por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 23 de maio de 2020

O "CABARÉ" DO PLANALTO - José Nilton Mariano Saraiva

No Crato d’outrora (entre as décadas 1960/1970) afora os sofríveis periféricos, dois “cabarés” (ou zonas/puteiros) se destacavam: o da Maria Alice e o da Glorinha.

No da “Maria Alice”, encravado num local não muito seguro (a localidade conhecida por “gesso”), a coisa era um tanto quanto "misturada", tanto em termos de frequentadores (clientes) como no tocante à “mercadoria” disponibilizada (mulheres, da região) e, em razão disso, vez por outra surgiam acirradas refregas passionais  (aquele lance em que o “bonitão” da noite anterior (que se julgava o “tal”)  perdia o rebolado ao ver sua “diva” nos braços de um outro e partia pra tomar satisfações (chegou até a morrer gente baleada pelo “rival” na disputa por uma daquelas desqualificadas mulheres).

Já o da “Glorinha”, erigido quase que no centro da cidade (praticamente entre residências familiares), se destacava pela discrição e, consequentemente, pelo “conveniente” desprezo que lhe era devotado pelos “religiosos” moradores do entorno, como que “conformados” por tal tipo de vizinhança (até porque a dona tinha amizades poderosas na cidade e uma pretensa ordem de “despejo” dificilmente encontraria guarida por parte de algum juiz de plantão, já que possivelmente  também frequentador do ambiente).

Só que no aconchegante “ambiente interno”, a partir do comando firme da respeitada proprietária (Glorinha), das acomodações pra lá de confortáveis, da música ambiente suave e convidativa  e da formação de um seletíssimo “plantel de profissionais” escolhidas a dedo no sul do país (mulheres de deixar qualquer um de queixo caído), fazia toda a diferença.

Funcionando durante toda a semana, na Glorinha se faziam presentes quase que a totalidade dos endinheirados do Crato (comerciantes de alto coturno, médicos, advogados, engenheiros, professores, dentistas, industriais e, enfim, a “nata” dos então detentores da bufunfa), a maioria com a “argola” de casados no dedo da mão esquerda e, aos domingos, com a família, frequentadores assíduos das Igrejas da cidade (Sé e São Vicente).

A “coisa” era tão atraente, que o “cabaré da Glorinha” alçou voo, atravessou fronteiras e literalmente ficou conhecido em todo o Brasil, tanto que os então caixeiros-viajantes que em profusão “pintavam” na cidade, já vinham com a expressa  “recomendação” de, por cima de pau e pedra e mesmo sob chuvas, trovoadas, raios e relâmpagos, “conhecer o cabaré da Glorinha”. E de lá saiam fartos e satisfeitos (quando não apaixonados por alguma “profissional” alienígena) a difundirem aquela “maravilha” por outras plagas.

A reflexão acima é só pra afirmar, confirmar e reafirmar que, nos cabarés da Maria Alice e Glorinha, na então esfuziante cidade do Crato, nunca houve algo parecido com o cabaré do Palácio do Planalto, na recente reunião comandada pelo Bozo e secundado por generais de pijama ridículos.

Quanta vergonha para todos nós brasileiros.