesmo poder pagar:
— "Não são servido, mecês?
Ë entorna o copo de uma vez!

Vem gemido da vizinha
que está com dor de dente...
Vem canção de carnaval
lá no fundo do quintal...
"Tava jogando sinuca
uma negra maluca me apareceu.
Vinha com o filho no braço...

..............................................

Mas essa rua tem alma!
Tem alma e tem coração!
Hoje só há tristeza...
Morreu o João da Tereza,
— fogueteiro que enfeitava
as noites de São João.

Vão cantar a noite inteira
até o dia raiar.
Vão cantar as "inselença"
que é pro João se salvar.
"Uma inselença da Virge da Conceição
Deus num primitas que eu morra sem cunfissão.
Duas inselença da Virge da Conceição,
Deus num primitas que eu morra sem cunfissão.
Três inselença da Virge da Conceição
Deus num primitas
que eu morra sem cunfissão...
Quarta inselença"...
— São doze inselença
E não se pode parar
porque senão dá azar...

Mas quando é noite de lua
e uma viola soluça
esse abandono fatal,
como é bonita essa rua!...
Rua de pobre esquecida
do governo da cidade!
Sem água, sem luz, sem placa,
Sem carteiro e sem lixeiro
— rua que nem nome tem...
Só a lua é tua amiga,
só a lua te quer bem.

Rua de noites perdidas,
de dias estagnados
num bairro pobre qualquer...
Rua de cães vagabundos
pelos terrenos baldios,
de gatos pelos telhados...
teu nome devia ser:
Rua dos abandonados.

Marilita Pozzoli

Do livro: "Enquanto espero as rosas", Ed. Henriqueta Galeno, 1969, CE.

* Essa poesia me faz lembrar meus colegas de escola: Regina ( a intérprete!), Stela, Walda, Magali, Rosineide, Francíria, Joaquim,Vera, Tarcisinho, Márcia, Gracinha, Ione, Edna,Hugo,Ismênia, ... 
Quem acordou minha lembrança foi Lôra de Cândido Figueirêdo, menina dos nossos tempos.
Hoje, relendo-a, senti como as ruas continuam abandonadas - algumas!

Por Manuel Bandeira



POEMA DA INADIÁVEL PARTIDA

Sem os teus afetos,
sem amor ou calor
que farei aqui
nessa cidade perdido?

Partirei agora.
De tristezas inúteis
não é o meu caminho:
Sonho & Vida.

Pássaros no meu encalço.
Árvores nuas na estrada.

Velejarei por novos braços,
novos sonhos abraçarei.

Por acaso, sábado! - por socorro moreira


Ontem foi quase triste.
- Um dia cinza!
Hoje vi o azul misturado ao verde,
Iluminado por um sol dourado.
As cores pintam a natureza,
e modificam as emoções.

Como acontece, quase regularmente,
estive na casa de João Marni e Fátima.
A roda é festiva.
Fala-se dos problemas com a força da fé,
que a gente chama de superação.
Ai de nós, se não fosse a alegria dos amigos...
De tê-los!

E este Azul, que me faz sonhar?
Que lava meu tédio
Preenche de poesia ou notícias,
meu diário terráqueo?
Volteio por aqui,
belisco algo, alhures...
Encaro a vida,
com a disposição do aprendiz.

A sorte é lançada
As perdas e os ganhos
são inesperados
Extrair o sumo das nossas experiências,
entranhá-lo, nos transforma
naquilo que seremos .

Escutei do João uma frase linda,
quando falava de Fátima:
“Desde que a conheci,
nem por um momento,
me senti sozinho”.

È assim que a gente sai daquela casa...
Com o coração farto de amor.

INCONSCIENTE - Ulisses Germano



LEMBRANÇA ADORMECIDA
ESQUECIMENTO ACORDADO
A MEMÓRIA DESTA VIDA
ESTÁ NUM COFRE GUARDADO

Ulicis








RÁPIDO E RASTEIRO - CHACAL



VAI TER UMA FESTA
QUE EU VOU DANÇAR
ATÉ O SAPATO
PEDIR PRA PARAR
AI EU PARO
TIRO O SAPATO
E DANÇO O RESTO DA VIDA



"Choro Bandido"- socorro moreira







Deixou de ser criança
Foi prematuro
Viveu batalhas
Venceu e perdeu guerras
Sobreviveu,
desacordado e cego.

De repente saiu do túnel,
e encarou os olhos do coração
-Olhos amorosos na compreensão.

Faltou brilho de encanto no olhar
Faltou a pureza da entrega , sem questionar
Faltou a vontade de correr só pra chegar,
mas a vontade de esperar, ainda resta !


Amor antigo...
Querendo ganhar cores
Querendo uma chance de viver
a matura tranquilidade
de um amor legítimo !

Amor antigo, recauchutado,
mudo, desesperado,
disperso no desejo novo.

Lacrimoso - na tristeza doce-
de saber que o amor não foi.

Esteve no estio romântico das horas,
nas madrugadas vazias ,


quando buscou o esquecimento,
no clarão das estrelas que se acendiam.

Dia  ensolarado da consciência tardia...
Amor bandido, antigo, e ainda vivo !

(socorro moreira)



Respostas claras- socorro moreira




Agir compaixão
Amor sem paixão ...

Abraço o corpo que desconheço
O que mais conheço é o travesseiro
Com ele acordo todas as manhãs.

A cidade começa a zuadar
um pássaro, um carro,
um galo, um gato a miar ...

E eu pergunto ao tempo
Se ele vai me esperar
E eu pergunto às palavras
se elas podem me fartar ...
Tudo claro : o quarto, o céu...
Mas as respostas gostam do escuro !

O NINHO DO CHORINHO - por Ulisses Germano


O NINHO DO CHORINHO
(Ulisses Germano)

Quando algo está perdido
Bem longe de ser achado
É porque o esquecido
Se esqueceu de ser lembrado
Assim, sem pé nem cabeça
Nunca jamais se esqueça
Tudo tem significado

Meu poema já cansado
De tanto pedir arrego
Fez do amor iluminado
A morada do segredo
Que possui o mesmo brilho
Cantado no estrilho
Do chorinho de Alfredo
Da Rocha Viana Filho

Assim sendo vou levando
Está vida  por tecer
Nas notas ornamentando
Meus retalhos de prazer
Tendo no choro o remédio
Que dá fim a todo o tédio
De nosso vil padecer

Crato, 020411