Para Zé do Vale 
    Início dos anos 70, ditadura recrudescida, perseguição correndo solta, um grupo de jovens políticos pernambucanos resistindo, fundando diretórios do MDB, catando filiados a laço para o partido da oposição. O grupo formado por Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Fernando Lyra, Marcus Cunha, Fernando Vasconcelos Coelho e outros, foram garimpar assinaturas no Mercado São José, no Centro do Recife. Uma cena chamou a atenção deles: uma pequena multidão seguia o cantor Luiz Gonzaga. O “Rei” do baião, afastado da mídia, esquecido pelas rádios e tvs, considerado brega pela classe média, mantinha a admiração e era respeitado pelo povo. O cantor carregava considerável volume de lps embaixo do braço para entregar em consignação em um box do mercado popular. A visão despertou os políticos para o potencial de votos do artista. A empatia com a população, o fácil diálogo com as pessoas simples, o carisma e a fama certamente garantiriam votos suficientes para um mandato de deputado federal que MDB tanto precisava. 
    Os membros da comissão partidária esperaram pacientemente o fim da negociação do cantor de Asa Branca com o lojista, se apresentaram, o convidaram para assinar a ficha de filiação e propuseram a candidatura a Deputado Federal. Prometeram assessoria e enfatizaram projetos em defesa da música popular brasileira, contra a invasão da música estrangeira. Lembraram o precedente de Humberto Teixeira na Câmara Federal e deram exemplos do que  poderia fazer para beneficiar artistas populares como ele. Luiz Gonzaga demonstrou interesse e pediu que o grupo  fosse à noite na pensão onde ele estava para continuação da conversa. Os políticos ficaram excitados, já fazendo cálculos do potencial de votos da legenda. Passaram a tarde reunidos, dividiram tarefas: um ficou encarregado de redigir o programa eleitoral, outro se responsabilizou pelo comunicado à imprensa, um terceiro cuidaria da montagem do comitê de campanha e tudo mais. Acreditavam que todos seriam eleitos com a sobra dos votos do rei do baião. 
À noite, o diretório compareceu em peso a humilde pensão para fechar o acordo, levando 
esboço da campanha, sugestões de slogans, minutas de jingles, peças publicitárias e tudo 
mais. A conversa começou animada e seguiu descontraída até o momento que caiu a ficha do 
aspirante a candidato: 
...Mas, esperem aí, esse negócio que vocês querem que eu entre é contra o Governo? 
Quando ouviu a confirmação, LG rebateu:
“Topo não, procurem outro. Hoje, quem é a favor dos homens não arranja nada, quanto mais 
os que são contra”.

2 comentários:
Joaquim, tem um dom semelhante ao pai e ao primo Zé Flávio. É um exímio contador de história. Uma memória que quando eu crescer quero ter igual. Ele tem outros de seu Luiz. Vamos esperar. Ótimas sobre o povo do Crato. Inclusive sobre a paternidade do grande sanfoneiro Santana. Que aliás, compôs coisas maravilhosas. Parecem flores nascendo no meio do lixo do forró eletrônico que domina os jabaculês das emissoras e rádio e tv.
É isso mesmo, Joaquim é grande contador de histórias.
abraços, musicados por um bom forró.
Postar um comentário