por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 23 de março de 2012

O TUCANO




O TUCANO


O tucano ergue o longo bico adunco
entre as árvores ralas na canícula:
ausculta o tempo com sanguínea verve
e dispersa o calor com sua astúcia.

O tucano transpira pelo bico
como se fosse um radiador. Controla
a sensibilidade do seu corpo
nos dias quentes e nas noites frias.

O tucano colore o azul do dia,
as campinas, as árvores e as águas.
Os pássaros se calam quando o tucano
filtra a luz e o mormaço do verão.

Agita e grita a cor de galho em galho.
Com o suor do corpo no seu bico,
o voo inquieto do tucano enfeita
o verde da paisagem do poema.



Esta foi a última foto de um tucano que eu tirei. Em S. Bento do Sapucaí, SP,
perto da Cachoeira dos Amores, na semana passada.
A foto não corresponde ao poema, escrito uns dois anos antes.
In “Livro dos bichos”, Prêmio Jorge de Lima 2011, da U. B. E. RJ (a publicar).


                       

Chico Anísio - José do Vale Pinheiro Feitosa


Rancho da Praça XI - João Roberto Kelly e Chico Anísio com Dalva de Oliveira

Por que o humor e a tristeza tão distantes entre si como as estrelas do sol têm uma igualdade que normalmente não suspeitamos? A lua não é o contrário do sol, assim como a tristeza não é do humor. A lua, como a terra são pedaços de estrelas iluminadas, assim como o humor e as tristezas são pedaços do viver.

Mas não é a veneração da morte. Ao contrário é a extensão deste ato de bem viver, bem rir e bem chorar. Chico Anísio nos fez rir de nós mesmos igualando os atos típicos a insignificâncias que uma vez desfeitas tornam a paisagem mais ampla.

Os livros de Chico, as pinturas, as músicas, os roteiros e suas encenações expõem o engano e ele, no entanto, não venceu o engano. Experimentou todos eles. Não alinhavou perfeições, mostrou e viveu o imperfeito ato de exagerar em vícios e atos que superavam o desgaste para em seguir viver um amor eterno. Até que nestes últimos minutos de 23 de março de 2012 jurava que aquela era o amor mulher de sua vida.

Os maraguapenses, os cearenses têm uma dívida imensa com este homem que saiu daqui ainda criança. Aquela família foi-se, mas cultivou o seu território de um modo tão intenso que todos os cearenses se orgulham de igualmente pertencerem a essa nação.

A criatividade e a ousadia deste gênio da raça nos deixam uma lição para não se esquecer. Não queiramos nos igualar ao que ele foi. Isso é insuperável. Portanto não basta ser cearense, é preciso muito esforço para sermos engraçados.

E nós cearenses poderíamos, no entanto, guardar uma lição permanente do mestre: a sutileza. A sutileza comove muito mais do que certa grossura e humilhação que se pretende como humor. O humor nos reflete, nos opõe, mas nos constrói ao invés de destruir. Embora possa destruir certos atos e situações.


Baiano e os Novos Caetanos - Urubu tá com raiva do Boi - Chico Anísio e Arnaud Rodrigues

MEU ADEUS A UM CHICO EM MUITOS - por Ulisses Germano

UM CHICO EM MUITOS

Chico Anísio foi embora
Para nunca mais voltar
O Brasil agora chora
O humor foi descansar
De ver tanta palhaçada
Da política engraçada
Que ele soube imitar

Ele era um em muitos
Personagens bem reais
Que ainda estão vivinhos
Com seus trejeitos banais
Do Maluf ao Zé Sarney
O escracho era a lei
Que já não existe mais!

Ulisses Germano
                                                                            Crato-CE

A Felicidade de Tudo Perder - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alguém sempre sabe, inclusive nós, que as coisas as perdemos quando outras dão o tom da suficiência. Quando as trilhas caminham sobre nós, os bares nos bebem e as praças nos namoram, então a casa e os carros, e claro suas chaves, se perdem.

E quando a madrugada fria no rouba a bexiga, o quarto se dilui nos campos de grilos a cantar, as touceiras vertem todas as águas que nos excedem, as chaves do banheiro se perdem. E para sempre se vão sugadas pela imensa, incomensurável dimensão de estrelas que, num passo de mágica, transfere a fantasia dos sonhos para os sonhos de uma universal fantasia.

E essa mania de achar tudo o tempo todo, remontando esquecimentos e perdas como o dia que perde as estrelas e, no entanto, elas nunca se perderam de lá. Basta que a suprema sombra da terra revele que ali havia estrelas e apenas o claro do sol perdera todo aquele infinito de igualdades a ele.

Mas padecemos do evoluir: desenvolver-se, modificar-se e mover-se. Padecer é aquilo ao qual aquele sucedeu para continuamente ser sucedido por outros. E a senilidade com a pretensão de ser o estático de uma medida de tempo esquece as pernas que ainda teimam em caminhar.

E se meus olhos enxergam a profundidade da externalidade na qual estou mergulhado, então que as lentes se percam na testa ou em outro canto qualquer. Mas quando lentes se impuserem entre meus olhos e o mundo com o fito de uma suposta nitidez, ainda assim verei tanto quanto os bebês, as avós e bisavós.

As portas não fazem parte do invólucro que as paredes de uma casa criam. Na verdade elas são a corrupção da fechadura, a abertura ao invés da chave. Uma abertura tão intensa que a espiritualidade não se diz aquilo que se separa da matéria, ao contrário, aquilo tão intensamente uno com a matéria cujas diferenças nunca existiram ou existirão. É que a espiritualidade é a natureza da matéria em seu movimento.

E apenas se podem compreender as diferenças quando a espiritualidade não se encontra nos céus, mas aqui, nestas contradições, nos calores e frios, no abrasador do sol e nas sombras desta copa vegetal. Apenas aí o coração se expõe como um botão em flor.

E o que dizer do dinheiro? Ele é para os realistas a mediação de todas as relações humanas. A forma como se trocam bens e serviços entre todos. Mas na raiz ele não passa de uma conta, daquele latim vulgar chamado dinarius que é apenas a tradução para dezenas. E convenhamos as dezenas não dizem mais que uma medida.

E as medidas as perdemos, mas não as estrelas que lá estão mesmo com o brilho de uma delas a diariamente nos “cegar”.

O Papa em Cuba ou Cuba no Papa - José do Vale Pinheiro Feitosa

Numa semana em que se noticia a visita do Papa a Cuba, más notícias correram no esgoto que enlameia o comportamento de agentes da Igreja. A pedofilia continua o mais recorrente, mas a velha questão da lavanderia financeira do vaticano mantém a tônica. Novas leis italianas dariam “conta” do problema. No entanto a notícia que mais chocou foi a de que nos anos 50 jovens entre 11 e 18 foram castrados na Holanda, em hospitais católicos, em razão de terem se envolvido em pedofilia com religiosos.

E agora um breve jogo. A visita de Dilma a Cuba despertou um furor contra Cuba em nossa mídia e novamente a famosa “blogueira cubana” virou manchete em nosso noticiário. Aí um repórter levantou o perfil da moça na rede e descobriu falcatruas de todos os tipos, de financiamentos absurdos a simulação, através de empresas “especializadas”, a forjar número de visitantes no perfil dela.

Não tenho lido muito os blogs da direita brasileira e ou de alguns setores reacionários da Igreja Católica, mas imagino o quanto a visita deve alentar o desejo de crítica ao regime cubano e estimular a cantilena ideológica. Aliás, por incrível que pareça, com todas as contradições na Santa Madre Igreja, Joseph Ratzinger, um alemão linha dura que comanda a santidade declarou: (a ideologia marxista) “não responde mais à realidade.”

O problema de afirmações dessa natureza é que a frase também se encaixa numa milenar instituição dirigida por um papa que teima em não enxergar (ou dialogar) a realidade. Em todo mundo as massas desprotegidas buscam abrigo em todo tipo de espiritualidade, que mais e mais se afasta de sua finalidade, à proporção em que se deteriora a vida material das pessoas. O papa Ratzinger, por mais desconforto que tenhamos em afirmar isso, não se diferencia do pastor vendedor de martelo de quebrar a infelicidade popular e nem dos bispos universais se digladiando por dinheiro.

Não devo cair na pelúcia da linguagem da chancelaria, mas Bruno Rodríguez, chanceler de Cuba tem mais senso de realidade do que seu visitante. Questionado pela imprensa sobre a “gentil” frase de Ratzinger, Rodríguez respondeu: “Respeitamos todas as opiniões. Escutaremos com respeito a Sua Santidade.” Em seguida recordou que o sistema cubano atual “tem suas idéias desenvolvidas em mais de um século de história” e um acervo popular amplo que, segundo ele, “está também aberto” a modificações e “em constante desenvolvimento.”

É possível que o governo cubano venha a sofrer enormes conseqüências pela abertura da economia para pequenos negócios, derrubando anos e anos de seu próprio dogmatismo. Agora uma coisa não se pode negar: o governo abriu um ímpeto de progresso material em certos grupos da população que poderá levar a novos estágios em seu desenvolvimento.

Cuba continua a ser uma questão chave no mundo globalizado e ainda polarizado pelo Império Americano. Assim como os analistas econômicos só enxergam e defendem as grandes corporações adquirindo os pequenos negócios, não deixa de ser ideologia querer negar que uma ilha possa não querer ser mais um estado americano como pretende Porto Rico.

Neste ponto tendo a ter mais simpatia democrática por quem enxerga a diversidade dos povos do que este totalitarismo monárquico do império sustentado por uma espiritualidade (religiosidade) a respaldar o poder terreno oligárquico. E tome picareta na televisão a vender salvação.

Samba da bênção para Chico Anysio do Brasil

por Vera Barbosa

Chico Alves...
Chico Mendes...
Chico Sciense...
Chico Xavier...
Chico Anysio.


Fim de espetáculo. O Brasil está de luto.

Mais um querido Chico se vai e, com ele, boa parte da alegria dos brasileiros, sobretudo dos menos favorecidos e simples, a quem ele alcançava sem precisar de esforço e de cujas mazelas falava com sabedoria.

Apesar de todo o conhecimento que possuía e do sucesso que alcançou, sobretudo na televisão, Chico soube atingir todos os públicos, sem distinção de classe.

As centenas de facetas desse genial caricaturista fazem parte da história do humor brasileiro e da vida cotidiana. Sua crítica contundente questionou e influenciou comportamentos e atitudes - e a falta delas.

Creio que seja sina dos Chicos essa capacidade de exteriorizar os sentimentos da gente de maneira tão especial e de, alguma forma, amenizar o sofrimento das pessoas, seja com música, humor ou oração. Bem, o bom samba é uma forma de oração, disse o poeta. A piada e a alegria também.

Os personagens de Chico Anysio atravessaram gerações e marcaram todas elas com inteligência e inquestionável competência.

Dever cumprido, Chico, pode partir em paz.

Abram-se as cortinas do céu!

Hugo Linard e orquestra! - 14 de abril de 2012, no Crato Tênis Clube





Confirmadas as participações especiais de Hildelito Parente, Leninha Sobreira, Ranier, Marcelo Randemarck, além do corpo da orquestra (métálicos, cordas, teclados, percussão e vocais: Leninha Linard, Peixoto e Álvaro).

Estamos  motivados com a grande receptividade  dos amantes da boa música, inclusive da comunidade de Juazeiro do Norte.


Ainda restam mesas. Sejam antecipados!
Manteremos reservas até o dia 04.04.2012.

A agonia de perder uma chave- socorro moreira


Alguém sabe?
Zélia, quem sabe?!
Eu também sei.
E não é só a chave da casa, do carro, da porta do banheiro... É a mania de perder tudo o tempo inteiro. Dessa mania, padeço!
Acho que está associada à senilidade... Ou não?
É característica de pessoas esquecidas?
Sou plugada em tanto coisa ao mesmo tempo, que é difícil dar conta de tê-las em meu poder.
Stella diria que é padrão virginiano se organizar pra não se perder... Mas procurar os óculos com ele plantados na testa é coisa de bisavó.
Ah, como eu queria que todas as portas e janelas fossem destrancadas, e desabassem num mundo de pessoas desligadas.
-Que não enxergassem a materialidade.
Acho que no plano espiritual não pagaremos seguros de vida, nem de carro. A moeda é o desejo, a boa intenção.
Pra compensar escancaro meu coração. Gosto de muitos, cada qual do seu jeito com meu jeito.
Santo Antônio nos proteja de perder algum dinheiro!



Felicidade e(m) fim !- socorro moreira

-Você é materialista!
Núbia tomou foi um susto...!
Lutou a vida toda pelo equilíbrio das finanças, justo por gastar à toa com livros, alimentação, viagens, e outras coisinhas mais, que tornam a vida prazerosa ou no mínimo suportável.
Não capitalizou, pagou impostos, mais-valia, plano se saúde, afora alguns danos e prejuízos.
Continua fazendo contas, e a contabilidade, sempre pendente, continua lhe tirando o juízo, embora venha melhorando o tino para administrar a própria vida. Supressão é a solução!
Viver com os gastos, na ponta do lápis é o mais estressante de todos os trabalhos.Ninguém logra paciência,iluminação contando o dinheiro, e preocupado com a sobrevivência.
Buda, Cristo, São Francisco e outros terráqueos santificados pelo desapego e amor à humanidade entregaram o que tinham e viviam daquilo que não tinham pelo êxtase da santidade.Ficaram seguidores, a exemplo!
Num estágio comum e humano apertamos os cintos e encontramos a simplicidade.Simplicidade é dignidade! Neste patamar, encontra-se uma minoria.
Núbia trabalhou pra ficar de pernas pro ar, e não ficou. O ócio é estafante, insuportável. A cabeça não para; o sono é salvo- contudo para outra realidade.
Muita gente sofre do mal da ansiedade.. Esta vilã nos conduz aos excessos... Vícios, compulsões de naturezas diversas: trabalho, tabaco, e outras drogas... Como comer, por exemplo.
A gente vive o processo da liberação/desprendimento, paradoxalmente, escravos da sobrevivência.
-Morremos na praia, quase sempre!
Se antes brigávamos pelas horas extras, outras horas nos eram impostas. Quando muito ficávamos com férias no verão, em busca da cor moreno-desbotável. Queríamos o “frisson”, overdose-vida!
Hoje, por que não desligamos a internet, TV; excluímos carros da garagem, e paramos de consumir os enlatados?
-Porque não!
Existem as construções de vida.
O preço do consumo ou da simplicidade é a morte. A busca incessante é a “felicidade”.
Por que não somos andarilhos aspirando sombra e água fresca e um pedaço de pão?
-Porque não!?
Trabalhamos para pagar o essencial e o supérfluo. Alguns pra juntar o que não vai gastar.
Núbia tinha pão com manteiga, cama com travesseiros, e umas mudas de roupas apresentáveis.
No imaterial, o bem comum é o ideal.Respeito ao próximo se não puder amá-lo.
É pra matar o tempo?
-O tempo nos mata!