por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

JOÃO NICODEMOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vamos falar assim: eu conheci João Nicodemos. Vi uma única vez. Na casa do Roberto Jamacaru. Nicodemos, eu conheço desde que nasci e ele mora numa casa depois da minha.

Se fosse dizer da flauta de bambu ou da rabeca, feitas na maior parte das vezes pelo próprio, iria cair na arapuca dos pedaços de tempo. Eu quero falar é do tempo pleno. Do modo de tocar que não é uma mera fração, cada vez mais dividida dos tempos das notas musicais.

Um pé atrás para que me explique melhor. Eu sempre tive muita pena de mim. Desafino. Não sei tocar nenhum instrumento musical. Memorizo bem as músicas, mas não peçam que as cante inteira. Até porque seria desagradável de ouvir as folhas de outono caindo entre uma nota e outra.

Aí outro lado da questão. Mas também tenho muita pena daqueles que têm o chamado ouvido universal. Vivem pelo mundo comparando os sons e classificando-os por semelhanças e dessemelhanças. Isso pode até chegar num músico muito bem posicionado, mas não é o que desejaria.

E aí do meu estado penoso, comigo e com alguns, eu me dei conta de gente como João Nicodemos tocando seus instrumentos. Caí perfeitamente na minha falha tectônica. Ele é um contínuo, como já disse é tempo pleno, uma narrativa sensitiva do mundo. Uma tradução auditiva do estado emocional que só pode ser compreendido pela fusão de todos os sentidos, mais a memória e a capacidade de refletir sobre o conjunto. Tudo num átimo de tempo.

Por isso digo que pleno. Como bem sabemos o conjunto dos sentidos é maior do que soma de cada um individualmente. Baudelaire já traduzia isso em seus poemas. E Nicodemos, com o som de sua rabeca, de seu bambu (como era bom o tempo que dizia taboca) não é apenas audição, é a soma de toda a nossa história expressa num momento ritualístico de sua revelação.

João Nicodemos, tem muita tarefa pela frente. Quem anda neste diapasão carrega o grande peso do universo da arte. E arte é estado permanente de inquietude e avançar sempre sobre a paisagem adiante.


E esta música brasileira é demais! 

Um comentário:

socorro moreira disse...

Conheço Nico,( meu amigo,irmão) desde 1981.Não saberia dizer tão bem sobre ele, como você.
E ele é ainda muito mais do que pensamos!
Amei o seu texto!