A ÁGUA NEGRA
  A caixa d’água no escuro do sótão não dorme. 
  Um demônio vigia e ronca no cotovelo da escada.
  Os mortos nunca estão suficientemente lavados.
  Ouço no fundo do inferno o canto de Orfeu.
  As idéias se afogaram no bronze salgado do mar.
  Os ratos insones passeiam no cemitério dos navios.
  Onde o ouro obscuro que tanto me atrai e mata?
  O vento se envergonha do corpo nu de Eurídice.
  Pendurei Eurídice pelos cabelos no mais alto mastro.
  Os marinheiros com a garganta seca gritam de sede.
  Os tambores rubros retumbam, os canhões explodem.
  A guerra não tem fim, os campanários desabam no caos.
  A água negra inunda a casa do sótão até o porão.
  O meu anjo da guarda perde as penas das asas negras.
  
 
 
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