por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pronuncie... se puder - José Nilton Mariano Saraiva


Weidenfeller, Łukasz Piszczek (Grosskreutz), Neven Subotić,
Mats Hummels, Marcel Schmelzer, Sven Bender,  İlkay Gündoğan (Schieber), Jakub Błaszczykowski (Kehl), Mario Götze, Marco Reus, Robert Lewandowski (Jurgen Klopp/Treinador).
****************************
Até pela grafia dos nomes dos seus integrantes, não há como deixar de reconhecer tratar-se de um “genuíno” e autentico time de futebol alemão (o respeitável Borussia Dortmund). Mesmo porque, ao contrário dos grandes times mundiais da atualidade, repletos de “alienígenas”, aqui há a prevalência dos matutos “filhos da terra” (com uma ou outra honrosa exceção), daí a extrema dificuldade ou “enrolação” da língua para todos nós que não estamos acostumados com tal tipo de pronúncia. No mais, não é de hoje que o futebol alemão se destaca pela marcação implacável (em razão de um preparo físico excelente), pela insistência com que seus jogadores “caçam” os adversários em qualquer parte do gramado (já que parecem “voar” em campo), pela verticalidade e objetividade das suas ações (na perseguição do gol), pelo outrora inimaginável e envolvente toque de bola (eram conhecidos por "cintura dura"), e, principalmente pela absoluta ausência de firulas ou frescuras (tão comuns no nosso futebol). Em sendo assim, independentemente dos resultados dos dois jogos da próxima semana (que determinarão os finalistas da Copa dos Campeões da Europa), contra os fortíssimos (e não descartáveis) timaços-poliglotas-espanhóis do Barcelona e Real Madrid, o futebol alemão, através do Bayern de Munique e Borússia Dortmund, prova ser, literalmente, a “bola da vez”. Fato é que, queiram ou não determinados  "gênios" (analistas) do futebol brasileiro,  Alemanha e Espanha estão “sobrando” em termos de futebol moderno, eficiente e gostoso de ser ver.

O ocaso, o tempo e o acaso



Tudo depende do tempo e do acaso”
Eclesiastes

                                               Há exatos dez anos, silenciava a pena de um dos mais prolíficos e brilhantes escritores cearenses: O Padre Antonio Vieira. Nascido na pequenina Lagoa dos Órfãos, em Várzea Alegre, Vieira dizia-se filho sentimental e intelectual da Cidade de Frei Carlos. Deixou quase trinta livros publicados, dentre eles “O Jumento, Nosso Irmão” , reconhecido internacionalmente, publicado numa versão inglesa e tido como  a mais impressionante e completa obra já escrita sobre o  nosso querido Jerico. Sua produção fluía de uma extraordinária erudição que avançava pelos campos da Literatura, da Sociologia, da Filosofia, do Direito, da Antropologia, da História, da Gramática, da Política, da Religião. Vieira era um poliglota, um orador inspiradíssimo e dono de um estilo único e inconfundível. Mesclava, com rara destreza, a poesia e o humor e fez-se um  incansável engenho de produção literária. Como professor (de incontáveis línguas e matérias) tinha o poder quase único de hipnotizar platéias e transferir a portentosa sabedoria acumulada por tantos e tantos anos, com uma leveza e didática difíceis de se encontrar nos atuais mercados educacionais.
                                               Mais que um escritor, o Padre Vieira era um Artista. Estava profundamente antenado com o seu tempo. Conseguia ver bem além dos filtros religiosos e morais que a sociedade nos vai impingindo, pouco a pouco, na busca de empalhar-nos com verdades prontas e receitas pré-fabricadas. Franzino, feio e aparentemente frágil, Vieira carregava uma força de um guerreiro espartano. Eleito deputado federal em plena Ditadura Militar, insurgiu-se, bravamente, contra o golpe de 64, contra a Censura e a Tortura. Seus pronunciamentos no Congresso possuíam uma contundência inimaginável num regime de exceção. Por isso mesmo, terminou cassado nas primeiras lufadas do AI-5. Numa época , amigos, em que tantos e tantos se acumpliciaram com a ditadura e outros tantos fizeram-se de Judas e entregaram estudantes, sindicalistas e políticos  tidos como subversivos aos leões famintos da arena pátria; Vieira, como artista,  teve a clarividência de reconhecer quem eram os mocinhos e os bandidos e, corajosamente, alistou-se com os que pugnavam pelo bom combate. Não foi menos corajoso ao insurgir-se contra algumas leis pétreas da igreja de que fazia parte. Postou-se contra o celibato clerical, contra o medievalismo crônico de algumas teses imutáveis, contra o preconceito de gênero nas suas hostes, contra a hierarquia mais burocrática e menos pastoral. Hoje, quando as mudanças nas estruturas arcaicas  parecem mais que imperiosas, o tempo demonstrou , claramente, que o Padre Vieira trilhava, mais uma vez, o caminho da luz.
                                               O legado de um escritor insre-se nas páginas que escreveu. A herança de um artista, no entanto, ultrapassa as fronteiras da sua obra. Em que contribuímos, com nossa Arte,  para transformar esse mundo num lugar mais bonito, mais justo, mais feliz, mais alegre ? Acredito que Vieira buscou, desesperadamente, legar um planeta mais igualitário , mais franco e mais risonho para a posteridade. Reclamava de ter sido tolhido como ser humano, na impossibilidade de gerar descendência, mas deixou quase trinta filhos, na forma de  livros.  Espalhados pelo Brasil, necessitam de reedições para que cheguem às novas gerações e continuem o seu poder transformador.
                                               Passados dez anos, chega o tempo em que um artista tão importante precisa sair do purgatório da nossa história. O Cariri e o Ceará precisam saudar essa dívida para com um dos seus mais expressivos artistas. Tudo nessa vida, como diz o Eclesiastes, depende do tempo e do acaso, mas bem que podíamos dar um empurrãozinho a estas duas forças motrizes da humanidade. 

J. Flávio Vieira