por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ednaldo Queiroz é filho de Bodocó-Pe


E mídia não discutiu e nem fez editorial com a morte de Gleisi Nana

Completando a postagem abaixo faço uma colagem de uma postagem do Paulo Nogueira no seu Blog Diário do Centro do Mundo. Ele fala de uma atora de teatro, jovem que morreu num incêndio suspeito de ter sido criminoso. Ela se chamava Gleisi Nana e o Paulo cita esse trecho de poema feito por ela durante a sua militância nas manifestações de junho de 2013. 

Quando respiramos bomba de gás falta o ar como pétalas estranguladas.
O cheiro abafado é o desabafo sufocado, engasgado nas entranhas.
A pele arde e rasga por tudo aquilo que nos massacra e nos devora.”


As coisas ficaram realmente dramáticas para ela no dia 5 de outubro. Foi quando ela leu uma mensagem de um sargento da PM que dizia o seguinte: “Mais uma vagabunda, maconheira e anarquista que apoia a desordem no Rio. Quer falar mal da polícia fala na cara, sua piranha. Na net é mole.”

Disse ela no Facebook: “Foi um choque. Já não bastasse todo o gás de bombas que respirei, todas as corridas fugindo de balas que tive que dar, todas as ameaças de agressão, toda a tensão nos atos … agora o terrorismo pessoal.”

Ela fez sua opção.

“Escolhi não me calar. Uma frase é muito forte em minha mente. ‘Se você cala diante de situações de injustiça, escolhe o lado do opressor’.”

O jornal O Dia deu uma matéria sobre a ameaça, e Gleise pediu a seus amigos que compartilhassem, “por favor!!!”.

Dias depois, o incêndio, e no final de novembro a morte não cantada, não chorada, não investigada – e no entanto tão previsível.

Amigos continuam a deixar mensagens em seu Facebook. Muitas vezes são imagens lindas de flores, e palavras de amor e saudade.

Uma amiga postou uma poesia de Gleise:

O tempo põe-se tarde,
escurece.
Todavia o latejar apetece

Mas a cotovia não transborda seu cântico.
Amo.

E tal andorinha desgarro,
me aventuro,
sigo outros rumos.

E somente no fim digo:
Agora durmo.”

O FOGO PEGA NO MONTURO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando os sinais de incêndio se manifestam todos se apavoram. Sabem do poder destrutivo do fogo. Mesmo que este incêndio aconteça na palha seca da cana, imagina-se que se alastre muito além do desejado e engolfe o verde da vida.

Mas a verdade é que onde houver material comburente acumulado os incêndios se manifestam como uma necessidade. Assim como acontece nas revoltas e revoluções que marcam continuamente a história humana.

A velha história do rei nu. Aquele autoritário que queria a melhor roupa e que foi enganado pelo alfaiate e ninguém, entre seus pares, conseguiu ver a nudez do rei, só quando uma criança gritou na multidão. Assim as revoltas e revoluções acontecem.

Mas não é no acaso do tempo. É onde a substância comburente do sofrimento humano se acumula e quando ela ou vislumbra uma melhor possibilidade ou já não suporta mais a vida que lhe dão como eterna até a morte.

A Baixada Fluminense, assim como a minha querida Batateira aí no Crato e tantos outros bairros de Juazeiro acumulam história comburente. As páginas policiais e a notícia dramática dos crimes mostram contínuos focos de incêndio. E não adianta esconder seu rosto por indignação, aquele mesmo que você despreza por bandido, perfurado pelas balas da polícia, tem por trás uma mãe, um pai, um filho, um neto de carne e osso. E a tragédia não é apenas o corpo mas todos os outros que fazem parte desse estoque comburente.

Compreendam que não é por acaso que o suspeito de ter lançado o rojão que matou o cinegrafista da rede Bandeirantes, seja jovem e more na Baixada Fluminense. E olhe que este suspeito, por mais adjetivos negativos lhes apliquem, é um estágio superior na violência. Já vai além do que as violências de gangues e torcidas organizadas. Ele brigava pelo sofrimento permanente do povo da Baixada se transportando entre o centro do Rio onde as oportunidades de trabalho estão e suas casas, sem ar condicionado, sem água e faltando luz.

Sabem do recente apagão? O órgão controlador ligou para a companhia de eletricidade aqui do Rio de Janeiro e disse: corta aí um milhão de ligações senão o apagão será nacional. Qual o critério de corte? Os bairros populares, o povão da Baixada Fluminense incluído.

Os principais reservatórios que alimentam a região metropolitana ficam na beira da serra do Mar, em Caxias, Nova Iguaçu e outros municípios onde exatamente acontece racionamento de água neste verão atípico. No resto as bicas jorram.


A radicalidade e a violência das manifestações dizem muito do acúmulo social de sofrimentos. Pode ser usado para medidas autoritárias, para ampliar a democracia, para atrasar e para avançar. Não pode é ser uma mera façanha moralista e alienada do mundo real em que estamos.