por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Edla também solidária a saudade de Eliane



Mais um email que recebo da nossa amiga Edla , onde ela expressa com palavras lindas o nosso "adeus " a inesquecível Eliane .

"Rosa, amiga-irmã, bem merecida, comovente, grandiosa em sua simplicidade, porque saiu dos recônditos de sua alma, essa homenagem à nossa amiga comum: ELIANE, ou Liane, como a chamávamos. Descrever Liane é fácil e ao mesmo tempo difícil. Eu a via assim: Seu nome: SEMPRE. Ela se conhecia bastante para saber quem era, o que queria e a quem queria, desnudando sua alma para mostrar pra valer o que era e o que trazia de mais belo e maravilhoso em seu interior. Todas as dores doem, mas a que mais dói é a saudade. Saudade de Liane e não saber como estancar as lágrimas pela falta de seu sorriso, pela falta de seu bom humor, mesmo quando as dores físicas iam além de suas forças, por sua partida. Liane é isto:
“Mulher Coragem,/que a vida enfrenta só,/no seu barco vai remando/ a corda dá nó.../ Mulher Coragem!.../Mesmo chorando./ Não cruza os braços./ Vai! Enfrenta o terror que a vida te dá.../Mulher Coragem!...não voltes atrás/. Enfrenta tudo e todos, sê forte!/ Deus te há de dar recompensa merecida/se é este nosso destino até a morte./ Então que Ele nos siga a vida./ Mulher Coragem!/De corpo são e braços fortes/Luta pela vida bem merecida, lutando pela sorte;/MULHER CORAGEM!” Liane é isto!!!

G.7 A transformação de um Ph.D. de Física num gambá- por Geraldo Ananias


Lá pros meados de 1985, eu, ainda solteiro, era funcionário do Banco do Brasil e professor concursado de Matemática da rede oficial do Distrito Federal. Tinha um colega afrodescendente, professor de Física com Ph.D. nessa disciplina — com tese defendida nos Estados Unidos — que morava no mesmo prédio e que toda noite passava por meu apartamento para irmos juntos dar aula.

Naquele tempo, minha mãe tinha vindo lá do sítio Almécegas, Crato-CE, passar uns dias comigo aqui em Brasília. Certa vez, numa sexta-feira à noitinha, lembro-me, como se fosse hoje, de que estávamos lanchando, quando a campainha tocou. Levantei-me e fui atender à porta. Era esse colega físico, professor Arquimedes. Fi-lo entrar.

Assim que viu mamãe, foi logo abraçá-la, dispensando-lhe o maior carinho do mundo. Era muito gentil e amável. Daí não parou de conversar com ela, até que chegou a hora de sairmos para o colégio.

Ao voltar do trabalho, meia-noite, mamãe estava dormindo. Não quis acordá-la.

No outro dia na hora do café da manhã, ela, pessoa simples e pura, começou a puxar conversa comigo sobre esse meu colega:

— Meu filho, como é mesmo o nome daquele seu amigo que veio ontem à noite aqui?

— Arquimedes! Por que, mamãe?

— Ele não toma banho não, meu filho?

Com essa pergunta, caí numa gargalhada gostosa. Pois logo pude alcançar a intenção de minha velhinha. É que ela era, e ainda é, bem limpinha, perfumada. Toma, até hoje, não sei quantos banhos por dia e só vive cheirosinha. Por outro lado, meu colega Ph.D. era meio jogado às traças, no que se referia à aparência e até mesmo à higiene pessoal. Ele não dava bola para nada disso. E era todo esquisitão: alto, gordo, cabelos crespos, longos e sempre amarrados com um cordão; dentes escurecidos, meio pretos e desgastados; calça Lee bastante suja e batida; camiseta desbotada; chinelos, e sempre usava um charuto cubano na boca, exalando um odor não muito agradável. Enfim, o que tinha de inteligência e conhecimento tinha de sobra em desleixo. E não estava nem aí para isso. Agora era uma figura humana maravilhosa. Um caba pai d’égua.

Como sempre, eu costumava brincar com minha mãe, por ter sido criado com muito amor e ternura — graças a Deus — decidi instigá-la nessa conversa para ver até aonde ela iria. E inventei uma história a respeito de meu amigo:

Olhe, mamãe, Arquimedes é um colega e amigo a quem muito prezo. É uma pessoa sábia, excelente professor de Física. Trabalhamos no mesmo local há muito tempo, e todo dia ele passa aqui para irmos juntos ao trabalho. Agora, e eu até ia falar para senhora, ele tem uma religião esquisita, trazida lá das bandas da África, que é um negócio sério. A senhora acredita que ele passa a noite todinha nu da cintura pra cima, ajoelhado no quarto, olhando e contemplando umas figuras esquisitas desenhadas no teto? Aí ele acende umas velas multicoloridas e fica a noite toda nesse negócio horrível, gemendo e dizendo umas coisas desconexas, e com a voz estranha, irreconhecível. E o pior é que a alimentação preferida dele é morcego ao molho, urubu assado, anum-preto torrado, cobra e sapos ensopados. Só come essas coisas.

— Ave, Maria, meu filho. E como é que você tem coragem de ser amigo de um diacho desses? O bicho fede e parece um gambá, cruz-credo!

Fiquei momentaneamente calado, me segurando para não rir. Minha intenção era deixar passar alguns minutos para, depois, dizer que tudo aquilo que havia dito sobre ele não passava de brincadeira. Daí ela certamente ficaria brava comigo e eu, para acalmá-la, daria uns abraços e uns cheiros, como costumeiramente gostava de fazer. Só que, nesse exato momento, o telefone tocou, alguém avisando-lhe que um irmão havia saído de casa para visitá-la. Ela então correu para um lado e para outro, arrumando as coisas. Ocorreu que não tocamos mais no assunto e, dessa forma, esqueci de desdizer o que lhe havia contado de brincadeira a respeito de meu colega professor.

O fim de semana passou rápido. Segunda-feira chegou. Caí na rotina de trabalho. Durante o dia, Banco do Brasil. À noite, porém, quando tomava banho já um pouco atrasado, a campainha tocou. Mamãe foi atender à porta. Adivinhe quem era? O meu amigo Arquimedes em carne e osso. E mamãe não quis conversa, se benzeu e bateu a porta na cara dele. Correu imediatamente para o lado do banheiro onde eu estava, bateu na porta e começou a gritar por meu nome dizendo:

— Meu filho, corre que aquele seu colega esquisito, que parece o capeta e que come urubu está à porta. Não vou abri-la de jeito algum. Eu vou me trancar no quarto agora mesmo. Deus me livre!

Geraldo Ananias Pinheiro

Vem aí o Cariri Cangaço 2011



O Cariri cearense estará realizando nos próximos dias 20 a 25 de setembro, a terceira edição do Cariri Cangaço; numa autentica festa da história, memória, cultura e arte da Região Metropolitana do Cariri.


Os municípios anfitriões serão Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Barro e Porteiras; promovendo o maior evento do gênero, e recebendo 148 pesquisadores de todo o território nacional.


Nesta quinta-feira, aqui mesmo no Azul Sonhado, a Programação Oficial do Cariri Cangaço 2011.


Manoel Severo



CORA CORALINA E O EMPREGADO CRATENSE


No feriadão de 02.11.81 fui conhecer Goiás Velho. Estava em missão em Brasília e me vali da folga para conhecer a antiga capital do estado de Goiás. No terceiro e último dia visitamos a poetisa e doceira Cora Coralina. A casa era um dos pontos turísticos e ela tinha o maior prazer em receber visitantes. Aproveitava para vender seus livros e doces. Fomos recebidos com muita cordialidade. Houve uma empatia muito grande entre a poetisa e minha esposa. Passaram longo tempo trocando ideias sobre receitas. Ela convidou Raquel para conhecer o local onde os doces eram fabricados. No caminho para a cozinha vi um quadro de bom tamanho com a foto de Lampião e seu bando pendurado na parede da antessala. Indaguei a D. Cora porque havia colocado o quadro lá. “O quadro é do Francisco, meu empregado há mais de 40 anos. É do Ceará e admirador do Cangaceiro”, e em tom bem humorado completou: “... desconfio que foi um deles...”. Perguntei de qual cidade era o empregado. A resposta foi curta: “É do Crato”.

Fui então conversar com “Seu” Francisco, na época com 87 anos. Quando soube que eu era do Crato, perguntou de imediato: “Me dê notícia do Coronel Quinco Pinheiro?” Surpresa enorme. Falou exatamente do meu avô paterno, falecido em 1936. Quando informei que era neto do Coronel e tinha o mesmo nome dele, “Seu” Francisco liberou a memória e relembrou muitas histórias envolvendo meu avô e os irmãos dele: Hermógenes, Cícero, Pedro e Artur, os mencionados por ele. Contou detalhes das viagens para as invernadas. Esclareceu que era o cozinheiro da tropa. Saía horas antes para preparar o almoço em pontos pré-determinados.

Não tinha levado máquina fotográfica e a digital não existia. O jeito era recorrer a fotógrafo profissional. O único que havia na cidade estava numa chácara distante 4 km. Apelei para um táxi e fui buscar o profissional, por sinal um nissei. De início, recusou a proposta, alegando que era feriado, estava com a família, o foto fechado e não iria preparar o equipamento, gastar um filme para tirar uma foto. Ante minha insistência, concordou fazer o trabalho, mas exigiu o preço Cr$ 12.000,00 (o equivalente a R$ 536,00 hoje, corrigido pelo INPC). Como não tinha alternativa, uma vez que viajaria para Brasília no ônibus das 22 h, paguei a quantia pedida.

Mandei a foto para meu pai, que andou seis meses com a fotografia no bolso mostrando e contando a história a todos os velhinhos que moraram nas propriedades da família. Duas pessoas se lembraram do personagem. O “Seu” Francisco, empregado de Cora Coralina, era na verdade Tomás, morador do Tio Cícero, mas também prestava serviços aos outros tios.

Quando ainda se chamava Tomás envolveu-se numa briga e o desafeto terminou morto. Evadiu-se do Crato em 1932.

(Dedicado à prima Glória Ordóñez, pela sugestão de escrevr o texto - Joaquim Pinheiro)



Despedida - por Everardo Norôes


o poeta se despede
pede visto
no passaporte outorgado
por deus
madrugada soa fera
e arde sem pudor
máquinas aceleram verbos constelados
tudo desperta no tardio
da página em branco
abre-se em lírio
vazio a repetir silêncios
soa cinzenta a hora do café
não sabe com que camisa
combinará esperas
e apenas este longe
muito longe


Por Everardo Norões
Foto de Sérgio Guerra

Auto-Retrato Falado - Manoel de Barros


Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que

fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço

coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.



© Projeto Releituras

Por Norma Hauer



22 DE AGOSTO DE 1942
O então Presidente Getúlio Vargas, pressionado pelo povo que foi às ruas solicitar que o Brasil entrasse na guerra que se desenrolava na Europa, declarou guerra ao então "Eixo", que na minha opinião consistia apenas na Alemanha e Itália.

O Japão só estava em guerra contra os Estados Unidos (ou este país contra o Japão).
O Japão não fazia parte da guerra na Europa. Nada tinha a ver com aquele conflito. Sua situação era outra.

Até hoje não estou convencida que a Alemanha, com guerra em duas frentes e ainda na África (com o Gen. Rommel) atravessasse o Oceano Atlântico para torpedear navios mercantes brasileiros.
A quem interessava que o Brail entrasse na guierra? Quem lucrou com isso?

Os Estados Unidos, que desejavam criar bases em Fernando de Noronha e em Recife, coisa que o Getúlio não queria.
Com a entrada do Brasil na guerra, os americanos copnseguiram as bases.
Quem "lucrou" com a entrada do Brasil na guerra???

22 DE AGOSTO DE 1944
Essa data é só minha. Comecei a trabalhar no prédio antigo e hoje demolido da então Faculdade Nacional de Medicina, na Avenida Pasteur, 458.
,
Só cito isso porque ingressei no Serviço Público mediante concurso realizado pelo então DASP, criado por Getúlio para realizar concursos e dar chance a que qualquer brasileiro ingressasse no Serviço Público.

Antes só os "empistolados, "os "apadrinhados" tinham acesso ao Serviço Público.

Quando assumi meu cargo naquela Faculdade, era "uma estranha no ninho. Encontrei "famílias" de funcionários, trodos admitidos pelo QI (quem indica). Não gostaram quando a turma do DASP foi indicada para lá. "Sentiram" que acabara a sopa.

22 DE AGOSTO DE 1976
Juscelino Kubbitschek, o presidente que cumpriu "50 anos em 5" morre em acidente automobilístico na Rodovia Dutra, quando vinha de São Paulo de carro, num desastre até hoje mal explicado. Por que vinha de carro, quando sempre usava o avião ?

Teria sido acidente ou foi assassinato premeditado ??? Muitas teorias surgiram então e nunca o assunto ficou bem esclarecido.

Ele, embora "cassado" pelos militares então todos poderosos, estava incomodando com seu pretígio e a possibilidade de voltar a ser eleito quando terminasse a "cassação" e voltassem as eleições livres.

... e o mistério continua.
Norma

Cego Aderaldo - Por Rachel de Queiroz




É como ele se assina: Cego Aderaldo. Creio até que registrou a marca, pois é como “Cego Aderaldo” que o povo o conhece e ama.

O último dos grandes cantadores – hoje já não se conhecem cantadores como ele foi e como ele é. Ou se os há de inspiração idêntica, as novas gerações, distraídas com a música comercializada do rádio, com os cantores enlatados, já não os idêntica, as novas gerações, distraídas com a música comercializada do rádio, com os cantores enlatados, já não os identificam nem lhes conferem esse halo de glória que nimbava os famosos cantadores do passado.

Hoje, o prestígio da profissão de cantar improvisado, á rebeca ou á viola, e cantar e, desafio, vai diminuindo, em vias de desaparecer. Só maldo como causa a música dos rádios, que, através dos transistores, chega até aos lugares mais escondidos do sertão.

Onde nunca chegou trem, ou ainda não chegou automóvel nem avião, o rádio já chega. E fica, e grita, e enerva. E porque não tem mais esperança de fama, os moços de inspiração não se dedicam a cantar, não estimulam a veia poética nem se apuram na escola dos desafios.

Nessa decadência geral do oficio de cantador, cego Aderaldo mantém, contudo, o seu prestígio intacto. O povo o adora, o cerca e o festeja onde quer que ele vá. Quando chega a uma fazenda, venha embora o cego sozinho com seu guia, é como se com ele houvesse começado a novena, os foguetes e o leilão.

Aderaldo sentar-se e começa a cantar e até comove ver como a gente o cerca, e ri com ele, e lhe bebe as palavras.

Não aplaudem porque sertanejo não está habituado aplaudir: o artista tem que pressentir, no silencio emocionado que se segue ao se trabalho, o grau de aprovação que suscitou.

Aderaldo é hoje um velho de mais de oitenta anos, espigados, rijo, fala sonora de homem habituado a dominar auditórios.

Tem o riso muito fácil – é um cego alegre. Seu repertório, porque os cantadores não apenas improvisam, mas também cantam versos de lavra alheia, especialmente os da musa popular - seu repertório, com poucas exceções, é bem humorado, quase humorístico.

Isso se verá, aliás, nas páginas adiante, onde o Cego Aderaldo conta a sua vida e dá uma mostra de sua poesia.

Sei que é muito difícil por num caderno de lembranças essa coisa ilusiva e perecível que é a arte de um cantador.

A palavra impressa, coisa de medida, de premeditação e efeito calculado, não conseguirá transmitir ao leitor o impacto produzido pela ação de presença, pela mágica do improviso, pela música do acompanhamento, pelo embalo da cantoria; mas ao menos registrar um pouco, para não perder tudo.

Pelo menos isso – memória da vida, fragmentos de desafios e romances – nos guardado de tudo que ele espalhou por aí em mais de sessenta anos de cantoria. É um documento da sua passagem, uma referencia para futuros estudiosos, e uma pre texto de aproximação e reconhecimento para o povo que o ama e que, quando um dia o perder, gostará de conservar ao menos uma parte dos tesouros lançados ao vento dos desafios, aos pequenos auditórios longínquos e memória, ao caso, das peregrinações do violeiro e cantor.

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS- por Stela Siebra

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS
Olá pessoas queridas: venham pra roda de histórias que a fogueira já está acesa, Sia Maria fez umas cocadas hoje que estão quase iguais às da minha comadre Cora Coralina. E depois das histórias vamos brincar de adivinhação. Hoje eu vou contar uma história inventada pelo povo basco, há muito tempo atrás.


A SEREIA QUE VIROU LUA

Era uma vez uma sereia muito formosa que só nadava em águas claras, banhadas pela luz do sol.
De tanto iluminar os movimentos ondulantes dos banhos da sereia, o sol apaixonou-se por ela. Lançou sua língua (que era um lindo arco-íris) até a sereia, trazendo-a para junto de si. Quando se uniram, caíram sete lágrimas de alegria para celebrar a magia daquele encontro.
Depois o sol arremessou a sereia no espaço. E ela foi voando, voando, crescendo e voando, voando e crescendo, até se transformar na lua.
Agora, quando no crepúsculo, não vemos nem o sol nem a lua, é porque eles estão se unindo novamente.
Depois, pouco a pouco, podemos vislumbrar a beleza de todos seus filhos, que são as estrelas brilhando no céu.

OS FILÓSOFOS DA BATATEIRA E ORIGEM DAS ESPÉCIES-José do Vale Feitosa



E os filósofos da Batateira retornaram à sua original ágora. Uma pequena clareira no Alto do Urubu. Lá retornaram, pois os espaços primitivos são aqueles de maior simbologia. E afinal era um dia especial. Iriam discutir as idéias de Darwin nas comemorações de mais um século. Estavam quase todos: João de Barros, Mitonho, Biô, Fan, Chico Breca, Chambaril, Zé de Dona Maria, Chapa Branca, Vicente de Maria Júlia, e líder maior, Chico Preto, a quem coube o início das conversas.

- O gênio deste homem supera quase toda uma geração. Como um pensador do renascimento trás a interpretação do mundo para a esfera do próprio mundo. A vida não é a mesma, ela evolui, se transforma pela mutação orgânica e pela seleção natural. A vida é uma possibilidade em relação ao meio ambiente que é o somatório de todos os outros sistemas vitais. Quando um organismo se encontra bem adaptado ao meio ambiente ele sobrevive ao longo dos séculos. Mas quando sofre uma mutação e começa a competir em escala diferenciada com outros, ocorre a seleção do mais forte. O mais capaz sobrevive e o menos capaz sucumbe. Mas os que sobrevivem se originam sempre de outras espécies já existentes e deste modo se criaram ramos evolutivos que partiram de espécies primitivas e chegaram às espécies modernas. O homem, por exemplo, se origina de primatas primitivos que evoluíram para o ramo homo ao longo de milhares de anos.

Chico Breca tira o cigarro do bico e rebate Chico:

- E tu tá dizendo que pobre é o fraco e o rico o forte? Que a bodega que vende mais barato e quebra a concorrente é como esta seleção natural? Tu tá dizendo que as regras da competição destes tempos de hoje já eram as regras da natureza? E se assim fosse a competição desenfreada sempre teria existido. Que o cristianismo é uma farsa, que o budismo uma besteira, que a vontade do mundo é um bicho comendo o outro?

Fan solta o tutano do nariz num sopro forte pelas narinas e vem em socorro de Chico Breca:

- É o que esta besteira mesmo tá dizendo. Que não adianta a irmandade, a solidariedade, que não adianta a igualdade. É tudo a lei do forte comendo o fraco. É fera da noite e fera do dia, é fera da primavera, do verão e do inverno. É fera nas leis, nos costumes, em casa e na rua. É fera no rosário, fera na mesa e no altar. É fera pura. Para não dizer outra frase em palavrão.

Chambaril andava muito disciplinado. Tinha lido tudo sobre o darwinismo e foi logo dizendo:

- Pois num é isso mesmo. Uns abestados até chamam de darwinismo social, ou seja a seleção natural, a competição e a seleção do mais capaz, aplicado à regras da sociedade. Mas tudo isso é peido de jumento. A verdade é que Darwin viu a conexão entre os filos das espécies, viu a adaptação das espécies às mudanças ambientais, mas ao tentar uma explicação para tudo que viu, recorreu aos filósofos do capitalismo vitorioso. Thomas Hobbes e o homem como o lobo do homem e a sociedade como uma guerra de todos contra todos. Adan Smith e o egoísmo como o móvel do ambiente coletivo. O egoísmo fazendo o todo funcionar. Malthus e a vida como apenas uma luta pela sobrevivência sobre uma ameaça permanente de falta de alimentos. Por isso o que Darwin teorizou não foi uma nova teoria sobre a origem das espécies, mas esta origem como as leis do capitalismo nascente.

João de Barros levantou o dedo e pediu a palavra e lhe foi dada:

- E sendo deste modo nada temos a comemorar? Afinal o homem apenas repetiu o que leu na sua época.

Nisso Chico Preto mostrou o que era. Um homem de opinião, mas opinião que se move com os elementos da realidade. Chico, concordando com o pensamento de Chico Breca e dos demais respondeu a João de Barros:

- A comemoração é, também, um momento de revelação. Nem sempre nas comemorações se ganha apenas com a repetição do que houve no passado. Por vezes nela nos libertamos de conceitos arraigados que já não se explicam como elemento de hoje.

Mitonho diz: a Darwin o que é de Darwin, a nós ao que vida nos leva. Chapa Branca noutra frase de fecho: se o mundo não é só competição, talvez outras formas de união caibam. Biô na costumeira tirada: se a regra não é a fera, então eu fico com a bela, a bela que nos faz gostar de respirar os segundos da vida. Vicente de Maria Júlia, fecha o ciclo dos filósofos: e que amanhã nesta clareira a beldade esteja conosco, a beldade e sua filosofia do amanhã. Que também se sente conosco: Fila, Corra, Rosa, Memé, Dedê, Fernandina e Leila.

Era o fim da reunião e Chico Preto diz: fundamos a origem de gaia e não mais das espécies.

Com isso até eu que não estou a altura destes filósofos concordei: sem mulher não existe o pleno.
por José do Vale Pinheiro Feitosa

Virgem - 23 de agosto a 22 de setembro



"A ti Virgem, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação.

Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem, e lembrá-los de seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada.

Para que assim o faças, Eu te concedo o Dom da Pureza."

E Virgem retornou ao seu lugar.

Principal Característica: a vontade de fazer sempre o melhor.
Qualidades: capricho, humildade, aperfeiçoamento constante.
Defeitos: ser muito crítico, meticulosidade excessiva, mania de perfeição.

Elemento: terra
Qualidade: mutável
Polaridade: feminino
Planeta regente: Mercúrio
Exílio: Netuno
Exaltação: Mercúrio
Queda: Vênus

Signo que simboliza a necessidade de separar "o joio do trigo", concentrando-se na seleção, aperfeiçoamento e qualidade daquilo que é feito. Busca a discriminação, no sentido de atingir uma realidade "perfeita". O símbolo do signo retrata a purificação e a colheita. Características: desejo de servir e ser útil, mente prática, análise, ordem, aperfeiçoamento, dedicação, detalhe, perfeccionismo, crítica, exigência, inquietação, sentimento de culpa ou de inferioridade, timidez. O trabalho é um fator importante na vida dos virginianos, e a forma como se conduz perante ele, o afeto ou não com que realiza suas funções são determinantes para sua saúde e bem-estar. Virgem tem muito a colaborar, especialmente no aperfeiçoamento de instrumentos, técnicas e do trabalho em si.

Vicente Celestino



Antônio Vicente Filipe Celestino (Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1894 — São Paulo, 23 de agosto de 1968) foi um dos mais importantes cantores brasileiros do século XX.

Rodolfo Valentino



Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina D'Antonguolla, conhecido como Rodolfo Valentino (6 de maio de 1895 - 23 de agosto de 1926) foi um ator italiano radicado nos Estados Unidos da América.

Além de ser uma das estrelas mais populares dos anos 20, e do cinema mudo consequentemente, foi o primeiro símbolo sexual do cinema e protótipo do "amante latino" fabricado por Hollywood. Em 1913 imigrou da Itália para os Estados Unidos, tendo trabalhado como jardineiro e lavador de pratos. Em 1918 fez pequenos papéis em Hollywood. Sua fotogenia e habilidade como dançarino lhe garantiram um lugar no elenco de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, em 1921, que o transformou em astro.

Morreu em consequência de uma úlcera, aos 31 anos de idade. Diz a lenda que várias mulheres se suicidaram, desesperadas pela sua morte prematura.

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