por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ingênuo


A tua ausência se fosse fora
(quarto, varanda, calçada)
suportaria sem tanto drama.

Mas a tua ausência é dentro
(coração, intestino, vísceras)

e mesmo que eu escreva
os versos não obram milagres.

Se durmo sinto levantares de mim
(de tudo mais íntimo) e caminhas.

Deverias caminhar pelo quarto.
Caminhas dentro da minha alma.

E ela (a alma) tem uma ponte
com meu corpo: começo a ter
espasmos, calafrios, febre.

Tu que passeias descalça.
Tornozelos alvos.
Unhas pintadas.

Sinto o peso dos teus suspiros
a cada passo.

Se andasses assim pelo quarto
suportaria tua ausência
sem tanta neurose.

Mas tu caminhas dentro
(tímpanos, esôfago, ventre)

e mesmo que eu tape os ouvidos
e que eu tome morfina

teus passos são firmes
dentro da minha alma.

E ela (a alma) tem uma ponte
com a mente: começo a pensar
em suicídio, meditação, sacrifícios.

Embora eu saiba que nunca
terei coragem para te esquecer
nem cortar pulsos nem beber
o vinho de Cleópatra.

Então (se me ouves)
eu te peço que ao caminhares
dentro da minha alma

calça aqueles chinelos velhinhos
que fazem um ruído delicado
(plaf, plaf, plaf)

até durmo sem pesadelos
feito criança ouvindo
os passos da mãe
no corredor.


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