por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

E a "Globo" roeu a corda - José Nilton Mariano Saraiva


No “Jornal Nacional” (07.02.14), apesar do longo tempo dedicado ao assunto, não houve o pedido de desculpas veiculado no “Jornal Hoje” (da mesma data). Houve a admissão, sim, que o repórter da Globo News se enganara, mas, ficou só nisso. Desculpas que é bom, nada. Vamos ver se a mídia ou redes sociais (Internet) repercutem a mudança (duas versões, da mesma emissora, para um mesmo problema).

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Abaixo, nota (de hoje) extraída do site do Jornal Hoje:

“Ontem, no Jornal das Dez, da Globonews, o repórter Bernardo Menezes, que trabalhava na cobertura da manifestação, disse que um dos artefatos jogados pela polícia estourou perto do cinegrafista. Hoje, o repórter viu as imagens da TV russa e o depoimento do fotógrafo, que garante ter testemunhado toda a sequência do ataque. Diante dessas novas informações, Bernardo Menezes reconhece que o ferimento foi causado por um rojão - e não por uma bomba de efeito moral.

(tá faltando o pedido de desculpas, feito de viva voz pela apresentadora Sandra Annenberg, no Jornal Hoje, e sequer citado pelo Bonner, no Jornal Nacional).

Pijama de Bolinha



Há duas fases na existência em que o tempo  nos brinda com  a licença poética do despojamento. Na juventude nem precisamos nos preocupar com as regras sociais, com os ditames opressivos da moda, com a ditadura da etiqueta.  A criança faz xixi na rua e, banhada de inocência, faz brilhar os olhos de quem passa. O adolescente aparece chique e fúlgido vestindo apenas o short  jeans, a camisa de malha meio desbotada e o tênis. É que o desabrochar da rosa juvenil  traz consigo seus próprios encantos. A orquídea que brota no deserto ou em meio aos seixos  aparece mágica e encantadora aos nossos olhos, mais hipnótica que a que brolha no jardim, talvez pela  antítese ao se  contrapor  à sequidão agreste da paisagem. É assim que se fazem engraçados os arrufos infantis, a pueril percepção enviesada do mundo e até mesmo a contestação aparentemente irritante dos jovens, quando se deparam com os caminhos previamente traçados pelas gerações que lhes antecederam. Talvez, por isso tudo, lhes seja dado esse salvo conduto. O dourado da vida já lhes banha de alegria, de esperança e felicidade, qualquer acessório , qualquer adereço transforma-se, imediatamente, em supérfluo.
                        A  idade madura , a outra extremidade da corda, nos vai proporcionando, pouco a pouco, também essa imunidade. Aos poucos, também, nos vamos livrando das amarras da etiqueta social. O paletó já pode voltar ao guarda roupas; o  cromo alemão ganha sua merecida aposentadoria no  sapateiro ; o linguajar técnico deve ser substituído , dia após dia, pelo doce dialeto da rua e pelo palavrão. Itens essenciais voltam ao nosso convívio diário : o boné que põe um teto na pouca telha; a chinela que alforria os pés das galés do sapato; a bermuda que expõe sem remorsos as varizes e seus afluentes  e a brancura das canelas órfãs de sol. O confortável pijama de bolinha é indumentária que  não precisa ter manias de vampiro : já pode resistir aos raios do sol. Já não nos interessa os rígidos ditames da moda: a bermuda listrada pode muito bem combinar com o tênis e a meia social,  hirta subindo canela acima.  As auroras e os crepúsculos retornam, finalmente,  fazendo parte da nossa paisagem habitual. A lua volta a existir e, por incrível que possa parecer, tem fases , como toda bela mulher que se preza. O carro perde sua importância e só então se percebe o quanto do belo panorama ao nosso redor  ele nos roubou com sua velocidade e seu azáfama.  Fechando um ciclo, percebendo-se a flor que se vai murchando e tendendo a despetalar-se,  descobrimos que a vida pode ser mais simples, mais escorreita e que muito pouco das inomináveis amarras que a sociedade nos impingiu tem sentido e valeu a pena.  Nossa dourada juventude foi depenada pelo liquidificador da vida e, agora,  desnudos , enxergamos nossa nudez já sem a vergonha do pecado original.
                        Podemos, assim, empreender a viagem de volta:  o xixi embeberá novamente as fraldas;  o anda-já substituirá o automóvel;  o leite aparecerá de novo como alimento essencial e os amigos e familiares mais próximos se tornarão estranhos e distantes como já foram um dia. A palavra, pouco a pouco, sumirá da nossa língua trôpega e, finalmente, alcançaremos o ápice do despojamento. Um dia , por fim, contradizendo toda experiência que nos trouxe a maturidade, nos enfiarão o paletó em desuso e o cromo alemão já deportado, a mesma fantasia do baile passado, do ensaio para o nada e , hoje,  novamente , adereços mais que propícios para o carnaval dos vermes e a unção do pó. 

J. Flávio Vieira

E GONZAGÃO NÃO FOI DEPUTADO FEDERAL

Para Zé do Vale

    Início dos anos 70, ditadura recrudescida, perseguição correndo solta, um grupo de jovens políticos pernambucanos resistindo, fundando diretórios do MDB, catando filiados a laço para o partido da oposição. O grupo formado por Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Fernando Lyra, Marcus Cunha, Fernando Vasconcelos Coelho e outros, foram garimpar assinaturas no Mercado São José, no Centro do Recife. Uma cena chamou a atenção deles: uma pequena multidão seguia o cantor Luiz Gonzaga. O “Rei” do baião, afastado da mídia, esquecido pelas rádios e tvs, considerado brega pela classe média, mantinha a admiração e era respeitado pelo povo. O cantor carregava considerável volume de lps embaixo do braço para entregar em consignação em um box do mercado popular. A visão despertou os políticos para o potencial de votos do artista. A empatia com a população, o fácil diálogo com as pessoas simples, o carisma e a fama certamente garantiriam votos suficientes para um mandato de deputado federal que MDB tanto precisava.
    Os membros da comissão partidária esperaram pacientemente o fim da negociação do cantor de Asa Branca com o lojista, se apresentaram, o convidaram para assinar a ficha de filiação e propuseram a candidatura a Deputado Federal. Prometeram assessoria e enfatizaram projetos em defesa da música popular brasileira, contra a invasão da música estrangeira. Lembraram o precedente de Humberto Teixeira na Câmara Federal e deram exemplos do que  poderia fazer para beneficiar artistas populares como ele. Luiz Gonzaga demonstrou interesse e pediu que o grupo  fosse à noite na pensão onde ele estava para continuação da conversa. Os políticos ficaram excitados, já fazendo cálculos do potencial de votos da legenda. Passaram a tarde reunidos, dividiram tarefas: um ficou encarregado de redigir o programa eleitoral, outro se responsabilizou pelo comunicado à imprensa, um terceiro cuidaria da montagem do comitê de campanha e tudo mais. Acreditavam que todos seriam eleitos com a sobra dos votos do rei do baião.
À noite, o diretório compareceu em peso a humilde pensão para fechar o acordo, levando
esboço da campanha, sugestões de slogans, minutas de jingles, peças publicitárias e tudo
mais. A conversa começou animada e seguiu descontraída até o momento que caiu a ficha do
aspirante a candidato:
...Mas, esperem aí, esse negócio que vocês querem que eu entre é contra o Governo?
Quando ouviu a confirmação, LG rebateu:
“Topo não, procurem outro. Hoje, quem é a favor dos homens não arranja nada, quanto mais
os que são contra”.

Tinha um "russo" no caminho - José Nilton Mariano Saraiva

Por mais inverossímil, parece ainda existir determinadas figuras que imaginam ser a cabeça “apenas” um apêndice do corpo humano que serve tão única e exclusivamente pra separar as duas orelhas. Fingem desconhecer que há os “ANORMAIS”, (nós, a maioria), portadores indesejáveis de uma tal  “massa cinzenta”, capaz de nos propiciar o ver, ouvir, discernir e, enfim, deduzir racionalmente.

A reflexão acima é para lembrar que ontem, durante a manifestação ocorrida no Rio de Janeiro, um cinegrafista da TV Bandeirantes foi ferido gravemente por uma bomba quando tentava registrar a ocorrência, o que ensejou e foi motivo suficiente e bastante para que à noite, no jornal das 10, da Globo News, um repórter das Organizações Globo, presente àquele ato, asseverar de forma peremptória e definitiva que o artefato que atingira o colega da Band houvera partido do Batalhão de Choque da polícia.

Mas...

Mas, eis que tinha uma televisão russa filmando o movimento. E, num momento de rara felicidade, o cinegrafista soviético conseguiu captar toda a seqüência do drama que vitimou o funcionário da Band, já a partir do momento em que o artefato é deixado aceso no chão por um manifestante, seu arranco em várias direções, até explodir à altura da cabeça do profissional que cumpria com sua obrigação. E como restou comprovado se tratar de fogo de artifício, não era armada usada pela polícia. Assim o profissional da Globo News se equivocara (???) redondamente.

A propósito, até o mais empedernido dos radicais sabe que, desde a primeira eleição de Lula da Silva para a Presidência da República, a Rede Globo move uma campanha sistemática visando tirar do poder um legítimo representante do povo, substituindo-o por um seu capacho qualquer. Pois bem, Lula da Silva foi reeleito, elegeu Dilma Roussef e a campanha difamatória da Globo não pára. E, principalmente agora, quando a presidenta vai tentar a reeleição, qualquer anormalidade que venha a ocorrer no dia a dia, a culpa é do Governo, ou o Governo omitiu-se, ou o Governo está perdido. E haja torcida (e deslealdades) para que o pior aconteça.

Mas, voltando ao registro feito pela TV russa, quando foi divulgada a seqüência das imagens, o tal repórter da Globo News, que houvera jurado de pés juntos que o artefato fora lançado pela polícia, não teve outra saída que não admitir que errara, que no calor da emoção se enganara e outras baboseiras mais.

Tanto é que, no “Jornal Hoje”, da tarde desta sexta-feira, a apresentadora Sandra Annenberg mostrou a seqüência de imagens da TV Russa e, um tanto quanto contrariada, asseverou que o próprio repórter global admitira o erro e, portanto, tanto ele como a emissora se desculpavam ante a população (será que no Jornal Nacional também será feito o pedido de desculpas???).

Agora, aqui para nós, tirante essa novidade (a poderosa Globo publicamente admitir que errou) de uma coisa tenhamos certeza: as manifestações de junho passado serão “café-pequeno” ou “coisa de amadores” se o Governo não adotar desde já sérias medidas preventivas capazes de obstar as que estão por vir, já que além da Copa do Mundo teremos as próprias eleições presidenciais. Eles até já pregaram aviso, há muito tempo: “Não vai ter Copa nem Olimpíadas”.

Não por parte da população (que comprovadamente melhorou de vida), mas de uma oposição raivosa e de radicais (desocupados, vadios, mascarados e, enfim, os apologistas do quanto pior melhor) com poderes de insuflar a manada e fazê-la massa de manobra.

Alguém tem dúvida ???




SÓ PORQUE VESTIU BERMUDA - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas que beleza!”

Os espaços formam territórios quando abençoados pelos humanos. E os territórios se compõem de gente que abraça o tempo e o espaço e de gente que pretende parar o tempo e prender o espaço.

Nesta semana, aqui no Rio de Janeiro, um funcionário público, que trabalha numa repartição da Prefeitura da cidade, sob os efeitos do intenso calor que superlativa este verão. André Amaral de 41 anos de idade, casado, dirigiu-se ao trabalho no traje adequado ao calor e ao gênero: bermudas e camisa leve.

Há quatro anos sua sala de trabalho não tem ar condicionado, os funcionários fizeram uma vaquinha, compraram ventiladores, mas os ditos foram roubados. André, então, foi barrado pela portaria de sua repartição. De bermuda não pode.

Bom. Ele foi em casa, vestiu uma saia da mulher e retornou ao expediente. Na portaria foi aquela saia justa. Mas o que dizer? Se as saias são aceitas, por que não em homens? Pronto.

André virou notícia. Se deixou fotografar de saias em sua sala de trabalho. A rede social espalhou o fato. E que fato?

A imbecilidade de um país tropical que ainda guarda hábitos públicos inadequados ao povo e ao tempo no sentido meteorológico. Ontem o prefeito permitiu o trabalho usando bermudas.

 Só agora o fórum da cidade permitiu que os advogados pudessem participar das audiência frente ao Juiz usando camisa social, sem o detestável paletó e gravata.

Ontem, por volta de 15 horas (horário de verão), 40ºC de temperatura, a italiana Sanda Biondo foi visitar a Academia Brasileira de Letras, mas foi barrada na porta da biblioteca. Motivo: ela usava uma comportada bermuda. De tão constrangida, escreveu para a coluna do Ancelmo Góis do Globo e o assunto veio a público.

Acontece simplesmente que Sandra Biondo é a tradutora de Raquel de Queiroz para o Italiano. Raquel foi a primeira mulher a receber o fardão da Academia. Hoje saiu que, um constrangido Presidente, fez uma carta convidando a senhora e que poderia vir de bermudas.


Pelo menos os conservadores precisam passar na alfândega da história e pousar na realidade do território que pretendem habitar.  

A palavra de LOURENÇO FILHO (transcrição ipsis litteris)

“Os diferentes períodos da vida do Padre Cícero Romão parecem demonstrar o desenvolvimento de uma psicose, revelada desde a adolescência. É assim que, quando aluno do Seminário em Fortaleza, já demonstrava sinais tão evidentes de “mitomania” (tendência para mentir), que o reitor do estabelecimento, padre Pedro Chevalier, opôs dúvidas à sua ordenação. Mas o bispo D. Luis dos Santos não achou que o exagerado misticismo do “formigão” apresentasse perigo à ação do futuro missionário. Achou que devia ser ordenado, e assim se fez”.

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“Se o chefe de Juazeiro tivesse podido acumular e manter, naquele meio, um sólido e brilhante cultivo do espírito, este, sim, seria o seu maior e mais legítimo milagre. Vivendo, há mais de meio século, em contato apenas com o sertanejo bruto, e ademais, num ambiente de delírio; não dispondo sequer de tempo para ler e meditar, pois que suas horas não bastam para atender a peregrinos e beatos; sem recursos de renovação de idéias, por livros e jornais, que até sua casa só raramente chegam; sem necessidade alguma que o leve a exercitar o espírito, para sadio objetivo cultural – é óbvio que só se possa encontrar nele, no termo de oitenta anos de vida, uma inteligência medíocre e fatigada, adstrita aos mesmos abusões, preconceitos e desvios mentais do sertanejo...

À vista de tudo isso, já seria inadmissível uma elevada cultura em qualquer indivíduo sujeito à sua vida especialíssima. E os fatos o comprovam, com toda a crueza. Em toda sua longa vida sacerdotal e política, jamais pronunciou um discurso memorável, uma conferencia ou série de pregações que tivesse produzido eco; jamais escreveu um artigo de propaganda ou defesa; uma obra modesta que fosse de doutrina ou combate.

Por que, por exemplo, não explicou, num livro, que seria fácil compor, se tivesse cultura, a sombria questão religiosa em que se envolveu ? Por que não consagrou  sua vida à propaganda dos meios científicos de combate à seca, não fez o estudo da história ou das necessidade atuais da região ? Por que não impulsionou, por meios eficazes, a evolução social do burgo que sempre dominou ? Por que não tem permitido que se desenvolva a instrução pública de Juazeiro ? Por que se deixou dominar, de modo absoluto, sem um reclamo ou desabafo, por meia dúzia de indivíduos que o têm manejado, e que o manejam, no próprio proveito deles ?

Necessariamente, porque, sobre a hipótese de uma psicose que o desadapta a elevada função social, falece-lhe, por inteiro, a cultura do espírito. A maneira pela qual o Padre Cícero se dirige aos romeiros e ouve lamentações e queixas, recebe dinheiro e outras dádivas, aconselha e receita, não é só a de uma pessoa que tivesse escapado à normalidade: é a de um homem manifestamente inculto”


(Lourenço Filho – que conviveu e foi recebido pelo próprio). 

Para Aloísio