por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 26 de maio de 2011

Precisão - Clarice Lispector




O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.



Sesta - por Everardo Norões ( foto de Pachelly Jamacaru)




o galho de árvore
a penetrar na nuvem
pássaro a resvalar
no clarão da pele
lampejo de água
na chuva adormecida
sopro de luar
no cobre da bandeja
um sim dissimulado
na dobra do vestido
augúrio de festa
no aceso de dentro
molécula explodida
no cristal
da taça



A RUA DO PADRE INGLÊS
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006

Foto by Nívia Uchôa


Sobre a morte e o morrer Rubem Alves



O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?



Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.


Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.


Millôr Fernandes



Millôr Fernandes (Rio de Janeiro, 27 de maio de 1924) é um desenhista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro.

Hai Kai I
Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a Lua.


Hai Kai II

A palmeira e sua palma
Ondulam o ideal
Da calma.


Hai Kai III

O veludo
Tem um perfume
Mudo.


Hai Kai IV

Meu dinheiro
Vem todo
Do meu tinteiro



Hai Kai V

Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos


(Millôr)

Isadora Duncan


Angela Isadora Duncan (São Francisco, 27 de maio de 1877 – Nice, 14 de setembro de 1927) foi uma bailarina dos Estados Unidos.

Dino 7 Cordas



Horondino José da Silva, conhecido como Dino 7 Cordas, (Rio de Janeiro, 5 de maio de 1918 — Rio de Janeiro, 27 de maio de 2006) foi um violonista brasileiro reconhecido como maior influência do violão de 7 cordas, instrumento musical no qual desenvolveu sua linguagem e técnica. Foi também um dos maiores instrumentistas de choro.

wikipédia

Palavras - Por José de Arimatéa dos Santos

Palavras
Que significam
Nosso sentimento,
Nossa opinião,
Por que não expressá-las?
Palavras...

OSWALDO SANTIAGO - POR NORMA HAUER


LIG-LIG -LÉ

Parece e é imitando um nome chinês, mas nada tem a ver com a China atual. E nem com a China tradicional.
Lig Lig Lé é um dos vários sucessos que Oswaldo Santiago conquistou em sua carreira de compositor e letrista.
Nos primeiros anos 30, os compositores confundiam China com Japão e “viam” a Madame Butterfly em Shangai ; samurais na China e a confusão da”Casta Susana” que provocou a guerra China x Japão.

É, mas quem foi Oswaldo Santiago?

Foi um compositor e letrista, nascido no dia 26 de maio de 1902, na cidade de Recife.
Ainda em sua cidade natal escreveu seu primeiro livro de poema com o nome de “No Reino Azul das Estrelas”, publicado em 1923. e iniciou-se como compositor, compondo letra para uma música de Nelson Ferreira, que foi apresentada na peça “Mademoiselle Cinema”, da Cia Vicente Celestino, quando esteve em Recife.

Em 1928 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1930, passou a escrever, como cronista , comentários sobre o rádio, numa secção com o nome de “Broadcasting”, na revista "O Malho".
Na época, o rádio ainda não entrara em sua fase de ouro, embora já existissem, aqui no Rio, quatro emissoras, todas com pouca potência.

Nesse mesmo ano, com o movimento revolucionário de Getúlio Vargas e devido à morte de João Pessoa, escreveu, com Eduardo Souto o “Hino a João Pessoa”, disco que “bateu” o recorde de vendas, gravado que foi por Francisco Alves
“Lá no norte um herói altaneiro,
Que da Pátria o amor conquistou
“Foi um vivo farol, que ligeiro,
Acendeu e depois se apagou”...

A partir daí, conheceu vários sucessos carnavalescos, como “Lig, Lig,Lé”, gravação de Castro Barbosa ( o mesmo que fizera sucesso com “O Teu Cabelo Não Nega” e que depois passou a humorista na famosa PRK-30); “Quadrilha no Carnaval”, “Olá, Seu Nicolau” e Catarina”, com Carlos Galhardo, “Tirolesa”, com Dircinha Batista, “Querido Adão”, com Carmen Miranda, e “Eu Não Posso Ver Mulher”, com Francisco Alves.

Foi responsável pela primeira gravação de Dalva de Oliveira, depois que ela saiu do “Trio de Ouro”. Trata-se de uma música junina, “brincando” com a figura dos três santos festejados naquele mês: “Pedro, Antônio e João”.

“Com a filha de João,
Antônio ia se casar.
Mas Pedro fugiu com a noiva,
Na hora de ir p’ro altar”.

A primeira parceria do compositor russo Georges Moran foi com Oswaldo Santiago: a valsa “Perfume de Mulher Bonita”, gravada por Carlos Galhardo.

Oswaldo Santiago, em parceria com Paulo Barbosa, foi responsável por inúmeros sucessos de Carlos Galhardo, como “Cortina de Veludo”;”Lenda Árabe”; “Madame Pompadour”;”Torre de Marfim”;”Salambô”;”Italiana”...Era com esta valsa que Galhardo abria e fechava seus programas na Rádio Mayrink Veiga.

Um bonito “jingle” foi criado por Oswaldo Santiago, em parceria com Gastão Lamounier para a Juventude Alexandre, um produto para os cabelos.

Sílvio Caldas, gostando do jingle”, achou que ele merecia ser muito mais que um simples “jingle” e o gravou com o nome de “Há Um Segredo em Teus Cabelos”.

“Em teus cabelos de seda,
Que perfume, que aroma sutil...”.

Em 1942, Oswaldo Santiago criou, com alguns colegas, a UBC: “União Brasileira dos Compositores”, em defesa do direito autoral. Tornou-se o maior conhecedor desse direito e dirigiu durante muitos anos a UBC.
Escreveu, em 1946, um livro com o nome de “Aquarela do Direito Autoral”. Antes da UBC, já existia a SBAT, que era mais ligada ao teatro do que à música . Oswaldo Santiago tornou-se um perito e, em 1950, colecionou vários acórdãos do Supremo Tribunal Federal que criaram jurisprudência sobre o assunto.

Dedicando-se a sua nova função, praticamente, deixou de compor , ficando à frente da UBC por muitos anos, mesmo depois que foi criada a SBACEM, por um grupo liderado por Ari Barroso.

Oswaldo Santiago faleceu aqui no Rio de Janeiro no dia 29 de agosto de 1976, com a idade de 74 anos, deixando uma grande obra como poeta e compositor

NORMA

Semana reflexiva. Uma aflição previsível : a morte !


"A morte se pertence" !


Perdemos ontem um velho amigo: o Prof. Luilson Barros Costa .Paraibano, radicado no Cariri(Juazeiro e Barbalha)  há muitos anos. Fez um trabalho de certa forma incansável, no campo das artes Cênicas. Um dos precussores do teatro de bonecos. Deixou saudades.


Com pesar comunicamos o falecimento da  odontóloga Francisca Gilva Carlos Henrique, nascida no dia 22 de março de 1950, esposa do odontólogo e  Petrúcio Cavalcante Teixeira - Figura querida , na comunidade cratense.

Gilva foi minha colega , no segundo ano científico, quando estudávamos no Colegio Estadual Wilson Gonçalves. Uma doce lembrança ! 

Veto ao kit contra a homofobia se baseou numa armação? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Como tomamos conhecimento de uma informação diz muito como a informação é trabalhada. Em outras palavras, toda informação tem um trabalho que lhe dar um sentido. Um interesse por trás da informação e por isso mesmo, na rede de informações em que se transformou a cultura vigente, não é muito bom fundir informação com verdade de modo a priori.

Ontem estava almoçando no centro do Rio com um grupo de advogados, intelectuais e médicos quando surgiu a história do “Kit-gay” que se estaria implantando nas escolas. O “informante” narrava um vídeo em que duas crianças do sexo masculino se encontravam num banheiro e uma delas ao olhar o pênis do outro entraria num debate sobre as opções sexuais que poderia, livremente, ter na vida.

No modo como se apresentaria o vídeo, seria um estímulo à homossexualidade. Isso como instrumento de governo é grave, uma vez que a solução ocorre na cultura e não no proselitismo de um comportamento ou outro. Aliás, a solução do vídeo, se verdadeira, estaria na própria contramão da luta contra a homofobia, pois não apresentaria nenhuma fobia, mas apenas uma mera questão de opção sexual. Daí que o governo poderia fazer vídeos apenas reforçando a heterossexualidade. Faltaria equilíbrio político numa proposta como apresentada pelo “informante”.

Como não conhecia o vídeo e estava escaldado com a história do tal livro que ensinaria nas escolas a falar errado, afinal fui ler um PDF do tal livro para concluir pela falsidade da mídia, perguntei ao “informante”: você viu o vídeo? Ele me respondeu que não e lhe disse que tivesse cuidado, pois havia muita manipulação na internet e entre as pessoas.

Cheguei em casa e ao abrir a televisão a Presidenta Dilma Roussef, tendo como porta voz o Gilberto Carvalho, secretário da Presidência, mas muito ligado à Igreja Católica, havia vetado o tal kit do MEC, agora explicado como contra a homofobia. Aí eu me perguntei: o “informante” teria razões implícitas?

Qual o quê? Tudo leva a crer que a presidenta foi enrolada numa grande armação vinda de grupos evangélicos e tendo como líder o ex-governador Anthony Garotinho. Eles levaram à presidenta um kit que seria do Ministério da Saúde, voltado para programas de adultos e outros para Agentes de Saúde que têm de trabalhar com conhecimentos mais específicos. Uma armação de má fé que não conduz senão às trevas na evolução histórica da humanidade.

É bem verdade que este grupo tão logo saiu da audiência com a Presidenta aproveitou para deixá-la em saia justa. Insinuaram que fora uma troca em não abrir investigação contra Palocci. Se isso não dá nenhuma lição de ética ao grupo de Garotinho, mas demonstra que eles querem sangrar a Presidenta sujeitando-a, publicamente, a uma suposta aceitação de chantagem.

Independente de qual opinião cada um tenha sobre este assunto, no mínimo deve ter a consciência que não se evolui com práticas iguais a esta.

certeza

todo mundo morre
um pouco de manhã
antes e após o café
fugir não se pode

na hora do almoço
morre-se de fome
abraços
beijos
morre sem gozo
quem se esconde
do desejo

o fio da calçada
à espera da boca
de quem mergulha
de cara na vida
de cara lavada
de cabeça oca
que não se segura
no que acredita

todo mundo
morre um pouco
quando acaba o samba
e tocar de novo
de nada adianta

entendeu?

SIDERAL - por Stela Siebra

LUA EM SAGITÁRIO


Extroversão, entusiasmo e visão positiva da vida são algumas qualidades da Lua em Sagitário.
Para suprir emocionalmente sua lua sagitariana, você precisa expandir seus limites, ampliar seus conhecimentos, viajar, buscar novos significados e possibilidades para seus princípios filosóficos e crenças.
A confiança no futuro e o bom humor são marcas registradas dos seus sentimentos, visto que uma lua sagitariana não curte depressões nem negativismos.

Em Sagitário, a lua busca um direcionamento para seus ideais e sintoniza-se mais com suas metas do que com os simples afazeres do dia a dia. Podemos citar como exemplo uma mãe com lua sagitariana, para quem é prioridade o desenvolvimento intelectual dos filhos, a independência, os questionamentos, enfim, uma visão larga da vida.
Você que tem lua sagitariana tende a enfatizar muito as emoções e, por isso, pode exagerar no riso (que se desdobra em gargalhadas) e na tristeza (que se transforma em muitas lágrimas).

Outra característica é não admitir pressões emocionais, pois as considera um cerceamento à sua liberdade.

E por ser muito mutável, está sempre procurando viver novas emoções e sentimentos, numa tentativa de sair do “lugar-comum da existência”.
Reflita sobre isso, porque você pode nem ter percebido nada, visto que os hábitos lunares são inconscientes e se processam automaticamente.
Quem sabe você não descobre que já é hora de mudar seus hábitos de nutrição emocional? Ou seja, é hora de sintonizar-se com seus anseios mais guardados e contatando-os, reconhecê-los e registrá-los como suas reais necessidades. O próximo passo é abandonar as velhas e insatisfatórias metas, os princípios filosóficos e as crenças herdadas/absorvidas dos pais, para substituí-las por seus próprios conceitos e sentimentos.

E assim você não reagirá mais como a única pessoa que conhece a verdade ou, ainda, com hostilidade em relação a fronteiras, porque sua verdade e liberdade interiores estão resguardadas. Você sabe que, internamente, pode contatar com uma Verdade maior, que restabelecerá em você “crenças inabaláveis”.


NOTA:

É interessante que conheçamos a posição da Lua no dia do nosso nascimento para que possamos desenvolver as qualidades expressas pelo signo lunar. Porém, mais interessante é ter o mapa astrológico interpretado por um astrólogo, para que você tenha uma visão inteira da sua vida. Saber só a Lua, o Sol ou o Ascendente, não é suficiente para a compreensão total da nossa alma e para a realização dos propósitos que nos são colocados como missão de vida, para atingirmos o que nossa alma busca e precisa tão urgentemente realizar.

O êxito como valor de vida - José do Vale Pinheiro Feitosa

O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o êxito acima de todas as virtudes. Ele é uma fonte de virtudes. Em troca, condena o fracasso. Perder é o único pecado para o qual, no mundo de hoje, não há redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. Os dois homens mais justos da história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela Justiça. Os mais justos foram condenados pela Justiça. E nos deixaram coisas muito importantes como amor e coragem”. Eduardo Galeano numa entrevista à Televisão da Catalunha sobre o movimento dos jovens espanhóis.

A cultura do êxito. Que não é exatamente a de superar a fome e conquistar as necessidades básicas. O êxito é ter total identidade com o mundo produtor de mercadoria, com base na acumulação desmedida de dinheiro e na exploração dos “fracassados”.

O êxito é o pódio do consumismo muito além da individualidade física. É como aquele complexo de centopéia que havia em Imelda Marcos, esposa de um ex-ditador das Filipinas, que tinha milhares de sapatos.
O êxito é passar a perna em todos que estiverem à frente, ao lado ou atrás do exitoso. É atingir a glória da clareira que interrompe a continuidade reprodutiva da floresta. É a vitória de um campo de batalha da antiguidade, coalhado de corpos insepultos.

O êxito é ansiar por uma exposição de mídias que torne famoso o finito personagem vencedor. Quando no auge é como os fogos de Copacabana: emocionam. Depois o espetáculo se torna uma fumaça incômoda a quem respira.

A cultura do êxito é o maior engano da humanidade: tem os rococós dourados da eternidade a enfeitar os ataúdes da mortalidade.

E neste capitalismo de algibeira o êxito é como o sucesso ao se equilibrar na volúpia da velocidade de uma moto. O êxito de se equilibrar não é nada no insucesso de uma queda fatal, que mata ou mutila o sujeito.

Não é por outro motivo que as luzes do shopping anunciam o consumo. No interior luminoso os fótons se esvaem continuamente e se mantêm apenas pela geradora de eletricidade.

O dicionário revela toda a farsa do êxito como ele elemento vital, igual vendem no American Way of Life. Eis o Houaiss que não me deixa mentir a estripar a etimologia da palavra: lat. exìtus,us 'ação de sair, saída; morte, falecimento; resultado, sucesso, acontecimento, conclusão, termo, fim', do rad. de exìtum, supn. de exíre 'sair'; ver 2i-

Intercessão valiosa - Emerson Monteiro

Das inúmeras ocorrências verificadas no decurso da Confederação do Equador, no Ceará, idos de 1824, episódio impressionante ficou registrado por Esperidião de Queiroz Lima, no livro Tempos Heróicos, que narramos aos que ainda não leram a referida publicação.
Trata-se da execução de um dos sentenciados pelo tribunal militar conhecido por Comissão Matuta, no mês de outubro daquele ano, instalado para punir as hostes rebeldes. Depois de julgados e condenados, cinco líderes republicanos seriam fuzilados no pátio da Cadeia Pública de Icó. Um desses, Antônio de Oliveira Pluma, autodenominado Pau Brasil, conforme sua assinatura no manifesto do movimento, insatisfeito com o resultado a que se via submetido, reagiu em altos brados, protestando misericórdia de quem ali se achava.
Recusara mesmo permanecer de pé, mas, sendo assim, forçaram-no em cordas a se sentar numa cadeira, onde, com olhos vendados, ainda pedia que o deixassem viver.
De nada lhe valeram as rogativas, pois logo em seguida o pelotão recebeu a ordem de preparação:
- Apontar!
E, ante os disparos iminentes, o pânico pareceu querer tomar a alma do condenado em face da morte inevitável, sob o monto de todo o idealismo que até ali dominara os atos de sua razão da existência. Outra vez, um gesto cresceu de sua voz, explodindo mais alto em reclamações de amparo, lançadas aos planos superiores:
- Valei-me, Senhor do Bonfim!
Nisto foi secundado pelo toque de comando: - Fogo!
Cessada a fumaceira, as balas achavam-se cravadas no muro onde o revolucionário permanecera incólume, sacudindo de espanto os presentes. Seguiu-se nova carga de munição. Restabeleceu-se a ordem preparatória, e se fez no ar outro grito de socorro:
- Valei-me, Senhor do Bonfim!
- Fogo! - foi a ordem marcial.
Resultado: o alvo manteve-se intacto. Os tiros voltaram a ferir tão só e apenas o muro, para desânimo da escolta. Em meio do inesperado, tonto, pálido, o comandante reclamava prática melhor de tiro a seus homens, visando manter os praças no cumprimento do dever, tratando de retomar as determinações da próxima tentativa, que foi precedida pelo mesmo grito do condenado, tão pungente quando sincero:
- Valei-me, Senhor do Bonfim!
Os disparos se deram, de acordo com a obediência. Desta vez Pluma fora atingido por algumas balas, mas continuava vivo, segundo narra em seu livro Queiroz Lima.
Os soldados de pronto se movimentavam para um quarto fogo. Nesse instante, a população presente, tocada de simpatia pelo confederado, se ergueu coesa e exigiu o direito do réu ser libertado, qual merecesse o valimento dos céus. Em seguida, essas pessoas levaram-no consigo, alheado e preso à cadeira do martírio, até à Igreja do Senhor do Bonfim, distante cerca de 200m do ponto onde a cena ocorrera, entre preces e benditos fervorosos.
Há registros do ano de 184l que dão conta de que o sobrevivente veio a ser titular da Promotoria Pública da comarca de Baturité, no Ceará, o que bem comprova sua resistência aos ferimentos naquele dia recebidos, na tentativa de execução de que fora objeto e sobrevivera, no município de Icó, 17 anos passados.


O POVO Online

Jornal de Hoje



Impressionismo de Vicente Leite é destaque a partir de hoje na Fa7


Obras do cearense Vicente Leite encontram-se em exposição individual na galeria da Faculdade 7 de Setembro, que leva seu nome. A mostra, que prossegue até 27 de junho, reúne trabalhos no estilo impressionista

Na galeria que leva seu nome, o cearense Vicente Leite (1900-1941) tem seu trabalho impressionista exposto em individual na Faculdade 7 de Setembro (DIVULGAÇÃO) Na galeria que leva seu nome, o cearense Vicente Leite (1900-1941) tem seu trabalho impressionista exposto em individual na Faculdade 7 de Setembro (DIVULGAÇÃO)


Cearense natural do Crato, Vicente Leite - de batismo, Vicente Rosal Ferreira Leite - destacou-se de forma decisiva nas artes plásticas e em nível nacional, sendo companheiro de turma, inclusive, do mestre Portinari.

Nascido em 1900 e morto em 1941, o artista plástico, cujo estilo enveredou pelo impressionismo, recebe mais uma homenagem a partir de hoje (25), às 20h30min, quando será aberta uma individual na galeria que leva seu nome, situada nas dependências da Faculdade 7 de Setembro - Fa7 (bairro Engenheiro Luciano Cavalcante).

Na mostra, que prossegue em cartaz até 27 de junho com visitação aberta ao público, o visitante ficará a par de obras do artista oriundas de colecionadores como Adelmir Jucá, Ednilton Soárez (presidente do Conselho de Curadores), Nilton Freitas e Vidal Júnior.

Vicente Leite, que possui parte de seu trabalho exposto no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro e representou o Ceará em Nova York durante o Salão de Arte Contemporânea do Hemisfério Ocidental, encontra-se no patamar de outros mestres, como é o caso de Raimundo Cela, Antônio Bandeira.


EXPOS. INDIVIDUAL VICENTE LEITE
Quando: de hoje (25), às 20h30min; a 27 de junho.

Onde: Galeria Vicente Leite (rua Almirante Maximiniano da Fonseca, 1395 / Faculdade 7 de Setembro - Eng. Luciano Cavalcante).
Visitação gratuita.

Outras informações: www.fa7.edu.br.


Aparências - Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

A sociedade valoriza muito a maneira de se vestir da pessoa. Uma pessoa vestida com roupas caras e de marca famosa é bem melhor recebida em restaurantes, bancos, “shopping centers” ou em qualquer outro ambiente. Agora vá alguém vestido simplesmente ou um pobre com a sua chinela japonesa entrar num ambiente luxuoso que logo é discriminado. O segurança vem logo perguntar o porquê daquela pessoa está ali. Aconteceu com alguém que eu conheço. Ela foi ao um shopping levar um filme para revelar. Além de pobre é morena. Na primeira vez entrou, não houve problema, pois não havia segurança por perto. No outro dia foi buscar o filme revelado e o segurança a abordou perguntando para onde ela ia. Sentiu-se constrangida e foi fazer um boletim de ocorrência. Já com Carlos, aconteceu o contrário. Teve de viajar para uma reunião de trabalho em Salvador. Era apenas um dia. A sua passagem de volta estava marcada para dez horas da noite. Acontece que a reunião terminou às duas horas da tarde e ele se dirigiu ao aeroporto com a intenção de guardar uma pequena valise e procurar telefonar para um ex-colega da sua turma de engenharia de quando ainda era estudante em Salvador. Ao chegar ao aeroporto, estava acompanhado de alguns diretores da Eletrobrás que participaram dessa reunião e, iriam embarcar para o Rio de Janeiro. Após o embarque desse pessoal da Eletrobrás, Carlos teve a idéia de perguntar aos funcionários da Varig se havia alguma forma de retornar a Fortaleza antes das cinco horas da tarde. Como ele estava vestido de terno e gravata foi muito bem atendido pelos funcionários do balcão da empresa aérea. Imediatamente o colocaram na primeira classe de um vôo para Milão, com escala em Recife, de onde ele seguiria em outro avião para Fortaleza. O avião já estava para levantar vôo, mas a funcionária mandou esperar. Talvez pensando que Carlos fosse um político importante.

Em outra ocasião Carlos e eu saímos para comprar um carro. Estávamos interessados em comprar um Fiat Uno, à vista. O funcionário da loja nos atendeu muito bem e mostrou o carro. A nossa roupa era simples, pois com um calor que fazia, não íamos nos empacotar com roupas sociais para agradar ao dono da loja. Quando entramos para fechar a compra com o proprietário, ele disse que o carro já estava vendido. Contrariados, constrangidos e sentindo na pele o que sentem as pessoas que são discriminadas. Então nos dirigimos a outra loja e, fomos recompensados, pois o proprietário nos recebeu muito bem, e fechamos o negócio por um preço menor que o da loja anterior. Ainda bem que existem pessoas que não ligam para aparências.

Em Fortaleza, há algum tempo, um grupo de homens, todos bem vestidos de terno e gravata entraram num banco. Os seguranças não tiveram nenhuma desconfiança deles. Resultado: eles assaltaram o banco.

Ás vezes as pessoas honestas são rejeitadas simplesmente pela aparência de simplicidade. É este o mundo em que vivemos, somente vale quem tem e quem ostenta. Entretanto, podemos refletir sobre o versículo sete do livro de Samuel que nos diz que “Deus não age segundo os critérios humanos, que olha as aparências, Deus olha o coração”. Cabe a cada um de nós, que vivemos nesse mundo de exclusão e injustiça, mudarmos de atitude para que tenhamos uma sociedade mais justa, igualitária e sem exclusão. Quem sabe, se com a nossa transformação no modo de agir, ajudaremos outros através do nosso testemunho, a tornar a nossa sociedade mais humana e mais justa para que todos tenham voz e vez?

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo.

Calendários - Assis Lima


Quando menino, ainda no sítio Altos,
eu me apaixonava a cada ano pelas lindas,
encantadoras meninas que adornavam os calendários.
Encantos que pairavam além,
muito além daquela serra que azulava no horizonte,
encantos dos quais eu nem via o azul,
não sobravam para o meu bico.
Eram aparições.
Não via seus pés, mas deviam tê-los,
delicados como os sapatinhos de Alice,
e se já fossem mulheres e não lindas meninas,
seriam decerto belas como as três mulheres do sabonete Araxá.

Perdido em dobras de antigos calendários,
não te reconheci.
E tu me apareceste.

por Assis Lima

Deuses falsificados - Emerson Monteiro


Essa velocidade com que vêm oferecidos os produtos da indústria, do comércio e das imaginações em alta voltagem, neste tempo dagora, ocasiona reações internas esquisitas nas pessoas. O ritmo vertiginoso produz ídolos e lota altares nas mentes, transformando religiosidade natural em apego de fantasias ocasionais das épocas ilusórias.
Para onde se voltar, um fantoche aguarda com dentes amolados os espectadores desavisados da humana comédia. Postiças estatuetas de bronze enxameiam nas telas e prateleiras de um carrossel hipnótico grosseiro. Desde os cravos das ferraduras aos penteados exóticos, os pretensiosos seres da espécie deitam e rolam embriagados, nos canteiros das praças e matas dos lugares, alheios às verdades superiores que nasceriam de cada consciência sinceros fossem.
A tal idolatria corresponde aos vícios. Bebidas, refrigerantes gasosos, comprimidos, cigarros, pó e alimentos excitantes, constrangem o corpo, invadem mercantis e lojas, danificam as engrenagens originais da natureza e multiplicam os atendimentos médicos insuficientes dos postos de saúde. Apelos visuais apressados, poluição de não ter tamanho nem respeito à paisagem, que apenas resiste, coberta de sacos plásticos derramados ao vento, nos momentos mais inconvenientes das fotografias desfocadas. A mão do homem tinta de cinza o quadro maravilhoso do céu, agora de pálidos neons, lotado de painéis melados de óleo e graxa, ícones dedicados aos deuses de motores e máquinas trepidantes. Isto sem falar nas paixões enebriantes dos esportes radicais. O próprio futebol das jogadas geniais resume-se hoje em coices e pernadas violentas, afã dos times de chegar na cabeça das chaves suadas dos campeonatos, corridas estafantes e dramáticas das taças de plástico a lágrimas desencantadas. E os deuses da guerra e suas macaquices ideologias, doutrinas falsificadas ao sabor dos senhores das armas e munições. Lembrar os metais reluzentes das lanchas nesse mar de volkswagens em que se reverteram as cidades, escolas neuróticas de sobreviventes apavorados.
Ah, esses deuses artificiais de um mundo das massas... A quem rezar nossos credos? Onde depositar nossas apreensões, nos tempos da desobediência? Para seguir caminhando, eis quantos caminhos andar livres das armadilhas do vício, de ilusões dos bônus e ofertas, brindes e ardis, no passo monótono de pesados camelos arrastados nas fitas envelhecidas de corujões e madrugadas.
Seguir, no entanto, rebanhos do destino que nós somos, artífices da perfeição... Pisar com cuidado lamas e atoleiros, olhos abertos ao Deus verdadeiro que reside no certo das certezas, profetas soberanos dos endereços da Luz, autores dos astros e das existências eternas imperecíveis. Saber, no entanto, afastar o joio do trigo e desejar para sempre o melhor em tudo.

 por Emerson Monteiro

ESCREVA, ESCREVA, ESCREVA - por Stela Siebra Brito



Diário daquela que quer ser escritora

28 de maio de 2005

Não pense, vá escrevendo, depois, um dia, você arruma o texto, faz correções, apaga, risca, acrescenta, inventa outras coisas. Hoje não. Hoje é o começo. Vá em frente, confie, lance as primeiras palavras, frases, que sejam confusas, desorganizadas, sei lá o quê, mas escreva, escreva. Atabalhoadamente, que seja, mas escreva.

Foi isso que indicou o escritor Raimundo Carrero, tanto nas aulas como no livro, que comprei no lançamento, com direito a abraço, risada e autógrafo do autor. Que persona é Carrero! E por que não dizer que figura! Gosto dele; é despojado, simples, bem humorado, e sabe das coisas. Das coisas sobre escrever livros, sabe escrever livros.

Bom, mas não iniciei esse diário pra falar do escritor, apesar de que é um bom início, porque foi ele quem me instigou a escrever mesmo. Fico ouvindo a voz dele repetindo escreva, escreva, escreva todo dia, seja o que for e de que jeito for, mas escreva. Mesmo quando leio seus textos fico ouvindo a voz dele, é engraçado isso da gente reconhecer a voz do autor nos seus textos.

Como a palavra tem substância! Acho que não era assim que eu queria dizer, o que estou pensando é sobre as marcas individuais de cada um de nós, nosso DNA, presentes em tudo que vem de nós. Seria isso um mistério? Não, mistério não, hoje os cientistas explicam tudo, ou quase tudo.

Quando estou caminhando na beira mar me vem tanta idéia, as palavras vão se arrumando, formando frases, textos. Caminhando eu sou um ser muito mais pensante, fico mais leve, confiante. É, tenho que bater muita perna por aí, ajuda a ... ora, a pensar, idealizar, projetar, agora realizar não ajuda não. Cadê a ação? Meu problema é agir, problema não, dificuldade. E disciplina, e deixa-me ver o quê mais... sim, começo uma coisa no maior entusiasmo, aí passo uns dias vou me esquecendo, deixando de fazer, é o velho problema de objetivar o que se quer, o que quero; coloca o verbo se referindo a você mesma Stela, não indefina ou generalize suas dificuldades. Tá bom, querido fiscal dentro de mim, vou falar pra mim mesma: Stela, deixa de ser desleixada (isso parece coisa de mãe) e trate de priorizar os seus objetivos de vida. Sabe que tô gostando de você fiscalzinho? Vou te dar até um nome, que tal, ah não me ocorre nenhum nome agora e não quero parar agora, depois vejo isso. Bem meu esse comportamento, deixa pra depois, agora não dá tempo, tem outras coisas pra fazer, aliás, o tempo é um problema pra mim.

Vem cá menina, eu pensei que tu ia fazer um diário de escritora para registrar contos, crônicas, poesias, mas isso aí tá parecendo aquele negócio de “querido diário, hoje...”

Cá pra nós eu também tô achando, vou tentar mudar o rumo da conversa.

Ah, mas sabe de uma coisa, é assim mesmo que começa, deve ser, e o computador é um ótimo aliado para isso, fácil de usar, fácil de deletar, bom demais. E agora não dá mais pra escrever. Fui.......

À tarde: já inventei um nome para o meu fiscal, vai se chamar Estrela.

Acho que será proveitoso se eu tentar escrever alguma reflexão, ou pelo menos um resumo, da leitura do livro Os segredos da ficção. Vamos dona Stela.

Já na Introdução, Carrero sugere que se obedeça à Voz Narrativa e ao Impulso - aí devemos escrever, escrever e escrever sem preocupação com o resultado, buscando descobrir, apenas, a voz narrativa que existe em cada um de nós. Depois vem a Intuição, indicando os defeitos a serem superados e no terceiro momento, a Técnica.

Tá vendo, né Estrela, que é difícil fazer isso. Pois é, então leia mais, leia com atenção e reflita depois de cada frase, deixe de pressa sua engolidora de palavras, isso no sentido de procurar entender. Você sabe que tem essa dificuldade de interpretar o entendimento que você tem do texto, por isso cuide de mudar.

É, eu sei como é isso, não quero perder tempo, quero ler logo, terminar e aí perco mais tempo porque tenho que reler várias e várias vezes, isso se prestar atenção direitinho

Bom, vou voltar para a leitura do livro. De qualquer jeito escrevi uma página até agora.

 por Stela

O amor está além ... - por Socorro Moreira





além de tudo que eu quero
eu quero nada querer...
nem você !

a posse escorre
fica na estrada
nas queimadas...
as emoções se dissolvem
deixam  registros
irregulares
misturados
não  identificados

meu coração dispara
fica em alvoroço
apesar do controle...
diz impropérios
desabafa

esquece de declarar amor
embora tenha perdido a timidez ...
com ela foi também a valentia
de amar cada vez mais
em cada dia.

quem reencontrar
o que pensa que perdeu
deixe no quadro de aviso
Achei !

Claro-escuro- Por José Flávio Vieira


Recostado numa preguiçosa, abaixo de uma velha jaqueira, o velho Sinfrônio Arnaud contemplava os canaviais do Cotovelo, com vista privilegiada. Um sol já meio bemol, de quatro da tarde, parece envernizar as folhas das canas que brilham e tremeluzem tangidas por um renitente vento de agosto. Arnaud punha-se a pensar nos destinos de Matozinho que vira crescer quase que de dentro da sua fazenda e hoje, varadas mais de oito décadas, empinava o umbigo e criava ares de gente lorde. Certo que ,como todo novo rico, ainda mesclava costumes matutos com atitudes grã-finas: a meio caminho entre a buchada e o caviar. Uma conversa, pela manhã, com um político neófito da vila, o pôs a matutar sobre o tempo que tudo vai engolindo com sua bocarra de Jaraguá. As verdades monolíticas de ontem dissolvem-se ,como por encanto, sob a ação inexorável das horas e do amálgama gelatinoso resultante esculpem-se novos costumes, novos paradigmas aparentemente sólidos e indissolúveis.
Metido tantos anos na política da cidade, construíra quase que uma nova constituição de leis populares, de limites e fronteiras intransponíveis nas campanhas eleitorais. Naqueles idos -- lembra-se com um sorriso mal disfarçado, nosso Sinfrônio – político não roubava. Primeiro, porque não havia sequer dinheiro em caixa: as verbas da prefeitura dependiam da arrecadação municipal de impostos cobrados a pessoas paupérrimas, a comerciantes pequenos. Tantas e tantas vezes precisou tirar do próprio bolso para cobrir as obrigações de final de mês. A palavra “ladrão”, assim, era termo proibitivo em qualquer circunstância e redundava, inevitavelmente, em faca no vazio , tapa no pé-do-ouvido, tiro de papo amarelo nos peitos do insultador. Qualquer alusão, também, a possíveis desvios sexuais padrões de candidatos ou parentes destes, resolvia-se nos campos de batalha e não nos tribunais. Sinfrônio mesmo comentava, com orgulho , que sua terra não possuía veados e nem mulher metida a homem : “ isso é putaria da capital e de Bertioga” , costumava dizer. Permitiam-se, apenas, fofocas atinentes a teúdas & manteúdas, mijos fora do caco , gambiarras dos candidatos do sexo masculino, até porque isso, se não acrescia, também não tirava voto de ninguém. O adultério masculino via-se como uma atividade normal e comum, já o feminino tinha leis específicas não muito diferentes das islâmicas.
Debaixo da jaqueira, Arnaud pensava na conversa que tivera pela manhã com Seginaldo Trancoso, um vereador em ascensão em Matozinho e só então percebeu como, definitivamente, aqueles bons tempos tinham sido mastigados pela engolideira do tempo. Trancoso contou que resolvera se candidatar pela primeira vez a vereador e, pouco conhecido, ninguém botou fé na sua candidatura. Tinha apenas uma bodeguinha na Vila e muitos conhecidos. De maneiras que ele, correndo nas laterais do campo, sem que ninguém percebesse bem, terminou sendo eleito. No pleito seguinte, no entanto, os adversários, já acordados, caíram de pau. Espalharam logo a notícia que ele era veado. A princípio Seginaldo disse ter ficado um pouco chateado, mas sustentou o dedo no apito: estava na chuva era prá se molhar. Pois, segundo ele, o tiro saiu pela culatra, aconteceu que perseguido, virou vítima , as florzinhas da cidade votaram todas nele que terminou como um dos mais bem votados na cidade. No último pleito, relatou Seginaldo, candidatei-me novamente e , aí, eles mudaram a tática: espalharam a fofoca que eu era corno. Aguentei calado novamente, embora sob protestos da minha santa esposa . Pois bem, desta vez é que a vitória foi arrasadora: todos os cornos de Matozinho votaram em mim e terminei como o mais votado e ainda presidente da Câmara. Na próxima eleição -- falou com franqueza Seginaldo para Sinfrônio -- estou achando que vão espalhar por aí que sou ladrão, pois é , vou sair logo candidato a Senador, não vai ter urna para suportar tanto voto !
No horizonte, Sinfrônio observou o sol desaparecer pro trás dos morros da Serra da Jurumenha . A noite invadia de sombra o Cotovelo. O mundo e a vida fluíam em meio à luz e a treva, num jogo eterno de claro-escuro.

JFlávio Vieira

A Caneta de Deus- Colaboração de Nancy Sierra




A Mãe deu um pulo assim que viu o cirurgião a sair da sala de operações.

Perguntou:
- Como é que está o meu filho? Ele vai ficar bom?
- Quando é que eu posso vê-lo?

O cirurgião respondeu:
- Sinto muito. Fizemos tudo mas o seu filho não resistiu.

Sally perguntou:
- Porque razão é que as crianças pequenas tem câncer? Será que Deus não se preocupa?
- Aonde estavas Tu, Deus, quando o meu filho necessitava?...

O cirurgião perguntou:
- Quer algum tempo com o seu filho? Uma das enfermeiras irá trazê-lo dentro de alguns minutos e depois será transportado para a Universidade.

Sally pediu à enfermeira para ficar com ela enquanto se despedia do seu filho. Passou os dedos pelo cabelo ruivo do seu filho.

- Quer um cachinho dele? Perguntou a enfermeira.
Sally abanou a cabeça afirmativamente.

A enfermeira cortou o cabelo e colocou-o num saco de plástico, entregando-o a Sally.

- Foi idéia do Jimmy doar o seu corpo à Universidade porque assim talvez pudesse ajudar outra pessoa, disse Sally. No início eu disse que não, mas o Jimmy respondeu:
- Mãe, eu não vou necessitar do meu corpo depois de morrer. Talvez possa ajudar outro menino a ficar mais um dia com a sua mãe.

Ela continuou:
- O meu Jimmy tinha um coração de ouro. Estava sempre pensando nos outros. Sempre disposto a ajudar, se pudesse.

Depois de ter passado a maior parte dos últimos seis meses, Sally saiu do "Hospital Children's Mercy" pela última vez.
Colocou o saco com as coisas do seu filho no banco do carro ao lado dela.
A viagem para casa foi muito difícil.
Foi ainda mais difícil entrar na casa vazia.

Levou o saco com as coisas de Jimmy, incluindo o cabelo, para o quarto do seu filho.
Começou a colocar os carros e as outras coisas no quarto exatamente nos locais onde ele sempre os teve.
Deitou-se na cama dele, agarrou a almofada e chorou até que adormeceu.

Era quase meia-noite quando acordou e ao lado dela estava uma carta.

A carta dizia:
-Querida Mãe,
Sei que vai ter muitas saudades minhas; mas não pense que vou esquecer de você, ou que vou deixar de te amar só porque não estou por perto para dizer:"TE AMO".
Eu vou sempre te amar cada vez mais, Mãe, a cada dia que passe.
Um dia vamos estar juntos de novo. Mas até chegar esse dia, se quiser adotar um menino para não ficar tão sozinha, por mim está bem.
Ele pode ficar com o meu quarto e as minhas coisas para brincar. Mas se preferir uma menina, ela talvez não vá gostar das mesmas coisas que nós, garotos, gostamos.
Vai ter que comprar bonecas e outras coisas que as meninas gostam, vc sabe.
Não fique triste pensando em mim. Este lugar é mesmo fantástico!
Os avós vieram me receber assim que eu cheguei para me mostrar tudo, mas vai demorar muito tempo para eu poder ver tudo.
Os Anjos são mesmo lindos! Adoro vê-los a voar!
E sabe de uma coisa?... Jesus não parece nada como se vê nas fotos, embora quando O vi, O tenha conhecido logo.
Ele levou-me a visitar Deus!
E sabe de uma coisa?...
Sentei-me no colo d'Ele e falei com Ele, como se eu fosse uma pessoa importante. Foi quando lhe disse que queria escrever esta carta, para te dizer adeus e tudo mais.
Mas eu já sabia que não era permitido.
Mas sabe de uma coisa Mãe?...
Deus entregou-me papel e a sua caneta pessoal para eu poder te escrever esta carta.
Acho que Gabriel é o anjo que te vai entregar a carta.
Deus disse para eu responder a uma das perguntas que vc Lhe fez,
"Aonde estava Ele quando eu mais precisava?"...
Deus disse que estava no mesmo lugar, tal e qual, quando o filho dele,
Jesus, foi crucificado. Ele estava presente, tal e qual como está com todos os filhos dele.
Mãe, só vc é que consegue ver o que eu escrevi, mais ninguém.
As outras pessoas veem este papel em branco.
É mesmo maravilhoso não é!?...
Eu tenho que dar a caneta de volta a Deus para ele poder continuar a escrever no seu Livro da Vida.
Esta noite vou jantar na mesma mesa com Jesus.
Tenho a certeza que a comida vai ser boa.
Estava quase esquecendo: já não tenho dores, o câncer já foi embora.
Ainda bem, porque já não podia mais e Deus também não podia ver-me assim.
Foi quando ele enviou o Anjo da Misericórdia para me vir buscar.
O anjo disse que eu era uma encomenda especial! O que acha disto?...
Assinado com Amor de Deus, Jesus e de Mim.



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