por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Karol Wojtyla - Demóstenes Ribeiro (*)

Por fim, a mulher convenceu o marido e a família foi das últimas a migrar para a cidade. Ela se cansara da vida difícil no campo e da promessa de emprego de professora. O prefeito, embora parente, mais parecia um inimigo. O tempo passando e ele nada arranjava.

Na casinha da periferia, iniciariam uma bodega e fosse como Deus quisesse. Mais inteligente do que os outros, ela ouvia rádio e escutava com atenção a pregação do padre. Lia a bíblia, a história dos santos e os filhos teriam nome de papa. O primeiro, Eugênio Pacceli; o segundo foi Ângelo Roncalli; e o terceiro, prematuro que faleceu logo ao nascer, escapou de se tornar Rerum Novarum dos Santos Silva.

Viviam para a igreja e a mercearia satisfazia o indispensável. Muitos anos depois, uma surpresa. De novo, ela estava grávida. O bebê nasceu forte, robusto e alourado. A alegria voltou e o sarará se chamou Karol Wojtila - nome por demais apropriado. Até o berçário e a pré-escola, o polonês foi uma criança normal, mas na alfabetização tornou-se agressivo, briguento e malcomportado. Não adiantaram os conselhos da mãe e as tias não mais o suportavam. Um dia, se explicou: era quieto, no seu lugar e prestava atenção à aula, até lhe chamarem de Carolina - aí, o pau cantava.

Ele batia a torto e à direita, virava carteiras, rasgava mochilas e chutava canelas, deixando a professora apavorada. Mudou de escola e o problema continuava. Galego sardento, mal entrava na sala, no recreio ou jogando futebol, o coro ensurdecedor tudo tomava: Carol, Carolina...

Encarou pai e mãe: – “não quero esse nome, vou mudar de nome! ” A mãe tentou convencê-lo: – “meu filho, um nome tão bonito, nome de papa, de homem santo...”

Tudo inútil. Não iria mais praquele colégio nem para a escola nenhuma, se não mudasse de nome. Os pais conversaram antecipadamente com o juiz. Foi em 94, Copa do Mundo e, na véspera da audiência, o Brasil, com dez jogadores, vencera os Estados Unidos num jogo dramático. O nosso lateral esquerdo foi expulso após uma cotovelada no rosto de um adversário.

Sabendo de tudo, o magistrado, fanático por futebol e de ressaca, foi breve: - então meu filho, você quer mudar de nome... como você quer se chamar?” O garoto ficou de pé, engrossou a voz e falou: - “Meretríssimo, eu não sou Karol Wojtyla, eu quero ser é Leonardo!”

O juiz, gordo e patusco, concordou e explodiu em gargalhada.

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(*) Demóstenes Ribeiro é médico cardiologista, natural de Missão Velha e na atualidade residente e exercendo o ofício em Fortaleza-CE.