por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 25 de julho de 2011

ISABELA PINHEIRO, TAMBÉM MERGULHADORA - por Joaquim Pinheiro


















Isabela Pinheiro, 10 anos, além de escritora e poetisa, agora é mergulhadora. Aproveitou as férias do meio do ano e fez o curso de mergulho. A foto foi tirada a 20 m de profundidade.

Ingênuo


A tua ausência se fosse fora
(quarto, varanda, calçada)
suportaria sem tanto drama.

Mas a tua ausência é dentro
(coração, intestino, vísceras)

e mesmo que eu escreva
os versos não obram milagres.

Se durmo sinto levantares de mim
(de tudo mais íntimo) e caminhas.

Deverias caminhar pelo quarto.
Caminhas dentro da minha alma.

E ela (a alma) tem uma ponte
com meu corpo: começo a ter
espasmos, calafrios, febre.

Tu que passeias descalça.
Tornozelos alvos.
Unhas pintadas.

Sinto o peso dos teus suspiros
a cada passo.

Se andasses assim pelo quarto
suportaria tua ausência
sem tanta neurose.

Mas tu caminhas dentro
(tímpanos, esôfago, ventre)

e mesmo que eu tape os ouvidos
e que eu tome morfina

teus passos são firmes
dentro da minha alma.

E ela (a alma) tem uma ponte
com a mente: começo a pensar
em suicídio, meditação, sacrifícios.

Embora eu saiba que nunca
terei coragem para te esquecer
nem cortar pulsos nem beber
o vinho de Cleópatra.

Então (se me ouves)
eu te peço que ao caminhares
dentro da minha alma

calça aqueles chinelos velhinhos
que fazem um ruído delicado
(plaf, plaf, plaf)

até durmo sem pesadelos
feito criança ouvindo
os passos da mãe
no corredor.


GRATIDÃO- por João Marni



De onde estou, em lugar privilegiado, iniciando esta crônica, tento compreender as desigualdades, observando os telhados distantes. Daqui vejo praticamente toda a cidade, com casas que dividem o mesmo espinhaço, contíguas que são. Aqui do alto, e à distância, não dá para que se escute o barulho próprio do movimento das conglomerações urbanas. Muito verde à minha volta e a rua onde moro é um silêncio só. Nosso jardim pertence aos pássaros.

Seria cômodo e egoísmo da minha parte, com essa brisa que me beija, ignorar como vivem as pessoas lá no burburinho, no fluxo do ir e vir. No entanto, numa lufada maior, como que num bofete, o vento adverte-me para que não as relegue e que as veja como possuidoras de todos os poderes que têm para arquitetar e concretizar suas vontades, seus sonhos.

Isso tudo faz-me lembrar Recife, num pequeno apartamento de só um quarto, cuja visão pelas duas únicas janelas logo esbarrava no paredão do viaduto da avenida João de Barros. O ruído era tão perturbador pelos veículos de pessoas apressadas, que havia necessidade de pôr algodão nos ouvidos, o que melhorava a concentração no ato de estudar. Por ironia, o nome do prédio era “Bela Vista”.

Nada pode ser mais verdadeiro e de bem-querença do que a orientação que os pais dão aos filhos para que estudem. E também não há nada mais gratificante do que colher os frutos desse apelo.

Fortunas existem por herança, loteria, por razões duvidosas ou tenebrosas... Porém, aquela advinda da abnegação pode não ser tamanha, mas certamente tem a simpatia divina. É assim que entendemos uma bênção. Deus nos diz: “Vai, que te ajudo.”

Por generosidade Vossa, Senhor, nossa casa é hoje ampla, farta, acolhedora e panorâmica. Tendes dado saúde a seus moradores, vossos filhos, e olhos que sempre vos agradecem. Compreendemos também que a escolha deste nosso canto não foi por lei do acaso, mas um prêmio que serve de incentivo a todos os que escutam os conselhos dos pais. Somos capazes de vislumbrar a poeira do burrico a pelejar com a Família Sagrada por um lugarzinho onde ficar...

Por gratidão, meu Deus, esta casa é vossa. Disponha.


Do livro "No Azul Sonhado"

O LIVRO- Isabela Pinheiro





Tem livro de fantasia, história

E muita magia, tem até poesia
Tem um parque de diversões
Tem um coreto e dois anões


No livro vamos viajar, sonhar e cantar

O livro é colorido e muito divertido
Lá encontramos diversão
Cheia de emoção


O papai brincando de ler

E a garota doida para ver
E o vovô contando uma história
E a garota guardou na memória



Do livro "No Azul Sonhado"


ALCEBÍADES BARCELOS - Norma Hauer


Ele nasceu em Niterói no dia 25 de julho de 1902 e faleceu em 18 de março de 1975.
Já aos seis anos veio com sua família para o Rio indo residir no Estácio onde viveu a maior parte de sua vida.
Exerceu o ofício de sapateiro até incorporar-se aos sambistas do Estácio, dentre eles Ismael Silva, Brancura, Baiaco e, depois, Benedito Lacerda. À exceção de Benedito, os sambistas do Estácio fundaram, em 1928, a primeira escola de samba,dando-lhe o nome de "Deixa Falar".

Já nesse mesmo ano, teve sua primeira composição ("A Malandragem") gravada por Francisco Alves, que fez constar da etiqueta do disco apenas seu nome como autor, o que ele não era. Francisco Alves procurava os compositores do morro, como Ismael Silva e, neste caso, Alcebíades Barcelos propondo gravar seus sambas, participando como co-autor. No caso de "A Malandragem" o nome de Alcebíades Barcelos só constou da partitura musical.

Eles aceitavam porque Chico Alves já era um nome conhecido, com várias gravações, e o pessoal dos morros não teria oportunidade de gravar naquela época.
Em 1932 a "Deixa Falar" desfilou pela primeira vez no carnaval com suas músicas "O Meu Segredo" e "Rir para não chorar".
Em 1934 já existiam outras escolas e Alcebíades Barcelos passou a desfilar pela "Recreio de Ramos".
Foi nesse ano que sua primeira música com Armando Marçal, formando a dupla Bide-Marçal "estourou" no carnaval e ainda hoje é conhecida, tendo sido regravada por vários intérpretes: 'A GORA É CINZA".
Foi Alcebíades Barcelos quem "descobriu" Ataúlfo Alves, com ele compondo"Você não sabe, Amor", uma das primeiras gravações de Carlos Galhardo.
A dupla Bide e Marçal gravou com todos os cantores da fase de ouro do rádio, como Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas.
Compôs, normalmente, até o início dos anos 60, quando se aposentou, afastando-se de suas atividades. Em 1967 deu um depoimento no Museu da Imagem e do Som, registrando sua passagem por nossa música.
Em 1973 deixou o Estácio, falecendo dois anos depois cego e paralítico.

Naquele tempo em que o rádio era o maior veículo de comunicação e onde as músicas se espalhavam por todo o país, seus compositores e cantores não enriqueciam, daí o triste fim de Alcebíades Barcelos, um dos grandes compositores da época.
Os tempos eram outros.
Hoje as scolas de Samba mandam no Carnaval.

Quero registrar a letra do mais famoso samba da dupla Bide e Marçal:

AGORA É CINZA
Autores:Alcebíades Barcelos e Armando Marçal
Gravação original de Mário Reis.

Você partiu, saudade me deixou
Eu chorei.
O nosso amor foi uma chama
Que o sopro do passado desfaz,
Agora é cinza
Tudo acabado e nada mais.

Você partiu de madrugada
E não me disse nada
Isso não se faz.
Me deixou cheio de saudade e paixão
Eu me conformo com a sua ingratidão.

Agora, desfeito o nosso amor
Eu vou chorar de dor
Não posso esquecer.
Vou viver distante de seus olhos, oh querida
Não me deu um adeus por despedida.

Mais uma letra de Alcebíades Barcelos:

O PALHAÇO O QUE É?
Gravação de Carlos Galhardo para o carnaval de 1937

O palhaço está na rua e vem anunciar
Que o Rei Momo já chegou
E é hora de brincar
Este ano vamos ter variedade
Vai ser um barulho na cidade

Hoje tem marmelada?
Tem sim senhor.
Hoje tem goiabada?
Tem sim senhor.
O palhaço o que é?
É ladrão de mulher.

Norma

MAIS UM 25 DE JULHO... - Norma Hauer


Esta é a data que, lamentando, não gostaria de recordar.

Mas que fazer? Foi nesta data como poderia ser em outra. Um, dia chegaria a grande SAUDADE !!!

E que SAUDADE é essa ?

É a da partida definitiva de CARLOS GALHARDO.

Foi há 26 anos , no dia 25 de julho de 1985.

Ele partiu, a SAUDADE FICOU

"...E a saudade ficou lâmpada triste ,
velando a escuridão de nosso amor,
Na solidão da casa que eu um dia
Aluguei, a sorrir para nós dois
Ouço-te a voz, tão cheia de agonia,
Sinto o perfume de teu pó de arroz..."

Esquecer esta data ? Talvez fosse melhor, mas ela é verdadeira, assim não se pode apagar uma data, como não se pode apagar uma

Estrela que correu no céu,
em busca de outros mundos...

Ela deixa um rastro e esse rastro não se desvanece em nossa lembrança. Não se desvanecendo, ficará até que um dia, outra "estrela correrá nos céus em busca de outros mindos..."

Esse é o destino de quem um dia por aqui passou. É por isso que se alguém passou e só trouxe beleza, quando esse alguém partir, sua beleza ficará para os que vierem depois, desde que algo tenha ficado

E de CARLOS GALHARDO ficou sua maravilhosa VOZ em centenas de gravações, tenham ou nÃo tenham sido sucesso, como é exemplo a singela valsa

POR QUE CANTAM OS PASSARINHOS ?

Eu amei, amei, sem querer amar
E depois chorei,
Sem querer chorar...
Perguntar porque não posso
Viver bem, sem teus carinhos...
É o mesmo que perguntar:
Por que cantam os passarinhos.
Éo mesno que perguntar
Porque cantam os passarinhos ?...

Ele partiu em um 25 de julho, "
... deixando a felicidade que o destino desfolhou."

Atenção!!!!!!!!!!!

As fotos de lançamento do livro "No Azul Sonhado" podem ser acessadas, clicando na página especial ( aba lateral) !

mOsTrA dE vÍdEoS BrInCaNtEs: MOSTRA DE VÍDEOS BRINCANTES - Inscrições abertas...

mOsTrA dE vÍdEoS BrInCaNtEs: MOSTRA DE VÍDEOS BRINCANTES - Inscrições abertas...: "Seja um divulgador da Mostra Copie e cole esse cartaz virtual nas suas redes sociais (Orkut,MSN, Facebook, e-mails)"

Carlos Galhardo


Carlos Galhardo, nascido Catello Carlos Guagliardi (Buenos Aires, 24 de abril de 1913 — Rio de Janeiro, 25 de julho de 1985) foi um dos principais cantores da Era do Rádio.

Por Lupeu Lacerda

das coisas que encolhem

luana me disse

ontem

que ela não acredita

que seu pé cresceu.

luana me disse

que o sapato

é que encolheu.

luana sabe

luana tem a alma

de um sabiá.

BANHO DE CHUVA- por Domingos Barroso



Você nem imagina
o friozinho agora
a música

o cafezinho
meus olhos
lacrimosos.

Não falta nada
nem mesmo sua alma

(já lhe disse
que é uma coisa só
a chuva e a calçada?)

Hoje eu vi um passarinho
andando despreocupado

entre um carro
e uma banca de revista

as asas, feito mochila,
coladas nas costas

e andava o passarinho
dando pulinhos

(já lhe disse
que em dias frios
os passarinhos
pensam na vida?)

Sim, baby
pensam como penso
em você agora ouvindo
meu coração infantil
apressado e louco.

Você nem imagina
o tremor dos meus lábios
minha respiração de peixe

Nessas horas é bom embrulhar as asas,
feito mochila, no dorso de uma nuvem
e dar um tapinha
nas ancas dessa nuvem

(já lhe disse
como voa ligeiro
uma nuvem em forma
de puro sangue árabe?)

Você nem sonha
que ontem estive
na sua cabeceira

e lhe fiz cachos
e sorri pros seus cílios
enquanto você dormia.

Por Domingos Barroso


INGÊNUO

A tua ausência, se fosse fora
(quarto, varanda, calçada)
suportaria sem tanto drama.

Mas a tua ausência é dentro
(coração, intestino, vísceras)

e mesmo que eu escreva
os versos não obram milagres.

Se durmo, sinto levantares de mim
(de tudo mais íntimo) e que caminhas.

Deverias caminhar pelo quarto.
Caminhas dentro da minha alma.

E ela (a alma) tem uma ponte
com meu corpo: começo a ter
espasmos, calafrios, febre.

Tu que passeias descalça.
Tornozelos alvos.
Unhas pintadas.

Sinto o peso dos teus suspiros
a cada passo.

Se andasses assim pelo quarto
suportaria tua ausência
sem tanta neurose.

Mas tu caminhas dentro
(tímpanos, esôfago, ventre)

e mesmo que eu tape os ouvidos
e que eu tome morfina

teus passos são firmes
dentro da minha alma.

E ela (a alma) tem uma ponte
com a mente: começo a pensar
em suicídio, meditação, sacrifícios.

Embora eu saiba que nunca
terei coragem para te esquece
nem cortar pulsos nem beber
o vinho de Cleópatra.

Então (se me ouves)
eu te peço que ao caminhares
dentro da minha alma

calça aqueles chinelos velhinhos
que fazem um ruído delicado
(plaf, plaf, plaf).

Até durmo sem pesadelos
feito criança ouvindo
os passos da mãe
no corredor. 


Do livro "No Azul Sonhado"

A ÁGUA NEGRA




A ÁGUA NEGRA



A caixa d’água no escuro do sótão não dorme.

Um demônio vigia e ronca no cotovelo da escada.

Os mortos nunca estão suficientemente lavados.

Ouço no fundo do inferno o canto de Orfeu.



As idéias se afogaram no bronze salgado do mar.

Os ratos insones passeiam no cemitério dos navios.

Onde o ouro obscuro que tanto me atrai e mata?

O vento se envergonha do corpo nu de Eurídice.



Pendurei Eurídice pelos cabelos no mais alto mastro.

Os marinheiros com a garganta seca gritam de sede.

Os tambores rubros retumbam, os canhões explodem.



A guerra não tem fim, os campanários desabam no caos.

A água negra inunda a casa do sótão até o porão.

O meu anjo da guarda perde as penas das asas negras.