por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A "coisa" vem de longe - José Nilton Mariano Saraiva

Desde a derrota em 26.10.14, quando foram atropelados por um transatlântico de votos, a “tucanalhada” – à frente o aloprado e apoplético “playboy do Leblon” (Aécio Neves) e o gagá FHC - insiste em instituir uma espécie de terceiro turno da eleição presidencial.

Só que o mote usado - que os malfeitos na Petrobrás começaram em 2003 com a ascensão do PT ao poder - é no mínimo cínico e desonesto. O próprio ladrão-delator Paulo Roberto de Souza, funcionário de carreira da Petrobrás desde 1978 (e que começou a ocupar cargos de Diretoria ainda na gestão FHC), foi muito claro em depoimento à CPI, ontem, ao afirmar peremptoriamente que desde o governo Sarney, passando pelos governos Collor, Itamar e FHC, a prática era corriqueira naquela estatal. E já que emprestam tanta credibilidade para o que ele diz, atenção: segundo o próprio, em outras instituições governamentais a “coisa” também vigora e... no Brasil todo.

O detalhe, e todo mundo já tá careca de saber, é que naquela época não havia disposição para se investigar, não havia coragem de cortar na própria carne, resultando que tudo foi varrido para debaixo do tapete, daí o monstro ter criado musculatura.

Portanto, querer fazer crer que o que acontece hoje trata-se de uma “novidade”, não cola: é sim, uma lamentável “recorrência”, mas que agora tende a ser enfrentada, depois de uma lei específica sancionada pela Presidente Dilma Roussef, que permite alcançar corruptos e corruptores (e aqui um parênteses: segundo ainda o ladrão-delator, Lula da Silva e Dilma Roussef são sabiam de nada, ao contrário do que foi desonestamente divulgado às vésperas da eleição pela revista VEJA-ÓIA).

A propósito, lá no distante ano de 1989 (há 25 anos, portanto) o competente jornalista Ricardo Boechat, da Rede Bandeirante, foi agraciado com o Premio Esso de Jornalismo exatamente pela denúncia pública de roubo na Petrobrás, daí sua indignação com a recente declaração de FHC de que sentia vergonha com o que estava acontecendo naquela estatal.

Com a palavra, pois, o Boechat:

Acho que ele [Fernando Henrique Cardoso] está sendo oportunista quando começa a sentir vergonha com a roubalheira ocorrida na gestão alheia. É o tipo de vergonha que tem memória controlada pelo tempo. A partir de um certo tempo para trás ou para frente você começa a sentir vergonha, porque o presidente Fernando Henrique Cardoso é um homem suficientemente experiente e bem informado para saber que NA PETROBRÁS SE ROUBOU TAMBÉM DURANTE O SEU GOVERNO. “Ah, mas não pegaram ninguém!” Ora presidente! Dá um desconto porque só falta o senhor achar que na gestão do Sarney não teve gente roubando na Petrobras. Na gestão do Fernando Collor não teve gente roubando na Petrobras. Na gestão do Itamar Franco não teve gente roubando na Petrobras. A Petrobras sempre teve em maior ou menor escala denúncias que apontavam desvios. EU GANHEI UM PRÊMIO ESSO EM 1989 DENUNCIANDO ROUBALHEIRA NA PETROBRÁS.  […] A Petrobras sempre foi vítima de quadrilhas que operavam lá dentro formada por gente dos seus quadros ou que foram indicados por políticos e por empresários, fornecedores, empreiteiras. Então, essa vergonha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é sim uma tentativa de manipulação política partidária da questão policial”.  (o que a “tucanhalada” tem a dizer, a respeito).

No mais, convém registrar que das 09 (nove) empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato, 06 (SEIS) financiaram a campanha do “playboy do Leblon” (Aécio Neves) – e é igualmente fundamental observar que 05 (CINCO) delas dividiram as obras da Cidade Administrativa, uma obra faraônica, absurda e desnecessária que Aécio empurrou sobre os mineiros, num custo superior a 2 BILHÕES de reais, em vez de investir em obras de infra-estrutura que realmente beneficiariam o estado. Aliás, estranhamente dois prédios IDÊNTICOS acabaram sendo construídos por dois consórcios DIFERENTES, o que é inexplicável.

Teria o “playboy do Leblon” (Aécio Neves) alguma justificativa para tamanha excrescência ???


JOÃO NICODEMOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vamos falar assim: eu conheci João Nicodemos. Vi uma única vez. Na casa do Roberto Jamacaru. Nicodemos, eu conheço desde que nasci e ele mora numa casa depois da minha.

Se fosse dizer da flauta de bambu ou da rabeca, feitas na maior parte das vezes pelo próprio, iria cair na arapuca dos pedaços de tempo. Eu quero falar é do tempo pleno. Do modo de tocar que não é uma mera fração, cada vez mais dividida dos tempos das notas musicais.

Um pé atrás para que me explique melhor. Eu sempre tive muita pena de mim. Desafino. Não sei tocar nenhum instrumento musical. Memorizo bem as músicas, mas não peçam que as cante inteira. Até porque seria desagradável de ouvir as folhas de outono caindo entre uma nota e outra.

Aí outro lado da questão. Mas também tenho muita pena daqueles que têm o chamado ouvido universal. Vivem pelo mundo comparando os sons e classificando-os por semelhanças e dessemelhanças. Isso pode até chegar num músico muito bem posicionado, mas não é o que desejaria.

E aí do meu estado penoso, comigo e com alguns, eu me dei conta de gente como João Nicodemos tocando seus instrumentos. Caí perfeitamente na minha falha tectônica. Ele é um contínuo, como já disse é tempo pleno, uma narrativa sensitiva do mundo. Uma tradução auditiva do estado emocional que só pode ser compreendido pela fusão de todos os sentidos, mais a memória e a capacidade de refletir sobre o conjunto. Tudo num átimo de tempo.

Por isso digo que pleno. Como bem sabemos o conjunto dos sentidos é maior do que soma de cada um individualmente. Baudelaire já traduzia isso em seus poemas. E Nicodemos, com o som de sua rabeca, de seu bambu (como era bom o tempo que dizia taboca) não é apenas audição, é a soma de toda a nossa história expressa num momento ritualístico de sua revelação.

João Nicodemos, tem muita tarefa pela frente. Quem anda neste diapasão carrega o grande peso do universo da arte. E arte é estado permanente de inquietude e avançar sempre sobre a paisagem adiante.


E esta música brasileira é demais!