por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Saudade e realidade - Por José de Arimatéa dos Santos


Comemorou-se o dia da saudade. Palavra que significa muito para todos nós. Quem de vez em quando não sente saudade de momentos vividos ou épocas que já eram e ficaram só na lembrança! Enumerar nossas lembranças seria preciso muito espaço, pois cada um de nós temos as boas e as não tão boas lembranças. Mas quem não se pega a lembrar de muita coisa? Da infância, amigos e conhecidos que não vemos a um bom tempo. Saudades de momentos mágicos como do nascimento do filho ou quando passamos no vestibular e consequentemente da nossa formatura.
É isso! E janeiro é um mês bem diferente dos demais por ser o mês das férias e o início do ano e as perspectivas e anseios se renovam. A realidade é premente e devemos colocar nossos planos em primeiro lugar lutando dia a dia para que tudo planejado possa dar certo. E dessa maneira procurar fazer de cada momento a hora e a vez de atitudes positivas. Digo isto porque a cada momento que vemos o noticiário as notícias ruins se sobressaem, infelizmente. E não é para menos, pois as tragédias, principalmente naturais, a cada ano parecem aumentar. Todos nós somos sabedores do porquê de todos esses acontecimentos no planeta. Somos também responsáveis quando não damos o devido destino ao lixo e não respeitamos as leis da natureza. O homem se sente o soberano quando na verdade é só um dos entes dessa engrenagem tão perfeita e bela. E é tão importante sempre analisar de todas as maneiras nossos atos e procurar respeitar o ecossistema em que vivemos. Assim, cada vez mais agora e no futuro a vida na terra precisa ser mais respeitada. Analisar friamente como cada um de nós estamos a cuidar dessa nossa casa. Eu, você e todos os outros devemos agir no coletivo e pensando coletivamente para a sobrevivência nossa e dos nossos descendentes. Sustentabilidade é a palavra e o caminho.
Foto: José de Arimatéa dos Santos

"Cuartito Azul"

Óleo sobre tela da pintora argentina - Sara María Vaccarezza Fariña, inspirado no tango do mesmo nome .

Cuartito azul
Tango 1939
Música: Mariano Mores
Letra: Mario Battistella

Cuartito azul, dulce morada de mi vida,
fiel testigo de mi tierna juventud,
llegó la hora de la triste despedida,
ya lo ves, todo en el mundo es inquietud

Quizá tendré para enorgullecerme
gloria y honor como nadie alcanzó,
pero nada podrá ya parecerme
tan lindo y tan sincero
como vos

Cuartito azul
de mi primera pasión,
vos guardarás
todo mi corazón.
Si alguna vez
volviera la que amé
vos le dirás
que nunca la olvidé.

Cuartito azul,
hoy te canto mi adiós.
Ya no abriré
tu puerta y tu balcón.




Quem paga o pato ?

A RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO DO CRATO PELOS PREJUÍZOS SOFRIDOS PELOS PARTICULARES EM DECORRÊNCIA DAS ENCHENTES NO RIO GRANJEIRO

Salientamos de pronto que, neste artigo eminentemente de cunho jurídico propositalmente iremos deixar de lado o aspecto político da questão que envolve o problema previsível das enchentes no canal do Rio Granjeiro, por ser de todo impertinente e inoportuno, na espécie.
Para uma melhor compreensão da responsabilidade do Município do Crato pelos prejuízos acarretados aos particulares em conseqüência do transbordamento do canal do Rio Granjeiro não devemos olvidar que: primeiro, é público e notório que o canal alhures mencionado muito antes da quadra invernosa estava sofrendo um altaneiro processo de assoreamento por conta da sujeira acumulada no seu leito, bem como por restos da obra anteriormente executada na encosta do canal, destarte, tendo sua capacidade de escoamento bastante diminuída; segundo, nos albores de 2003/2004 o Poder Municipal Cratense, verificando a necessidade premente da realização de obras em boa parte da extensão do canal do Rio Granjeiro, bem como, nas encostas que lhe circundam, e prevendo a iminência de um acontecimento calamitoso, abriu processo de licitação para execução de obras, sem, contudo funcionar eficazmente o escoamento das águas, por déficit ou até mesmo por omissão na fiscalização da qualidade do serviço, já que em menos de um ano as obras vieram a se desfazer; terceiro, que as mazelas encontradas no canal do Rio Granjeiro se protraíram no tempo com isto agravando os problemas sem que os administradores públicos dessem a devida atenção e efetiva solução.

Sendo os danos sofridos oriundos de obra mau executada e omissão de fiscalização das obras de contenção e limpeza do canal do Rio Granjeiro, desta forma, consubstanciando-se em um fato administrativo, não faz sentido deixar de responsabilizar o Município pelos danos acarretado aos particulares.

Ademais, não se pode alegar que seja a enchente do canal do Rio Granjeiro conseqüência de fato da natureza, pois, esta alegação haveria que ter todos os elementos configuradores da absoluta inevitabilidade da eficácia lesivas a terceiros, porquanto na espécie haveria um quê de evitabilidade exsurgindo a insuficiência e deficiência do serviço, de modo a não ser dado cogitar do fortuito pré-excludente da responsabilidade civil por parte do Município.

No caso do transbordamento que ocorreu no canal do Rio Granjeiro, em Crato/CE, e, suas conseqüências danosas daí advindas eram evitáveis, inclusive porque previsíveis.
Tanto é verdade que o próprio Prefeito Municipal e o Secretário de Desenvolvimento do Crato, em inúmeras entrevistas concedidas, verbi gratia, ao Diário do Nordeste em data de 25 de março de 2005, deixou claro que eram previsíveis as enchentes e reconhece que o Município necessitava de obras e serviços de limpeza no leito do canal do Rio Granjeiro.

Fica claro cm as entrevistas por parte das autoridades municipais que a enchente ocorrida com seus consectários não se deve exclusivamente ao acréscimo pluviométrico, mesmo porque já foi registrado em anos anteriores até com morte e perda material.

Responde a administração pública, pela conduta culposa, ou seja, pela má escolha dos agentes para a realização de obras e/ou pela falta de fiscalização eficiente na realização de obras construídas fora dos melhores parâmetros técnicos, afastados das cautelas recomendáveis, em dimensões inconciliáveis com as circunstâncias do local e o volume de vazão, portanto, sendo imprudente incidindo na cuppa in eligendo, oriunda da má escolha.

Outrossim, não aleguem que por ter sido a obra de contenção do canal realizado na gestão de ex-prefeito o município não responde, pois, como é de comum sabença na administração pública vige o princípio da impessoalidade, onde, os atos administrativos representam o ente ou o órgão que o realizou, a eles devem sempre ser imputados, pouco importando a pessoa física que o realizou. Ademais, não devemos olvidar que a causa do transbordamento e enchente do canal do Rio Granjeiro foi uma seqüencia causas somado e agravado por omissões e imprudências, tanto, do ex-gestor como do atual prefeito que deixou se prolongar por dois mandados consecutivos os problemas do assaz citado canal, inclusive, dando prioridade a outros projetos como reforma de praças e asfaltamento de várias artérias da cidade, destarte, diminuindo a capacidade de infiltração das águas e aumentando o escoamento das águas para o canal do Rio Granjeiro, sem falar da omissão do serviço de limpeza e desassoreamento do canal.

Como muito bem resume o administrativista José Cretela Júnior, o Estado/Município caracteriza-se por seu dinamismo como o lendário príncipe de Argos, deve ter cem olhos, dos quais cinqüenta permanecerão sempre abertos, quando os outros cinqüenta se fecham, durante o sono. Por isso, entre as funções ativas do Município, que se dividem em espontâneas e provocadas, as primeiras são exercidas pela administração, sempre, continuamente, independentemente de solicitação de quem quer que seja, sob pena de faltar a seus deveres.
Não resta dúvida que por parte dos últimos administradores do Crato sobrou olhos para politicagem e projetos pessoais e faltou olhos para projetos e iniciativas que colocassem a população a salva das mazelas das constantes enchentes no canal do Rio Granjeiro.

Francisco Leopoldo Martins Filho
Pós-graduado em Responsabilidade Civil

Reflexão



O Homem - Um Ser Egoísta

O motor principal e fundamental no homem, bem como nos animais, é o egoísmo, ou seja, o impulso à existência e ao bem-estar. [...] Na verdade, tanto nos animais quanto nos seres humanos, o egoísmo chega a ser idêntico, pois em ambos une-se perfeitamente ao seu âmago e à sua essência.
Desse modo, todas as acções dos homens e dos animais surgem, em regra, do egoísmo, e a ele também se atribui sempre a tentativa de explicar uma determinada acção. Nas suas acções baseia-se também, em geral, o cálculo de todos os meios pelos quais procura-se dirigir os seres humanos a um objectivo. Por natureza, o egoísmo é ilimitado: o homem quer conservar a sua existência utilizando qualquer meio ao seu alcance, quer ficar totalmente livre das dores que também incluem a falta e a privação, quer a maior quantidade possível de bem-estar e todo o prazer de que for capaz, e chega até mesmo a tentar desenvolver em si mesmo, quando possível, novas capacidades de deleite. Tudo o que se opõe ao ímpeto do seu egoísmo provoca o seu mau humor, a sua ira e o seu ódio: ele tentará aniquilá-lo como a um inimigo. Quer possivelmente desfrutar de tudo e possuir tudo; mas, como isso é impossível, quer, pelo menos, dominar tudo: "Tudo para mim e nada para os outros" é o seu lema. O egoísmo é gigantesco: ele rege o mundo.


Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Insultar"

"Mi Unicornio Azul"

Unicórnio, também conhecido como licórnio, é um animal mitológico que tem a forma de um cavalo, geralmente branco, com um único chifre em espiral. Sua imagem está associada à pureza e à força. Segundo as narrativas, são seres dóceis; porém são as mulheres virgens que têm mais facilidade para tocá-los.

Tema de notável recorrência nas artes medievais e renascentistas, o unicórnio, assim como todos os outros animais fantásticos, não possui um significado único.

Considerado um equino fabuloso benéfico, com um grande corno na cabeça, o unicórnio entra nos bestiários em associação à virgindade, já que o mito compreende que o único ser capaz de domar um unicórnio é uma donzela pura. Leonardo da Vinci escreveu o seguinte sobre o unicórnio:

"O unicórnio, através da sua intemperança e incapacidade de se dominar, e devido ao deleite que as donzelas lhe proporcionam, esquece a sua ferocidade e selvajaria. Ele põe de parte a desconfiança, aproxima-se da donzela sentada e adormece no seu regaço. Assim os caçadores conseguem caçá-lo."

A origem do tema do unicórnio é incerta, e se perde nos tempos. Presente nos pavilhões de imperadores chineses e na narrativa da vida de Confúcio, no Ocidente faz parte do grande número de monstros e animais fantásticos conhecidos e compilados na era de Alexandre e nas bibliotecas e obras helenísticas.

É citado no livro grego Physiologus, do século V d.C, como uma correspondência do milagre da Encarnação. Centro de calorosos debates, ao longo do tempo, o milagre da Encarnação de Deus em Maria passou a ser entendido como o dogma da virgindade da mãe de Cristo: nessa operação teológica, o unicórnio tornou-se um dos atributos recorrentes da Virgem.

Representações profanas do unicórnio encontram-se em tapeçarias do Norte da Europa e nos cassoni (grandes caixas de madeira decoradas, parte do enxoval das noivas) italianos dos séculos XV e XVI. O unicórnio também aparece em emblemas e em cenas alegóricas, como o Triunfo da Castidade ou da Virgindade.

A figura do unicórnio está presente também na heráldica, como no brasão d'armas do Canadá, da Escócia e do Reino Unido.

Na astronomia, o unicórnio é o nome de uma constelação chamada Monoceros.

O unicórnio tem sido uma presença frequente na literatura fantástica, surgindo em obras de Lewis Carroll, C.S. Lewis e Peter S. Beagle. Anteriormente, na sua novela A Princesa da Babilónia (A Princesa de Babilônia), Voltaire inclui um unicórnio como montada do herói Amazan.

Modernamente, na obra de J. K. Rowling, a série Harry Potter, o sangue do unicórnio era necessário para Voldemort manter-se vivo, porém o ato de matar uma criatura tão pura para beber-lhe o sangue dava ao praticante de tal ação apenas uma semi-vida - uma vida amaldiçoada. No livro diz-se que o unicórnio bebê é dourado, adolescente prateado e adulto branco-puro. Também é interessante observar, ainda na obra de Rowling, que a varinha do personagem Draco Malfoy possui o núcleo de pêlo de unicórnio.

Noutro livro, "Memórias De Idhún", de Laura Gallego García, o unicórnio é uma das personagens principais da história, sendo parte de uma profecia que salva Idhún dos sheks. Em Memórias De Idhún, o unicórnio está no corpo de Victoria.

Em 2008, um "unicórnio" nasceu na Itália. O animal, obviamente não é parte de uma nova espécie. Mas sim, uma corça (pequena espécie de cervídeo europeu), que nasceu com somente um chifre. Pesquisadores atribuem o corrido a um "defeito genético".




Mi Unicornio Azul - Silvio Rodriguez




Mi unicornio azul ayer se me perdió,
pastando lo deje y desapareció.
cualquier información bien la voy a pagar.
las flores que dejó
no me han querido hablar.

Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
no sé si se me fue,
no sé si extravió,
y yo no tengo más
que un unicornio azul.
si alguien sabe de él,
le ruego información,
cien mil o un millón
yo pagaré.
mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Mi unicornio y yo
hicimos amistad,
un poco con amor,
un poco con verdad.
con su cuerno de añil
pescaba una canción,
saberla compartir
era su vocación.

Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
y puede parecer
acaso una obsesión,
pero no tengo más
que un unicornio azul
y aunque tuviera dos
yo solo quiero aquel
cualquier información
la pagaré.

mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Sílvio Rodriguez (Cuba)

Fonte Wikipedia
Imagem - Google Imagens



Acalanto
Caetano Veloso
Composição: Edu Lobo - Paulo César Pinheiro

Dorme que eu vou te embalar
No meu colo quente
Como a lua embala o mar
E a maré embala a gente

Dorme que eu vou te velar
Pela noite quieta
Como a chama do luar
Vela o sono dos poetas

Dorme que eu vou te ninar
No teu canto de criança
Como sempre ouvi meu pai cantar
Um acalanto de esperança

Os filhos da família - LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO - Colaboração de Edmar Cordeiro


Freud dizia que a família era composta de heróis trágicos que ora se atraíam, ora se agrediam e ora se matavam, mas que a família é viável e necessária para a formação do sujeito.
A família é um espinheiro indispensável à civilização, não que o sujeito seja masoquista, mas o desejo da família advém do instinto inato da preservação da espécie que cada um traz dentro de si. 
Na contemporaneidade acontece fato interessante de ser estudado: a família desagrega-se, mas todos a querem.
Os filhos dão sobrevida aos relacionamentos conjugais, mas também são os que mais dão trabalho, pois não é fácil educá-los para a vida numa sociedade que abandonou quase todas as virtudes e onde o vício e a maledicência encontram-se por toda parte. 
Os filhos culpam os pais por tudo, mas esquecem que um dia serão também pais e acabam criando uma espécie de brincadeira infantil do "desconta lá" e o sentimento de culpa se instala em forma de círculo. 
Não há posição mais cômoda dentro da família do que ser ou fingir-se de vítima, mas assim como os pais têm a obrigação de educar os filhos, os filhos por sua vez têm o dever de obedecê-los e procurar fazer o melhor possível para reconhecê-los pelo trabalho e as noites de insônia que deram causa.
Os pais não devem se sentir culpados por conta de qualquer ato dos filhos, pois muitas vezes fazem de tudo, mas mesmo assim, o filho desgarra e segue com seu livre-arbítrio caminho desaconselhado. 
Se fizer pouco, o filho reclamará, mas se fizer muito poderá acusar de tê-lo mimado e não ter lhe dado oportunidade de conhecer as dificuldades da vida.
Os filhos e os pais precisam se conquistar um pelo outro e não somente de forma unilateral, como pensam e desejam muitos filhos. Desde tempos imemoriais há a ingratidão dos filhos na família, mas é preciso adverti-los que a função dos pais é nobilíssima e precisa ser reconhecida e não anulada e/ou diminuída. 
Disse genial poeta: (...)
Você me diz que seus pais não entendem/
Mas você não entende seus pais/
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você/
O que você vai ser, quando você crescer?

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
psicanalista

"E a pedra da Batateira rolou..." - Por Cacá Araújo


Ninguém poderia jamais imaginar que uma antiga profecia indígena pudesse ser concretizada. E o mundo viu...

O relógio marcava exatamente a primeira hora e trinta e três minutos e trinta e três segundos do dia vinte e oito de janeiro do ano que todos recordam.

Um forte e valente trovão anunciou a fúria da natureza. Choveu forte. A terra tremeu, pedras e troncos rolaram nas enchentes do rio revolto que, altivo e cheio de razões, exigiu de volta seu leito violado.
Como uma sinfonia estranhamente harmoniosa, misturaram-se sons da catástrofe e o clamor do povo. E foi triste o quadro de destruição. Casas, prédios comerciais, hospitais, igrejas, praças, ruas, pontes, postes de eletricidade, tudo virando escombros... E dos prédios e casas as águas expulsando móveis, utensílios, pertences, produtos diversos e gente, umas inteiras outras já aos pedaços de carne e sangue, vitimadas pela agressão do grosso caldo que tudo arrasou e arrastou.
Súplicas e orações e preces e ladainhas entoadas em desespero: “Meu Deus! Cristo Jesus! Minha Nossa Senhora da Penha, piedade!”, “Pai nosso que estais no céu...”, Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida e doçura, esperança nossa, salve! (...) A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas...”; “Creio em Deus Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra...” “A nós descei divina luz...”.

Em meio aos estrondos e gritos e gemidos, ecoou a voz grave e temperada de pesar do ancião Cariri, ressurgido na escuridão da tempestade, trazido pelos raios vibrantes que avivavam o movimento das águas, sentado numa onda que nem subia nem caía, derramando gotas de lágrimas ancestrais:
- Viventes deste sagrado vale, provocadores da agonia e morte de muitos e milhares de antepassados, destruidores de florestas e animais, poluidores de nascentes e rios, ouçam e regravem onde couber que dissemos e avisamos há séculos que uma baleia por nós encantada ternamente dormia em sua cama de paz, escorando uma enorme pedra que tapava o grande e majestoso rio que vivia na barriga da Serra do Araripe. Criminosos, exploradores, especuladores! A desgraça que se abate sobre esta terra é uma resposta, uma reação aos desmandos... Vocês espremeram nossas águas num estreito e aleijado canal onde lançam seus esgotos e fezes. Queremos a vida de volta! Saiam do caminho, não se oponham à natureza e permitiremos que vivam os que escaparem da provação de hoje!
Naquele momento, a baleia já acordada se esticou como se espreguiçando e se debateu sacudindo a cauda e desgrudando totalmente o corpo da conhecida Pedra da Batateira. Uma nunca antes vista avalanche de água atirou-se com pedras e troncos sobre a região, quebrando o que restava de inteiro, inundando o que ainda estava às vistas, derribando monumentos heréticos, afogando e rasgando corpos de crianças, homens, mulheres, velhos e velhas, todos que estavam no caminho. Cumpriu-se, então, a profecia, e o sertão virou mar...
Ao cabo de trinta e três dias, as águas do rio baixaram, acomodadas que estavam no seu antigo e vasto leito. Peixes alegremente correndo correnteza acima e abaixo...
Num raio de pelo menos cinqüenta metros de cada margem restavam sinais da luta divina. Uma criança se aproximou vindo de longe. Achou um tênis que pertencera a alguém, uma chinela que um dia vestiu algum pé, uma camisa pequenina que havia agasalhado um bebê que se fora nas enchentes. Foi andando, brincando, até que ouviu vozes suaves e meigas em coro balbuciando uma cantiga de ninar. Pôs os pés na água, lavou o rostinho sereno e acompanhou o cântico, tendo ouvido, ainda, um último ressonar da baleia que voltara a dormir guardando águas...

Cacá Araújo

Professor, Poeta, Folclorista, Dramaturgo, Ator e Diretor de Teatro

Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante

* Alegoria da lenda cratense da Pedra da Batateira, no contexto da última enchente do Canal do Rio Grangeiro, em Crato-CE, na madrugada do dia 28 de janeiro de 2011, que provocou grandes perdas para a população, não havendo, felizmente, nenhuma morte. Este pequeno conto é um alerta à sociedade e aos gestores públicos, especialmente em níveis estadual e federal, que detém recursos e meios necessários à solução definitiva dos problemas relacionados ao referido rio.

Escravo- Por Domingos Barroso


Onde diabos você se meteu mulher.
Preciso de sangue. Cadê seu pescoço.


Ando amarelo divagando
vendo coisas nas paredes.


Havia prometido nunca mais escrever sobre formigas.
Um poeta sozinho é um deus miserável.


Onde raios você se meteu sua linda.
Preciso do seu corpo.


As nossas mentes não se entendem.
E se eu lhe disser que não temos alma.


Temos, sim, xícaras.
(acabei de pôr a minha
sobre a estante de ferro)


Se vier deixe a sua alma
no tapete da porta.


O negócio hoje é com seu corpo.
A marca do biquíni.


Causarei à sua pele formigamento.
Por mais que passe creme importado
ainda mais arderá de febre seu corpo.


A onda hoje é com seu corpo.
O cheiro das suas axilas.


Se vier mesmo deixe a sua alma
no lugar da luminária.


Cubra o abajur com um pano vermelho.
Venha descalça.


Também quero o sangue
das suas cutículas.


Os meus caninos
são pinças.


Ande logo, condessa
(sabe o que sucede
quando estou furioso
e faminto)


não me faça essa cara
não ria assim (louca)


não me provoque
respeite o seu conde


respeite não o seu conde
sim, faça esse biquinho
desse jeito o rebolado.


A sua alma esquecida na luminária
só atrai os besouros da chuva.

LUA ATREVIDA - Marcos Barreto de Melo

Eu de cá a te espiar
Tu de riba me olhando
Com tua beleza a espalhar
Sinto d'eu estar mangando
Como quem diz, vai passear
Aproveita o meu clarão
Leve seu bem pelo braço
Que a noite é pra se amar

Olhe aqui, lua atrevida
Tenha respeito comigo
Se é isto que estás falando
Escute agora o que eu digo
Em vez de ficar mangando
Por que não vem me ajudar?
Já conhece o meu segredo
Sabe bem o que fazer

Por que não traz a morena
Com quem eu vivo a sonhar?
Traga essa nêga depressa
Jogue ela em meus braços
Nem que seja por um dia
Pro meu viver alegrar
E depois, venha e repare
Se ainda tem do que mangar

E pra eu não ter saudade
Nem ter que lhe aperrear
Aumente logo esse prazo
Esqueça de calendário
Deixe nós dois sem horário
E eu lhe digo com firmeza
Nunca mais vou dar motivo
Pra você me caçoar


Marcos Barreto de Melo

PARA O SEU RECADO

Sim...Vou te guardar uma noite
E vou te escolher numa noite
Em que as estrelas possam sorrir
E não vai ser uma noite qualquer
E não quero chuva, frio ou medo
Quero apenas paz, muita paz
Vou te fazer versos, cantar modinhas
Beijos??? sim... eles virão
Testemunhados por paredes
Só por paredes
Não quero teto...pois "quero ver estrelas"
E quero viver este mundo de nós dois
Madrugada? Aurora?
Não as conheço
Não é a minha preocupação
senão a de te fazer
acordar feliz



(plagiando o "versando com..." de Claude)

Maestro Fon-Fon - Por Norma Hauer




Ele nasceu em 31 de janeiro de 1908 em Alagoas e ficou conhecido pelo como o Maestro FON-FON. Em 1930 iniciou sua carreia como integrante da Orquestra de Romeu Silva e excursionou pela Argentina, mas somente em 1833fez sua primeira gravação, interpretando ao saxofone o choro “Cláudio”.
Em 1935 criou sua orquestra e passou a apresentar-se no Cassino Assírio (que, me parece, funcionava no térreo do Theatro Municipal, com entrada pela Avenida Rio Branco.
Em 1942 foi com sua orquestra que Ataulfo Alves e suas Pastoras gravaram o clássico “Ai, Que Saudade da Amélia”, de Ataulfo e Mário Lago, que ninguém queria gravar e nem o próprio Mário Lago concordou com a gravação desse samba, naquela época hora de pouco interesse e que hoje ainda é um grande sucesso.
Em 1944 gravou outra música já clássica, a polca “Rato-Rato”, mas sua mais importante gravação foi, na voz de Odete Amaral, seu choro “Murmurando”.
MURMURANDO
Autoria: : Maestro Fon-Fon e Marino Pinto
Gravação original de Odete Amaral
Murmurando esta canção
Eu sei que o meu coração
Há de suplicar amor
Vem matar tanta dor
Já não há luas-de-mel
Nem mais estrelas no céu
Um anel de ambições envolveu irmãos
E será um poder fatal
Se o bem não vencer o mal

Amor, tanta dor há de chegar ao fim
É melhor, é bem melhor
Viver sem imitar Caim
Por que mentir, trair, matar
Em vez de amar?

Será que a negra escuridão
Pode apagar a luz do Sol?
Será que o nosso coração
Pode viver sem um crisol?
Se Jesus ao levar a cruz além
Não deixou de pregar o amor a alguém?
Além de todas as razões
Quero mostrar aos meus irmãos
A lição de perdão do Grande Rei, o Criador
Que ao expirar sobre o Tabor
Quis imortalizar o amor
Sua orquestra acompanhou os mais conhecidos cantores de sua época, como Francisco Alves, Odete Amaral, Jararaca e Ratinho, Gilberto Alves. Dircinha Batista, Emilinha Borba...

Gravou outros números musicais de Ernesto Nazareth, Eduardo Souto, Felisberto Martins até que em 1947 viajou para a Europa, indo apresentar-se em Paris, Londres e outras capitais europeias. Manteve-se na Europa por 4 anos, sempre obtendo sucessos.
Depois de se apresentar em Atenas, na Grécia, um mal súbito ali mesmo o matou, no dia 10 de agosto de 1951.

Norma

Por Norma Hauer

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
Há duas datas como de nascimento de Catulo: 31 de janeiro de 1866 e 8 de outubro de 1863.
Esta última é mais confiável porque foi "descoberta" depois de várias pesquisas de grandes pesquisadores de nossa música como Almirante e Paulo Tapajós.

Na época de seu nascimento não existia o registro civil, criado após a proclamação da República. Registros eram feitos no dia do batizado ; eram os bastitérios e era o que valia.
Mas muitos pais alteravam datas de nascimentos de seus filhos (para mais ou para menos) muitas vezes para efeitos de empregos ou de casamentos ao ficaram adultos.

Descreverei fatos da vida de Catulo no dia 8 de outubro, por acreditar mais nesta data.

Norma

Recado - Por Socorro Moreira



Guarde uma noite pra mim
Uma noite qualquer
do seu desejo
Noite de chuva
Sem frio e sem medo
Noite esticada por versos
Intercalados de beijos

Noite sem janela
Comporta imaginação
Lá fora o mundo dorme
Pediu folga
Reclama por nós ?

Guarde uma madrugada
e uma aurora...
Depois, pode calçar as botas
e me deixar dormindo

Garanto que vou acordar sorrindo.

Um filme- Uma música

Mario Lanza



Mario Lanza (Filadélfia, 31 de janeiro de 1921 — Roma, 7 de outubro de 1959) foi um tenor norte-americano de ascendência italiana.

Apaixonei-me por mario Lanza, ainda menina, quando assisti o filme "A lenda de uma voz", sobre a vida de Caruso.Na mesma época assisti "Come Prima", e ratifiquei a minha predileção.Acompanhei desde então a sua voz, através do rádio e dos discos. 


Franz Schubert





Franz Peter Schubert (Himmelpfortgrund, 31 de Janeiro de 1797 — Viena, 19 de Novembro de 1828) foi um compositor austríaco do fim da era clássica, com um estilo marcante, inovador e poético do romanticismo. Escreveu cerca de seiscentas canções (o "Lied" alemão), bem como óperas, sinfonias, incluindo ("Sinfonia Incompleta") sonatas entre outros trabalhos. Não houve grande reconhecimento público da sua obra durante sua curta vida; teve sempre dificuldade em assegurar um emprego permanente, vivendo muitas vezes à custa de amigos e do trabalho que o pai lhe dava. Morreu sem quaisquer recursos financeiros com a idade de 31 anos. Hoje, o seu estilo considerado por muitos como imaginativo, lírico e melódico, fá-lo ser considerado um dos maiores compositores do século XIX, marcando a passagem do estilo clássico para o romântico. Podemos defini-lo como "mais um artista incompreendido pelos seus contemporâneos".

wikipédia

Reforma da Sé Catedral- por Gabriella Federico



A reformadora de arte sacra, Gaby, iniciou os trabalho de restauração do teto da igreja da Sé. Um trabalho delicado, e até certo ponto arriscado. Dentro de alguns dias será concluído, com todo êxito.

A experiência  profissional desta artista garante os resultados !
Hoje cedinho tomamos juntas um café.
Reportou-se ao trabalho atual, à noite da chuva, e à abertura da exposição das obras do Museu do Crato, restauradas pela artista plástica Edilma Saraiva. Bom demais  tomar conhecimento desses acontecimentos, nos seus detalhes.
Estou vivendo o Eremita, mas como os que estão distantes, quero boas notícias.
Parabéns aos que contribuem pela preservação da nossa natureza, e do nosso patrimônio material e imaterial.
Uma nova semana inicia-se. É quase Fevereiro.
A palavra de ordem é  Prevenir, Preservar,  Restaurar, em todos os sentidos !
Dias de paz e luz !

domingo, 30 de janeiro de 2011

Um filme, uma música - Colaboração de Zélia Moreira

"Saudade de Não Ter Saudade"


A palavra Saudade pode ter inúmeros significados dependendo do contexto onde é aplicada. Sua origem encontra-se no Latim, Solitate, mas, sabemos que, atualmente, perdeu a conotação original, isto é, sentimento de solidão, embora isso continue a ocorrer nas línguas neolatinas como o espanhol ( soledad ).

Na gramática portuguesa, Saudade é considerada um “idiotismo”, isto é, uma palavra que é própria e exclusiva de uma língua. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), J'ai regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão). No idioma inglês encontramos várias tentativas: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país), longing e to miss (sentir falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância). Mas todas essas expressões estrangeiras não definem exatamente o que sentimos, e não correspondem ao significado que queremos atribuir a esse “sentimento” - são apenas tentativas... sabemos que é, principalmente, uma característica cultural própria da língua de Camões.

Hoje,30 de janeiro, celebra-se o "Dia da Saudade".

Eu sinto SAUDADES :

- Dos meus tempos de escola - Escola Getúlio Vargas ( Primário) ICEIA ( Ginásio ) e Colégio da Bahia - Central ( Curso Clássico )
- Da minha primeira professora - Wanylda de Araújo Vianna, que costumava me convidar para passar o domingo em sua casa, e tocava piano para mim.
- Da minha primeira caixa de lápis de cor Faber grande com 24 lápis.
- Da minha primeira caneta- tinteiro Parker 51, azul ,com bocal dourado, linda de morrer.
- Do meu primeiro acordeón - Hering, cinza pérola de 80 baixos ,4 abafadores e 12 registros.
- Do meu primeiro livro de poesia -"Eterno Motivo " de J.G. de Araújo Jorge.( presente dos meus 15 anos ).
- Do meu primeiro vestido amarelo, após 10 anos só usando azul e branco.
- Do meu primeiro radinho de pilha , que eu ganhei dentro de uma caixa de sapato, acreditando que fosse um.
- Dos cinemas chics de Salvador, ( Guarany, Tupy, Tamoio,Capri, Politeama, Art ,Excelsior ) nos anos 50 e 60,quando faziam parte do programa, aos domingos e feriados, e a gente se arrumava,e se enfeitava, como se fosse a uma festa.
- Do meu primeiro salto alto, no também primeiro reveillon, no Clube Fantoches da Euterpe.
- Dos grandes musicais da Metro (Gene Kelly, Doris Day, Jane Powell, Kathryn
Grayson
,Howard Keel,Leslie Caron …)
- Das chanchadas da Atlândida ( Eliana, Adelaide Chiozzo, Oscarito, Anselmo Duarte, Cyl Farney... )
-Das Marchinhas de Carnaval ...
- De “Sissi” , “Sissi, a Imperatriz “ e “Sissi e Seu Destino”...
- Dos grandes faroestes e seus “cowboys”: John Wayne,Alan Ladd, Roy Rogers, Randolf Scott e até dos faroestes apelidados “macaroni”ou “ espaguete” com Giuliano Gema.
- De Marcello Mastroianni, o maior de todos os atores do cinema italiano .
- De Bing Crosby, Nat King Cole, Elvis Presley, Glenn Miller, Românticos de Cuba, Billy Vaughn, Xavier Cugat, Casino de Sevilla, Waldir Calmon,Los Panchos ( 0riginal ), Los Tres Diamantes, Gregorio Barrios,Bievenido Granda,Joselito ( El Pequeño Ruiseñor )Maysa, Nara Leão, Vinícius, Nelson Gonçalves
- Das novelas da Rádio Nacional do Rio e da Rádio Sociedade da Bahia ...
- Das fotonovelas “Grande Hotel” e “Capricho” que minha irmã colecionava, guardava embaixo do colchão, e eu devorava às escondidas.
- Das revistas Cinelândia e Seleções de Reader´s Digest ( a de hoje não é mais a mesma )...
- Das "Hit Parades "...
- Das novenas do mês de junho em casas de amigos...
- Da minha Primeira Comunhão quando ainda acreditava que a "hóstia consagrada" era um pedaço do corpo de Cristo, e se a mastigasse ela se transformava em sangue.
- Dos meus tempos de menina, adolescente, garota ingênua,que não conhecia a maldade do mundo, nem a hipocrisia das pessoas.


Enfim, eu sinto saudade do tempo que eu não sabia o que era sentir saudade.

( Corujinha Baiana - 30 de janeiro de 2011 - Dia da Saudade )

Heládio Teles Duarte



Recebemos neste dia, mais um colaborador amigo. Trata-se do médico Heládio Teles Duarte, que esconde no baú artístico , inimagináveis possibilidades. Dizem que ele desenha, faz poesia...Acredito!
Sei que nas horas de folga gosta de passear pelas estradas do Arajara, e fotograr o que os seus olhos captam.Através desta brincadeira plural, já nos passou muitas informações singulares.Espero recebê-las, doravante, e compartilhá-las com todos.
Seja bem-vindo, Dr. Heládio!
Nosso apreço, num abraço !

Fotos  by Heládio Teles Duarte

Herivelto Martins

Herivelto de Oliveira Martins (Engenheiro Paulo de Frontin, 30 de janeiro de 1912 — Rio de Janeiro, 17 de setembro de 1992) foi um compositor, cantor, músico e ator brasileiro.


Pensando Em Ti
Herivelto Martins
Composição: Herivelto Martins/David Nasser

Eu amanheço pensando em ti
Eu anoiteço pensando em ti
Eu não te esqueço
É dia e noite pensando em ti
Eu vejo a vida pela luz dos olhos teus
Me deixa ao menos, por favor, pensar em Deus

Nos cigarros que eu fumo
Te vejo nas espirais
Nos livros que eu tento ler
Em cada frase tu estás
Nas orações que eu faço
Eu encontro os olhos teus
Me deixa ao menos, por favor, pensar em Deus


Herivelto Martins tem sua trajetória dividida em duas partes: antes e depois de Dalva de Oliveira, de 1936 até 1950, quando se separaram definitivamente.

Participou da Dupla Preto e Branco e, em seguida, do grupo Trio de Ouro, com a participação da cantora Dalva de Oliveira, dona de uma voz poderosa por quem Herivelto se apaixonou.

A vida conjugal de Herivelto e Dalva foi sempre muito tumultuada. Após 10 anos de casamento e dois filhos Pery (Ribeiro, que fez muito sucesso bem mais tarde) e Ubiratan, separaram-se, protagonizando um escândalo nacional, divulgado pela imprensa.

Esse episódio serviu para fortalecer a carreira de Herivelto, pois, diante do sofrimento da separação, fez letras que eram maravilhosas, retratando fielmente, a crise que estava vivendo.

A partir daí houve um verdadeiro duelo musical, ele de um lado, juntamente com David Nasser (jornalista e compositor) e Dalva de outro, sustentada por letras/músicas de Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho,Mário Rossi, J. Piedade e Marino Pinto.

Tudo começou com o samba de Herivelto "Cabelos Brancos", respondido por Dalva com o "Tudo acabado", de J. Piedade e Osvaldo Martins.

Herivelto respondia com outras canções como "Caminhemos", "Quarto Vazio", "Caminho Certo" e "Segredo".

Dalva rebatia com "Calúnia", "Errei sim" e "Mentira de Amor". E o público brasileiro era quem ganhava. A época era de viver uma boa fossa e as música embalavam os suspiros a favor, ora de Herivelto, ora de Dalva.

Mas, a vida não deixa barato e ele conheceu Lurdes Torelly, seu grande amor e companheira pelo resto da vida. A morena de olhos verdes viveu com ele por quase 40 anos e lhe deu três filhos: Fernando, Yaçanã e Herivelto Filho.

Para ela foi composta a música "Pensando em ti", que acirrou mais ainda o duelo musical com Dalva..

Algum tempo depois Dalva e Lurdes tornaram-se muito amigas, sendo Lurdes o esteio de Dalva até o fim de sua vida.

Herivelto teve duas mulheres muito especiais.


http://www.letras.com.br/biografia/herivelto-martins

"Uma Postagem Puxa Outra ..."

WALDIR CALMON



Waldir Calmon Gomes (Rio Novo, 30 de janeiro de 1919 — Rio de Janeiro, 11 de abril de 1982) foi um pianista e compositor brasileiro de grande sucesso nos anos 50.

A primeira vez que visitei o Rio, quis conhecer a "Estudantina", antes do Pão de Açúcar. Naquela noite, tocava Waldir Calmon . Não arredei o pé da mesa. Fiquei olhando aqueles casais que arrasavam na dança de salão. lembrei os meus passos tímidos, no salão do Crato Tênis Clube, e amarelei. Na segunda vez que fui à Estudantina, arrisquei!

Um Filme - Uma Música " Blue Velvet "

CURTA E SÁBIA- COLABORAÇÃO DE EDMAR CORDEIRO


"Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.
Ele disse: - Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.
Um é Mau - É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.
O outro é Bom - É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade,
humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.
O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: - Qual lobo vence?
O velho índio respondeu:

- Aquele que você alimenta!"

Os Guris da Rua Coronel Secundo Por Joao Marni



Didaticamente, a vida pode ser dividida em três fases: o passado - que já acabou; o presente - em extinção; e o futuro - mera expectativa. Sempre que a vida nos aborrece quando estamos já adultos, sentimos uma necessidade urgente de sorrir e aí recorremos ao passado, se tiver sido bom.
Felizmente, todos nós, da rua Coronel secundo, nos anos cinqüenta, dourados, mesmo os de poucos recursos, gozamos de uma infância feliz, pois tivemos o básico para acharmos a vida prazerosa: um teto, uma família, alimentação suficiente, ótimo ensino público e uma rua, berço e palco do talento de cada um.

Acordávamos cedo e nos recolhíamos pouco depois do anoitecer. Nada havia de mais interessante a fazer do que dormir e sonhar.

Quanto verde havia: o bosque (hoje a Praça Alexandre Arrais), as matas ciliares do rio Granjeiro (das piabas), a mata de Seu Jéferson e o Sítio Lameiro. Sob essas árvores, sombras queridas se foram e vozes se calaram. A beleza simples, suprema benção das coisas e das criaturas, encontramo-la na memória da infância, no areal do bosque e da nossa rua mais bonita, ainda descalça feito nós, local de matanças hoje inconcebíveis, de borboletas, com nossas camisas, e aos gritos de " alô boy, matalê um"!...

Que falta faz a lama e o cheiro desses lugares que pisamos e que nos inundaram até o espírito, a ponto de nenhum banho, ainda hoje, ser capaz de nos lavar. Vejo, admirado, que muitos meninos de agora não mancham as suas roupas com nódoas de caju... Que vida sem graça!

Nos reencontros dos amigos da rua não catamos os sinais de decadência do outro, mas procuramos amavelmente as marcas dos nossos pequenos pés na areia... Usamos a imaginação e viajamos ao tempo em que as águas do rio eram claras, onde lavávamos até nossas almas e voltávamos alegres e felizes pela rua da qual fizemos estribo para a vida.

Hoje as pessoas têm pressa. Não param mais para conversar, como fazem as formigas... mas nós da rua Coronel Secundo, não; pois sempre valorizamos o toque interpessoal, antenados que somos com base nos pilares da formação humana, quais sejam: o amor, o respeito e humildade, da grande família parquense pelo bom Deus.

O escritor João do Rio, em sua obra " A alma encantadora das ruas", faz uma citação belíssima: "...Eu amo a rua; e esse amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos nós. Nós somos irmãos, nos sentimos parecidos e iguais porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este sentimento impertubável e indissolúvel, o único que , como a própria vida, resiste às idades e às épocas".

Assim somos os filhos da Coronel Secundo: Os Bantim, Correia, Figueirêdo, Lóssio, Dantas, Siebra, Martins, Paletó, Chagas, Alencar, Barbosa, Matos, Policarpo, Abath, Pinheiro, Jamacaru...

Um filme, uma música...

Um abraço de boas vindas ao escritor José do Vale Pinheiro Feitosa !




No azul da nossa alegria, você chega!

Esqueço a tristeza , e comemoro, badalando os sinos da alma.
Figura querida, tem uma rede armada, cafuné,e café quentinho!
Já liguei o som: "Grande,grande,grande"...É esse menino!

Chapeuzinho Encarnado- Por Geraldo Ananias






O bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor e não o pior.
(Alfred Montapert)

Ei, Amandinha. Venha cá, filhinha, sente-se bem aqui no colo do papai. Vou lhe contar uma historinha que aprendi há anos, lá no interior do Ceará, onde vovó mora.
Com cerca de cinco anos, ela, como toda criança, adorava historinhas infantis. Assim, logo correu e pulou em meu colo:
— Conta, papai!
E comecei: “Era uma vez uma garotinha pobre que morava na roça. Ela usava um vestidinho e uma blusinha bem velhinhos, tudo remendado. Calçava sandálias de rabicho e currulepo.” E adivinhe o que ela tinha na cabeça?
— Piolho, papai, gritou Amandinha com os olhos esbugalhados, com ar de quem dera a melhor resposta do mundo.
Dei uma gargalhada. Apertei suas bochechas e lhe disse pausadamente:
— Piolho, não, linda! Ela carregava um chapeuzinho encarnado na cabeça. E não era vermelho não, era encarnado mesmo. Por isso que o nome dela era... Vamos, diga!
Nesse momento, aí foi que os olhos de Amandinha se esbugalharam mesmo. Ficaram brilhando de emoção. Olhou firmemente para mim com uma cara de espanto e articulou timidamente:
— Encarnado???
— Isso mesmo, filha, o nome dela era “Chapeuzinho Encarnado”.
— Ela cantava a canção de “Chapeuzinho Vermelho, papai?” Indagou.
— Não, filha, a canção dela era outra bem diferente. Fique quietinha e escute que papai vai lhe contar tudo agora, está bem?
— Tá bem, papai. Tá bem. Pode contar...
E continuei relatando uma história inventada na hora....:

Era uma garotinha bem pobrezinha, da roça, que ia levar “dicumê” para o avô — o pai-da-mata, que vivia sozinho, morando numa rede feita de cipó, trepado numa árvore bem alta, lá no meio da escuridão da mata fechada da Serra do Araripe. Todo dia ela pegava uma cuia e nesta colocava farinha, rapadura e biju. Enchia uma cabaça d’água e colocava na cabeça. Daí saía de casa levando todas essas coisas para o pobre do velhinho. E ela andava muito a pé e sozinha até chegar à casa do pai-da-mata. No caminho, ia sempre alegre da vida cantando esta música: “Oh, Deus, perdoe essa pobre coitada, que de joelho rezou um bocado, pedindo pra chuva cair sem parar... ”
Certa vez, quando ela estava na metade do caminho, uma caipora enlouquecida e perversa começou a persegui-la, correndo atrás dela; queria matá-la. E ela saiu em disparada, gritando, pedindo em vão para o pai-da-mata acudi-la. De repente, tropeçou num cipó e caiu dentro de um buraco bem profundo, cheio de centopéias, formigas e ratos. Na queda, quebrou a cabaça d’água, misturou a farinha com terra, perdeu os pedaços de rapadura e, pior de tudo, machucou uma das pernas. Daí começou a chorar e a pedir proteção à Nossa Senhora Santana, enquanto a caipora malvada ficava ciscando e dando os urros mais feios do mundo nas bordas do buraco.

Nesse momento, entendi que havia exagerado um pouco e pude perceber, pelos batimentos cardíacos de minha filha, que ela estava muito emocionada. Seu coração batia a mil por hora e só faltava sair da caixa torácica. Imediatamente, comecei a moderar o teor da narrativa, tornando-a mais leve, serena e adequada à criança da faixa etária dela. E continuei:

Eis que, felizmente, por sobre as nuvens, um carcará bondoso, que procurava comida para seus filhotes, viu os pulos e ouviu os gritos de “Chapeuzinho Encarnado” dentro do buraco. Da mesma forma, enxergou os movimentos e escutou os urros da caipora, que queria, a todo custo, pegar a pobre criança indefesa. Mais que depressa, ele voou até o ninho do poderoso pavão misterioso para pedir-lhe ajuda para salvar “Chapeuzinho Encarnado”. Velozmente, como um relâmpago, desceram os dois num voo de mergulho no rumo do buraco para socorrer a “bichinha”.

Fiz uma pausa...
— Vamos, papai, conta depressa, não pare, diga logo o que aconteceu com a pobrezinha, por favor!
E continuei...

Chegando lá, o carcará, com o bico afiado, foi logo atacando a caipora perversa; furou-lhe os olhos malvados só com rápidas e certeiras bicadas; e o pavão misterioso, por sua vez, mergulhou buraco adentro e, com o bico, forte e comprido, foi logo puxando pela blusa, para fora, com toda segurança, “Chapeuzinho Encarnado”, que nesse momento já estava sendo atacada também pelos bichos horripilantes que se encontravam com ela lá dentro daquele buracão escuro e repugnante.

Nesse instante, fui interrompido por Amandinha, que, a essa altura do enredo já podia sentir — conforme denunciado pelos inconfundíveis sinais de alegria estampados no olhar e no rostinho angelical — que o bem venceria o mal:
— Ela se salvou, não se salvou, papai?
— Claro, filha. E tem mais:

O pavão misterioso a levou diretamente lá para um maravilhoso passeio no pino da árvore mais alta da floresta, para ela brincar um pouquinho no ninho onde estavam os filhotes dele. Enquanto isso, a caipora cruel, ao sair cega no meio do mato, foi logo atacada por um monte de onças pintadas que, em pouco tempo, a devoraram.

— Muito bom, papai! Agora cante de novo a música, a de “Chapeuzinho Encarnado”, com voz de neném... Vamos, cante!
Cantei, cantei, e ela sorriu, sorriu...
Passaram-se muitos dias... E vez por outra ela me pedia para cantar a música “Súplica Cearense” à “Chapeuzinho Encarnado”. E de tanto repetir a cantiga, chegou mesmo a decorar quase toda a letra.
No final do mesmo ano da ocorrência desse fato, em reunião de pais e mestres no colégio onde ela estudava, fui sondado, habilidosamente, por representantes do educandário, sobre a possibilidade de eu fazer uma palestra para as crianças a respeito do tema: histórias infantis de “causos dos moradores do mato”.
Achei um pouco estranho o tipo de abordagem. Meio sem jeito, agradeci educadamente ao honroso convite, dando uma desculpa meio esfarrapada. Na verdade, tinha ficado morrendo de vergonha, pois, no fundo, sabia que tudo deveria advir de conversas de Amandinha. Ela provavelmente teria contado a história de “Chapeuzinho Encarnado” lá na escola, só podia ser. Ademais, não me sentia preparado e seguro para dar palestra para crianças daquela faixa etária, tampouco para contar histórias de “gente do mato”.
Meses depois, houve um feriado escolar. Só que nesse dia trabalhei normalmente na empresa onde era empregado. E, como era de costume, vim almoçar em casa no horário de sempre.
No momento em que destranquei a porta de casa, para minha surpresa, vi logo a sala coalhada de crianças, todas sentadas no assoalho e em círculo: coleguinhas do colégio, amiguinhos do prédio... Tomei o maior susto do mundo e fui longo indagando:
— O que está havendo aqui, minha gente?
Repentinamente, todos começaram a bater palmas e, em coro, pediram:
— Tio, conta a história de “Chapeuzinho Encarnado”; conta a história de “Chapeuzinho Encarnado”; conta a história de “Chapeuzinho Encarnado”...
Meu Deus... Que sufoco. Se pudesse, teria sumido, voado para bem longe, tamanho o embaraço que senti naquele momento! Todavia, como um passe de mágica, veio-me logo à mente as sábias palavras do grande mestre Fernando Sabino, que diziam assim: “Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não me perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino”.
Inesperadamente, um fogo estranho tomou conta de mim; tive vontade de chorar, mas segurei. E como se me visse rodeado de anjos, comecei a sentir um bem-estar inexplicável, uma alegria sem limite e espontaneamente minha alma e coração tomaram conta de meu corpo e minha voz, imitando a de criança, começou a toar candidamente:

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Palmas e mais palmas. Senti-me leve, feliz, como se fosse um “menino-passarinho com vontade de voar”. E não queria mais parar de cantar até que ouvi uma doce voz:
— Tio, agora conte a história...
Fiz então uma pequena pausa. Temperei a garganta. Olhei no rostinho de cada criança e comecei, dessa feita, com voz embargada:
— Era uma vez uma garotinha bem pobrezinha que vivia na roça, lá pras bandas...
Ao final, foi uma gritaria sem tamanho e uma emoção sem medida. As crianças correram para me abraçar.
Por alguns minutos vivi momentos mágicos, possivelmente os mais sublimes e felizes da vida. E para completar meu estado de graça, a Amandinha, sentindo-se orgulhosa e realizada pelo aparente sucesso de minha missão, deu-me um intenso e afetuoso abraço, no mesmo instante em que tentou me dizer:
— Eu te amo, papai! Não conseguiu terminar a frase. Começou a chorar de emoção.


Geraldo Ananias Pinheiro geraldo.ananias@tera.com.br Brasília (DF), junho/2008.

Carta de Altina Siebra para o nosso Blog

Por você tomei conhecimento desta rebeldia do nosso inesquecível rio Granjeiro, que tanto embalou nossas brincadeiras e sonhos de infância. Ainda pequena, quando ia ao Seminário São José atravessava aquela ponte que ligava os dois lados da cidade e o fazia com medo, diante da largura de seu leito e imensidão de água que corria lá em baixo. Via as mulheres lavando roupas e a filharada tomando banho, enquanto as mães faziam o seu trabalho.
Não me lembro de enchentes àquela época, só da conversa do perigo da pedra da Batateira descer e acabar com a cidade. Felizmente, nos anos sessenta, passamos incólumes às intempéries da natureza. Quando a chuva chegava, o rio seguia seu curso normal.
Pobre inocente que, hoje, procura seu ninho, qual criança busca espaço para correr, encontra-se tolhido, preso, sem liberdade, sujeito a projetos mal planejados. Fizeram-lhe um berço menor que seu tamanho.
Que a sua reconstrução venha logo, mas o respeitando no seu direito que a natureza o dotou.
Solidarizo-me com todos que sofreram perdas. Que possam recuperar, com brevidade, os muitos anos de trabalho que as águas levaram.
Que os poderes públicos sejam mais sensíveis e possam encontrar uma solução adequada, acabando de vez com estas tragédias.

Um abraço!

Altina.



O Plástico - Roberto Jamacaru

Desculpe, amigo, se te alcançamos tão pouco.
Bem que queríamos, mas voar na tua imaginação era privilégio dos Deuses da criação.
Tu que vivias um mundo à parte, num plano irreal, com certeza tinhas razão para rir da maneira que rias; para criar do jeito que criavas e imaginar com a riqueza que imaginavas.
Dizem que nos píncaros montanhosos é onde corre a melhor das brisas, mas alcançá-los e senti-las fica para os libertos de espírito que têm na essência artística a verdadeira visão da vida. Tu, no entanto, diferentemente de nós, vagavas costumeiramente no mais alto desses montes.
Quantas e quantas vezes olhamos para ti e vimos o teu corpo em movimento a sorrir marcando presença entre nós, mas, nessa mesma hora, quantas e quantas vezes foi impossível alcançar o vôo da tua imaginação. Estavas, como sempre, em outra dimensão, no além mar, no além céu, no além cosmo, no além espírito, mas sempre perto de Deus.
Era dessas esferas imaginárias que tuas atitudes carinhosas nos surpreendiam. Sempre fomos todos rasteiros em relação a ti, quando o assunto era criatividade e imaginação, enfim, quando o assunto era a arte.
Meu caro poeta das cores e formas, como nos impressionava ver teus pincéis bailarem na brancura de uma tela, definindo e redefinindo o concreto e o abstrato; o belo e o feio; o triste e o alegre com tanta harmonia.
Para “nosotros”, meros grafiteiros de mentes plebes, isso era mágica.
Nas tuas galerias havia olhos que falavam;
Vestes que desnudavam;
Silêncios que protestavam;
Mudez que gritava;
Passos que voavam
E choros que riam.
A tua arte falava mais que mil palavras;
Protestava mais que mil revoluções;
Coloria mais que mil arco-íris;
Embelezava mais que mil arranjos.
De tanto mexer na dramatologia do real com o imaginário, levando-nos ao delírio da contemplação, um dia resolveste fazer parte do sonho.
Assim, moldurado nos teus próprios quadros, nas paredes de nossas vidas, ficastes exposto para sempre, reluzente e colorido, a nos adornar na alegria de tuas fantasias.
Na tua última homenagem, o teu corpo, em cinzas, foi lançado sobre o solo dos antigos índios guerreiros, habitantes do misterioso vale do Quixará.
Eras um artista plástico.
Em telas plásticas pintavas a vida.
Um dia viraste tinta, na imagem te confundiste, e aí, na imortalidade da própria arte, renasceste para sempre.

Tributo ao Artista Plástico, natural de Farias Brito no CE.
- Normando Rodrigues –

Un cuerpo se cae! Quién? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Com um abraço aos que postam e leêm este blog publico este texto. Inédito. Apenas publicado aqui. Sempre no desejo que o coletivo aconteça no amplo espaço e que não se insule no factual dos oceanos bravios.

José do Vale Pinheiro Feitosa


Menos alguns metros da esquina da Calle Corrientes, alguns metros a norte, na margem da Avenida Pelegrini. Próximo ao Obelisco e sua majestosa glória, a América Latina despenca no vazio.

Vazio de futuro e excesso de presente sem linhas de horizontes. Levas de migrantes rurais vendendo a produção dos chineses na Calle Florida, na Feria de Santelmo. Sangrando a indústria argentina, mas permitindo os trocados da sobrevivência no rés do solo das “calles calientes”, corrosivas mesmo, debajo de milhões de estrelas cadentes.

No alto da construção de um coletivo imaginário de três continentes face ao imperialismo. No alto do Hotel Panamericano, no andar que se nivela aos montes, o vigésimo terceiro andar. Neste espaço e nesta altura, o corpo de uma jovem argentina de número igual de anos àqueles de tais patamares. Um corpo indeciso, entre respirar ou deixar esta etapa no vazio.

Diante de tanto horizonte da cidade portenha, dos seus edifícios parisienses, da mais ancha calle del mundo, o que via era apenas os escombros de sua vida rota. O córrego vazio, no horizonte de um pampa que ao invés de dobrar a curvatura do mundo, apenas se recurva sobre si mesmo.

Um pouco menos, quem sabe igual em conteúdo, mas diferente em recipiente, do motorista de táxi que estacionado à frente do hotel espera o passageiro que ainda não chegou. Espera tanto, quanto a sua vontade não suporta o ritmo do relógio do taxímetro e abre a porta.

Põe uma perna para fora, entre permanecer e dar alguns passos na calçada. Um limite em que tal decisão não faz, no cotidiano, qualquer diferença. Mas a outra perna vem para fora e os passos se antecipam na vontade de fuga do olhar aprisionado ao teto do veículo e lhe vem o desejo imediato de encontrar o azul do céu.

E ele olha para o topo do mundo, ali definido pelos 25 andares do Panamericano. E o quê ele vê?
Um corpo acelerando-se à velocidade da atração da gravidade. Corre por um triz. Sobre o estimulo do rito esmagador. Do impacto que destroça carne, abre as torneiras das artérias e despedaça os ossos. Ele corre do seu instrumento de trabalho a um só tempo.

O tempo em que a jovem de 23 anos, do vigésimo terceiro andar, a alguns metros a menos da calle corrientes afunda de teto adentro do veículo. Muito machucada, como matéria apropriada às ambulâncias de emergência.

Quando soube do assunto, foi como aquele tango à media luz: Corrientes 3-4-8, segundo piso ascensor. Non hay porteros, ni vecinos....Ela ainda estava viva como matéria dos cuidados intensivos.

Dois dias depois - Emerson Monteiro


No jornalismo, notícias são acontecimentos de interesse público divulgados pelos meios de comunicação de massa, e existem formas de avaliar a importância das notícias conforme a sua relevância. Uma dessas formas é a proximidade. Entre duas notícias, uma sempre melhor atende a esse requisito de tocar mais de perto a comunidade.
Enquanto avistávamos, no Cariri, as catástrofes climáticas ocorridas em cidades do Rio de Janeiro, as notícias guardavam proporção considerável, porém representavam marcas noutras populações afastadas geograficamente falando. Agora, contudo, diante da cheia desproporcional do Rio Grangeiro, a força das águas nos mostrou outras dimensões, em face da ligação imediata do acontecimento.
Esta madrugada, dois dias depois, circulando nalgumas avenidas que margeiam o Canal e ruas circunvizinhas ainda em fase de arrumação, avaliei de perto a dimensão do fenômeno meteorológico que confrangeu toda a cidade de Crato na madrugada do dia 28 de janeiro de 2011.
A imagem principal da cena deixa às claras o risco constante que representa, a curtos e longos prazos, viver exposto à imprevisibilidade natural de possibilidades antes anunciadas. Longe dos brados alarmistas ou lendários, domar rio de tamanha impetuosidade torna-se, de hoje adiante, o fator determinante das administrações, independente do que passou, perante as transformações causadas pela ação do homem nas encostas da serra nestes dois séculos de aproximação.
Olhar o assunto de frente, encontrar a solução de engenharia que ultrapasse apenas os sintomas e siga direto à base do problema, sem contemporizar, porquanto a tensão persistirá em graus adiantados durante as fases invernosas do futuro. Interessa, pois, a todos, superar os limites desta herança histórica da localização do núcleo urbano que tanto admiramos e queremos.
Somar a potencialidade dos cidadãos e reconstruir as esperanças da tranquilidade sob outros prismas, na vontade política de uma gente trabalhadora e pacífica, civilizada, respeitada na história e dotada de cultura, cheia de boa vontade e amor pela terra em que vivemos nossas vidas. Despertar as novas energias da autoestima para preservar a natureza em volta com equilíbrio e inteligência.
Existirá, com certeza, solução adequada e coerente, desde que se saiba encaminhar estudos e as providências certas.

" E por falar em Saudade... "

Como disse o poeta português Teixeira de Pascoaes, " Ter saudade é querer viver o já vivido ..."Então, continuemos a sentir saudades, ou melhor, continuemos a lembrar de tudo o que passou, e nos deixou "saudade", como, por exemplo,essa linda música de Vínicius,na voz da baianinha Maria Creuza.

por Socorro Moreira




Ela não me visita: mora comigo
Convivência amena, visceral, que nem arde, nem maltrata.
Conseguimos boas parcerias na poesia, e na vida.


Saudades das sombras dos pés de fícus, plantadas nos meus amores.
Da voz do meu pai, entoando canções
Da minha mãe ,pra lá e pra cá, no tempero dominical.
Saudade dos meus filhos pequenos...
Do Crato de antigamente...Tão lindo!
Saudade de tudo que passou, e esqueceu de voltar.
Saudade do amor que não tive, e deitou perfume no ar.


Saudade de todas as idades
Dormidas da noite pro dia


Não existe remédio pra tal sentimento...
Se existisse, que graça teria ?
Sem passado, sem futuro
Presente chato, eterna mesmice.
Felicidade seria infeliz
Riso sem choro
Choro sem alegria


Saudação de boas vindas à nossa Amélia - Zabumbeiros Cariris


Figura querida do nosso meio artístico cultural.
Aproveito o ensejo , e mando um abraço especial para o amigo Luciano Brauner.

Para quem gosta de música italiana...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Um abraço de Boas Vindas, Zé Flávio ! ( foto : Nívias Uchôa)



"Pacientemente", esperei tua chegada, doutor !
Estamos felizes !

Notícias do Crato



Fiz meu primeiro “passeio” depois das chuvas que atingiram o Crato. Não consegui chegar na casa da minha mãe pelo percurso costumeiro. Só vi lama, poeira, buracos ,e tristeza  no rosto das pessoas.
Espero que a nossa cidade tão linda, ainda reconquiste o seu brilho. Espero também, que o nosso coração se modifique.

"Honey" - Bobby Goldsboro

Essa é uma das músicas internacionais mais lindas da década de 60, na minha opinião.



Tradução:
Veja a árvore, como está crescendo
Mas amigo, não faz muito tempo
Não estava tão grande
Eu ri dela, e ela ficou brava
No primeiro dia em que ela plantou, era só um ramo
Então veio a primeira nevasca
E ela correu para tirar a neve
Assim não morreria
Voltou correndo toda animada
Escorregou, e quase se machucou
E eu ri até chorar
Ela tinha um coração sempre jovem
Meio burra e meio esperta e eu a amava tanto
E eu a surpreendi com um cãozinho
Me manteve acordado a noite de Natal inteira dois anos atrás
E certamente a deixaria envergonhada
Quando eu chegasse tarde do trabalho
Porque eu saberia
Que ela estaria lá sentada, esperando, chorando
Por causa de um bobo e triste atraso

E querida, eu sinto a sua falta
E estou me comportando
E eu adoraria estar com você
Se eu ao menos pudesse

Ela destruiu o carro e ficou triste
E com tanto medo de que eu fosse ficar bravo
Mas e daí?Embora eu fingisse realmente estar
Acho que dava para dizer que ela me viu por dentro
E envolveu meu pescoço com seus braços
Eu cheguei em casa inesperadamente
E a peguei chorando sem necessidade
No meio do dia
E foi no começo da primavera
Quando as flores florescem e tordos cantam
Ela partiu

E querida, eu sinto a sua falta
E estou me comportando
E eu adoraria estar com você
Se eu ao menos pudesse

Um dia enquanto eu não estava em casa
Enquanto ela estava lá sozinha
Os anjos vieram
Agora tudo que eu tenho são memórias da minha querida
E eu acordo à noite e chamo o nome dela
Agora a minha vida é um palco vazio
Onde minha querida viveu e atuou
E o amor cresceu
E uma pequena nuvem passa lá em cima
E chora no canteiro de flores
Que a minha querida amou

E veja como a árvore cresceu
Mas amigo, não faz muito tempo
Não estava tão grande
E eu ri dela e ela ficou brava,
No primeiro dia em que ela plantou, era só um ramo