por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 26 de junho de 2011

POR ALICE RUIZ



Se

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto

ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...


As falas do escritor Geraldo Ananias





O escritor Geraldo Ananias, nosso colaborador, é membro do ICC, desde janeiro/2009.
Autor dos livros  "Réstia do tempo", Foi Assim" e " Levado ao Vento", participa da coletânea do Azul Sonhado, e escreve seu próximo romance, cujo lançamento está previsto para  janeiro/2012.
Solicitei  permissão para postar o seu discurso de posse no ICC, por desejo de compartilhar com todos , as emoções sentidas e repassadas pelo nobre escritor.




Discurso de posse no ICC


Feliz do homem que encontrou a sabedoria,
daquele que adquiriu a inteligência, porque
mais vale esse lucro que o da prata, e o fru-
to que se obtém é melhor que o fino ouro.
(Provérbios 3-13/14)



Senhor Presidente do Instituto Cultural do Cariri,
escritor Manoel Patrício de Aquino, por intermédio de quem cumprimento os demais componentes da mesa e todos os ilustres membros deste Instituto;
Minhas senhoras, meus senhores;

Boa noite!



No livro “Foi Assim...”, no tópico intitulado “A maior decepção de minha vida”, relatei que, aos dez anos de idade, morava na zona rural desta cidade, ali pertinho, no sítio Almécegas, local onde até hoje reside minha mãe. Enfatizei que, naquele tempo, eu era praticamente analfabeto. Contei da decepção por não ter conseguido ler, a pedido de meu pai, um grande letreiro na parte superior da cabine de um caminhão misto que trafegava vagarosamente pelo local onde esperávamos um desses transportes, lá na beira da estrada de chão batido que passava pelo portão do Colégio Agrícola. Lembrei que meu pai, em decorrência desse fato, morrendo de pena de mim, com um olhar tristonho e a voz embargada, assim falara: “Coitado de meu filho, não sabe ler”!

Recordei ainda que, naquele longínquo instante, desapontado com o acontecido, havia assumido comigo mesmo o compromisso de transpor aquela barreira e, com a ajuda de Deus, não só aprenderia a ler, como escreveria coisas de algum interesse.

Registrei, também, que, logo depois daquela ocorrência, tivera um sonho curioso e bem simbólico: um dia seria convidado para falar num auditório, assim como este, completamente tomado por pessoas admiráveis e especiais. E, na frente de todos, como aqui estou, lia a seguinte frase: “O direito à liberdade não se mendiga, conquista-se!”.

Esse sonho está se realizando neste exato momento. Alfabetizei-me, formei-me, e Deus concedeu-me ainda a graça de fazer curso de pós-graduação, de escrever mais de um livro, um dos quais sobre reminiscências de minha família. E agora, diante dos senhores, neste acolhedor auditório, faço, emocionado, meu humilde discurso de posse para me tornar membro vitalício desta insigne Academia, que sempre abrigou intelectuais da mais destacável linhagem; homens brilhantes que fizeram desta Casa precioso polo irradiador de cultura, saber e sabedoria, além de marco valioso de conservação e difusão de nossas tradições, patrimônio inalienável de nossa terra, orgulho maior de nossa gente. Cumpriu-se, portanto, a assertiva de que “Os sonhos se tornam realidade; se não houvesse essa possibilidade, a natureza não nos instigaria a tê-los” (John Updike).

Tudo isso parecia que estava predeterminado. Aconteceu quando eu menos esperava e veio de forma natural, coisa do destino, desígnio do Criador, porque “Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio”.

Portanto, senhores membros deste Instituto, diletos conterrâneos, familiares, amigos e convidados, a data de hoje é determinante em minha vida. É um dia de reencontro com a terra onde comecei meus estudos e com as pessoas com quem mantive as primeiras e sólidas amizades. É a oportunidade que Deus oferece a um filho — que teve de deixar o aconchego da família para cumprir, em lugares distantes, tudo aquilo que o destino lhe havia reservado — para expressar sua gratidão a esta gente, a esta cidade que o acolhe com carinho.

E, como todos sabemos, o Crato, desde muito tempo, é considerado polo cultural da região e ostenta também o carinhoso título de “Princesinha do Cariri”. Tem o privilégio de repousar nas belíssimas encostas da chapada do Araripe, colinas verdes que abraçam e sombreiam muitas outras belas cidades coirmãs, formando parte do denominado Cariri Cearense, por que não dizer, oásis caririense?! É o caso de minha igualmente querida Santana do Cariri, suspirando bem do outro lado da serra, local em que nasci e vivi até os sete anos, quando me mudei para o sítio Almécegas, distrito do Crato, ali permanecendo até o início da fase adulta.

Todavia, mesmo diante de tamanho regozijo, gostaria de assinalar, com pureza de sentimento, que a maior de todas as vitórias por mim até hoje alcançada, meu maior troféu, foi ter conseguido suportar com dignidade as dificuldades e sofrimentos que eu e minha família enfrentamos nos anos mais difíceis da vida. Por esse motivo, as palavras da inesquecível Indira Gandhi ganham para mim, neste momento, especial significado e grandeza: “É um grande privilégio ter vivido uma vida difícil”.

Dito isso, queria falar um pouco sobre o modo simples e agradável como se deu meu novo encontro com o público leitor local e com esta agremiação de amigos das letras.

Quatro meses depois do primeiro lançamento do livro “Foi Assim...”, em Brasília, o estimado escritor e membro deste Instituto, Emerson Monteiro, meu querido amigo, contemporâneo da época do ginásio no Colégio Diocesano e dos quadros do Banco do Brasil, publicou, aqui no Crato, no Jornal do Cariri, de 2.3.2007, em sua coluna “é domingo”, generosa apreciação sobre meu trabalho literário. Com a arte e habilidade que lhe são peculiares, sua magia em escrever, conseguiu colocar na matéria tanto a essência de todo o livro, quanto alguns dados biográficos sobre minha pessoa e uma análise crítica altamente positiva. Não bastasse, ainda teve a bondade de fazer-me especial deferência, fechando seu conceituado espaço dominical, assim: “E vimos prestar tributo de reconhecimento a Geraldo Ananias Pinheiro, de quem aguardamos novas produções de sua lavra espontânea e proveitosa”.

O nobre colega Emerson Monteiro não pode imaginar o quanto repercutiu favoravelmente seu texto. A força de suas palavras tocou os corações de muitos leitores. Era o impulso que me faltava, de vez que contribuiu sobremaneira para a tão almejada reaproximação com este povo querido, de quem eu era quase desconhecido por viver há muitos anos fora. Ademais, serviu-me de incentivo para novas investidas literárias, haja vista que no início do ano seguinte àquele, isto é, no ano passado, eu já estava com novo livro na praça e, dessa feita, com a folha de apresentação da lavra desse magnífico amigo, escritor e jornalista de primeira linha; figura humana das mais admiráveis da região, riqueza intelectual do Cariri.

Em março do ano passado, tive então o privilégio de lançar esse segundo livro, “Réstias do Tempo”, aqui no Crato. A escolha do local do evento não poderia ter sido melhor: exatamente este Instituto Cultural.

Foi uma noite inesquecível. Encontrei, a exemplo de hoje, este recinto repleto de familiares, colegas, amigos, conterrâneos. Até então, nunca passara por momentos tão significativos na vida. Sinceramente, não esperava jamais que fosse acolhido com tanta bondade e carinho, fato somente explicável pela benevolência dessa gente afável e “feita de madeira de lei”.

Naquela ocasião, encantado com o evento, dizia que estava realizando um grande sonho, o de lançar o segundo livro nesta cidade inesquecível, local onde eu forjara importantes traços de minha personalidade; dera os primeiros passos na busca da educação e tivera o primeiro contato com o mundo fascinante da literatura. Destacava, igualmente, que eu estivera, cerca de quarenta anos antes daquele dia, em um dos bancos do Colégio Diocesano, ouvindo, pela primeira vez, o querido professor Hermógenes Teixeira de Holanda, presente ao evento, falar de literatura, nos apresentando os poemas “Confidência do itabirano” e “Sentimental” do nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade.

Entre tantas outras relembranças trazidas a lume naquele dia, ressaltei os ensinamentos recebidos dos queridos e saudosos mestres do Diocesano, tais como José Nilo, José do Vale, Terezinha Pinheiro, Monsenhor Montenegro, Padre David, Padre Gonçalo, Alzir, Hermógenes e tantos outros. E terminei minhas palavras recordando de um especial momento de minha vida, em que, pela primeira vez, no final do ano de 1969, obtinha um diploma: o da conclusão do Curso Ginasial, no saudoso educandário Colégio Diocesano do Crato. E, na condição de orador da turma, ao terminar minhas saudações, recebia caloroso cumprimento de nosso então Paraninfo, o saudoso e inesquecível professor Pedro Felício Cavalcanti.

E foi nesse dia do lançamento do “Réstias do Tempo” aqui, em março do ano passado, que, com grata surpresa, me foi feito pelo nobre presidente Manoel Patrício de Aquino, companheiro dos quadros do Banco do Brasil e intelectual de primeira grandeza, o honroso convite para fazer parte deste digno sodalício. Aceitei de pronto o distinto chamamento e disse-lhe o quanto ficara gratificado e feliz por tamanha distinção.

Já no segundo semestre desse mesmo ano, isto é, em julho de 2008, estava em minha residência, em Brasília, lendo, pela segunda vez, o belíssimo livro “Patuá de Recordações”, que, fazia pouco tempo, havia ganhado de lembrança de uma tia. Foi quando, por telefone, soube que assumiria o honroso posto de segundo ocupante da Cadeira nº. 30, Secção Letras, criada no ano de 2007, como homenagem especial pela passagem do centenário de nascimento do insigne escritor Tomé Cabral Santos, coincidentemente, autor do livro que eu estava lendo. Esse mestre das letras, devido à homenagem póstuma mencionada, ficara, portanto, como sendo o Patrono dessa Cadeira, vaga essa logo preenchida pelo sempre lembrado José Sarto Maria Cabral, na condição de primeiro ocupante. Infelizmente, falecido pouco tempo depois de sua posse.

E agora, de volta, repito, venho para cumprir missão das mais honrosas e especiais, que é a de assumir, na condição de segundo ocupante, a Cadeira de nº. 30, da Secção de Letras, tornando-me, a partir de hoje, membro vitalício desta notável Academia.

Lembro que há nesta Casa outra linha sucessória, plenamente em vigor e que passa também pelo renomado escritor Tomé Cabral, a advinda da Cadeira nº. 10, Secção de Letras, que teve como patrono o Padre Emílio Cabral, tio do Tomé; este como sucessor daquele e, atualmente, na condição de segundo ocupante, o genro do Tomé, o brilhante poeta José Huberto Tavares de Oliveira.

Trago agora a público lembranças dos anteriores ocupantes da mencionada Cadeira 30, Secção de Letras, os intelectuais de saudosa memória José Sarto Maria Cabral e Tomé Cabral Santos.

Nada melhor do que começar essa agradável tarefa fazendo uma citação de Benjamim Franklin, em um dos seus mais belos pensamentos: “Se você não quer ser esquecido quando morrer, escreva coisas que vale a pena ler ou faça coisas que vale a pena escrever”. José Sarto e Tomé Cabral fizeram isso, ou melhor, muito mais que isso. Além de intelectuais com trabalhos de inesquecíveis legados, foram, antes de tudo, dóceis e amigos, excepcionais pais de família, pessoas sempre voltadas para o bem e que jamais tiraram da mente palavras que não estivessem no coração. Eram “homens de boas idéias e de bons sentimentos”, exemplos de vida.

E não me paira dúvida de que eles estejam neste momento desfrutando das delícias do céu, juntamente com tantos outros conterrâneos de boas lembranças. Dificuldade alguma eles devem ter passado para entrar na Casa de Deus. E, fazendo minhas as palavras do inigualável Rubem Braga, com as devidas adaptações, diria que “Sempre tive confiança de que eles dois não seriam maltratados na porta do céu, e mesmo que São Pedro tivesse ordem para não deixá-los entrar, ficaria indeciso quando eles lhe dissessem em voz baixa: Nós somos lá do Crato...”

José Sarto Maria Cabral nasceu no Crato, em 16 de novembro de 1929, no seio de tradicional família. Faleceu em 1º de outubro de 2007. Era filho de José Leite Álvares Cabral e Pia Esmeraldo Álvares Cabral. Deixou esposa e quatro filhos.

Fez o primário aqui no Crato, no Instituto São Luiz de Gonzaga e no Colégio Santa Inês, tendo concluído essa fase em 1941. Cursou o secundário na Escola Apostólica de Baturité, Congregação dos Padres Jesuítas. Formou-se em Desenhista Arquitetônico pelo Instituto Universal Brasileiro, em 1956, na cidade de São Paulo.

Durante quase seis décadas, exerceu a profissão com muito zelo e competência, tendo se distinguido, em toda a região, pelos incontáveis trabalhos de destacável estilo, tais como: o projeto de construção deste próprio Instituto, do Colégio Municipal Pedro Felício Cavalcanti, do Colégio Madre Ana Couto, da Rádio Educadora do Cariri, da Faculdade de Direito do Crato e de tantos outros.

Foi ainda o responsável por grandes projetos de reforma em importantes obras arquitetônicas desta cidade. Cito algumas: Faculdade de Filosofia do Crato, Universidade Regional do Cariri — URCA, Hospital Manoel de Abreu, Hospital São Francisco, Sociedade de Cultura Artística do Crato e Teatro Rachel de Queiroz.

Lecionou “Desenho” na Escola Técnica de Comércio, foi tesoureiro do Colégio Diocesano, ambos nesta cidade; funcionário da Prefeitura Municipal local, no cargo de projetista arquitetônico, entre outras atividades desempenhadas com brilhantismo.

Teve vida social intensa nesta cidade: membro do Rotary Clube, do Coral da SCAC, em que se destacou como solista; Diretor-Tesoureiro da Sociedade Cultural e Artística. Era homem dado à caridade — amava, como ninguém, os pobres e os doentes. Por isso sempre esteve ligado a entidades de necessitados. Foi Diretor Social da Sociedade Beneficente do Hospital São Francisco de Assis.

Homem de fé, coração valente, exemplo a ser seguido. Nome sempre vivo em nossas mentes e corações.

Tomé Cabral dos Santos, por sua vez, por ter sido o primeiro ocupante da Cadeira nº. 10 e também devido à homenagem especial que recebera, Patrono da de nº. 30, ambas da Secção de Letras, deve ter sido biografado neste recinto pelo menos duas vezes, quando da solenidade de posse dos respectivos substitutos. Além disso, há também primorosa publicação comemorativa ao centenário de seu nascimento, intitulada “Tomé Cabral, um Intelectual Obstinado”, obra da proveitosa lavra de seu genro, o poeta e membro desta Academia José Huberto Tavares de Oliveira, substituto do Tomé na Cadeira nº. 10.

Nesse opúsculo, encontramos interessante e completa biografia do Tomé. Há numerosas fotos ilustrativas sobre os mais variados momentos da vida desse grande escritor. E, não bastasse, ainda traz belíssimo e emocionante prefácio, da lavra do ilustre Presidente Manoel Patrício de Aquino, amigo que o acompanhou de perto, admirador incondicional desse ícone da literatura regional.

Ressalto que a inesquecível escritora cearense Rachel de Queiroz, ao prefaciar o livro “Patuá de Recordações” do Tomé, registrou que ele era um homem de “fogo na alma e sangue bom no coração.”

Assim sendo, o que teria eu ainda de falar que valesse a pena ser registrado agora sobre, no dizer do intelectual Manoel Patrício, “‘Seu’ Tomé — pessoa de cativante simplicidade, homem atencioso, afável, autêntico e de grande estatura física e moral”? Nada, acredito. Nada a acrescentar, porém muito a agradecer, senão vejamos.

Em seu extraordinário livro de memória, intitulado “Patuá de Recordações” (composto e impresso em 1978, na oficina da Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais S/A”, São Paulo-SP), nas páginas de 78 a 80, Tomé Cabral, ao relatar sua melancólica experiência nos primeiros dias de banco escolar, o que ocorreu aqui no Crato, em 1914, no “Colégio de Zé Mendes”, apontou o seu Anjo da Guarda. Vale a pena ler as partes principais do que ele escreveu a respeito disso:



Nem mesmo sei como consegui chegar à porta da escola, no segundo dia de aula. Mais sei dar conta do que aconteceu logo depois: a válvula dos três “or” — horror, pavor, terror — abriu-se de uma vez e destampou-se em berreiro que há muito tempo não se manifestava com tanta sonoridade e amplitude de volume. Tanto que conseguira trazer, lá de dentro, capengante e aflito, o segundo manda-chuva da escola — o professor Clicério Benício Pinheiro.

Levou-me até sua mesa, sentou-me na perna e foi aos poucos catando, entre um soluço e outro, a razão daquele destempero. A carta de a-b-c vinha molhada de lágrimas desde o dia anterior e em minha exposição de motivos ficou mais encharcada ainda: as lágrimas que caíam em minha mão iam escorregando pelo indicador até a carreira do c-a-cá.

Parece mesmo coisa indiscutível aquele boato sobre a proteção do anjo-da-guarda aos inocentes e desamparados, pois eu estava nesse rol e naquela hora de suprema provação seu Zé Mendes não comparecera à escola. Graças a seu Clicério fui aos poucos fechando a torneira do desespero e quando me viu liberto das contrações que os soluços costumam provocar após um choro descomedido, mandou-me sentar perto de sua mesa e acalmou-me, utilizando o processo mais aconselhado para esses casos, que é o maior uso e abuso dos diminutivos:
— Está tudinho muito bonzinho. Basta por hoje esta primeira carreirinha. Fique aí quietinho e quando souber tudo direitinho me avise.

Seu Clicério devia ter uns trinta e cinco anos de idade. Fora acometido, quando jovem, de grave doença que lhe atacara os nervos... Lecionara por muito tempo em colégios e escolas particulares do Crato, em outras cidades da zona e até no campo, às vezes gratuitamente, deixando, por onde passava, um círculo de simpatia e de reconhecimento. Aliava ainda às atividades de mestre as de agricultor, em seu pequeno sítio, nas Almécegas. (Trinta e cinco anos depois encontrei seu nome na relação dos clientes em perspectiva, no banco onde eu ocupava as funções de gerente. Tencionava modesto financiamento de entre-safra. Atendi-o pessoalmente. E, se me fosse dado fazer cortesia com chapéu alheio, teria dispensado todo o formalismo burocrático e até os juros). Hoje, uma das ruas do Crato traz seu nome. Não sei onde fica. Mas a escolha já representa o reconhecimento de seus contemporâneos e um exemplo à posteridade.

O professor Clicério Benício Pinheiro, a quem o Tomé se referiu com tanto carinho e gratidão em seu livro, era meu avô, com quem ainda tive alegria de conviver algum tempo, ali mesmo no sítio Almécegas. Eu, criança. Ele, já bem velhinho e caducando. Mesmo assim, lembro-me, como se fosse hoje, de que ele aceitava tudo passivamente, menos o fato de que não pudesse mais ensinar. Por isso, mesmo diante das limitações impostas pela doença e pela idade avançada queria porque queria continuar ensinando. Lecionar para ele era hábito impregnado no sangue e na alma. Assim, permito-me registrar uma pequena passagem em que retratei algo sobre ele no livro “Réstias do Tempo” (Brasília: Thesaurus, 2008), página 18, verbis:

Meu avô era bem idoso, sem forças, caducando. Muitas vezes sentado em sua rede, pedia para eu me aproximar e, sem nunca perder o hábito de querer ensinar, fazia-me a seguinte pergunta:
— Meu filho, qual é a diferença entre se dizer: “Eu vou para o Crato” e “Eu vou ao Crato?”
— “Eu vou para o Crato” significa que vou para ficar. “Eu vou ao Crato” significa “Eu vou, mas volto logo”, respondia-lhe.
Ele ficava muito contente e sempre dizia que eu era inteligente.
Tinha muito dó de ver que ele estava caducando. Mesmo combalido, e um pouco surdo, sempre que me via fazia a mesma pergunta duas a três vezes no mesmo dia. E, como eu tinha a resposta decorada, respondia-lhe na bucha. Ele achava que eu era muito inteligente. O “bichinho”!
Lembro-me que um dia ele caiu e imediatamente gritou por socorro:
— Acuda-me, eu caí e perdi a fala!
Como perdera a fala se estava gritando e pedindo ajuda?


Já com o “Seu” Tomé, lamentavelmente, não convivi. Lembro-me apenas de que, certa vez, quando eu era um rapazola e ainda morava aqui no Crato, o vi, por mais de uma vez, caminhando pelas ruas desta cidade. Todavia, somente quando li recentemente “O Patuá de Recordações” e o “Tomé Cabral, um Intelectual Obstinado” foi que, ao ver sua foto, me lembrei dele, do jeitinho de ele andar. Passei a conhecê-lo um pouco e a admirá-lo muito. Identifiquei-me, sobremaneira, com o estilo leve, criativo e engraçado de escrever. Como exemplo disso, pincelei estas frases de seu “Patuá de Recordações”: “O fio do telegrama, vindo de bem longe, corria pelo beco, cortava a rua e continuava em sua fuga para mais longe ainda”; “Cabelos encaracolados, tendentes a pixaim”; “Abrir-lhe a alma com a chave da modéstia”. Enfim, escreveu coisas simples e belas. É digno, pois, de ser relembrado por séculos sem fim até a última geração.

Sinto que me estendi um pouco na conversa. Chegou a hora de despedir-me. E assim farei com o coração exultado de júbilo e gratidão por ter vivenciado momento tão especial, somente possível devido à bondade deste povo, que carrega no peito, não só a fé, a esperança e o temor a Deus, mas também fortes sentimentos de amor, bondade e caridade, traços peculiares de todos os filhos da “Terra de Alencar”.
Encerrando, gostaria de agradecer ao bom Deus por ter-me permitido momentos tão sublimes como este; ao nobre colega Manoel Patrício pelas benevolentes palavras de saudação; aos companheiros, sócio-efetivos deste sodalício, pela confiança em mim depositada; aos amigos e familiares que vieram de Brasília, São Paulo, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Santana do Cariri, Altaneira e de outras cidades especialmente para este evento; e a esta platéia atenciosa pelo gentil comparecimento e paciência. Como derradeiras palavras, gostaria de recitar o seguinte pensamento:

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós!” (Antoine de Saint-Exupéry).


Muito obrigado!

Crato-CE, 9.1.2009.
Geraldo Ananias


Domingo - Por José de Arimatéa dos Santos

Domingo frio
Preguiça de levantar,
São nesses momentos
Que penso como seria bom
Se quando fizesse frio fosse sempre feriado
Ah! É difícil não pensar sempre em não fazer nada
Ou como diz o poeta
Um dia bom para se ler um livro
Já que é um dia frio
E domingo!
Foto: José de Arimatéa dos Santos

"Eu e o Rio "- por socorro moreira




Eu E O Rio
Luiz Antonio


Música consagrada na interpretação de Miltinho. Linda melodia. Letra fácil de cantar.
- Uma das minhas preferidas !


Rio, caminho que anda,
e vai resmungando, talvez, uma dor.
Ah! quanta pedra levaste,
quanta pedra deixaste, sem vida e amor.

Quanta coisa se foi nas enchentes das nossas emoções?
O convívio com tanta gente que amamos; casas, cidades, e até coisinhas pessoais. O desprendimento é deveras necessário. Ele nos liberta da dor e nos entrega sempre mais um dia de vida para ser vivido, no esplendor.

Vens, lá do alto da serra,
o ventre da terra, rasgando sem dó.
Eu também venho do amor,
com o peito rasgado de dor e tão só;

A gente vive com um amor no coração. Às vezes até do nosso lado. Amor que nos cura da solidão é abençoado. Mas, quantos não gozam o privilégio de um amor definido e definitivo?
Quando o amor se dispersa, o peito fica mesmo rasgado de dor, ou no mínimo, solitário. Hoje assisti missa pela TV. Coisa rara. Gostei, exceto da música gospel. Refleti sobre a palavra do evangelho. Amor ágape. O amor que nos valerá nos confins da eternidade. Os amores passageiros são terráqueos... Mas o prazer conquistado com esta vivência torna a aprendizagem humana, sublime. 

Não viste a flor se curvar,
teu corpo beijar e ficar lá "prá" traz.
Tens a mania doente, de andar só "prá" frente,
não voltas jamais

Muitas vezes deixamos a brisa do carinho passar, sem um mínimo de atenção. Perdemos!
Ficar mais sensível ao carinho do vento é palavra de ordem para alimentar a carência do corpo e da alma.Pessoas passam, chegam, se despedem...Vamos lembrar o perfume delas?

Rio, caminho que anda,
o mar te espera, não corras assim
eu sou o mar, que espero,
alguém, que não corre "prá" mim...

Esperar quem não corre ao nosso encontro? Desperdício total...
Melhor é abrir os braços e todos os sentidos para os que estão próximos, e nos dirigem um pedido no olhar, no sorriso...
-Para tais, a nossa devoção!

Receita de pamonha de milho verde



Ingredientes:

• 12 espigas médias de milho verde bem novo
• 4 colheres (sopa) de açúcar
• ½ lata de leite
• 1 lata de leite condensado
. 1 pires de queijo ralado
. 1 colher de manteiga
. 1 pitada de sal

Preparo da Receita

Corte a base das espigas e descasque o milho. Limpe e lave as espigas e as folhas. Rale as espigas bem rente aos sabugos. Bata o milho ralado no liqüidificador com o Leite Moça, o açúcar e o leite, a manteiga, o queijo e o sal.. Reserve. Afervente rapidamente as folhas do milho em uma panela funda para amolecerem. Separe as menores e desfie formando tiras estreitas. Segure a folha no sentido do comprimento e faça duas dobras sobrepostas. Dobre ao meio, unindo as extremidades abertas. Segure o pacote pela extremidade e encha-o com o creme de milho, deixando bastante espaço vazio na borda. Feche o pacote, amarrando com a tira reservada. Cozinhe em água fervente, até que a palha amarele e as pamonhas fiquem firmes. Retire da água e escorra. Sirva quente ou fria.
Dica para esta receita- Para fazer os pacotes é importante que as espigas estejam intactas, totalmente revestidas pela palha.
- Se preferir, ao invés de ralar as espigas, corte o milho rente ao sabugo e prossiga com a receita.
- Para um preparo mais simples, despeje a pamonha em um recipiente refratário médio e asse em banho-maria em forno médio (180ºC), preaquecido, por cerca de 1 hora ou até dourar.
- Os ingredientes da pamonha variam conforme a região do país. Pode-se, por exemplo, acrescentar 1 colher (chá) de canela em pó ao creme da pamonha; ou substituir o leite por leite de coco; ou, ainda, acrescentar coco fresco ralado.

Mulher Demais- por Martha Medeiros


Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: 'olha,; não dá mais'. Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e; terminar tudo decentemente e ele respondeu: mas agora eu to
comendo um lanche com amigos'. Enfim, fiquei pra morrer; algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher; melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais; equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim? Foi; assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados,
calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não; lembrando que eu existia.. Aí; achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu
precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito! Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de
leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina; com ascendente em áries, lua em gêmeos, filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi: tinha; que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.. Foi; então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha
companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân,; tchân: nem sinal de vida.. Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a; fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra; Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares
de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei; amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas; feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele.. Até que algo sensacional aconteceu.. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher DEMAIS para ele. Ele quem mesmo???

Martha Medeiros

Madrugando- socorro moreira



Tempos que a chuva não vinha pra ficar quietinha. Escureceu o céu, nublou o pensamento , pediu pão com café e um bom papo. Mas a chuva nos deixa introspectivos.Fico sentindo o friozinho que saiu da barriga , e se espalhou pelos braços.Gosto da rua molhada e solitária . É como o recreio da alma, que passeia livre , e se embriaga
Acabei de fazer uma lista dos mestres do passado. Foi como se estivesse me matriculando no passado, mas podendo escolher a aula. Quero reprise das aulas de Dr. Zé Newton; as histórias das viagens de Dona Lurdinha Esmeraldo;o conhecimento científico de Dona Ivone;as aulas expressivas de Alderico, e aquele desenho leve, perfeito de Dr.Zé Nilo.
Na vitrola do meu pai , umas valsas, em tom baixinho. Um bilhete amoroso , guardado nas caixinhas das saudades, e aquela pétala de flor, que eu não quis voando, mas dentro de mim.
Vou calçar meu par de meias furadas , me enrolar no lençol de algodãozinho estampado, e ler , pelo menos uma página, de um livro de Jorge Amado.

Lacuna - por Vera Barbosa







passos escassos,


espaços dentro do abraço;


mas não me afasto: caminho descalça


no seu coração de asfalto.






tiro o casaco


e sinto o vento


que bate de assalto:


o peito desavisado.






se te caço, percalços;


se não te laço, passo.




e não é o sobressalto


que me quebra o salto do sapato alto...






é o oco do eco


que não ouço:


o verbo mudo,


e você me escapa.


Dentro de mim - por Vera Barbosa



Limpando o céu
Depois da chuva
Clareando a estrada
Recortando a dor
Aparando arestas
Descobrindo frestas
Desviando galhos
Refazendo a trilha
Percorrendo atalhos
Pra que chegue o amor

Eu, tu, eles - José do Vale Pinheiro Feitosa




As cenas iniciais deste filme foram tomadas no que era um distrito rural de Juazeiro da Bahia. O nome do distrito é Salitre e num raio de alguns quilômetros se tem de terra irrigada produtora de frutas e cana até o semi-árido como tais cenas vistas neste vídeo. Foi na foz do rio Salitre nos idos do século XVII que uma excursão da família D´Ávila, da Casa da Torre, dizimou quase quinhentos índios aldeados.

São cenas do filme Eu, Tu, Eles. Uma deliciosa comédia com um quadrado amoroso representado pelo melhor que grandes atores podem encenar. A história se baseou em retalhos de fatos reais da vida de uma cearense Maria Marlene Silva Sabóia. Falei de comédia, mas o drama permeia toda a trama: a pobreza, o trabalho duro e a divisão do pouco que se há para dividir.

O mais delicioso do filme é sua trilha sonora. Especialmente este “Esperando na Janela” que tinha por conta de ter sido composta por Targino Gondim, mas que na verdade surge com mais três parceiros, incluindo Gilberto Gil.

Esperando na Janela é uma lição de esperança. O estilo não morreu. O forró ainda tem respiração para muito mais história. Quando seu Luiz começou, a letra forró e muitas notas já eram de indivíduos urbanos e letrados. Zé Dantas e Humberto Teixeira, um era médico e outro advogado e exerciam suas profissões no Rio de Janeiro.

Portanto o nosso forró das rádios, dos discos de cera e dos long play já eram de pessoas urbanizadas e vivendo a vida com o que a cidade produzia. Poderiam ter a nostalgia da vida rural, até mesmo como um brasileiro bem sucedido ter uma fazenda, mas em absoluto viviam da roça e da criação.

O que está acontecendo em Fortaleza e no resto do nordeste com o forró é uma decadência maior. Não é que tudo se explique pelo componente urbano dos personagens. O buraco é um pouco mais profundo. É a nova geração consumista, alçada de uma periferia cruenta de grandes cidades para um sucesso de minutos, com muita grana, uso e fruto desenfreado, exibição de luxo e grosseria. É um forró rude, casca grossa, do pior que a volúpia do fugaz tem para a cultura.

Não é diferente em angústia do pior que vida tem nas grandes cidades brasileiras. Por isso não é diferente de um funk (não no sentido musical) em seu desespero de se humilhar para esconder a humilhação de todos os dias: nos trens de periferia, nos baixos salários, contas a pagar e um desejo de consumo sem meios para consegui-lo.

Em ambos as mulheres se deliciam como objetos de machos exibicionistas. Valentões cheirados e com garrafas das bebidas mais baratas em goladas pelo gargalo. Na periferia de Fortaleza existe um negócio chamado Lual, verdadeira festa rave, só que com forró eletrônico numa babel de centenas de bolhas de som, formadas por paredões de caixas, tocando coisas diferentes, mas todas iguais na mesmice tediosa que a surdez de decibéis parece revelar.

Isso cansa. A sociedade urbana vai mudar, mas é neste mesmo arrasto que se mata por um par de tênis ou por um celular. Que o crack forma zumbis nas cidades pequenas. Que a municipalidade parece pequena para tantos problemas. A luta pela crítica ao forró de plástico passa por muitas críticas ao próprio modelo de acumular e consumir na modernidade ou na pós-modernidade vá lá ao que isso seja.

Espera ...- por Socorro Moreira



estou catando o feijão
e fugindo do fogão.
o amor devoto pelas panelas...

me dizem elas :
preferimos você na janela
de olhos perdidos
querendo um caminho.

respondo:
aqui é porto de poesia
os navios atracam e descarregam
rimas sentidas

às vezes leio e bebo
outras vezes leio de soslaio
assustada com o meu interior declarado

nos versos
amarro a fita do verbo
e deixo o coração solto
no encontro de olhares

- espelhos fatais !

O cárcere de Bárbara de Alencar- por José Carlos Brandão









O cárcere de Bárbara de Alencar


Eu vi o cárcere de Bárbara de Alencar.
No subsolo, a pequena cela de tortura:
Atrás das grades, pedras, paredes de pedras,
A cela onde um homem não cabe em pé.


Bárbara recebia uma só refeição por dia,
Mas era muito: alimentava-se de pedras
E de orgulho ferido e erguido como bandeira.
As pedras eram cabras mansas para Bárbara


Ordenhar: Bárbara tirava leite das pedras.
“Quem me pedirá contas de meus atos?
Meu marido, meus filhos, o meu Ceará?


Quem combate o bom combate não sucumbe.
Eu colho na derrota toda a minha vitória.”
Ouvi a voz de Bárbara, viva, nas pedras.


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 por José Carlos Brandão

Gilberto Gil



Gilberto Passos Gil Moreira (Salvador, 26 de junho de 1942) é um músico e político brasileiro.

Em 2009 obteve a cidadania italiana, por ser casado com Flora Giordano, neta de italianos

Carlos Esmeraldo demonstrando que o amor não envolve julgamento ou avaliação do outro. O amor, segundo Carlos, é a contemplação da beleza como valor em si. É o máximo que um espiritualista pode provar sobre a essência de algo. O amor ultrapassa as medidas das normas sociais, dos valores da moda e contempla muito além do horizonte do árduo labor de extrair conteúdo do variado mundo.

(José do Vale Feitosa)



Paráfrases de Ungaretti

Quiete

L’uva è matura, il campo arato.

Si stacca il monte dalle nuvole.

Sui polverosi specchi dell’estate
Caduta è l’ombra

Tra le dita incerte
Il loro lume è chiaro,
E lontano.

Colle rondini fugge
L’ultimo strazio.
   
Giuseppe Ungaretti

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QUIETUDE

O café preto e vermelho salta
no terreiro ao sol.

Os coqueiros brincam
com as nuvens no céu.

A água gorgoleja no córrego
entre os inhames.

A maritaca grita
dependurada nas telhas claras.

A paz é uma moringa d’água
à sombra da figueira.

José Carlos Brandão

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Inquietude

A uva apodrece, a terra quebra-se.
o monte cobre-se de urubus.

Cai a sombra do inverno
sobre as coisas.

Entre os meus dedos frios
a treva pesa.

As andorinhas morrem
com o meu desespero.

Gregório Vaz

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Não é a primeira vez que tento fazer uma paráfrase deste poema de Ungaretti, que admiro muito. Tento traduzir a sensação que Ungaretti cria no seu poema. Por último perpetrei uma heresia (Todos matam quem mais amam, disse Wilde), e assassinei o poema – procurei aproximar-me dele formalmente, e, para disfarçar, afastar-me quanto às ideias. Atribuí esse assassinato a meu heterônimo Gregório Vaz. Mas o resultado foi que esse crime de lesa arte aproxima-se mais do original e seu autor... Sim, já pensei muito em aposentar Gregório Vaz. Parece-me impossível.

... Quem não quiser me acompanhar nessas pensamentações, afinal inúteis, fique com os poemas em si. É possível que goste.

José Carlos Brandão

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