por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 24 de março de 2011

Maria Fumaça


O velhinho entrou no consultório meio desconfiado, meio cabreiro. Como boi no matadouro, esperando o xunxo do magarefe. Dois filhos o puxaram até ali e duas filhas o empurraram. Todos carregamos, no íntimo, a certeza da imortalidade física: o velhinho, sabe-se lá porque, pressentia que sua moléstia não era coisa simples, dessas de se resolver com Capivarol e Extrato Hepático. Sentou-se meio constrangido, mas ,rápido, recobrou o equilíbrio e desatarraxou um vendaval de sintomas. Estava naquela idade em que os inimigos começam a armar o cerco e passam a disparar sem piedade sua metralhadora de achaques, de dores e infortúnios. O médico o examinou com cuidado e teve a certeza de que o velhinho não exagerara na premonição. Algum esmeril feroz carcomia as forças daquele que um dia fora um touro indomável, trabalhador incansável no campo, um artista da enxada e do arado. A madeira de lei dera cupim. O esculápio solicitou alguns exames que confirmassem sua certeza e prescreveu alguma medicação que, certamente, não diminuiria a doença, mas aumentaria a esperança do velhinho. Receita na mão, antes de sair, o paciente fez um pedido inusitado:
--- Doutor, o senhor gosta de escrever , não é ?
O médico , que produzia esporadicamente alguns textos para a imprensa local, confirmou:
--- É , vez por outra eu escrevo umas potocas sim, seu Pedro!
--- Pois é, vou pedir um favor : escreva sobre a Maria Fumaça !
O profissional, polidamente, prometeu fazê-lo, mesmo sabendo que o compromisso fazia-se apenas um ato de educação, uma promessa dessas que os políticos firmam no palanque: afirmam como sem falta e faltam como sem dúvida. O médico seguiu sua via crucis: o atendimento interminável de pacientes, com aquela sensação de quem tentava esgotar um olho d´água. Tardizinha, voltando para casa estafado, lembrou , estranhamente, da reivindicação do ancião e pôs-se a imaginar as razões possíveis e ocultas daquilo que soara quase como o último desejo de um condenado. Por quê a Maria Fumaça ?
O trem terá sido o primeiro transporte de massa de acesso a todas as classes sociais. Como uma serpente enorme varava os sertões, levando na barriga pessoas, sonhos, ilusões. Trazia ainda mantimentos, as notícias , as cartas e as últimas novidades dos mais distantes rincões. Imaginem o encantamento que causava no caboclo que observava seu porte gigantesco e seu “café-com-pão” interminável. E a estridência do apito agudo, nos ermos campos de outrora? A fumaça que esvoaçava da chaminé, como se fora o dragão de São Jorge? E mais: a possibilidade de transportar cada passageiro em busca do sonho mais inalcançável? A Maria Fumaça deu asas ao matuto e tornou viável o destino cosmopolita do cearense. Desde que seu apito ecoou pela primeira vez na pradaria , o caboclo descobriu definitivamente que esse mundão não tem cancela. Há a possibilidade de ser infeliz em muitos lugares diferentes. Se é tão difícil mudar a história da humanidade, o trem nos deu a condição de alterar ao menos a geografia.
Na iminência de empreender uma longa viagem, compreendeu, por fim, o doutor, a visão da Maria Fumaça serpenteando os campos sertanejos trazia consigo um alento, uma tranqüilidade quase que etérea. O trem que partiu, um dia retornará, inevitavelmente, trazendo no seu matulão novas esperanças e bons augúrios. E lépido e fogoso um rapazinho saltará na mesma plataforma em que um dia o velhinho alquebrado embarcou, apenas com passagem de ida, com destino ignorado e sem imaginar que todas as estradas terminam sempre na mesma estação.


J. Flávio Vieira

Curtas - XX - Aloísio

O pensamento voa
Enquanto a gente anda
Se correr, tropeça,
Mas não o alcança

Aloísio

Na Rádio Azsul



A dama de ferro- Por Marcos Vinícius Leonel



Só minhas
De fato abortaria eu
As muralhas da China
Se outrora apetecido estivesse
De tê-las parido em paralelo

E cagaria velhas fotografias
Enredadas de novos conflitos
Se houvera um dia ter saboreado
A docilidade calculista da vitória

Mas não estão os mortos
Aqui em suas contraproducências
Amplamente duvidadas
Como dívidas indevidas

Ao longo dos meus fatos
Pontiagudos em amarguras
Corre um rio fantasma
Ausente de si e de ser e estar

São nessas águas
Molhadas pelo aparente vazio
Que se banha o meu deus falido
Livre das torturas que agora são
Só minhas

 por Marcos Vinícius Leonel

Um amor, uma cabana - Ana Miranda


Nossos pais diziam que para nos tornar seres completos era preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Meu pai, que era engenheiro, acrescentava: construir uma casa. Escrevi livros, até demais, tenho um filho e plantei uma árvore, no jardim da casa onde cresci, uma muda de pau-rosa, ou flor-do-paraíso, que havia sido esquecida ao lado de uma cova estreita e funda, uma muda frágil, com poucas folhas, mais alta do que a menininha que a salvou. A muda cresceu, transformou-se em um majestoso flamboyant, coberto de flores vermelhas.

Mas nunca construí uma casa. Sonho com isso. Gostaria de construir uma casa de taipa, com as próprias mãos, amassar o barro, atirar o barro nos enxaiméis e fasquias de madeira. Não se trata de uma idiossincrasia, nem de um gesto poético, muito menos uma visão religiosa. A taipa é um material apaixonante. Tem uma nobreza histórica. As reforçadas casas e igrejas coloniais brasileiras foram feitas de taipa de pilão, há ainda hoje na Alemanha casas em taipa construídas no século 13, a própria muralha da China, símbolo da solidez, é taipa. A taipa tem mais de 9.000 anos, serviu a construções no Egito, na Mesopotâmia.

Um amigo meu, arquiteto, projetou e construiu belíssimas casas de taipa. Ele se chama Cydno da Silveira e o conheci em Brasília, poucos anos depois de plantar meu flamboyant. Cydno estudava na UnB quando, observando residências rurais, surpreendeu-se com a quantidade de casas de taipa, feitas de maneira intuitiva, quase como as abelhas fazem suas colméias. Nunca tinha ouvido falar naquilo em seu curso, e percebeu o quanto era elitista o ensino de arquitetura. Fotografou as casas de taipa todas que encontrava. Ele se formou, passou a trabalhar com as técnicas industriais, como concreto armado, mas nunca esqueceu a taipa. Deu-se conta de que não sabia construir da maneira mais rudimentar e resolveu aprender. Estudou durante anos a técnica. Descobriu taipas diversas, como a de pedra, usada no Piauí, a de madeira com bolas de barro, vista no Maranhão, a taipa de carnaúba, a taipa mista de moldura de tijolos, a taipa feita com sobras de madeira e sucata. Descobriu a maleabilidade incrível do barro, novas estruturas, novos dimensionamentos do espaço e imensas possibilidades de melhoria na técnica tradicional. Estudou a combinação com elementos da cultura industrial, mas sem descaracterizar a antiga construção de estuque.

A casa de taipa nasce do chão, vem da natureza, é construída com o material que está ali, a terra e as árvores e tem uma grande contribuição a dar a um país que não oferece moradia para todos, como o Brasil. O projeto de casas populares, que Cydno afinal desenvolveu, ensina o homem a construir sua própria casa e a cuidar dela. Tem o sentido de manter viva a sabedoria popular da taipa. Está sendo feita uma experiência na cidade de Bayeux, Paraíba, para treinamento de pessoas no projeto, construção, melhoria e restauração de edificações em taipa de pau-a-pique. Não recebendo a casa pronta, mas construindo-a, o dono toma por ela mais amor. Se for privado de sua terra, ele saberá construir uma nova habitação. O saber lhe pode servir como meio de vida, e a profissão tem um nome: taipeiro.

A casa de taipa é uma grande alternativa para a habitação no meio rural e nas periferias urbanas. Típica das populações mais pobres, é uma forma de independência, uma estratégia milenar de abrigo, preservada nos sertões brasileiros especialmente pelas mulheres. O sistema de autoconstrução elimina a aquisição de material, o transporte, o crédito, elimina o BNH e o processo industrial de construção, permite o mutirão e, principalmente, educa. É rápida a construção, usa-se mão-de-obra não qualificada, e é um instrumento para a posse imediata da terra. Permite uma construção tanto de caráter provisório quanto perene e a técnica pode ser levada a lugares onde não chega o material industrializado. Uma simples caiação evita a umidade e basta fechar as frestas onde o barbeiro gosta de fazer seu ninho. Integra a família, as mulheres e as crianças trabalham na construção e integra o grupo na sociedade quando em regime de mutirão. Apesar de tudo isso é completamente ignorada pelos meios administrativos, considerada subabitação, não há nem mesmo linha de crédito nos órgãos do governo para casa de taipa. Marcos Freire, antes de morrer, estava tratando de corrigir esse lapso. Nas esferas “civilizadas” há dificuldade em compreender a taipa. Não há legislação nem a favor nem contra. Quando da construção de Carajás, Cydno realizou um projeto de moradias em taipa de pau-a-pique para os empregados, utilizando o fartíssimo material do lugar. Seu projeto não foi aceito e os tijolos, o cimento e o ferro viajaram de avião até Carajás.

Na taipa não há desperdício de material e nem agressão ecológica, a madeira usada nas estruturas é em quantidade cinco vezes menor do que a necessária na queima de tijolos para uma parede das mesmas dimensões. “A tomada de consciência ecológica, surgida como uma ponte de luz no extremo mais estreito do túnel da crise de energia, vai servindo para provar-nos que nem sempre o habitat humano está condenado a ser feito de concreto, aço e vidro. Assim, quando tudo em arquitetura parecia dirigir-se para uma negação sempre maior da natureza que volta a oferecer uma saída diante das agruras da crise. E o faz com aquilo que lhe é primeiro e essencial, a terra, o elemento mais fecundo de tudo o que nos cerca”, escreveu o arquiteto Roberto Pontual.

Quando, nos anos 1930, Lúcio Costa projetou uma vila operária, em Monlevade, toda em taipa de pau-a-pique, escreveu: “...faz mesmo parte da terra, como formigueiro, figueira-brava e pé-de-milho – é o chão que continua... Mas justamente por isso, por ser coisa legítima da terra, tem para nós, arquitetos, uma significação respeitável e digna, enquanto que o pseudomissões, ‘normando ou colonial’, ao lado, não passa de um arremedo sem compostura”. E aconselha: devia ser adotada para casas de verão e construções econômicas de um modo geral. É uma técnica muito mais barata, atende aqueles casais remediados que desejam uma casinha de campo. O projeto de Lúcio Costa, claro, não foi aceito pela Belgo Mineira.

O Cydno vai projetar a minha casa de taipa. Vou querer na casa uma lareira, um fogão a lenha e uma vassoura daquelas de gravetos. Uma árvore frondosa por perto, pode ser flamboyant, um gramado na sombra para piquenique, contemplação ou leitura. Também dizia meu pai, nas coisas mais simples está o sentido da vida.
Manoel de Barros


Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho
de "O Guardador de Águas", Ed. Civilização Brasileira.


1
Gravata de urubu não tem cor.
Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
Luar em cima de casa exorta cachorro.
Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam.
Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
No osso da fala dos loucos têm lírios.

3
Tem 4 teorias de árvore que eu conheço.
Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga.
Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.
Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.
Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.

7
Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro se umedeça em nosso corpo.

9
Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.

11
Que a palavra parede não seja símbolo
de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância,
etc. (essas coisas que acham os
reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdomen de uma casa.
Eu tenho um gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de paredes
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio cego.
Tal um verme que iluminasse.

12
Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.

13
Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por
morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas
a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a
dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos


Às chuteiras dependuradas- Por José Flávio Vieira



“Qualquer que seja a arquitetura dum edifício,
seus escombros obedecerão ao estilo barroco.”
Aníbal Machado

Imagino como vocês se sente neste momento algo turbulento. Aquele instante porque se sonhou por tantos e tantos anos, mas que ao se aproximar traz consigo sua mista carga de alegria, ansiedade, conforto e apreensão. Como se de repente, trocássemos a beca pelo pijama, a cueca pela fralda, o paletó pela bermuda, o livro pelo baralho, a cadeira de mestre pela de balanço. Aflige-nos, quem sabe, o fundo da nossa alma, perceber este momento justamente como o soletrar dos primeiros arpejos do alfabeto da catástrofe previsto por Machado. Pois eis-me aqui, pronto a demonstrar que este instante é de encontro e não de diáspora, de advento e não de partida. Até porque assim o são todos os segundos desta vida breve, desde a canção de ninar até à incelença.
A frase do Aníbal é lapidar. Sonhos, anseios, aspirações, desejos vão pouco a pouco sendo triturados, vida afora, pela ampulheta do tempo. Por mais modernoso que se apresente o edifício que, cuidadosamente projetamos, após a inevitável implosão --- aquele big-bang que fechará o ciclo daquele primeiro há bilhões de anos atrás— os espólios que restarão obedecerão, necessariamente ao vetusto , seminal e kitsch estilo barroco. E sei que é essa reflexão crua, inexorável, catastrófica que nos enevoa os mais recônditos sótãos do espírito, no momento em que vemos correr uma das cortinas da existência. De que adiantou projetar o prédio em estilo pós-moderno, se mal levantamos as primeiras paredes, as colunas e pilastras vêm abaixo e o amálgama de concreto, espalhado no solo, nos fita como a Sífiso , com olhos de caos, com retinas de já-se-foi ? Hoje, sei que da zona mais abissal do seu âmago, você se faz esta pergunta, sentindo-se uma espécie de quebra-queixo em tempos de Nutella, de videocassete em época de blue-ray. Valeu a pena tudo ? Os anos difíceis, o estudo contínuo, a paternidade fisicamente ausente, os cargos inúmeros assumidos, a convivência ofídica de alguns companheiros ?Valeu a pena ?
Postado em meio ao amontoado de escombros, nos perguntamos: é esse o destino final do nosso projeto de Taj Mahal ? Pois bem, meu cato, não é ! E a conclusão me parece lógica. Nem precisa-se esperar a justiça derradeira recorrendo a forças superiores ou à possibilidade de outras encarnações /edificações. A importância do seu projeto arquitetônico é inquestionável por incontáveis motivos. Primeiro, é justamente dos entulhos dos nossos edifícios que as gerações que virão, num infinito processo de reciclagem, edificarão, em moto-contínuo, os seus prédios. A qualidade do que será construído no porvir depende umbilicalmente da qualidade do material com que erguemos as nossas paredes. Depois, o mais importante não é o monumento que pretendemos levantar e a que , inevitavelmente, jamais daremos termo. Contam-se mais: nossa relação com os outros operários, a paisagem que se estenderá à nossa frente à medida que ascendemos. Na verdade edificamos uma casa que jamais habitaremos : moramos, vivemos, durante toda a obra, nos andaimes.
Este momento, pois, é de encontro, nele todos os operários se reúnem na certeza de que não foi um edifício que ruiu, mas que uma construção precisa ser recomeçada e o material disponível é da melhor qualidade. E, se a sua frente, parece se fechar uma porta, é preciso levantar os olhos e ver a quantidade imensa de janelas abertas para o infinito. O carrasco disciplinador dos filhos hoje se transforma no bobo da corte dos netos; se alguns músculos fraquejam, os neurônios funcionam de forma trifásica; a vida poderá até não parecer tão azul, mas já existem disponíveis uns comprimidinhos azuis que têm a capacidade de reazulá-la; o violão poderá passar de simples artefato de decoração a uma fábrica de sons e de sonhos. E quando alguém vier com aquela balela de que a vida é uma dureza; você poderá sorrir lembrando que é justamente dureza aquilo que você mais almeja.
Bem-vindo ao nosso encontro! Bem-vindo à construção que hoje se inicia ! Grato pelo pelo cimento, pelo ferro, pela brita ! Grato pela esperança destilada em cada pá de cal e pela força de sentar o tijolo do efêmero com argamassa de eternidade ! Os futuros operários têm um cristal onde se espelhar! Você pode até imaginar que o espelho nesse momento se estilhaça, mas não custa lembrar que o poeta Mário Quintana já vaticinara : “os espelhos partidos têm muito mais luas”...


17/12/10

J. Flávio Vieira

Por João Nicodemos



quase amar
amalgamar

um silêncio triste invadiu a noite
em lugar muito distante
foram dormir os sonhos
tantos passos, tantos anos...

pobres bichos urbanos,
sonolentos de insônia
fabricamos versos de espantalho
enquanto a noite se adensa
Nicodemos

LULA: Imprevisível e amado para sempre- Por George Macário


Meu Tio, este cara ao lado, sempre foi imprevisível. Vez por outra, ele chegava com uma coisa diferente. Aliás, acho que isto é, de longa data, mania de família.
E por falar em família, Lula "sempre será" o filho mais novo entre seis irmãos. É evidente que ele se valeu das prerrogativas dos caçulas. Não se pode negar, de forma e nem em momento algum, que ele usou e, muitas vezes até abusou, do privilégio de ser o mais novo e, porque não dizer, o mais amado por todos. Indiscutivelmente, ele era o queridinho das "mamães" Ilze, Aliani e Noemi, a quem chamava de Madrinha, Mana e Mamita, respectivamente. Os irmãos Zé Milton e Alexandre, além de todos os seus cunhados, aprenderam com Lula (criança), as primeiras experiências de SER PAI. Lições para uma vida inteira.

Entre os sobrinhos, por conta de ter sido o "fim de rama", ele falava a nossa língua. Debatíamos os mesmos temas, dividíamos as mesmas brincadeiras e "arengas" e, muitas vezes, discutíamos, brigávamos, nos intrigávamos...Entretanto, jamais perdíamos o vínculo do amor pessoal e ao seio familiar, centrados nas figuras de Vovô Ernani e Vovó Aline. Na verdade, ele era como se fosse mais um primo entre nós. Ele ara um menino como nós éramos, que foi jovem como nós fomos e, somente ele, amadureceu sem deixar para trás a eterna criança que havia dentro do seu "extenso" e benevolente coração.

A vida o levou para onde ele queria ir e vir. Seu destino era como se fosse um novo amanhecer. Ninguém seria capaz de prever o que ele seria capaz de fazer. Porém, em minha opinião de sobrinho, se existe algo que marca a breve história do Tio Lula na vida terrena, sem dúvida, foi a sua capacidade de ser solidário com as pessoas e, sobretudo, com aquela que foi seu grande amor: A NATUREZA.

Lula, quanta saudade já sinto de você! Como está difícil te dizer isto agora! No entanto, meu amigo, o que me conforta é saber que você está bem, aí do outro lado, por conta da tua consciência espiritual.

Cara, você foi IMPREVISÍVEL até na hora de partir! Nos enganou! E, desgraçadamente, nos deixou para sempre te amar, muito vivo em nossos corações.

No Céu, com certeza, Deus terá um Jardim Novo e um ótimo Jardineiro.

Um grande abraço
do teu sobrinho

GEORGE MACÁRIO DE BRITO

Romaria Nossa Sra. das Dores...Pachelly Jamacaru

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"MANEL D`JARDIM" ALÉM DA LENDA

Há um convite no ar.
Que vai ALÉM DA LENDA
que se pode criar em torno de algo...
ou de alguém.
Há um cheiro forte de música no ar.
Que vai além da possibilidade
de apenas sonhar...e tocar...e cantar
Uma Fênix que (re) apareceu
Quando tudo era silêncio
Quando tudo era breu
Agora sim. Há um convite no ar...
E há a certeza de que
Não há mais silêncio
E não há mais breu
As cordas acordaram
A luz no tempo voltou
Os acordes soaram
E tudo ainda é harmonia
É Música no ar
Há um homem, um músico,
Em Manel D`Jardim
Ele voou, voou...voou
Trancendeu e já venceu
A lenda que dele brotou
De novo ele nos leva
através da sua música
Muito ALÉM DA LENDA.