por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011



Nublou meu céu interno
Agora é noite
e a primeira estrela ilumina meu olhar
Meu pensamento fixo
entra em sintonia com o teu desejo
Imagino um par
dançando sem nostalgia
um passo novo 
de viver e fazer
No alicerce dos nossos sonhos
a pedra fundamental é o querer.

F comme femme



O céu ameaça escurecer
Tudo natural
è assim que a vida em lascas
se desfaz
no dia a dia
nos caminhos e descaminhos
Vibro diante do teu otimismo
Arrumo as tristezas num canto
e enfeito a casa das poucas alegrias
Vejo-te nos corredores do templo
Buscando um canto
cantarolando
Vejo e sinto
teu cheiro
marcando presença
Não sei quando será
Acho até que já é
Já sou
Somos
Um homem, uma mulher !



Pra você




Uma vida suficiente
O amor enfim acena

Borracha no que se foi
Página em branco

Espero tua letra 
Conteúdo amoroso

Levemente adentras
espaços faxinados
que aguardam tua vinda

Pra você



Desde ontem não nos vemos
Adormeci no desejo
Acordei na inquietude da ausência
Quero já
Quero o próximo
Desde sempre !
Energia  compulsiva
de ficar em ti,
urgentemente !
Mas o dia é manso
Preciso é o tempo
Você tem passagem no meu pensamento
Eu tenho a porta  , janelas e sonhos
pra viver contigo
o eternamente !


Não dou conta da minha vida 
Das fórmulas prontas
que o mundo empresta
amasso o papel escrito
Desligo o ferro quente
Deixo amassada a roupa que visto
Quero a bica que limpa o pó
das minhas confusões
Tua chegada em risos
Tua rede armada no pé da  minha cama
calçadas prontas
pra  desfilar o que sonhamos
Mãos dadas, luar, em gotas pingando
Acalantos , acalentando romance
um sorriso bobo
encontrando olhares 
e a mordida dos teus dentes.

Abrindo espaços

Estou cansada das flores
Das cores  que cantam
Clamo pelo silêncio
Pela mudez do telefone
que alardeia o que não desejo



Quero a tua voz  mineira:
Chego em breve
Fico e vejo
A felicidade se acomodando
criando espaço no lençol da cama
Adoto o estar perto
-Abro um vão nas minhas gavetas
Nelas ajeito  meias,camisetas ...
E adormeço com a cabeça em teu peito


Eu não sei por que choro tanto , no último capítulo das novelas.
Parece que vivo em mim, cada final feliz – os meus e os dos filhos de Deus.
Avalio o preço que a gente paga por uma quota da felicidade. O instante do riso que fica. A dor que machucou, e o vento levou. O fim que se aproxima, abismal e luminoso ou um terrível silêncio, sem fim.
A música, os encontros amigos, as descobertas de um pensador, os versos extraídos da gente, que já estavam presentes, na dor de um autor. Será arte todo instante que traz uma novidade? Daqui a pouco estarei no calor da tarde, preparando o lanche da casa. Emoções em dias com as lágrimas, e a mesma vontade de repetir com outra visão, a mesma história de vida.
O tédio da rotina é a paz que buscamos. A felicidade perdida é o sorriso que achamos, na novidade do dia a dia.


Rosário e o meu diário

Foram dias vazios e longos . Esperei-te diante da TV, assistindo filmes ou cenas de novelas. Esperei-te em luz, nos finais de tarde. Esperei-te em imagens, em cada aurora que escutei. Falei contigo, só como as loucas encontram os ditos. Até que achei, no canto do meu silêncio, a essência do nosso sentimento, e meu coração aquietou-se!
Acredito na paisagem depois das curvas, nas terras depois das águas, na vida depois da morte, no tempo que nunca é passado!
Maria é essa figura, que você indaga amiudamente : ”que mulher é essa, que chegou, inesperadamente?”

- Achou-me num batente de rua, e comigo viveu madrugadas e tardes, mesmo de forma sonolenta.
O arrumar de coisas (querendo nada esquecer), a crescente excitação detonada pelo relógio, enquanto o clarão da lua cheia de agosto exacerba a emoção.

- E eu te acompanho pelas ruas, pelos becos. Hoje eu fico, enquanto você some como fumacinha de avião. Teu olhar se aparta do meu, teu cheiro de mato volta pro pé de jasmim, nem sei de qual jardim, e teu riso, se esconde na estrada, onde a minha mão te solta!
É a vida? É assim? Terá volta? Quem sabe nos envelhece, ou quem sabe nos renova?

.
Girei nos canteiros da praça. Aqueles mesmos cheiros de pipocas, de filhoses...
Sem você sou cega sem guia. Tenho que enxergar teu vazio, e senti-lo em peso!

Mas um dia tudo volta. A separação é como um giro numa roda. Se eu conseguir não enlouquecer de saudades, meu amor será teu mais tarde!
Rosário é uma boneca cínica. Minha dor não a comove. Sabe que a nossa casa é uma gaiola sem portas e que as tuas coisas, se acomodam aqui e ali, penduradas como ela, querendo que o meu olhar as encontre. Aspiro a poeira dos teus sapatos, ainda perto da cama!

.
Dia comprido. Recebi recadinhos com gosto de mel. Vi a rosa do céu com teu olhar, sempre apressado e astuto.

Abri mão de todas as luas e sóis. Ganhei um novo olhar sempre descondicionado. Precisamos que tu nos aproves. Aprove e prove a umidade do meu corpo, que a tua lembrança chove!
Menino dos meus olhos, eu tenho um rosário de beijos pra mordiscar, nesta noite, teu coração estrangeiro!

.
Ainda é domingo. Chuvisca. A lua é clara e disforme. Desajeitada na luz, ela desloca minha saudade, pro sono chegar. O céu é claro, mas não vejo estrelas. Mudaram todas para enfeitar teus cabelos. Por isso, tanta prata?

Teus pezinhos não se arrastam pela casa. Sinto falta dos teus braços madrugados.

Cheiro no pescoço, já caído pelo sono, respira palmeira do terraço. Ao som de uma noite calada, só escuto o motor do ventilador.

.
Manhã chuvosa. Não avistei Aurora. Acordei com cantigas de galo, pássaros, e o som de vassouras, rastreando folhas dos quintais da quadra. Teu olhar enxergaria os calos, nas mãos femininas das mulheres, jovens e velhinhas, que cheiram a alho, pó de café, lavanda e água sanitária.

Acho que vou buscar pão (aquele que tem a crocância do gergelim). Provavelmente, prolongue passos até a feira, olhar aquela misturada de coisas sem fim. Preciso de uns pauzinhos de canela, frutas doces, ver pessoas.Procurar teus cachos, nas bananas, nas espigas de milho, nas uvas, nos molhos de acácias. Quem sabe cruzo com o teu olhar, no moço que debulha o feijão; no azul pálido do céu; no chão pingado de lama, ou nos olhos de um gato ?
Teu dia também começa... O meu muitas vezes foi assim: ruas e rostos estranhos até o olhar harmonizar formas e cores.

.
Bom dia, mi amor!

Aperte os olhos. Teu clique vai começar, num olhar e andar solitários, o que se esconde e parece invisível para todos, pra ti vai se descortinar!

..
A praça começou a fazer zoada. Escuto fogos, cantorias na igreja, e sinto a poeira do povo. Noutros tempos era dia de comprar pano novo. As costureiras usavam seus dedais, literalmente, para pouparem os dedos. O que eu mais gostava era o caráter de virgindade das roupas. Tinha um só cheiro (inesquecível!) - o cheiro das roupas novas!
A partir de amanhã, quem sabe , encontre piedade, pra rezar aos pés da Penha; aspirar cheiros do Boticário espalhados no povo.Noutros tempos era “Magriff” ou “Madeira do Oriente”. Os tecidos eram de renda francesa, e não tinham esses fios rústicos que a gente tanto gosta. Adquirimos formas irreverentes de vestir e calçar, ao longo dos anos.
Lembro dos meus saltos, meias desfiadas, braceletes de ouro, aliança de tucum...
Bonecas de pano - eu e Rosário!
.


Seu Milton - O guardião das orquídeas
Em 1994 eu morava em Friburgo-Rj. Nos finais de semana , corria para São Pedro da Serra, passando por Lumiar, para descansar numa casinha de duendes, que eu havia alugado. Seu Milton era o meu Senhorio. Construíra umas casinhas de madeira , dentro de um bosque de orquídeas e, por preço simbólico, entregou as chaves para alguns dos seus amigos.
Uma vez por mês , descia a serra numa charrete carregada de orquídeas , e abastecia a agência do Banco onde eu trabalhava. Cada caixa, cada mesa de atendimento era decorada com uma orquídea. Foi um tempo muito luminoso e feliz da minha vida.
Esqueci os consumos gerais, fiz curso de Astrologia, Tarot; fazia dança sagrada ; tinha alimentação macrobiótica; retiros espirituais , num mosteiro budista; reunia-me com os ufologistas, estudava I Ching ,consultava-me com Márcio Bom Tempo, e usava a acupunctura ao invés de tomar antibióticos. Infelizmente só demorei por lá uns três anos. Fui transferida , a pedido, para Campina Grande , e lá fiquei até o fim da minha carreira de bancária.
Seu Milton era um "Dersu Uzala"... E como se não bastasse fazia deliciosas geleias , licores e defumados.
Anos depois voltei a Friburgo e fiquei sabendo que ele havia falecido. Hoje , tanto se falou em flores, que guardei pra Seu Milton , a mais perfumada . Uma outra vou levar pra minha mãe , em honra de Santa Terezinha do Menino Jesus - a Santa das rosas.
É muito engraçado como uma ex-católica como eu, ainda está tão ligada , na história dos santos. E estou mesmo ! ( Só não consigo gostar de música Gospel).



Tenho memória fotográfica .
Sinto saudades dos buracos,
e das sombras das árvores
Sinto a solidão das minhas mãos
nas andanças solitárias
Antigas ccompanhias criaram asas
voaram da rua, e de mim
Mas a rua permanece


tem a mesma posição
quando a confiro com o céu.
Não consigo andar distraída...
Meu olhar rebusca , e pressente
as almas das muriçocas,
de vidas tão rejeitadas e breves
Cadê a moça da janela ?
Cadê o assobio do leiteiro?
O grito do verdureiro?
Tudo gravado , nos ares,
que eu ainda respiro.
Rua , ruas,
És as nossas passarelas !

Horário de Cinderela soando... Fiquem descalças. Escondam os sapatos....Uma carruagem nos espera ! -

"Carruagem de Fogo" , como aquele filme, como aquela música.

Meu passado está dormindo, e não quero que desperte. Seja ele quieto.Seja ele eternamente quieto !

Palavras, imagens, cores, sons e odores... Ainda voltam, ainda chegam perto.

Mas ,somente as lembranças os transportam : uma carruagem de fogo , uma saudade eterna !



Use a Ira em seu favor : escreva uma carta de amor!

Meu bem,

.
Depois de 25 anos escrevendo memorandos, e em “oitavados”, especializei-me em listas de Supermercados:
- queijo branco
- pão integral, frutas, azeite e uma garrafa de vinho.
Casamento fora do papel merece carta do amor pensado, escrita, perfumada, e manchada de batom.
(Amassei. Não gostei...).
Vou tentar novamente:

Meu amor,

.
A noite também chegou por aqui. Já me fez cumprir todos os rituais, antes de dormir... Só falta uma espiada na janela, e fechá-la seguramente, pra que ela não me rapte de ti.
Li alguns textos no blog, apaguei e-mails, encaminhei alguns, abri Windows sucessivos, restaurei artigos, que vi na lixeira. Na falta do fogo para queimá-los, salvei-os!
Procurei-te nos sites de músicas, e Diana Krall deu-me teu recado: Fly Me To The Moon. Depois foi o Chico, que pegou pesado, cantando "Vitrines”... E o Vinícius, que também postou um poema: "Conjugação da Ausente".
Pesquisei sonetos de J.G.de Araújo Jorge. Achei-os melosos demais, e fiz umas trocas... Edu Lôbo com Cacaso, na “Toada”, e com Torquato Neto, no "Pra dizer adeus”.
Chega de ensaios!
Finalizo os prefixos musicais com a música “Amado”, por Wanessa da Mata.
Enfim, agora estamos a sós. Eu e pensamento. Pensamento e papel, em conflito ardente. Sem fundo musical. Silêncio total, para ouvir o coração bater, como os tambores do Salgueiro.
Entro na freqüência do teu esquecimento, e te acordo... É hora!


Vem cá...

O mar veio para cá.

Ele engole os mistérios da serra,

quando chega a madrugada.

Vamos catá-los um por um,

desvendá-los...

Estou farta de segredos invioláveis.


Lembra do começo, que nunca foi?
Lembra do encontro, que esperou sem chegar?
Lembra dos desvios, arrodeios, e esbarrões,

nos atropelos dos sentimentos?


O amor chegou mil anos depois!

Quase etéreo

Atrevido na pureza, racionando carinho

Mas é tão intenso e tão lindo

que alimenta, mesmo dormindo!


Fui clara?
Fui anônima, ou indiretamente fácil?
Direto é dizer nesse cantinho de papel,

em letras tremulas e pequenas,

quase indecifráveis... Adoro você!

.
Um abraço,
Zen(ira)

P. S. “O amor que nos separa é o amor que nos une”.




Rua Dr. João Pessoa - Anos 60

( A rua da família de Dona Benigna)
De volta ao passado. Rua acima, rua abaixo.
Estou pisando nos ladrilhos da Dr. João Pessoa, da casa de Dona Benigna até a Praça Siqueira Campos, justo de onde, das trocas de olhares entre os brotos, nasciam grandes amores.
A casa permanece do mesmo jeito: jardim encantando um santuário. A casa das cinco mulheres: Dona Benigna, Dona Anilda, Dona Alda ,Dona Almina, e uma ruma de meninos (os filhos de Dona Almina), sem contar com toda a turma dos primos. Boas energias, boas prosas, bons cuidados. Muro com muro, morava Dona Laís. Mais uma das Arraes.Era bela , cabelos negros, pele clara, olhos cor de esmeralda, mãe de Everardo Norões (notável escritor), "Donaciano" e Fernando.

Depois, a casa da Dra. Josefina. Um casarão sombrio. Meus olhos lá nunca penetravam. Parecia-me que as luzes estavam sempre apagadas. Ela tinha uma personalidade que me intrigava- uma médica, nos anos 60 era coisa rara !

Lado oposto morava, numa casa minúscula, eu e a minha família. Dormíamos uns em cima dos outros, no aperto de todos os sentidos. Dias de chuva, a casa ficava inundada. Boiavam os nossos utensílios( domésticos e pessoais) . Eles sabiam nadar, gozar o prazer de um banho de chuva. Meu pai adormecido, nos seus sonhos de boêmio, conseguia nos lembrar:" cuidado com o meu sapato de cromo alemão!". Enquanto isso as mulheres adultas ficavam puxando e enxugando as águas.

Parede com parede, Dona Irismar e Seu Antonio; Seu Luiz (enfermeiro) e Dona Albertina. Dona Zeneuda (prima de Dr. Aníbal e Letícia Figueiredo) tinha quatro filhas: Antonieta (a mais bela), Elisabete, Ermira e Elisa. Vida de viúva , modesta, parcimoniosa, mas feliz!

Na esquina, a pensão Hermes. Janelas e portas abertas. Mesas bem forradas ervas azeitadas, viajantes, forasteiros, e o cheirinho dos temperos.

Praça Juarez Távora, Escola Técnica de Comércio, sob a direção do professor Pedro Felício Cavalcante. Movimento constante. Quem não podia estudar no Colégio Diocesano ou no Santa Teresa, formava-se lá. E naquela Instituição, muita gente se instruiu, e conquistou seu lugar-berço natural da Faculdade de Economia do Crato.

Até chegar na Praça Siqueira Campos, a gente tinha que pisar na calçada de Dr. Meudo, casa de Dr. Aníbal, Seu Eunício Dantas, Armazém Recife, Alfaiataria de "Rivadave", consultório de Dr. Derval Peixoto, sobrado de Joaquim Patrício ou seria de Antonio Luiz? Armarinho dos Vilar, Casas São José (ainda permanente na venda de chapéus); em frente à Azteca de seu Modesto a Livraria de Seu Ramiro Maia(Ronald no atendimento), e meu olhar a cobiçar livros, notadamente, os Romances; Tipografia Cariri de Seu Raimundo Maia e Dona Conceição: Casa Vênus, Casa Abraão, Casa Alencar, Livraria Católica de José do Vale e Vieirinha... (aposto que viviam por lá Do Vale e Zé Flávio, que ainda eram meninos); Ernani Silva, "Sal Míneo", Anísio Calçados, e O Grande Hotel.

Lado oposto, a partir da Pça S.Vicente, eu lembro da relojoaria Nonato, Casa do Pintor, Ótica aonde Sofia (irmã de Maildes Siqueira) trabalhava; Tércio Vidraçaria (ainda no mesmo lugar, e do mesmo jeito...!). A Babilônia de Wilson, sobrinho de Cícero Coló, Casas Pernambucanas, Banco Caixeiral de Seu Pedro, Augusto Gonçalves (meu padrinho de batismo), Ésio Braga... Na memória, ainda trabalham por lá; A Cratense de Seu Euclides Lima Barros e Dona Neném; Juvêncio Mariano, Loja Azteca, que calçava a nossa elegância; Thomaz Osterne de Alencar, e a praça!

A praça, a Frigidaire, Bantim e o Cassino. Essa rua era o nosso Shopping, nosso passeio público, nossa vitrine, nossas luzes de néon, nosso caminho!

* Não confiem plenamente, na memória de uma menina. A intenção é atiçar lembranças, e torná-las mais completas. Acrescentem. Cada nome citado merece um conto!

.

Repentes são
como estrelas cadentes
numa velocidade urgente
caem, e se infiltram
nas garras das nossas mãos.

Inquietas
gritam na espera
e nada era
Eram apenas canções
no rádio da imaginação.

Tempo ...Pediram-me tempo
- O tempo do esquecimento !
E, antes que a verdade se firme,
eu deixo de sentir
o que às vezes penso.

Foi um tempo
Foi-se o tempo
A gente já não se avizinha
A gente se adivinha...
E a resposta é não !

Tarde quente
Já passou da hora
Já sumiu da mente
O telefone toca ...
Como antigamente !

Sono
Sonho tristemente
O que não pode chegar
que de mim
se despeça ,já !

25 de setembro - Dia do Coração
A gente aprende desde cedo que é proibido falar de boca cheia. Eu sou daquelas que morre pela boca, como peixe. A diabetes chegou por necessidade de disciplina , já entendi !
Mas, e de coração cheio ? Não sei falar , quando muito sinto !
Tudo pleno impõe silêncio !
E a gente só fica por aqui escrevendo, comentando , catando poesia, fotografando o momento, porque precisamos da inteireza , enquanto ser humano. Hoje é o dia do coração. Esse que bate em ordem, e desordenadamente. Ora bandido, ora menino tal a pureza no sentir , e nas intenções do agir.
Meu coração a cada minuto vai crescendo, se elastecendo para comportar emoções , e um tanto de gente, que dele se apropria. O blogue Cariricaturas é a minha recente paixão. Uma fila( indiana) de gente, entra continuamente , em meu coração.
A grande alegria é saber que essa invasão ( presente divino) não tem competição , nem entra nas energias que o ego, nos apronta. Ela é primitiva, pura, genuína ... É algo que não se explica ... É só coração !

Radionovela


A vida para alguns tem como estopim das emoções , a novela. Se antes não tínhamos televisão, tínhamos o rádio. Minha mãe nunca gostou, e até nos proibia de assistir, mas a minha avó paterna não perdia um capítulo, e chorava em todos os momentos que lhes parecia emocionante. Intrigada com tanto choro, comecei a assistir também, e comecei a querer saber da trama, e esperar pelas emoções do próximo capítulo. Como lá em casa não me era consentido, depois de viciada , corria pra casa de Magali. Quando eu perdia um capítulo , ela tinha que me contar tim tim por tim tim. O rádio era a pilha e a minha avó ficava muito nervosa , quando elas ficavam fracas - não podia ! Meu pai , quando a energia da casa ficava tulmutuada por uma conversa comprida , ele chamava todos de noveleiros pra suavisar o carão e encerrar a discussão.


Devolvo as lágrimas ao mar
Fico com o olhar em botão
Discretamente nascido,
num pé de saudade.


Silente o vento escuta
Os sonhos lentos da Serra
Cumeeiras repartidas
Olhos vidrados na terra
Risos perdidos nos lábios
Restos de sombra na mata e
O sol dormindo no Vale


Sorri matreira a menina
Olhando a noite que chega
Correndo pelas calçadas
Ouvindo a tarde fagueira
Rindo das cores da aurora
Rimando os ecos na tarde
Onde o poema se achega


Sonha a menina acordada
O príncipe desencantou
Correu longe pelo espaço
Onde a saudade a levou
Rodopiou a menina
Ritmos de valsas dançou
Onde a vida a carregou




Sonha, menina, sonha
Ocupa todo o espaço
Coleciona mil amores
Olha pra vida e com graça
Reúne os teus amigos
Recolhe deles o abraço
O amor que a vida traça...

Meu nome é Dora (no espelho do tempo)


Alguns me perguntam nas entrelinhas: por que você separou-se do marido, nos idos de 1975? Respondo sempre, com objetiva naturalidade: gente, porque eu queria namorar todas as pessoas amáveis, e mulher casada só pode ter olhos para o seu marido( ainda hoje, penso isso).
Namorar não significa fazer sexo... Se bem que, também significa!
Namorar é andar de mãos dadas, ficar horas penduradas no telefone, rindo e falando bobagens. Ir ao cinema, dançar de rosto colado, trocar poemas, bilhetes, fazer coisas, em parceria... Enfim!
Namorar é pensar que está namorando, e pronto! Mesmo que o namoro seja irreal, unilateral... Mesmo que seja indefinido: Romance ou amizade?
-Tanto faz!
Por essas pequenas emoções, de certa forma, existencialmente vitais, corri riscos, paguei vultosos preços... Tudo por um par de asas, que me levassem, aonde moram os meus desejos.
Descontando a minha insensatez juvenil, simplesmente, peguei o beco da vida!
Igual a todos os que não ousaram;
igual àqueles que nunca precisaram sair do caminho do meio;
igual àqueles enfileirados e disciplinados!
Fui triste, fui só, e fui estúpida ,e maravilhosamente feliz!
Recife, primeira estação. Lá, busquei o Cais de Santa Rita. Não como o buscam as doidivanas, mas, como o buscam as santas, e ligeiramente profanas. Santos sonhos, com gosto de todas as culpas!
Fiz dois anos de terapia pra soltar meu primeiro “pôrra”!
Depois foi ficando pô, até ficar, só no “p” da vida.
Dois anos de terapia pra ficar bem com aquilo que sou, e como vou ficando... Consegui!
Agora, como pecadora remida, uso créditos, solto meus pós de artifícios. Salpico afetos pelo reino da memória, e o subproduto, eu reciclo! Posto aqui, nesta rádio imaginária, que às vezes, se chama Blog!
Com margaridas e girassóis nos cabelos, talos de lírios na boca, eu revivo, em boas companhias, minhas incursões e excursões amorosas.
Eu tenho uma prima que conhece os meus “causos”... (Combinamos um dia, que ela os publicaria, depois da minha morte. Por via das dúvidas, resolvi antecipar o ato, e não a sorte!)
Os bem sucedidos, os engraçados, e os “sórdidos”, vou postá-los na seqüência. Será meu café presente, com aromas do passado.
Estou em 1975. Quem quiser fazer regressão no tempo... É bem-vindo!
Estou no auge da minha performance feminina.
Meu nome é Dora!





Ponto Cego

Estrada reta

sem atalhos, labirintos

Seremos agulha e linha,

amarrados,

num ponto cego do espaço.


Sou fumaça que o vidro embaça

nuvem que largou a lágrima e

de tanto ser ...Findou !


Palavras são como flechas ou bombas

quando atiradas provocam danos.


Estou na lista de espera

Estou sempre na janela

de asas cortadas.


Luas virão

estrelas piscarão

Basta ficar de olho no céu !


No vai e vem do tempo
deixo escorrer as águas
deixo secar os sonhos
faço espuma nos mares da pia
Tudo é fria!
Nada volta...
Apenas um cheiro fica,
no lençol que me cobria!


Depois do leite derramado
Há sempre um gato
para lamber o prato

Depois da chuva
há sempre um canto para secar
um cheiro novo no ar
uma surpresa no olhar

Suspiros...

Senti-los como um beijo
que molha a boca
girando louco
no carrossel do corpo
domando a alma
que goza submissa!

Telma Saraiva


Quem não conhece a artista
Não sabe o que o Crato tem
Pois ela com a sua arte
É parte da nossa história
e da beleza também!

Em cada momento vivo
Seja solene e festivo
A Telma com sua lente
Registrou todos os fatos
E o fez com muito brilho

Se não fosse essa mulher
Que o nosso mundo enobrece
Não me veria criança
Nem lembraria de tantos
Que o coração não esquece

No dia do coração
Quero o astral da afeição
Do povo que é cratense
E dos amigos ausentes
Que gostam de Dona Telma



.
Sou uma palmeira do Crato ,

passando de meio século.
Avisto o Crato dos meus altos
e ele não espera que eu me afaste
Minha alma viaja...
Foge e volta,
lembrando do Crato.
Um dia ficarei por aí...
Sem lebrar que existi
Serei apenas uma palmeira cortada ,
que o vento desistiu de balançar,
ou de tanto balançar, ruiu.




Quem já leu Fotonovelas ?

Na medida em que a televisão nos tirou da praça Siqueira Campos, das calçadas, das tertúlias , do cinema, a Fotonovela foi substiuída pelas novelas da Globo.
Era uma leitura velada, proibida. Minha mãe abominava, mas meu pai gostava. Eu lia escondida. Corria pro banheiro, que ficava na área externa da casa , e entre o pé de mamão e o pé de côco, fugia dos olhares de vigília. Adorava ! Por ser proibido , eu adotava outro tipo de leitura , mas não dispensava uma revista em quadrinhos : Luluzinha , Bolinha, Zé carioca...Tudo bem ! Essas eu tinha permissão para comprar...Mas, e Sétimo Céu, Grande Hotel, Capricho, Ilusão...?
Essas eu lia do meu pai, e das amigas.
Passando férias em Recife , eu fiz amizade com uma vizinha dos meus tios. Justo a nossa colaboradora ROSA GUERRERA ( jornalista). Ela comprava todas, e eu não sosseguei, enquanto não li sua coleção. Depois de um mês, quando as férias findaram , eu sabia tudo do amor que não dava certo; tudo do amor romântico; tudo do perfil de homem certo, e dos errados também!
Não sei até que ponto sou produto daquelas estoriazinhas, mas sei que elas me ensinaram a namorar, e a gostar de me apaixonar. Os príncipes não tinham cavalo branco, nem título de nobreza; as princesas eram belas e pobres, e o final era sempre feliz ! Destarte o caráter de sub-literatura, em cada estória , ficava uma lição de moral, mesmo que na maioria, nos alienassem.
Mas a síndrome de Gata Borralheira, Cinderela, Rapunzel, perdiam feio, diante das estórias contadas pelos astros da Fotonovela. Li , sim ! Lia e gostava ... Ainda me entristeço por terem desaparecido das bancas de revistas ( ficou sem mercado), e por ter deixado de por elas me interessar. Há 45 anos atrás, fechei o ciclo !



Um amor e Adélia Prado
Adélia Prado me foi apresentada por José Ítalo de Andrade Proto, em 1981.
Recebi pelos Correios, o presente de um livro de poesias com a dedicatória:
“Adélia não é a tua cara?
-Insaciável, em termos de vida!”
Li, avidamente. Afinal, Ítalo fôra e continuara sendo o meu maior referencial afetivo de sabedoria, sensibilidade e inteligência.
Descobri na Adélia, a simplicidade que existia em mim... Pensar poeticamente, enquanto lavava a louça do café, varria a casa, cuidava do jardim, testava uma receita nova, me enfeitava para esperar um namorado.
Em 1987, Ítalo foi convocado pelos céus, e partiu. As pessoas que o amavam tiveram que conviver com a dor da separação, hoje transformada, na mais doce das saudades.
Ítalo amigo, cidadão, camarada, filho, irmão... "O Mimi" dos afetos mais próximos!
Com esta ponte sutil, permaneci ligada à suavidade do Ítalo, e sabedoria poética da Adélia.
Conheci o Ítalo, em Várzea Alegre, no ano de 1967. Época de férias. Juventude lúdica: dançante e cantante. Mas ele era diferente... Preocupava-se com as causas sociais. Instigava a nossa consciência crítica. Queria por idealismo, um mundo mais justo, mais fraterno, mais livre.
Correspondemos-nos por meses seguidos... Até que nos ligamos a outros destinos, sem jamais perder o fio da meada: boas lembranças!
Uma década depois, em 1977, nos reencontramos em Fortaleza. Ele me olhou e disse:
Socorrinha, você, Odalice e Dayse não ficam velhas, nem feias... Continuam lindas!
Já adultos, e com responsabilidades, curtimos uma grande amizade. Cantamos Nelson Cavaquinho, Chico, Vinícius... Voltamos a dançar, e a fazer poesia com o nosso olhar. E, por mais dez anos, nos correspondemos.
Cartinha vai, cartinha vem... Eu de vários recantos... Ítalo, no Rio de Janeiro. Dizia-me sempre: Você devia morar em Londres!
Até que um dia, as cartas tornaram-se telepáticas.
Visitou-me algumas vezes, e ainda me visita trazido pelo perfume de uma flor ou o som de uma canção de amor. Arrastado pelo vento, ou voando como um passarinho... Pousa nas minhas janelas diurnas e noturnas, e faz com a alma, um afago, um carinho.
"Love is a many splendored thing”...
-A voz de veludo e o verde esmeralda do olhar, que nunca esqueci!

Nem prosa, nem verso

Meu caminhar é solitário

Que adianta voltar e buscar o que não ficou ?

Nem gente, nem pacote atrasam

minhas idas , minas vidas

Volto no pensamento

quando o tempo é escravo

- No presente ele é senhor

Acelera ou adormece um desejo animado



Já disse tantos adeuses

Já fiquei de mãos vazias, embargada de saudades

Já tentei reconduzir algum caso terminado

Tudo acaba numa pia :

o resto do café, farelos de pão, flores despetaladas ...



Não gosto das despedidas

Elas estão nas pautas dos meus dias

-Prefiro os encontros inesperados

Seja de música ou pessoa

Seja um conto ou seja um fato

Chega e fica

Desfaz a mala

Cabe num canto da sala

Fica postado num quadro

Faz cafuné, coça o pé

Deixa dormir sossegado.

Quando eu me casei, em 1979 , todas as casas tinham quintal e pilão. Tratei logo de arranjar um, mas já não existiam em qualquer feira para se comprar, , nem quem os fizesse. Uma vez por semana, eu ia na casa da minha tia Ivone pilar a carne seca pra fazer paçoca , acompanhada do baião . A gente fritava a carne na gordura do toucinho , e adicionava bastante cebola roxa, e aí então , socávamos no pilão com um pouco de farinha de mandioca. Tínhamos então , a verdadeira paçoca . Ela nem se acompanhava de outra carne. Não era complemento. Era o prato principal. Ficava um pouco úmida , e a carne numa consistência fibrosa, fiapenta. Essa era a nossa paçoca original. Hoje , imaginem, a gente usa o liquidificador pra fazê-la, numa quantidade desproporcional de farinha, e achamos, enchemos a boca pra dizer, que adoramos paçoca... Ora, ora, a gente adora é farofa ! Nunca peço paçoca , nos restaurantes. Eu sei o que é uma paçoca gostosa ! Naquele tempo acompanhava o baião de dois com queijo de coalho e nata de leite com torresmos e cheiro verde. Se fazia mal isso é outra questão . Só sei que era tudo natural. Existe algo pior do que os conservantes dos nossos enlatados? A gente pensa que usando um creme de leite light tá tudo compensado...Cuidado !


Quando eu fizer um curso de fotografia com Pachelly , farei meu banco de registros , e a minha cabeça ficará mais leve.
Essa é a filha caçula de Ana Moreira ( minha avó paterna). Ontem estive em Mauriti para abraçá-la, nos seus 90 anos. Eu nunca sentira antes , a delícia de um carinho de tia, com tal intensidade e emoção. Estava lá, arrodeada de amigos, na paz do dever cumprido, reconhecendo
a gente, conversando , e ainda, pasmem...Preocupada com os trâmites domésticos. Vocês já se serviram ? Vocês já repetiram ?!
Minha tia é como foi a minha avó, meu pai e minha tia Ivone : almas apaixonadas e sensíveis !
Apaixonadas por todas as artes, e notadamente por gente !
De passos frágeis, voz delicada , rosto meigo , atesta no semblante e na palavra , que a vida foi comprida, mas a missão foi cumprida !
Ainda quero repetir com ela muitas festas semelhantes àquela !
Sua bênção, minha tia Auri !

Preciso encontrar meu olhar,
perdido na menina dos teus olhos.
Preciso do teu silêncio,
que tudo entrega,
no escuro da tenda.

Busco um sinal
Um arco-íris
Chuva molha, estraga
ou viça
o que há fora de mim.

O poema deve ressoar
como música suave ...
Não quero que a dor,
dite uma canção .

Conviver é "viver.com"
sem a solidão do nosso próprio eco.


Existem saudades de todas as idades
Todas um dia morrem
Algumas passam logo,
e as que ficam adormecem,
e deixam de doer... Têm sono leve,
acordam fácil, assustadas ou agradecidas
Por quem as trouxe de volta.
_ Sou solidária com todas as saudades!

Serei Zen...
No dia em que as ligações por engano não me irritarem
Quando as críticas incongruentes não me afetarem
Quando a vontade de fumar não existir
Quando todos tiverem consciência de si...
Serei zen, na eternidade?
.
Impossível ser zen numa noite profana
Impossível expulsar
O anjo que me acompanha !


A gente descobre o amor sem senti-lo
Ele é impositivo, embora nada cobre
Ele resiste depois que tudo passa
Amor não tem saudades
Amor nem ata, nem desata
O amor sendo livre nos deseja livres
Promover a liberdade do outro,
e viver a própria liberdade,
Tem fórum de amor, no infinitivo!


Nunca fiz dieta, nunca fui obesa - por Socorro Moreira

Sei que o problema é sério, e a obesidade sempre me preocupou. Mas tenho mantido um controle de peso, ao longo dos anos, sem fazer dieta, mesmo inclusive, sendo diabética.
Morei com uma pessoa, que precisava perder peso. Foi ao nutricionista e entregou-me o cardápio prescrito. Segui à risca, e no final do primeiro mês, ela tinha perdido menos de um quilo. Fuzilou-me com o olhar. Depois de alguns questionamentos, chegamos á conclusão de que não existe poder num regime, sem a prática de atividades físicas.
Minha experiência pessoal também diz o seguinte: a quantidade do alimento ingerido é que faz a diferença. Desde sempre como de vez em quando (a cada 2 h, de um tudo, mas em pequenas ou mínimas quantidades). Admiti essa prática, uma vez que não exigiu de mim nenhum sacrifício... Muito pelo contrário.
Claro que mantenho algumas regras: azeite ao invés de óleo; pouquíssima massa; pão de vez em quando, muita fruta, pouca carne, leite desnatado, e a possibilidade de experimentar qualquer prato.
Quase não uso açúcar, nem adoçante. Não gosto de margarina, nem frituras; nunca usei maionese, em sanduíches... Nem abusei das carnes gordas, presuntos, etc.
Mas, peço logo batata frita, quando chego num barzinho. É o meu tira-gosto preferido. Nos aniversários, provo dos doces e salgados... Ainda bem que ninguém completa anos todos os dias (amigos e familiares).
Bom, tenho o mesmo peso (nunca chega aos a 70 kg x 1,70 m), por várias e várias décadas.
Enfim... Coma com parcimônia, e faça várias refeições por dia. Você está sempre saciada, e apenas belisca!
Socorro Moreira
.



Mortal ,Imortal ?

Imortal,
antes e depois da vida
Imortal é Deus, criança
fantasma, louco...
Um pouco imortal, somos ...
quase o tempo todo!

.
Mortal é o presente
sempre tão corrente
Mortal é o passado
sempre acontecido!
Imortal é o futuro
eterno prometido!

Quando fui imortal ,
nem me percebi
Quando amanheci,
morri todo dia...

E agora,
que faço com os amores,
que se imortalizam?
Mortais são os sonhos
que em mim, terminam!


A Rua das Laranjeiras- Anos 60-
(Informações pautadas na memória de uma menina, que apenas nasceu naquela rua, e passeou suas alpercatas nas calçadas. Imprecisão histórica... O resumo de uma verdade ilimitada!).

Antes da Pedra Lavrada, eu nasci nas Laranjeiras, hoje José Carvalho.
No mesmo pedaço, onde morava Zé Cirilo, Salvina, os Libório, os Parente, os Cardoso, e onde ficava o Círculo Operário (que virou Escola, Cinema, salão de eventos, acolhendo discussões de base política social).
A rua começava com a Padaria de Seu Cirilo. Lá a gente escolhia o pão sovado ou aguado. Comíamos com nata batida do mais puro leite de vaca. Encostada à padaria viviam os seus familiares: Zenira, Zenilda, Zildenir, Francisco José (que foi meu colega no Instituto S.Vicente Férrer). Naquele Instituto, Zenira deu uma das suas grandes contribuições educacional. Tinha uma energia linda, vibrante, artística! Gritava as nossas quadrilhas de S.João de uma forma inconfundível. Mudou tão pouco ao longo dos anos...
-É a mesma Zenira!
Numa das casas seguintes, Gilvanda, primeira esposa do Compadre Zé Cirilo (como o chamava meus pais), criava a sua prole. Tia Fantina (irmã da minha avó Donana) e Gilvanda reinava na organização da casa. Zé Sérvio, Grijalva, Eugenia, João Antonio e Jorge já haviam nascido. Gilvanda confeitava os nossos bolos de aniversário. Sua casa tinha gosto de festa: limão glacê! Zé Cirilo entendia tudo de eletrônica, e trabalhava na Rádio Educadora, desde a sua fundação.
Mais na frente, a casa de Mário Oliveira (o dono do Cine Cassino) casado com Mildred, filha de Tia Fausta. Casa glamurosa. Mildred trazia das telas de Hollyood o astral do cinema. Tia Fausta era apaixonada por perfumes franceses, e tinha uma bela coleção em miniaturas. Foi lá que Miriam Magda completou seus 15 anos. Uma festa de arromba, que eu não tive o prazer de comparecer, pela pouca idade (menos de 15 anos). Mas eu assisti do meu jeito...!
Na mesma calçada, os Libórios. Salete, a musa maior: atriz e bailarina!
Parede com parede, o salão de beleza de Dona Estela Parente. Freqüentei aquele espaço, pela primeira vez, quando contava quatro anos. Cismei de cortar os meus dóceis cachos, irrefletidamente... E ficou horrível! Minha mãe pegou-me pelo braço, e conduziu-me até lá. Frisaram meu cabelo para consertar o estrago. Sai de cara redonda, cabelos curtíssimos, apipocados e com cheiro de queimado. Perdi naquele dia qualquer possibilidade de beleza romana, até os nossos dias. Na extensão do salão, a residência dos Bragas. Que menina da época não namorou com um deles? Ésio, Helder, Élcio, Hélio... Nem eu, escapei à regra!
Em frente morava Marta de Salvina.
Salvina, a mãe de metade das crianças, que vinham ao mundo, no Crato. Foi enfermeira do Dr. Gesteira e muito com ele aprendera!
Atravessando a rua, tinha (e ainda hoje existe) a ourivesaria do Seu Teophisto Abah. Grande artesão, amigo do meu avô Alfredo Moreira Maia (primo de Emília Moreira - avó da minha amiga Magali) e do Sr. Júlio Saraiva. Dizem as boas línguas que não existiam homens tão íntegros e habilidosos, quantos aqueles três. Era um trio famoso!
Na seqüência, os fundos do Moderno, propriedade de Seu Macário, por onde escorria meio mundo de pessoas, depois das sessões de cinema. A casa de Tia Pigusta (modista famosa), os Brizenos, os Duartes, Seu Euclides Lima Barros e Dona Nenê. Ali, Hamilton se achava!
No mesmo cinturão, a casa de Dedé França, Zeba, Dona Zélia (mãe de Nilo Sérgio), e a Sub-Estação, que gerava energia elétrica para toda a cidade (antes da luz de Paulo Afonso).
No quarteirão seguinte, depois do Beco de PE. Lauro, a sanfona genial de Hildelito Parente e um monte de irmãos: mais novos mais velhos e da minha idade!
Uma pequena concentração do Honor e Brito...
O casarão de Seu Pergentino (Pai de Dr. Eldon Cariri, Dona Eunir (mãe da Bela Piinha))
Do outro lado da calçada, a casa de Salgado, que nos assustava com seus vôos acrobáticos... Um dia a morte o assustou... Mas, pra que lembrar coisas tristes?
E a minha doce Mãe Candinha?
Quem nunca provou da chupeta de umburana e mel de abelha, que naquela casa vendia? Pois aquelas mulheres eram minha bisavó e minhas tias: Amália e Rosália. Lá tinha um papagaio que falava e repetia tudo que dizíamos.
“Tem café, minha Rosa”? Era o verdinho, imitando a voz de Vicente Cordeiro, meu tio por afinidade... Cego na velhice, mas compensado por um ouvido privilegiado. Tocava acordeom, gaita, realejo... e disso, eu também gostava!
Depois, a rua assumia outro nome...
Com preguiça não chego nesta carreira, na casa de Edméia Arraes...

-É outra circunferência, como diria meu amigo Blandino!