por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 16 de junho de 2013

Os Avatares do Conservadorismo - José do Vale Pinheiro Feitosa

Os recentes acontecimentos de violência nas ruas de São Paulo têm um mérito incontestável. Aproximar o Brasil de todas as manifestações que acontecem nos países em crise assim como aconteceu com o movimento estudantil de 1968 (falo da aproximação pela mobilização). Além do mais mexe na envelhecida geração de 68 que já não consegue enxergar o momento com tanta clareza quanto via aquele de sua juventude.

A tônica da análise mesmo entre pessoas mais liberais é que o movimento gera uma perplexidade pela falta de bandeiras. Que a liderança não nasceu de organizações políticas, mas das redes sociais e que são muito jovens e “têm aparência frágil”. Que ele é apenas um movimento para expor a “energia da juventude’. Não tem alvo algum, só a sede de “mostrar a cara e participar’. São “avatares das redes sociais sem ideologia”, além de não terem “bandeiras claras” quando as tem não possuem as informações mínimas sobre os determinantes destas bandeiras.

Enfim os liberais esperam que os jovens aprendam com a violência nas ruas que saibam isolar os vândalos (sempre eles) e que tudo isso seja um exercício para formar os donos do futuro político do país. Acrescento por conta e risco: são os futuros líderes paulistanos que carregarão o futuro de todo este país? Não os jovens do Prouni, os egressos do bolsa família do nordeste, mas esta “gente fina é outra coisa”?

Já para os autoritários das direita a visão também é de perplexidade e carregada “in extremis” com a análise desqualificadora dos radicais de classe média. Um parêntese: do mesmo modo que classificavam no passados todos os universitários e secundaristas que fizeram a mobilização contra a ditadura que para este “direitões” eram merecedores da tortura e do extermínio feroz porque defendiam o comunismo soviético.

O que dizem se assemelha no núcleo das ideias aos liberais e se distancia na centrífuga das palavras. Para eles os jovens por todas as ruas do Brasil não têm uma raiz sociológica para chamar-se movimento social, são grupos esquerdistas sem importância política, têm prática fascista porque não têm expressão eleitoral (estão fora do mercado – acrescento por similaridade); encenam a revolução para suas bases que igual aos cristãos estão na eterna espera da queda do capitalismo que nunca vem (e nem virá até ao fim dos tempos).

A direita acrescenta mais alguns retoques ao perfil do Movimento do Passe Livre: o preço da passagem é apenas um mote para que as bases se mobilizem pois razão alguma há para se fazer a revolução contra o capitalismo. Por isso a radicalização destes grupos se retroalimenta com o vandalismo, saques, violência de destruição do patrimônio público e privado. E tem mais: a inteligência deste argumento que parece ter uma certa titularidade acadêmica é de modo tão burra que parece um ato de má fé. Argumenta que hoje não existe razão para fazer qualquer movimento igual a este pois vivemos em plena democracia e não existe semelhança com os anos 60 e 70.

Se este é o tipo de professor nas nossas universidades, estamos todos perdidos. E as democracias americanas, francesas, alemãs e italiana dos anos 60 deram conta da luta pelos direitos civis? Por mais justiça social ou por acesso às universidades? Mais uma vez estamos tomados pela incapacidade de entender o nosso tempo? Talvez não, eles querem a capacidade de atacar as vítimas deste tempo.

As manifestações de rua pelo mundo todo, inclusive derrubando governos, simultaneamente acontecidas na periferia de guerras civis e das guerras imperiais e neocoloniais, além da permanente tensão com as armas nucleares são o espelho desta história. Os avatares das redes sociais e os vândalos não explicam nada. Basta viver nas grandes cidades para se entender que há um abismo entre periferias de baixo emprego e o centro que emprega e que absorve o conforto do dinheiro coletivo. Esta é a contradição que ninguém procura entender. E para entender realidades complexas é preciso despir-se de seus confortos e de suas fés nos modelos vigentes.  

Sinceramente: jamais tivera a consciência tão nítida do quanto o conforto material amolece a consciência de classe (falo dos liberais, a direita de classe média continua igual em todas as idades).