por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 13 de abril de 2011

Don't let it die - Por José do Vale Pinheiro Feitosa







Teve um tempo que a vida era tão suprida por esta cidade que uma simples canção popular como “sentado à beira do caminho” me dava uma solidão de abandonado como se nunca mais houvesse uma porta de casa para retornar.

Algum tempo passado, já noutra cidade, minha companheira da vida atendeu uma avó e sua neta que iria vacinar-se. Cumpria o calendário infantil obrigatório. Ao anotar o nome da criança, a atenção dela voltou-se para avó: se ao invés de atendê-la fosse meu marido ele estaria aqui feliz da vida. A avó iluminou-se desde sua linda cabeleira até o mais distante de seu ser. Queria saber quem era aquele fã, de onde viera, como vivia. Ao contar-me, o sucedido lembrei-me da música “beijinho doce” na voz da célebre atriz da chanchada Eliane em dupla com aquela avó no acordeom: Adelaide Chiozzo.

Os americanos deram sucesso a cantores de vozes suaves, que interpretavam músicas românticas como um violoncelo. Entre eles Perry Como, em dupla com Chet Atkins, cantando “and i love you so”. Os brasileiros tiveram muitos iguais, a lembrar um cantor que brincou e não gravou tanta coisa romântica, mas surpreendia com aquelas canções de chacota com uma voz tão suave, feito “joão bobo”, “farinhada” na voz de Ivon Cury. Tempos depois, ali na Rua Constante Ramos, onde morávamos em Copacabana, sempre o encontrava na porta de sua casa noturna: Sambão e Sinhá. Ele nos cumprimentava com um sorriso tão amplo e simpático que lembrava o antigo presidente do Brasil: JK.

Igual pareceu-me a noite passada que jamais ouviria composições novas com o mesmo conteúdo daquelas canções. São outros tempos, os artistas já não têm importância, agora tudo é um produto de mercado como Lady Gaga, completo por uma empresa produtora, em que o papel principal, quando existe, apenas é uma peça.

“I am so hurt” tão puxado nos fluxos de ar das cordas vocais que a voz aguda de mulher se debulha em grãos de tons graves e um tanto roucos, como se existissem apenas para seduzir os homens. Timi Yuro com este nome oriental e uma voz de cantora de jazz negra.

Igual a voz rascada, quase debochada, não sei se era ou apenas o era por que assim existia, de Hurricane Smith. Este nome de cowboy que nasceu nos idos da década de vinte do século passado e evaporou-se do mundo por volta de 2008. E foi no remoto ano de 1971, quando a consciência ecológica explodiu igual ao feminismo e ao comportamento sexual livre que ele gravou esta canção: “D´ont let it die”.

Ao lado da montanha,
A flor a crescer.

À margem do rio,
Onde a água flui para sempre.

O mistério da vida na floresta
A longa e graciosa história da vida na terra.

Não deixe isso morrer.
Não deixe isso morrer.

A liberdade do tigre,
Do canguru,

Depende de mim,
E depende de você.

O que vemos é o que escolhemos,
O que mantemos ou perdemos para sempre

O mundo é nosso para chorar por ele
Mas, e se é tarde demais para recomeçar?

Não deixe isso morrer
Não deixe isso morrer

Ou dia adeus, amém.
Ou dia adeus no fim.


 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Fotos de Nívia Uchôa


O LAGAR DO MEU AVÔ- Por Barbosa Tavares





Lá estão. Os resquícios do que fora outrora um lagar. A dorna desmantelada, arcos enferrujados num canto distendidos, a trave de carvalho encastoada na parede de granito e a enorme pedra ovular que fazia gemer o bagaço , espremendo-lhe todas as gotículas do néctar de Baco.

As teias de aranha enoveladas nas frinchas das telhas, as traves enegrecidas e carcomidas, testemunhavam, inequívocas, a voracidade aniquilante dos anos transcorridos sobre duas gerações.

O tempo na sua desolação , tragou parte do legado vinícola dos avoengos. O lagar onde noutros tempos se celebrara o contentamento do mosto a fermentar, a coroação da vindi- ma, a alegria de haver vinho novo, revejo-o na constatação inequívoca da decrepitude impediosamente lavrada nos utensílios do lagar—as telhas partidas, as traves carcomidas, os novelos urdidos pelas teias de aranha, reacendem a efemeridade de nossos dias.

Revisito os homens de pés espalmados e pedregosos, as luzidias uvas negras esmagadas num estalido seco, o movimento cadenciado das pernas--músculos retesados--as calças arregaçadas ate à virilha.

Finda a tarefa, o vermelho-sangue do mosto, escorrido pelas pernas , as graínhas e pele das uvas, empastavam-se na cabeladura das pernas e, os pisadores assemelhavam-se a lutadores acabados de sair da mais sangrenta peleja.

Na parede de granito havia uma candeia mortiça, assente sobre um pedaço de chapa encastoada numa frincha, pela qual trepava um caprichoso fio de fumo que se impregnava nos refegos da pedra e sugeria a ideia de arte espontânea.

Naquela penumbra, com a noite serenada de estrelas e sinfonia dos grilos, ressoava a alegria dos pisa-uvas, enquanto contavam historietas, com gracejos e a alegria rufava com a sonoridade de estrepitosas gargalhadas.

No final, aguardava-os um bacia de esmalte, esboicelada, o sabonete da veia azul-- era assim que minha avó lhe chamava-- um jarra e a mais macia das toalhas, para enxugar pés doridos de tanto esmagar uvas e seus cadraços

Para cumular de glória campestre aquela azáfama vinícola, celebrava-se uma fraterna bacalhoada, tragada à luz da candeia, com uma travessa comum e a malga escorria fios de vinho pelos bordos a circular de boca em boca, que se limpava com as costas das mãos rugosas em terra talhadas.

Na lareira, estralejavam resinosos ramos de pinheiro e casca de eucalipto.O meu avô arrancava um minúsculo graveto de lume e atiçava o pavio duma centenária candeia negra que nem tição , que tresandava petróleo e, seria hoje, uma honrosa relíquia de museu.

Desciamos umas escadas de pedra, toscas , pré-históricas. Com uma mão em forma de concha sobre a candeia , eu apaziguava as sopradelas do vento que faziam da chama um bailado.

O meu avó, trôpego de lentidão , eu , com a malga encochada nas mãos , seguia-lhe os passos. Com uma sovela, desventrava um pedação de estopa do ventre de uma ancestral e bojuda pipa, e o vinho jorrava em arco , cachoando na malga.

Ainda ouço as invectivas de meu avô:" rapazinho, essa luz pra riba, alumia mais pra baixo, pró outro lado, assim". Eu, perante aquelas barbas grisalhas de patriaca, limitava-me respeitosamente a obedecer e sustia, como convinha ,a minha infantil crispação a remoer-me em silêncio vertido no interior da alma: "o diabo do velho é mesmo chatarrâo"

Entravamos na loja, que é para as bandas da serra o local de arrecadação do vinho e da salgadeira. Assomava as narinas a frescura húmida do térreo chão, o bafio da salmoura , o aroma das cebolas em madeixas pendentes de toscas e denegridas traves de carvalho e as incontáveis teias de aranha que repousavam em novelos suspensos, na quietude ba-fienta daquele penumbroso frescor.

Havia uma bexiga de porco defumada, amarelecida, torrada pelo tempo, pendente duma trave. Nunca soubera da sua utilidade, enquanto criança. Há tempos dei comigo ensarilhado a cogitar, afinal, para que serviria a tal bexiga? Num relance, imaginei que seria para esquentar a água com que se apaziguavam as dores de ventre e outras mazelas da vida aldeão arredada do convívio dos alópatas.

Que não restem dúvidas, tudo se esvanece no tempo, até alguns nacos das miticas recordações da infância, que julgavamos imorredoiros, fenecem nas olvidáveis teias , urdidas, na descompaixão do tempo inclemente.

E logo, me assomou à mente, aquela tirada, arguta e cruel do filósofo ,lida não sei quando e onde, de um rigor imperecível: "poderás perdoar tudo o que quiseres, mas o tempo não perdoa a ninguém"



Brampton, Ont. Canada

Novembro de 1998



DIANA, A VERDADE DO MITO- Barbosa Tavares





Não foi simplesmente a morte de uma princesa. Diana, aquela rapariguinha tímida, de olhos enrramados em ternura, adulada pela imprensa que humanizara a coroa com um sorriso cativante e coração aberto para os padecimentos do mundo , descerrando portões de esperança num mundo crivado de indiferença pelos dramas alheios.

Mais rebelde e obstinada que a sua imagem sugeria, não seria apenas a menina inconformada com a rigidez dos preceitos reais—que culminara no divórcio—mas conquistaria os corações sobretudo, pela graciosidade e afecto com que quebrou a frieza altaneira da monarquia, relegando-a para um plano subalterno.

Deixou-se tocar e tocou mãos deformadas, destituídas de esperança, concedendo rosto humano ao mito da princesa encantada em actos da mais profunda ternura. Personificou a beleza do espirito na ternura da sua compaixão pelos dramas de gente com rosto.

Esta magia, firmou-lhe desde já, um lugar no panteão da imortalidade. Tal como afirmaria um jornalista inglês, num rasgo visionário: " a vida além-túmulo da princesa, ja comecou".

Soube beneficiar da imprensa para os seus propósitos humanitários e viria a ser vitimada pela mesma na versão mais cruenta que esta pode apresentar: a implacável perseguição de obstinados "paparazzi", sedentos de captar os notáveis e famosos em actos--puramente comezinhos--para o vulgaríssimo cidadão.

Tal como pretendia, tornou-se a "princesa dos corações", por gestos e palavras ao serviço de missões devotamente filantrópicas.

A sua personalidade cristalizou-se no apogeu da sua beleza física e espiritual, razão porque já figura na galeria dos mitos que ainda perduramn e perdurarão: John Kennedy, Jack Onassis e irmã Teresa—outra gigante da compaixão humana sucumbida.

Pese a quem afirme que a sua filantropia se deveu, parcialmente a uma espécie de combate com o príncipe Carlos na disputa de projecção política—após o seu destronar palaciano—não deixa de impressionar que uma princesa cumprimente um leproso, uma vítima da Sida ou abrace uma criança desventurada com a maior e genuína candura deste mundo.

Sabe-se agora que houve casos, não revelados em que Diana se preocupou em realojar destituídos de abrigo e manteve contactos com pais de crianças vitimadas por implacáveis doenças.

Certamente terá cometido erros amorosos. Por exemplo: deixar-se conduzir para o matrimónio real por um príncipe cuja capacidade emocional era visivelmente limitada e seguramente comprometida com outro (a) alguém.

Admitira com impressionante candura que caira em relação adúltera. Se o acto não é de louvar, louve-se-lhe a coragem. O mundo perdoa-lhe. Para um coração magnâmino, haverá sempre condescêndia. Deixou-se enredar em nova paixao, mas a felicidade amorosa, estava-lhe vedada.

Por isso Diana, sonhadora do amor que não desfrutou e desvelada arquitecta da justiça humana, dispõe de toda a Eternidade para ser amada.

Brampton, Ont,Canada

Setembro de 1997



Horas Rubras





Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...

Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve e branca e mist'riosa...
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"


BEIJO NA BOCA Martha Medeiros



Uma vez a atriz e cineasta Carla Camuratti declarou, numa entrevista, que um bom beijo é melhor do que uma transa insossa. Quando a escutei dizendo isso, pensei: "então não sou só eu". Estou com Carla: o beijo é a parte mais importante da relação física entre duas pessoas, e se ele não funcionar, pode desistir do resto.

A Editora Mandarim lançou um livro que reúne ensaios de diversos intelectuais a respeito do assunto. O nome do livro é O Beijo - Primeiras Lições de Amor, História, Arte e Erotismo. Os autores discutem o beijo materno, o beijo nos contos-de-fadas, o beijo traiçoeiro de Judas, os primeiros beijos impressos em cartazes, o beijo na propaganda, o mais longo beijo do cinema e todas as suas simbologias. Às vezes o livro fica prolixo demais, mas ainda assim é um assunto tentador. Procure-o nas melhores casas do ramo. O livro, porque beijo não está à venda.

Todo mundo sonha com aquele beijo made in Hollywood, que tira o fôlego e dá início a um romance incandescente. Pena que nem sempre isso aconteça na vida real. O primeiro beijo entre um casal costuma ser suave, investigativo, decente. Aos pouquinhos, no entanto, acende-se a labareda e as bocas dizem a que vieram. Existe um prazo para isso acontecer: entre cinco minutos depois do primeiro roçar de lábios até, no máximo, cinco dias. Neste espaço de tempo, ainda compreende-se que os beijos sejam vacilantes: tratam-se de duas pessoas criando um vínculo e testando suas reações. Mas se a decência persistir, não espere ver estrelinhas na etapa seguinte. A química não aconteceu.

Beijo é maravilhoso porque você interage com o corpo do outro sem deixar vestígios, é um mergulho no escuro, uma viagem sem volta. Beijo é uma maneira de compartilhar intimidades, de sentir o sabor de quem se gosta, de dizer mil coisas em silêncio. Beijo é gostoso porque não cansa, não engravida, não transmite o HIV. Beijo é prático porque não precisa tirar a roupa, não precisa sair da festa, não precisa ligar no dia seguinte. E sem essa de que beijo é insalubre porque troca-se até 9 miligramas de água, 0,7 grama de albumia, 0,18 de substâncias orgânicas, 0,711 miligrama de matérias gordurosas e 0,45 miligrama de sais, sem contar os vírus e as bactérias. Quem está preocupado com isso? Insalubre é não amar.

UM NOVO VERSO- Por Rosa Guerrera



APAGUEI MAIS UMA PAISAGEM DA MINHA JANELA DE VIDA ( NEM SEI QUANTAS JÁ APAGUEI ) .

MINHAS PEGADAS VÃO FICANDO PERDIDAS NUM TEMPO QUE SE FOI...

ENQUANTO AS VERDADES ABERTAS TEIMAM EM ME FAZER CONTINUAR .


A ALEGRIA DO POETA FOI E SERÁ SEMPRE A ESPUMA DE UMA DOCE BEBIDA QUE DEIXA NO FIM UM SABOR DIFERENTE NA BOCA.


ENXUGO A LÁGRIMA E DIVISO NOVA PAISAGEM NO VASTO HORIZONTE ...

PRECISO IR EM FRENTE ...SEGUIR!

ESQUECER TALVEZ DE LEMBRAR, OU ATÉ LEMBRAR VEZ EM QUANDO O QUE DEVE SER ESQUECIDO...

NÃO IMPORTA!

UM SORRISO PARA O QUE SE FOI... E UM SORRISO PARA O QUE VIER.

NASCE ASSIM UM NOVO VERSO...
por rosa guerrera

Eu, Modo de Usar:- Por Martha medeiros



Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

Rosa Passos






Rosa Maria Farias Passos (Salvador, 13 de abril de 1952), mais conhecida como Rosa Passos, é uma cantora, violonista e compositora brasileira.


BEM TE VI - Teresa Barreto de Melo Peretti


Bem-te-vi.
Bem-te-vi, pássaro do meu bem querer.
Bem quem te vê.
Bem que te quero
povoando o jardim do meu Recanto,
regando os arvoredos de alegria,
bebendo do orvalho e do perfume da natureza,
adoçando a vida com o mel das flores.
De papo amarelo, bico longo e forte, agudo é o teu canto.
Bem- te- vi, bem - te- vi, o teu canto soa o teu nome.
O teu cantar embala os meus sonhos.
O teu cantar me traz felicidade e recordações de tempos de outrora,
onde esse cantar soava em outros jardins; no jardim da minha infância.
A saltitar entre as árvores do meu jardim,
um canto escolheste para construir o teu refúgio. Sabiamente, entre as folhagens secas e pequenos cipós, arquitetaste o teu ninho, para, comodamente, abrigar a sua cria.
Atento, acalenta e alimenta os seus filhotes, protegendo-os dos predadores, até o momento de libertá-los para o mundo.
E, assim, a tua vida continua. Voando, suavemente, entre campos e campinas, entrando e saindo dos quintais e jardins, sem pedir licença, tão grande é a tua liberdade.
No meu Recanto, fico a imaginar quantas belezas tu avistas
e o quanto tu encantas o meu coração.
Na leveza de tuas asas, sentimentos de paz.
Voa, voa, bem-te-vi.
Voa na velocidade dos meus pensamentos.
Com os teus vôos rasantes, povoas outros jardins, levando a tua pureza e o teu encantamento,
mas, não esqueças que o jardim do Recanto do meu peito é o canto do teu cantar.
Bem-te-vi , pássaro do meu querer.
Fica feliz quem bem te vê, oh, pássaro feliz!

Maria Teresa Barreto de M. Peretti – (Tetê)

Um filme, uma música


Um filme, uma música


Um filme, uma música



Chico Anísio - Por Norma Hauer


ELE TAMBÉM É COMPOSITOR
Ele nasceu em Maranguape, no dia 12 de abril de 1931, recebendo o nome de Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, mas ficou conhecido com o nome que o revelou para a arte: CHICO ANÍSIO.
É humorista, ator, escritor, compositor e pintor brasileiro, notório por seus inúmeros programas humorísticos na Rede Globo, onde possui contrato até 2012.
Ao lado de Chacrinha, Chico é considerado um dos maiores nomes de todos os tempos da televisão brasileira.
Sua família veio para o Rio de Janeiro quando ele tinha seis anos de idade. Iniciou no rádio, na Rádio Guanabara, onde exerceu várias funções: radioator, comentarista de futebol, etc.
Participou do programa Papel carbono de Renato Murce. Trabalhou, na década de 1950, nas rádios "Mayrink Veiga", "Clube de Pernambuco e Clube do Brasil.
Nas chanchadas da década de 50, Chico passou a escrever diálogos e, eventualmente, atuava como ator em filmes da Atlântida Cinematográfica.
Na televisão, sua estréia foi na TV Rio no programa “ Noite de Gala”
. Em 1959, estreou o programa Só Tem Tantã, lançado por Joaquim Silvério de Castro Barbosa, ou simplesmente Castro Barbosa, mais tarde denominado de Chico Total.
Uma de suas primeiras composições foi o “Hino ao Músico”, gravado por Chocolate, que imediatamente obteve grande sucesso.
Em 1965 no ano do 4° centenário do Rio de janeiro,uma música sua, em parceria com João Roberto Kelly fez grande sucesso na voz de Dalva de Oliveira:”O Rancho da Praça 1 1”.
Desde 1968, `tem contrato com a Rede Globo, onde conseguiu o status de estrela num "cast" que contava com os artistas mais famosos do Brasil; e graças também a relação de mútua admiração e respeito que estabeleceu com o executivo Boni.
Após a saída de Boni da Globo nos anos 90, Chico perdeu paulatinamente espaço na programação, situação agravada em 1996 por um acidente em que fraturou a mandíbula.

É irmão da também atriz Lupe Gigliotti, com quem já contracenou em vários trabalhos na televisão; do cineasta Zelito Viana; e do industrial, compositor e ex-produtor de rádio Elano de Paula. Também é tio do ator Marcos Palmeira
Alguns de seus filhos também são artistas.
Citar tudo que Chico Anísio fez na TV é estender demais este assunto, assim, cito apenas Chico City, seu primeiro trabalho na Rede Globo; Chico Anysio Show; “Escolinha do Professor Raymundo”; Chico e Amigos e Zorra Tiotal.
Chico também participou de várias novelas, sendo seu mais recente trabalho na novela “Caminho das Índias”.
Para terminar quero colocar aqui a letra daquela que é para mim sua mais bonita composição:” Rio Antigo”, gravação de Alcione

RIO ANTIGO
Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo
Com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e sem frescão
O ontem no amanhã
Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
Domingo no Rian
Me deixa eu querer mais, mais paz

Quero um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado
Eu quero um samba sincopado
taioba, bagageiro
E o desafinado que o Jobim sacou

Quero o programa de calouros
Com Ary Barroso
O Lamartine me ensinando
Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem

Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
Um velho samba do Ataulfo
Que ninguém jamais gravou
PRK 30 que valia 100
Como nos velhos tempos

Quero o carnaval com serpentinas
Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
Eu quero, eu quero porque é bom
É que pego no meu rádio uma novela
Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
Mais tarde eu e ela, nos lados do Hotel Leblon

Quero um som de fossa da Dolores
Uma valsa do Orestes,zum-zum-zum dos Cafajestes
Um bife lá no Lamas

Cidade sem Aterro, como Deus criou
Quero o chá dançante lá no clube
Com Waldir Calmon
Trio de Ouro com a Dalva
Estrela Dalva do Brasil

Quero o Sérgio Porto
E o seu bom humor
Eu quero ver o show do Walter Pinto
Com mulheres mil
O Rio aceso em lampiões
E violões que quem não viu
Não pode entender
O que é paz e amor

Chico esteve recentemente muito doente, ficando vários dias na UTI, ligado a inúmeros aparelhos para sobreviver, mas está de volta a sua residência e, brevemente, a seu trabalho.
Completa hoje 80 anos.

Norma

A nossa identidade antropológica - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Os historiadores não são isentos de sua própria história. Nem o matemático ou o físico. E a própria história além de eventos vividos é também a narrativa (explicativa) das gerações que antecederam tais eventos. Por tal, como exemplo, o cearense acha que é um unidade narrativa, com seus mitos fundadores (mesmo que literário em Iracema) e toda a “odisséia” até os dias atuais. Todos acham assim?

Os Estados Nacionais, que se formaram de fragmentos díspares e contraditórios num passado não tão remoto assim têm a sua narrativa feita por mitos fundadores e pensam sua formação como uma unidade étnica e de origem comum. Isso já foi derrubado há muito tempo, mesmo um país que exagerou no tema como a Alemanha ariana, se descobre tão fluido em sua origem quase que igual a estes das Américas com etnias de todos os continentes.

Estamos o tempo todo tentando descobrir uma “identidade” como povo e a cada vez caímos no denominador comum da humanidade. Isso não foi sempre assim, uma religião poderia criar um senso de identidade, um território também, ou uma atividade produtiva ou cultural, mas tudo foi se transformando numa unidade planetária, ainda inconclusa, mas cada vez mais evidente nas comunicações e nas percepções de produtos e até mesmo do meio físico como o clima.

Esta questão da dissolução do antigo modo de enxergar fratias, procurar a ordem monárquica, o eixo divino, a linearidade da formação dos povos pode bem ser vista na análise do povo Judeu. Façamos um esforço de analisá-lo na perspectiva sionista que é a visão que melhor identifica a sua linearidade bíblica e que se manteve intacta por mais de dois mil anos. Qual a visão histórica dos judeus sob o ponto de vista do sionismo?

Segundo esta visão o povo judeu existe desde a entrega da Torá no monte Sinai e hoje são os descendentes diretos e exclusivos. Saíram do Egito com Moisés para a Terra Prometida, edificaram o reino de Davi e Salomão, que originou a Judéia e Israel. O judeu manteve-se o mesmo apesar dos dois exílios que experimentaram: depois da destruição do Primeiro Templo, no século VI a.C., e após o fim do Segundo Templo, em 70 d.C. Esta última diáspora durou 2 mil anos e eles se dispersaram pelo Iêmen, Marrocos, Espanha, Alemanha, Polônia e ao mais remoto da Rússia. No entanto eles preservaram os laços de sangue e mantiveram sua unicidade.

Enquanto isso a Palestina era a mesma Terra Prometida à espera do seu povo original. Ela pertencia aos judeus, e “não àquela minoria desprovida de história que chegou lá por acaso”. “Por isso, as guerras realizadas a partir de 1948 pelo povo errante para recuperar a posse de sua terra foram justas. A oposição da população local é que era criminosa”. (1)

Acontece que esta narrativa do povo judeu é um mito religioso, de uma religião que foi poderosa em muitos continentes antes mesmo do cristianismo ou do islamismo. Religiões que tinha a linearidade étnica como formulação divina, mas não como prática biológica, antropológica e até mesmo social. Como todas as religiões modernas tenderam para o denominador comum da humanidade, em muitos continentes, em muitos povos e muitas realidades sociais diferentes.

Os judeus modernos pertencem a origens sanguíneas diferentes, mesmo com práticas de consanguinidade em casamentos, seria impossível se manter a etnicidade semita em tão largo espaço do planeta e em tanto tempo. Os judeus da Europa central são europeus centrais, os ibéricos vieram com berberes e outros povos e assim por diante. Quando tentamos localizar as nossas origens familiares estamos falando de antepassados numa escala geométrica.

A verdade é que a humanidade que nos une cada vez mais será a nossa identidade, que continuará fluindo para outras formas de cultuar a identidade. Não sejamos infelizes por isso, mas ao contrário, muito mais ciente qual seja o nosso mundo.

(1) – trecho retirado do artigo “Como surgiu o povo Judeu” de Shlomo Sand, historiador da Universidade de Telavive.

De Nicodemos para Everardo Norões


Que café gostoso
que poema saboroso
sorvi as palavras
no calor da xícara
meu tetrabisavô
se arrepiou de saudade

salamaleikam! poeta!