por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

PARA VOVÔ ZEZINHO (EM MEMÓRIA)

Vovô Zezinho com 94 anos...  um sábio clarinetista que se foi sorrindo


CANÇÃO DE NINAR GENTE GRANDE
(Letra e Música: Ulisses Germano)

Logo assim que a gente nasce
Já começa a envelhecer
Pra resolver este impasse
O bom mesmo é esquecer
Vivendo cada momento
Sempre atento ao pensamento
Regente do proceder

O presente é um presente
Que a existência presenteia
Tenha sempre isto em mente
Meia volta volta e meia
O eterno não tem hora
A mentira não vigora
E a razão não se chateia

Se a mentira é bem bonita
Prefiro uma verdade feia
Tanto faz ser seda ou chita
Sendo assim quero que leia:
A casca da aparência
É que cobre a indecência
Do importar com a vida alheia

Crato-CE.

A Chuva e a Chapada. Por Liduina Belchior.



A noite toda nos braços, entre aconchego, murmúrios, risos e beijos... A alma e o espírito elevaram-se ao céu, ao infinito, no maior regozijo humano, que os seres podem experimentar. Foi materializado todo o potencial de uma paixão, com a chegada da chuva mansinha, fininha e depois quase torrencial. A Chapada do Araripe vestiu-se de branco gelo e transmitiu aos nossos olhos, a bela visão de deusa da natureza. Esta então, sorria feliz, com a chegada de uma inesperada e bem vinda chuva de outubro. Chuva fora de época?...Palmas para a meteorologia! Pois esta água vinda do céu, abraçou nossa madrugada, e esfriou nossa manhã de quarta-feira, melhorando o tórrido calor que assolava o nosso Cariri. Sem falar na melodia aprazível, causada aos ouvidos dos amantes-enamorados, que dormiram, sonharam e acordaram com a doce sinfonia do saltitar dessa água, no solo que rodeava o imenso casarão com vista para a simpática e receptiva "Montanha"do Araripe.

Tudo que é sólido continua se desmanchando no ar - José do Vale Pinheiro Feitosa

Se o universo é um movimento de transformação contínua (embora os profetas do princípio e do fim sejam fortes até na física das partículas) a vida humana, do ponto de vista dela que é o trabalho, é um processo neste movimento. Existe um amplo campo de transformações, seja ela dialógica ou dialética, seja ela ao acaso ou por necessidade, qual uma modernidade consumista ou uma pós-modernidade que a deseja sem mais história, a transformação continua no horizonte dos projetos prontos.

A tônica do movimento, até que alguém prove ao contrário, é aquele em que tudo que é sólido se desmancha no ar. Isso vem a respeito das hegemonias. A natureza intrínseca do movimento do capitalismo é a concentração de poder primeiro em classes e depois em corporações. Quando em classes havia uma correspondência social, antropológica e cultural mais palpável, com a corporação isso se perde, pois introduz a tecnoburocracia e os fundos sociais a maior parte formado entre trabalhadores.

De qualquer modo o processo capitalista necessita essencialmente do Estado como moderador da guerra de todos contra todos e ao necessitar deste, passa a ser ampliado pelo processo mais geral de quem não tem fundo social e nem por vezes emprego (veja não falo em trabalho este continua a ser a essência da vida, mas do emprego que é a capacidade de alguém pagar pelo seu trabalho de modo regular). O Estado nas sociedades urbanas mesmo privilegiando classes e corporações, continua a ser a instituição onde a política interfere.

Por isso mesmo o Estado que é a necessidade moderadora, é para a tecnoburocracia e para os grandes detentores de capitais das corporações ao mesmo tempo uma solução e um enorme problema. Isso especialmente após a segunda guerra mundial com os Estados Socialistas e a Social Democracia. O Estado de algum modo ao redistribuir riquezas, reduz a ferocidade do animal acumulativo das corporações.

O que aconteceu nos últimos 30 a 40 anos? Junto com a emergência dos direitos sociais e humanos, as corporações sem possibilidades de continuar no ritmo acumulativo de suas naturezas passaram a fazer um trabalho ideológico sistemático em relação ao poder redistributivo do próprio Estado. O autoritarismo foi uma das mais bem urdidas campanhas a tomar espaço político na sociedade de modo em geral. Assistindo à corrupção dos agentes, ao observar a violência policial, a perda de empregos, os desmandos de autoridades do Estado, ficou fácil para a sociedade ser levada ao conceito do Estado Mínimo do neoliberalismo a partir dos anos 80.

O Estado Mínimo passou a ser a “flexibilização” desejada pelas corporações e com excelentes estratégias da tecnoburocracia a acumulação disparou até o limite em que levou à fragilidade não apenas alguma corporação, mas a todo o sistema capitalista. Recente estudo do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, usando modelos matemáticos fez um painel do quem é quem nas corporações atuais em todo o mundo.

O mundo possui hoje 43.060 corporações transnacionais, mas apenas 1.318 destas corporações formam o núcleo central desta rede transnacional. Estas empresas possuem em média 20 conexões com outras corporações. Aí o estudo revelou algo mais surpreendente, embora este núcleo represente apenas 20% das receitas, ele controla as principais ações do tipo “blue chips” nos mercados de ações do mundo todo. Então a realidade nua e crua: este núcleo controla 60% de todas as vendas realizadas no mundo.

Prosseguindo o estudo chegou-se ao supremo da concentração: 147 transnacionais controlam 40% daquele núcleo central. Ora isso é politicamente muito pior do que apenas dizer que 1% das pessoas controla mais riquezas do que 50% das demais pessoas. Isso significa que com a inteligência da tecnoburocracia as riquezas do mundo são controladas por alguns agendes que combinam ações entre si. Então adeus democracia, estamos diante da pior das ditaduras. E o pior uma ditadura levando a humanidade ao desastre como já se verifica.

As empresas controlando o poder político é que nos apresenta este quadro. Mas sigamos que isso seja uma hipótese, é difícil imaginar uma direção política única quando existem 147 transnacionais disputando posições. Mas aí teremos que considerar duas evidências: um sistema desses tende à instabilidade, pois a acumulação de riquezas não é infinita e os recursos naturais são o seu limite e em segundo lugar, este núcleo efetivamente mantém o interesse comum de não mudar a própria rede.

Como as riquezas reais do mundo são aquelas que fazem o modelo atual de civilização consumista é aí que se entendem todas as “primaveras” do norte da África e todas rebeliões nas ruas de cidades em diversos continentes. Mesmo a evidente ação política de Estados nacionais com interesse no Petróleo como no Iraque e na Líbia, fica claro que o “custo” Iraque e Líbia irá aumentar pelo desejo de maior consumo daquele povo. Aí residirá a segunda onda de contradições no território destes países.

Mas afinal serão ondas nacionais e continentais, pois o centro mesmo da contradição é modelo “concentracionista” a que chegou o capitalismo global.




Indagações sobre a liberdade de ser poeta


O poeta é livre, onde vive a liberdade do poeta?
No pensamento aberto, planta-se a liberdade, criando toda sua arte.
Que leva a uma ação
Onde nasce uma canção
No pulsar do seu coração
Pelo afago das mãos
Por quais caminhos passa a liberdade do poeta?
Por todos os caminhos desde:
Um olhar sombrio
Naquele imenso vazio
Em um amor que se tornou tão frio
Dentro de um triste assobio
Como fazer esta liberdade parar?
Quiçá ele vá encontrar, nas profundezas do mar
Quando um pássaro se põe a cantar
Se houver outra forma de amar
Em sonhos que não possa realizar
Entretanto, ele (o poeta), sempre está pronto para outra liberdade alcançar.
Rosemary Borges Xavier

Rua de Pobre -(Vale a pena ler de novo!)- Marilita Pozzoli


Rua de pobre não carece asfalto:
pobre não tem automóvel...
Rua de pobre não carece luz:
pobre deita cedinho...
Não precisa também numeração:
não vem carteiro,
não vem telegrama,
não passa lixeiro.

Cada casa é indicada por um acidente:
aquele do tôco é do João Dorminhoco.
A da laje no terreiro,
é do Zuza Pedreiro.
Essa da gaiola,
é da Maria Paxola.
A da trepadeira
é da Luiza Peixeira.
Tem casa torta pra lá,
tem casa torta pra cá.
Casa inclinada pra frente,
casa empinada pra trás.
Parecem formar ballet,
parece que vão cair
mas continuam de pé...

Vem lá de dentro uns berros de mulher:
Pass pá dento Juaninha!!!
E Joaninha num berreiro:
"Mãe, furmiga tão me cumendo,
eu caí no furmigueiro!
"Do outro lado alarido
um cão que quebrou panela
e apanha como um danado!
E sai cada palavrão!...
Coitado do pobre cão!

Um papagaio se expande
numa algarávia maluca:
"O lelê carapeba é pêxe de má
Ô lele carapeba é pêxe de má.
Currupaco — papaco
Currupaco — papaco.
Lôro... Lôro..."

E tem menino sambudo
brincando na enxurrada
pra se esquecer da maleita...
Lá na esquina, um vadio
tira dois dedos de prosa
com a morena dengosa
que vai à venda comprar.
Bebe um trago de aguardente
e oferece pra toda gente
sem mesmo poder pagar:
— "Não são servido, mecês?
Ë entorna o copo de uma vez!

Vem gemido da vizinha
que está com dor de dente...
Vem canção de carnaval
lá no fundo do quintal...
"Tava jogando sinuca
uma negra maluca me apareceu.
Vinha com o filho no braço...

..............................................

Mas essa rua tem alma!
Tem alma e tem coração!
Hoje só há tristeza...
Morreu o João da Tereza,
— fogueteiro que enfeitava
as noites de São João.

Vão cantar a noite inteira
até o dia raiar.
Vão cantar as "inselença"
que é pro João se salvar.
"Uma inselença da Virge da Conceição
Deus num primitas que eu morra sem cunfissão.
Duas inselença da Virge da Conceição,
Deus num primitas que eu morra sem cunfissão.
Três inselença da Virge da Conceição
Deus num primitas
que eu morra sem cunfissão...
Quarta inselença"...
— São doze inselença
E não se pode parar
porque senão dá azar...

Mas quando é noite de lua
e uma viola soluça
esse abandono fatal,
como é bonita essa rua!...
Rua de pobre esquecida
do governo da cidade!
Sem água, sem luz, sem placa,
Sem carteiro e sem lixeiro
— rua que nem nome tem...
Só a lua é tua amiga,
só a lua te quer bem.

Rua de noites perdidas,
de dias estagnados
num bairro pobre qualquer...
Rua de cães vagabundos
pelos terrenos baldios,
de gatos pelos telhados...
teu nome devia ser:
Rua dos abandonados.

Bianca - 72 luas cheias !


IPÊS

"Quando tudo está seco eles teimam em florar!"

(Rubem Alves)

Por Rubem Alves- Colaboração de Ismênia Maia



GANHEI CORAGEM

Rubem Alves

... colunista da Folha de S. Paulo ...

mesmo que o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece",
observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe
acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus
como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:

a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio;
o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo
como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos
sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões,
se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente:
judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes
dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves


Reflexões minhas...Contestem-nas !- socorro moreira


Ninguém pode ser livre, sem promover a liberdade do outro.
Mas, o que fazer com a própria liberdade, em favor do outro?
-Respeitá-lo!

Ninguém se apaixona duas vezes pela mesma pessoa...
- O encanto permanece no inconsciente.

Aprender a ficar sozinho, nos protege de viver mal-acompanhado.

Tudo pela paz!
Recuar é estratégico da coragem.
O silêncio, no tempo, transforma a mágoa em bem-estar.

No filtro dos desejos, a essência do que merecemos.