por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Nunca mais ouvi uma seresta...!



Hoje tem show de Luis Melodia no SESC Juazeiro.Muito bom!



Músico/Banda
Luiz Carlos dos Santos (Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1951), mais conhecido como Luiz Melodia, é um cantor e compositor brasileiro de MPB, rock, blues, soul e samba. Filho do sambista e compositor Oswaldo Melodia, de quem herdou o nome artístico, cresceu no morro de São Carlos no bairro do Estácio.
Luiz Melodia foi muito influenciado pela Jovem Guarda, sobretudo Roberto Carlos.
Começou sua carreira musical em 1963 com o cantor Mizinho, ao mesmo tempo em que trabalhava como tipógrafo, vendedor, caixeiro e músico em bares noturnos. Em 1964 formou o conjunto musical Os Instantâneos, com Manoel, Nazareno e Mizinho. Lança seu primeiro LP em 1973, Pérola Negra. No "Festival Abertura", competição musical da Rede Globo, consegue chegar à final com sua canção "Ébano".
Nas décadas seguintes Melodia lança diversos álbuns e realiza shows, inclusive internacionais. Em 1987 apresenta-se em Chateauvallon, na França e em Berna, Suíça, além de participar em 1992 do "III Festival de Música de Folcalquier" na França e em 2004 do Festival de Jazz de Montreux à beira do Lago Lemán, onde se apresentou no Auditorium Stravinski, palco principal do festival.
É um ilustre torcedor do Vasco da Gama, tendo participado do Megashow comemorativo dos 113 anos do clube, onde apresentou as músicas "Estácio, Eu e Você" e "Congênito".


Memórias de chuvas, sertão, rio e mar, silêncios, poesia - por Stela Siebra




Essa imagem (que encontrei na internet) me comove, me traz memórias de chuvas, de águas, de sentimentos, de cumplicidade, de amizades. Irmãs, primas, amigas. Poesia.
Uma memória mais remota me leva à Ponta da Serra:
Noite de trovões e relâmpagos: chuva farta.
Manhã inundada de luz:
cheia no rio Carás
terreiros inundados com poças d’ água
ou então, nas margens dos caminhos,
riachinhos que corriam entre pedras
e iam do terreiro da nossa casa ao terreiro da casa de vovô Valdevino.
Eram nossos pequenos rios pessoais.
Outra memória, quase que bem recente, pois é do final dos anos 97 ou 98, é de uma certa tarde de chuva fina na praia de Ponta de Mangue. Eu e minha amiga Cris Aragão protegemos nossas cabeças com um plástico e fomos andar na beira mar.
A maré estava baixa, havia uma quietude na natureza, quase silêncio, quase felicidade.
                         Compartilhar silêncio é entender-se numa linguagem maior.
                        - Stela Siebra -

LAMPIÃO FEZ PROPAGANDA DA ASPIRINA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma das gerações mais ricas culturalmente do Cariri foi aquela que envolveu entre outros o Rosemberg Cariry, o Luiz Carlos Salatiel, Zé Flávio, o Jackson Bantim, apenas para localizar esta geração pois a lista de nomes de igual peso não é pequena. Inclusive o Ronaldo Brito e o artista Plástico Bruno Pedrosa, um pouco antes, também se incluem nesta riqueza.

Riqueza em quê? No soerguimento e na releitura quase mítica (próximo ao místico) da cultura do interior nordestino. Aquele com base econômica na pecuária, na agricultura de sobrevivência e no algodão (o “ouro branco”). A cultura que arrastava consigo um catolicismo quase primitivo junto com elementos indígenas. Aliás a proliferação de “pastores neo e pentecostais” não é outra coisa que não a mesma base não institucional da religião popular, embora muito vista como mera exploração como era visto o catolicismo popular nordestino.

Valores icônicos dessa geração: a família patriarcal e da fazenda sertaneja, os poetas populares (Patativa, Zé de Matos), as danças de raiz (reizados, coco etc.), beatos e a dinâmica religiosa acumulada em Juazeiro, o cangaço e a música popular nordestina. Isso incluindo mitos, músicas e textos que pessoas com o nível de educação desta geração tão bem soube levantar. Incluindo aí a história regional do interior nordestino (não praiano e não cana de açúcar).

Mas eles tiveram uma grande vantagem comparativamente aos tradicionalistas que realizaram grandes pesquisas sobre o passado do interior nordestino. Aqueles seguiam a esteira ideológica dos Instituto de Geografia e História, em seu tradicionalismo se tornaram, assim, conversadores com tendência ao refúgio no passado. Já a geração que cito deu novo significado à história interiorana nos termos da modernidade. Da transformação de natureza crítica, significando refazer um campo mítico que substancie o deserto pragmático burguês com sua individualidade consumista.

O Luiz Carlos Maciel mantém um blog (ou mantinha acho que chamava-se Cariri Encantado) como evidência do que digo. De vez em quando ele e o Carlos Rafael dão significado territorial ao “movimento” desta geração (esqueci o nome exato). A filmografia do Rosemberg é uma prova eloquente do que digo. Os livros do Zé Flávio. Os espetáculos de teatro anunciados pelos blogs representam este momentum da nossa cultura.

Agora ao título não é? Isso encontrei no livro “Benjamin Abrahão Entre Anjos e Cangaceiros” de Frederico Pernambucano de Mello. As filmagens feitas por Benjamim não teriam sido financiadas apenas pela Aba Film, mas pelo esforço do governo Nazista Alemão em sua aproximação com a América Latina. E esse esforço traduzido pela empresa alemã Bayern fabricante da famosa Aspirina.
Lembram do filme Cinema, Aspirina e Urubus? Acho que de cineastas pernambucanos. Ele mostrava exatamente o esforço da Bayern em divulgar seu principal produto com uma camionete nos anos 30 pelas estradas precárias do sertão, levando filmes e um projetor de cinema que ia de pequena em pequena cidade carregando nela um pequeno gerador movido pela camionete.

De modo que a proeza de Benjamin Abrahão ao filmar e fotografar Lampião teria sido financiada, também, pela Bayern. Inclusive todo o equipamento cinematográfico e fotográfico era da Zeiss alemã. As provas de Frederico são imagens de Lampião apontando para um cartaz de propaganda da Aspirina de falando palavras e outra imagem dele distribuindo sachês de aspirina para o seu bando.

Não quero com isso apenas dizer que a pesquisa histórica do interior nordestino, empreendida pelos tradicionalista, ressaltando grandes figuras patriarcais e da igreja católica, não tenham grande importância para nosso autoconhecimento. O que pretendo apenas é apresentar que mesmo Lampião já não era aquele cangaceiro medieval que tantos pintam. Assim como a geração que soube dialogar com a história entre o passado e o presente.

Mesmo quando o diálogo desta geração, numa ou noutra obra, por vezes se congele de modo não dialético, a verdade é que esta geração deu movimento e criou uma ponte icônica que nos valoriza frente ao “estrangeiro”. Aliás, lembro muito bem do cronista e poeta Airton Monte espinafrando na sua coluna em jornal de Fortaleza o tratamento “mítico” dado a Patativa do Assaré (conheci muito bem a vaidade de Airton e isso pode ter sido a manifestação de algum ciúme com Rosemberg que passou a influir na Capital). Em que pese que a poesia é um coletivo além de Patativa, o que se passava com Airton era um certo mal-estar com os valores do sertão em relação ao suposto universalismo do litoral.

Ou seja, a velha luta entre Franco Rabelo (Litoral) e o Padre Cícero (Sertão). O que o pessoal da cultura litorânea nunca compreendeu é que o lugar no mundo atual é aquele da recriação do nosso próprio mundo. Por isso meu abraço a esta geração do mundo caririense. 

Um poema de Socorro Moreira (de quem estamos com muitas saudades!



Nos tempos do verbo

        Socorro Moreira

Sensível
a qualquer tipo de carinho
sorriso, mimo...
Rostos distantes
parecem contas
de colares partidos
olhares, bocas...
pérolas escapadas de mim
Sem adereços
esqueço endereços
acendo velas
ilumino lembranças
fragmentos visíveis
O vento traz
o vento leva
a onda traga
espuma de amor
...saturada!
Entreguei os pontos
sem checar os trunfos
meus ases, meus ais...
num jogo comum
E se todos chegassem,
num apelo coletivo?
- Eu ficaria contigo!
Se o tempo voltasse
eu dançaria a valsa dos meus 15 anos
Pediria uma bicicleta no Natal
Nadaria nos rios poluídos
Do Crato até Ingazeiras...
E naquele trem, naquele dia
Teria te visto primeiro
E naquela festa, naquela dança
Me apertaria em teu peito
E naquela noite, naquela praça
te entregaria os meus olhos.
Donzelas de saltos finos e meias desfiadas
se avermelhavam
quando a brisa do amor passava
Guardavam cadeiras no cinema
pro moço que não chegava
Choravam em convulsão
por Francisco e Santa Clara.
Tremores nas mãos, em dias de prova
Disparos no coração, quando recebiam nota
A chatice
de provar o vestido novo
que ficara torto
A vergonha de vestir
o traje antigo
com mancha de caju
na altura do colo
A barra da saia desmanchada
O sapato de sola desgastada
as meias de algodão afolozadas
E o coração na boca
todo atrapalhado
As cartas de amor nunca postadas
promessas tímidas
desejos contidos
orelhas pegando fogo
retrato em 3 x 4
na bolsa ou no livro
um trevo de 4 folhas
pra garantir o destino
Queríamos correr no tempo
e o tempo nos pegou
Deixou-nos
aonde estou!
Senhora - vó
Querendo comer maçã
Pecar contra o que não fez
Ser feliz sendo o que quis!