por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 25 de julho de 2011

A ÁGUA NEGRA




A ÁGUA NEGRA



A caixa d’água no escuro do sótão não dorme.

Um demônio vigia e ronca no cotovelo da escada.

Os mortos nunca estão suficientemente lavados.

Ouço no fundo do inferno o canto de Orfeu.



As idéias se afogaram no bronze salgado do mar.

Os ratos insones passeiam no cemitério dos navios.

Onde o ouro obscuro que tanto me atrai e mata?

O vento se envergonha do corpo nu de Eurídice.



Pendurei Eurídice pelos cabelos no mais alto mastro.

Os marinheiros com a garganta seca gritam de sede.

Os tambores rubros retumbam, os canhões explodem.



A guerra não tem fim, os campanários desabam no caos.

A água negra inunda a casa do sótão até o porão.

O meu anjo da guarda perde as penas das asas negras.



Um comentário:

socorro moreira disse...
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