por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

E GONZAGÃO NÃO FOI DEPUTADO FEDERAL

Para Zé do Vale

    Início dos anos 70, ditadura recrudescida, perseguição correndo solta, um grupo de jovens políticos pernambucanos resistindo, fundando diretórios do MDB, catando filiados a laço para o partido da oposição. O grupo formado por Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Fernando Lyra, Marcus Cunha, Fernando Vasconcelos Coelho e outros, foram garimpar assinaturas no Mercado São José, no Centro do Recife. Uma cena chamou a atenção deles: uma pequena multidão seguia o cantor Luiz Gonzaga. O “Rei” do baião, afastado da mídia, esquecido pelas rádios e tvs, considerado brega pela classe média, mantinha a admiração e era respeitado pelo povo. O cantor carregava considerável volume de lps embaixo do braço para entregar em consignação em um box do mercado popular. A visão despertou os políticos para o potencial de votos do artista. A empatia com a população, o fácil diálogo com as pessoas simples, o carisma e a fama certamente garantiriam votos suficientes para um mandato de deputado federal que MDB tanto precisava.
    Os membros da comissão partidária esperaram pacientemente o fim da negociação do cantor de Asa Branca com o lojista, se apresentaram, o convidaram para assinar a ficha de filiação e propuseram a candidatura a Deputado Federal. Prometeram assessoria e enfatizaram projetos em defesa da música popular brasileira, contra a invasão da música estrangeira. Lembraram o precedente de Humberto Teixeira na Câmara Federal e deram exemplos do que  poderia fazer para beneficiar artistas populares como ele. Luiz Gonzaga demonstrou interesse e pediu que o grupo  fosse à noite na pensão onde ele estava para continuação da conversa. Os políticos ficaram excitados, já fazendo cálculos do potencial de votos da legenda. Passaram a tarde reunidos, dividiram tarefas: um ficou encarregado de redigir o programa eleitoral, outro se responsabilizou pelo comunicado à imprensa, um terceiro cuidaria da montagem do comitê de campanha e tudo mais. Acreditavam que todos seriam eleitos com a sobra dos votos do rei do baião.
À noite, o diretório compareceu em peso a humilde pensão para fechar o acordo, levando
esboço da campanha, sugestões de slogans, minutas de jingles, peças publicitárias e tudo
mais. A conversa começou animada e seguiu descontraída até o momento que caiu a ficha do
aspirante a candidato:
...Mas, esperem aí, esse negócio que vocês querem que eu entre é contra o Governo?
Quando ouviu a confirmação, LG rebateu:
“Topo não, procurem outro. Hoje, quem é a favor dos homens não arranja nada, quanto mais
os que são contra”.

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Joaquim, tem um dom semelhante ao pai e ao primo Zé Flávio. É um exímio contador de história. Uma memória que quando eu crescer quero ter igual. Ele tem outros de seu Luiz. Vamos esperar. Ótimas sobre o povo do Crato. Inclusive sobre a paternidade do grande sanfoneiro Santana. Que aliás, compôs coisas maravilhosas. Parecem flores nascendo no meio do lixo do forró eletrônico que domina os jabaculês das emissoras e rádio e tv.

Stela disse...

É isso mesmo, Joaquim é grande contador de histórias.
abraços, musicados por um bom forró.