por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

SÓ PORQUE VESTIU BERMUDA - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas que beleza!”

Os espaços formam territórios quando abençoados pelos humanos. E os territórios se compõem de gente que abraça o tempo e o espaço e de gente que pretende parar o tempo e prender o espaço.

Nesta semana, aqui no Rio de Janeiro, um funcionário público, que trabalha numa repartição da Prefeitura da cidade, sob os efeitos do intenso calor que superlativa este verão. André Amaral de 41 anos de idade, casado, dirigiu-se ao trabalho no traje adequado ao calor e ao gênero: bermudas e camisa leve.

Há quatro anos sua sala de trabalho não tem ar condicionado, os funcionários fizeram uma vaquinha, compraram ventiladores, mas os ditos foram roubados. André, então, foi barrado pela portaria de sua repartição. De bermuda não pode.

Bom. Ele foi em casa, vestiu uma saia da mulher e retornou ao expediente. Na portaria foi aquela saia justa. Mas o que dizer? Se as saias são aceitas, por que não em homens? Pronto.

André virou notícia. Se deixou fotografar de saias em sua sala de trabalho. A rede social espalhou o fato. E que fato?

A imbecilidade de um país tropical que ainda guarda hábitos públicos inadequados ao povo e ao tempo no sentido meteorológico. Ontem o prefeito permitiu o trabalho usando bermudas.

 Só agora o fórum da cidade permitiu que os advogados pudessem participar das audiência frente ao Juiz usando camisa social, sem o detestável paletó e gravata.

Ontem, por volta de 15 horas (horário de verão), 40ºC de temperatura, a italiana Sanda Biondo foi visitar a Academia Brasileira de Letras, mas foi barrada na porta da biblioteca. Motivo: ela usava uma comportada bermuda. De tão constrangida, escreveu para a coluna do Ancelmo Góis do Globo e o assunto veio a público.

Acontece simplesmente que Sandra Biondo é a tradutora de Raquel de Queiroz para o Italiano. Raquel foi a primeira mulher a receber o fardão da Academia. Hoje saiu que, um constrangido Presidente, fez uma carta convidando a senhora e que poderia vir de bermudas.


Pelo menos os conservadores precisam passar na alfândega da história e pousar na realidade do território que pretendem habitar.  

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