por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 22 de maio de 2023

 DALLAGNOL: O “FICHA SUJA” (ou AS DUAS FACES DE UM CRIME) – José Nílton Mariano Saraiva

Se a tal Operação LAVA JATO serviu para a mídia nacional apressadamente catapultar do anonimato o então desconhecido juiz curitibano Sérgio Moro, transformando-o da noite pro dia numa espécie de herói nacional, sua antônima, a Operação VAZA JATO serviu para que essa mesma mídia, posteriormente, fosse obrigada, literalmente, a desnudar e mostrar a periculosidade do próprio, porquanto comprovadamente um ativo integrante de uma organização criminosa judicial (ORCRIM), sediada em Curitiba, à qual chefiava com desembaraço e mão de ferro.

Fato é que, só após o surgimento da VAZA JATO (com um cenário político nacional já bastante negativo e acentuado, por conta da LAVA JATO), estarrecida, atônita e perplexa a nação tomou conhecimento, porque em viva-voz (através de interceptações telefônicas) dos métodos nazistas adotados por Sérgio Moro objetivando autopromover-se (prisões preventivas “sine die”, que só seriam findas quando o preso se mostrasse disposto a fazer uma “delação premiada” de acordo com o que fosse ditado pela dupla Moro/Dallagnol, conduções coercitivas sem a devida notificação e por aí vai).

E foi aí, a partir do início da série de reportagens da VAZA JATO, que o Brasil começou a descobrir que a imagem do ex-juiz Sérgio Moro já não era das melhores mesmo entre os próprios procuradores do Ministério Público Federal com quem trabalhou (por mais paradoxal), já que os colegas constataram que aquele juiz violava constantemente a lei, por ter uma agenda pessoal e política. Para eles, Moro infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que queria. 

Vejam os relatos: 

01) procuradora Monique Cheker: "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados; desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele já atuava assim e alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da “proatividade” dele, e que inclusive aprendiam com isso"; 

02)  procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, ao comentar a decisão de Moro de integrar o governo Bolsonaro, escreveu no restrito grupo “Filhos do Januário”: "Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo, porquanto ao aceitar o cargo (algo que ele havia prometido jamais fazer), Moro colocou em eterna dúvida a legitimidade e o legado da operação” (afinal, os óbvios questionamentos éticos envolvidos na ida do juiz ao ministério poderiam dar maior credibilidade às alegações de que a Lava Jato teria motivações políticas); 

03) procuradora Laura Tessler, também da força-tarefa, concordou com a avaliação: "Tb acho péssimo. Ministério da Justiça nem pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a Lava Jato. Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo”. 

Convém lembrar que tais procuradores (e demais) tinham a chefiá-los o procurador Deltan Dallagnol, que muito cedo aliou-se ao então Juiz Sérgio Moro. Carne e unha, íntimos mesmo, Dallagnol recebia orientação de como proceder, elaborar, redigir e quando encaminhar os processos/ações que versassem sobre a Lava Jato, a serem encaminhados... ao próprio Moro (em legenda postal teríamos: De: Sérgio Moro – Para: Sérgio Moro). 

A promiscuidade do Juiz e o Procurador chegou a um nível tal que, no auge do imbróglio da Petrobras, tentaram, por baixo dos panos, surrupiar R$ 2,5 bilhões daquela estatal e mais R$ 6,5 bilhões da Odebrecht, supostamente para constituírem uma “fundação”, sem fins lucrativos, a ser administrada por Deltan Dallagnol, e cujo objetivo seria obter poder a qualquer custo, através da política. 

Resumindo: após prender o ex-presidente Lula da Silva baseado em inexplicáveis “fatos indeterminados” e com isso abrir caminho para a eleição do Bozo, Sérgio Moro foi premiado com o Ministério da Justiça, bem como com a promessa de ascender ao Supremo Tribunal Federal (STF) na primeira oportunidade (para tanto, teve que antecipadamente renunciar de forma definitiva à magistratura). 

Mas, como dois canalhas não se beijam, no primeiro “tête-à-tête” com o chefe, acabou sendo humilhado e escorraçado do governo sumariamente, restando-lhe o “olho-da-rua”; e então, desempregado, despreparado para enfrentar algum concurso na área jurídica e vislumbrando um futuro complicado por conta dos inúmeros processos que certamente passaria a responder pelas arbitrariedades perpetradas na época de Juiz, resolveu concorrer ao parlamento brasileiro, onde adquiriria a malfadada “imunidade parlamentar” (artigo 53 da Constituição Federal: Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos). Acabou sendo eleito Senador, pelo Estado do Paraná. 

Na outra ponta, Deltan Dallagnol, seu velho e querido comparsa, enveredou pelo mesmo caminho de busca da “imunidade parlamentar”, tendo, para tanto, que renunciar à função de Procurador da República; é que existiam (existem) quase duas dezenas de processos aos quais teria (terá) que responder; acabou sendo eleito Deputado Federal pelo Estado do Paraná. 

Hoje, considerado “FICHA SUJA” por unanimidade dos membros daquela Corte, o Tribunal Superior Eleitoral resolveu cassar seu mandato, no pressuposto de que a tal “renúncia” não passou de uma manobra desonesta para fugir dos diversos processos que lhe aguardam.   

A expectativa, agora, é que Sérgio Moro também seja considerado “FICHA SUJA” e tenha seu mandato cassado (afinal, foi ele que magnanimamente ensinou tudo ao Deltan Dallagnol). 

A dúvida é: cassados, irão parar atrás das grades ???

domingo, 14 de maio de 2023

  

ORELHAS – Doutor Demóstenes Ribeiro (*)

No final dos anos sessenta, a ditadura militar sentindo crescente insatisfação da classe média buscou agradá-la facilitando aos jovens o acesso indiscriminado à universidade. Era o tempo dos excedentes e toda a semana aumentava o número de alunos. As aulas eram precárias, auditórios e laboratórios não comportavam tanta gente e a formação do pessoal, inevitavelmente inadequada.

E foi assim, que Florisvando, um dos últimos excedentes, chegou lá. Da zona rural de Salgueiro, era baixinho e míope, de barba rala, cabeludo e muito calado. Magro e pálido, ocasionalmente, nos sobrados do Recife Velho ou da Rua do Rangel, buscava prostitutas gordas e logo ficou conhecido por “Taradim”, pois era também um dos mais entusiastas praticantes do vício solitário.

 Ele almoçava no restaurante universitário e morava na Casa do Estudante, onde jantava um dia macarrão com farofa e no outro, farofa com macarrão – não tinha outra escolha, o cardápio era assim mesmo. Tomava o ônibus da reitoria para chegar à faculdade.  Nesse transporte gratuito, superlotado, sempre entrava mais um e o motorista nunca conseguia fechar a porta.

De todo jeito, a moçada ia em frente, pois outro ônibus do Derby à Cidade Universitária, só bem depois de meia hora. Então, com muito mais gente em pé do que sentada, no percurso era um esfrega-esfrega geral, tolerado e sem muita reclamação: fazer o quê? Uma ou outra freada brusca variava a arrumação e fazia a alegria dos tarados.

 Naquele dia, seu aniversário, Florisvando entrou no ônibus com a braguilha aberta, e logo se aproximou de Orisvalda. Ela, estudante de Enfermagem, evangélica e muito compenetrada, sentara na cadeira junto ao corredor, com a bíblia nos joelhos e os olhos fixos no “Apocalipse de São João”. Trajava vestido azul-marinho, de mangas compridas, e que ia do pescoço até abaixo dos joelhos. Maquiagem discreta, em tudo lembrava uma senhora.

O ônibus seguia: Madalena, Caxangá, Várzea, Cordeiro... E de repente, sem ninguém se dar conta, num furor diabólico de guerreiro enfurecido, a espada de Florisvando subiu pelo ombro Orisvalda, foi ao pescoço e a face, e avançou progressivamente até àquela orelha que o deixara maluco e incontrolado.

A certa altura, ele explodiu em espasmos convulsivos, e então veio o grito fanhoso e esganiçado de Orisvalda: Socorro! Motorista pára o ônibus, um tarado encheu o meu ouvido com uma gosma branca !

Aparentemente, somente eu assistira toda a cena. Florisvando, sem mais ninguém perceber, esgueirando-se como um fantasma entre a moçada atônita, saltou na Caxangá e fugiu em direção ao cemitério da Várzea. À noite, na Casa do Estudante, pediu-me por tudo no mundo, que eu não contasse o acontecido a ninguém.

Anos depois, calvo e gordo, quase irreconhecível, eu o reencontrei num supermercado: Taradim, quanto tempo! Como vai a vida, rapaz?

Extremamente formal, me respondeu: devo-lhe um favor imenso, mas nunca mais me chame assim. Depois de muitos anos, me formei em direito e hoje sou oficial de Justiça. Tenho mulher e filhos, e somente uma orelha ou outra ainda me deixa agoniado.


(*) Dr. Demóstenes Ribeiro é natural de Missão Velha-CE e hoje, médico- cardiologista, reside e exerce a profissão em Fortaleza-CE.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Música Incidental para o Sonho

 

J. Flávio Vieira

 

“Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão

Todo artista tem de ir aonde o povo está

Se foi assim, assim será

Cantando me desfaço e não me canso

De viver nem de cantar”     

Milton Nascimento / Fernando Brant

 

                               Uma das canções mais belas de Milton, com letra de Fernando Brant,   fala sobre a magia da profissão itinerante dos cantores e instrumentistas, morando nas estradas do mundo e levando o enlevo da música ao coração do seu povo. Fascinante esta trajetória das bandas, emoldurando os bailes da vida, cifrando a trilha sonora de muitas gerações de pessoas, criando, cuidadosamente o clima romântico para a paquera, para o namoro, para a paixão. Cada um de nós tem em si a trilha pessoal do filme da nossa vida, a dos momentos mais amorosos, dos mais tristes, dos mais alegres e felizes. Ouvir tocar uma canção no rádio ou no celular nos remete, imediatamente, como num bólido, para aquele instante único e eterno vivenciado e que nos acompanha ao longo de toda existência: uma dança , um beijo, uma perda, um desejo, um fascínio, uma farra. Houve um momento, menos tecnológico, em que as festas, os bailes, as tertúlias , os saraus, vesperais e matinês dependiam diretamente das bandas e dos seus instrumentistas. Os Conjuntos Musicais viviam comendo a poeira da estrada, em carros improvisados, por estradas  esburacadas, carregando seus instrumentos e amplificadores precários  de vila em vila, de arrabalde em arrabalde: tinham que ir aonde o povo estava. E tocavam nas praças, nas palhoças, nos cinemas, em pequenos clubes, em bares, em casas, em sítios, em latadas, onde houvesse público ali eles estavam, estimulados por pequenos cachês que mal cobriam os custos da viagem. E , como os palhaços dos circos, os especialistas em itinerância, deviam estar sempre alegres, com alta energia, com som leve e solto, independentemente do estado de espírito de carregassem. A amargura e a tristeza, os problemas pessoais tinham que ser deixados nas pensões de beira de estrada onde se arranchavam, não podiam subir ao palco.

                        Esta semana o Cariri perdeu um desses monstros sagrados das estradas da vida e da magia dos palcos improvisados:  Hugo Linard.  Tecladista inspirado, músico intuitivo desde a mais tenra infância, ele encabeçou as bandas mais seminais da nossa região. Eclético, tocava todos os ritmos, passeava galhardamente pelo clássico, pelo Nordestino, pela MPB, pelo frevo,  pelo música latina, francesa, italiana, pelo blues e pelo jazz , sem quaisquer sobressaltos. Apenas não condescendia com o mal gosto. Tê-lo no palco era a certeza absoluta de que teríamos poesia em movimento. Hugo carregava consigo um compêndio inteiro de histórias desse safari sonoro de setenta anos pelas veredas do mundo, muito se perdeu quando, nesta semana, as peças do teclado emudeceram. Levando uma roupa encharcada e uma alma repleta de chão, o artista deixa uma obra imorredoura: criou a música incidental propícia à paixão, à sedução e ao afeto dos corações caririenses. Quantos olhares apaixonados propiciou? Quantos beijos ardentes favoreceu? Quantos amassos facultou , entre uma e outra nota, entre um e outro acorde, entre uma e outra frase musical escolhidos, cuidadosamente,  para a construção do clima necessário a meteorologia do romance?

                        O céu agora perderá aquela morosidade e silêncio etéreos, Hugo vai mostrar que  só com música  um lugar pode merecer  o nome de paraíso.

Crato, 12/05/2023

sábado, 6 de maio de 2023

 Se você, aí do outro lado da telinha, já tá de saco cheio de assistir filmes com os tais “efeitos especiais” do diretor americano Steven Spielberg, ou mesmo aqueloutros onde humanos pensantes batem papo alegremente com animais irracionais, convido-os a voltarem a um autêntico faroeste americano (em qualquer aspecto), digno de ser visto e revisto tantas e tantas vezes. Refiro-me à série GODLESS, na NETFLIX. Simplesmente portentosa, impressionante, imperdível.

Abaixo, uma “tentativa” de resumo.  

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“LA BELLE” – José Nílton Mariano Saraiva

Esquecida pelo poder público, nos confins do território americano a pequenina cidade de “LA BELLE” vivia quase que exclusivamente em função de uma mina de prata que garantia sua própria sobrevivência.

Tanto, que todos os homens em condição de trabalho viviam o dia mergulhados em suas profundezas (só retornando à noite), enquanto as mulheres cuidavam dos afazeres domésticos e das crianças.

Mas, de repente, tudo mudou radicalmente, em função de uma tragédia inimaginável: uma explosão no interior da mina soterrou todos os homens da cidade (à época no total de 83). A partir de então, LA BELLE, passou a ser conhecida como a “cidade das mulheres”.

Eis que, na perspectiva de tomar de conta da mina, e vindo de um outro extremo do país, senhores falantes e teoricamente persuasivos, acompanhados da “casca grossa” (bandidos violentos) se apresentam como capazes de desenvolver a cidade, desde que lhes permitam explorar a mina; para tanto, 90,0% do lucro ficariam com eles retidos e 10,0% seriam destinados às mulheres. Claro que não tiveram receptividade, mas, mesmo assim tomaram de conta da cidade, na marra.

Paralelamente, uma viúva não muito querida pelas demais mulheres, que vivia num rancho isolado, contíguo à cidade (junto com o filho e a sogra, uma índia sorumbática), na madrugada é acordada por um barulho suspeito; sai e, de rifle em punho, dispara na escuridão e fere alguém que viera à procura de ajuda. À base da luz de candeeiro, sensibilizada acolhe o forasteiro (que já chegara ferido à bala) e na manhã seguinte encarrega a sogra a dele cuidar.

Durante a convalescença e após recuperar-se, o estranho mostra ser um exímio domador de cavalos selvagens; é que, como no curral do rancho existem vários, ele começa à paciente tarefa de domesticá-los. Aproveita e ensina o filho da viúva, de maneira persistente e insistente (monte de novo, monte de novo), a não só montar como também domar os quadrúpedes; de longe, a viúva e a sogra (a índia sorumbática) embora não verbalizem, mostram extremo contentamento.

E aí começa a “pintar um clima”, quando ele manifesta o desejo de aprender a ler e escrever (era zerado em tudo); assim, enquanto ensina o filho da viúva a domar os cavalos, ele aprende com ela a arte das letras e de gostar das pessoas (a essa altura já houvera posto as fichas na mesa ao identificar-se como um famoso pistoleiro procurado pela Lei).

Entrega-se ao “xerife” da cidade, que voltara de uma perseguição infrutífera a bandidos, mas logo é solto pela própria viúva, que sentira sua falta.

Fato é que, ao ter-se transformado num famoso pistoleiro, fora capaz de romper com aquele que, num passado não tão distante o houvera lhe criado e ensinado tudo; tanto que foi capaz de arrancar-lhe o braço com um tiro de fuzil e roubar-lhe o produto milionário de um assalto a um trem-pagador; e, por essa razão, agora era incessantemente caçado pelo próprio e sua quadrilha, que já descobrira seu paradeiro.

E assim, as mulheres de LE BELLE se organizam e travam um confronto de proporções épicas com aquela bandidagem selvagem; derrotados inexoravelmente, o chefe da quadrilha, que viera se vingar do filho-adotivo (agora um famoso pistoleiro) e recuperar a grana, foge e é perseguido por ele; alcançado, travam um duelo de titãs, que é vencido pelo filho.

Alfim e como o duelo fora assistido pelo filho da viúva, este o traz de volta, onde ele se despede do garoto e daquela que poderia ter sido sua para sempre.

Antes, pede ao delegado (de volta à cidade e que o cientifica que houvera comunicado às autoridades que ele houvera sido morto no duelo), pois bem, ele o orienta a recomendar à viúva a ajeitar uma estaca da cerca de sua propriedade que estaria por cair; e quando ela lá chega e começa a escavar, dá de cara com um alforge de cavalo repleto de dinheiro, muito dinheiro (produto do roubo ao trem-pagador).

E num singelo bilhete, que ele houvera aprendido a escrever com ela, simplesmente um “THANK YOU” (OBRIGADO).

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Vou pro Ceará

 Quando crescer, eu vou pro Ceará. Repeti esta frase um sem número de vezes. Desde menino estou indo...  

O Ceará de minha infância está na voz de meu pai que cantava lindas valsas de Augusto Calheiros e dizia palavras que não estavam no repertório local. Estava nas músicas de Luiz Gonzaga que minha mãe e e meu pai cantavam. Estava no beju de tapioca, no prato de baião de dois que mamãe tentava imitar, com sua cozinha amineirada (muito boa também). Fazia pra agradá-lo. E nos agradava a todos também. Seu sotaque, a melodia em sua voz, um misto de vaqueiro e de tenor, principalmente quando ficava bravo, tinha uma voz forte, em um corpo franzino e valente. Nunca o vi descansando, ou esperando algo, sempre ativo, indo e vindo com ligeireza juvenil, mesmo aos sessenta anos.  Me contou algumas histórias de sua vida no ceará, que nos anos de 1950, seu pai levara a família para morar no Crato. Fora um comerciante e, no pós-guerra, as condições em Brejo Santo não eram boas.  Disse que sua família morou na rua Nelson Alencar e, ainda hoje, tento adivinhar o número, se a casa ainda existe.     Mas existe no meu coração, na minha memória um Ceará só meu, de minha imaginação infantil.  Estou no Ceará. Estou indo pro Ceará!