por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 21 de julho de 2013

As manifestações são a guerra política mundial - José do Vale Pinheiro Feitosa

Saiu publicado em alguns blogs (Carta Maior e Outras Palavras) a tradução de um texto de Immanuel Wallerstein analisando as manifestações populares que, tal qual sabemos, acontece em várias partes do mundo. A característica mundial das manifestações é o foco de sua diferenciação em relação a lutas populares localizadas, por vezes, até em regiões de um país. Junto com a crise econômica que atinge o centro industrial as manifestações forma um par gravitacional como se fossem estrelas duplas.

A principal conclusão de Wallerstein é que as manifestações fariam parte de um processo contínuo de algo que começou com a revolução mundial de 1968. (No final do texto ele explicará melhor o que seria esse algo). Estas manifestações teriam as seguintes características:

A primeira é que todas as revoltas tendem a começar muito pequenas e se pegam (de modo imprevisível) tornam-se maciças. Não só o Governo é atacado como também o Estado o é. Reúnem no mesmo barco quem quer apenas a mudança do governo e quem questiona a legitimidade do Estado. O tom das manifestações começa pela esquerda política e tem como tema a democracia e os direitos humanos, embora com variações sobre o conceito do que entendem dos dois temas. Normalmente a reação dos governos é reprimir ou abrandá-las com concessões ou as duas coisas. A repressão funciona, mas pode juntar mais gente ainda nas ruas. A concessões funcionam mas podem servir para ampliar as demandas. Embora as repressões sejam a principal opção elas tendem a funcionar em prazo relativamente curto.

A segunda característica é que não continuam intensos por muito tempo. Os manifestantes sente o efeito da repressão, ou são cooptados pelo governo, ou ficam cansados, mas isso não indica uma derrota. E, portanto, a terceira característica é que deixam um legado, mudam políticas quase sempre para melhor como discutir as desigualdades ou aumentar a dignidade do povão ou, ainda, ficam vacinados contra a demagogia de governos. A quarta característica é que os que chegam depois aos movimentos, em outras ondas de protestos, não chegam para preservar os objetivos iniciais, mas, ao contrário para perverte-las ou para levar grupos de direita ao poder.  A quinta características de todas as manifestações é que terminam por receberem influência de governos poderosos, de fora do país, que procuram ajudar os aliados aos seus interesses para que atinjam o poder.


E então ele conclui o texto identificando o algo que tem traçado uma movimentação de massas em todo o mundo desde 1968. Segundo Wallerstein estaríamos no meio de uma transição estrutural: de uma economia mundial capitalista, que está se esgotando, para um novo tipo de sistema. Esse novo sistema pode ser melhor ou pior. E por isso a grande batalha política mundial nos próximos vinte a quarenta anos é o que emergirá desta transição. 

Onde fica o centro do terrorismo mundial - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esta semana, alegando profunda depressão, renunciou à candidatura para a presidência da República do Chile o candidato direitista Pablo Longeira. O agora ex-candidato, que já fora deputado e senador, começou sua liderança embaixo do guarda chuvas da ditadura chilena tendo sido escolhido por Pinochet para ser Presidente da União dos Estudantes da Universidad Catolica. Longueira, em 1986, liderou um quebra quebra sobre os carros que transportavam o ex-Senador e já faelecido Edward Kennedy que fora ao Chile falar em Direitos Humanos.

O radicalismo da direita chilena não foi maior e nem menor do que no resto da América Latina. A direita latino americano foi um substrato sobre o qual os EUA agiram em torno dos interesses próprios de suas empresas e corporações. De modo que o radicalismo da direita por esta região foi um lago de mágoa preenchido pelos interesses exclusivos dos EUA e quase nada dos povos da região.

O pensador ocidental Noam Chomsky falando sobre o móvel da política externa dos EUA em seu livro “O que tio Sam Realmente Quer?” é claro sobre a motivação: o exclusivo interesse das empresas americanas. Análises realizadas pelo economista Edward Herman encontraram uma correlação em todo mundo entre a tortura e a “ajuda norte-americana”.  A conclusão é que a tortura e a ajuda “estão correlacionadas com a melhoria da condições de operações das empresas”. 

Pelos cálculos realizados por Chomsky e outros pensadores, os EUA estão diretamente envolvidos, só na América Central, ao assassinato de 200 mil pessoas além de terem dizimado todos os movimentos populares que lutavam por democracia e reforma social. E antes que alguém pense em Stalin, não falo em Hitler pois este está no espectro político de quem logo assim argumenta e claro os EUA e a direita latino-americana, transcrevo a conclusão do texto de Chosky: essas façanhas qualificam os Estados Unidos como fonte de “inspiração pra o triunfo da democracia em nosso tempo”, nas admiráveis palavras da revista liberal New Rapublic. Tom Wolfe conta-nos que a década de 1980 foi “um dos grandes momentos de ouro da humanidade”. Como diria Stalin: “Estamos deslumbrados com tanto sucesso.”

Não deixam de ser reveladoras as fotos das intervenções americanas na América Latina. Examinenos estas duas fotos que seguem e sintamos o que dizem. A primeira é o encontro do Marechal Castelo Branco em sua face de hospedeiro satisfeito e um sorridente Lincoln Gordon, embaixador americano o homem que operou o Golpe de Estado a favor dos EUA. E a segunda esta ameaçadora foto de Pinochet tendo às suas costas homens com as fardas da Forças Armadas chilenas.

Castelo Branco e Lincoln Gordon

Pinochet: o ódio se instala

Onde esse texto quer chegar? Ele faz parte de uma série que postei sobre o Chile. Ele é uma sequência sobre Pablo Neruda, a quem voltaremos sobre sua vida e obra. Mas a questão básica é que Neruda morreu logo após o golpe de Pinochet. Ele já estava doente com um câncer de próstata. Provavelmente morreria em consequência, mas o que choca a todos é a possibilidade de sua morte ter sido executada sobre as ordens do esquema golpista do Chile e com a participação da CIA. Após a morte de Allende, Neruda era o último símbolo da luta popular no país. Para consolidar rapidamente o poder golpista, eles teriam eliminado intencionalmente Neruda para não deixar nenhuma resistência às forças mortíferas que se instalaram no Chile.

E antes de ouvir o velho argumento de que apesar da ditadura o liberalismo melhorou a vida do chileno, é preciso que se diga o seguinte: a) o Chile viverá algumas gerações com ódios recíprocos em razão da violência; b) em que melhorou a vida de alguns na fase de ouro das exportações de commodities, c) hoje o Chile é um país meramente exportador de matéria prima. E alguns setores chilenos que se acham privilegiados ainda devem gozar os turistas brasileiros se vangloriando dos baixos preços dos automóveis chilenos que lá pagam menos da metade que aqui.


Mas tem uma realidade cruel: o Chile tem que importar o combustível que move sua frota e não gera nenhum emprego no setor. Toda a sua frota é fabricada e geram empregos em outros países. Este modelo é furado: só leva dinheiro do povo chileno que o ganha vendendo matéria prima. A cada dia se aproxima mais o abismo deste tipo de realidade neste mundo que se queira ou não continua sendo industrial.    

PARLAMENTO OU REVOLUÇÃO? - por Pedro Antônio Lima Santos


 

É necessário reconsiderar algumas questões resultantes das manifestações populares de rua. Uma dessas questões é a violência latente, presente e expressa nessas manifestações. Outra questão é o próprio futuro das manifestações: continuar como manifestação, esgotar-se ou transformar-se.

Quanto à violência convém colocá-la em um contexto mais amplo. Pois, a violência, contrariando o sonho idílico dos que querem ver o brasileiro como um povo pacífico, já existia antes das manifestações e se encontra em um processo de crescimento e de expansão por todo o Brasil.

O tráfico e o consumo de drogas produzem, diariamente, cenas de violência (assaltos, espancamentos, assassinatos), que são divulgadas profusamente pelos meios de comunicação.

A violência do trânsito mata tanto quanto as guerrinhas entre países que andam por aí. Há a violência contra as mulheres, contra os idosos e crianças, contra os homossexuais e os negros (e até contra os nordestinos). Mutilações e mortes, sequestros, sequestro-relâmpago, estupros, explosão de caixas eletrônicos –a lista de violências parece interminável.

Mas, há também a violência do Estado, que se manifesta, por exemplo, nas balas-perdidas e balas-encontradas que matam cidadãos –velhos, adultos, jovens e crianças. O Estado age com violência nos processos de reintegração de posse e, mais recentemente, nas manifestações populares de rua. No passado também era assim.

Também há quem diga, às vezes, como um mero slogan, uma bandeira de luta ou uma figura de retórica, que a violência maior do Estado é manter a maior parte da população na pobreza e na miséria. De certo modo, essa violência histórica do Estado é, como diriam alguns, a mãe de todas as violências.

Embora se verifiquem ações violentas de massa e individuais em países sem pobreza e sem miséria (dir-se-ia que estes são elementos intrínsecos da sociedade capitalista), isso não chega a ser muito comum. Assim, acredita-se que uma população informada, assistida e respeitada, com saúde, educação, trabalho e segurança seria uma população pacífica e ordeira. Não há consenso sobre isso. Os assassinatos em série nos Estados Unidos da América e até na Europa (Noruega), as cenas de intolerância racial, sexual etc. desmentiriam aquele enunciado.

Mas isso não explica tudo ou não explica nada. Nada justifica a violência, nem do Estado contra as pessoas, nem das pessoas, nas manifestações populares de rua, contra a polícia e contra as propriedades.

O Brasil é um Estado democrático e de direito. As leis garantem aos cidadãos direitos de livre expressão e de manifestação, e o direito de ir e vir. Cabe ao Estado garantir a integridade das pessoas e das propriedades.

Aí alguém poderia dizer: -A lei só protege os grandes. Os pobres e os miseráveis são, sempre, os desprotegidos da lei. Neste caso, a solução é mudar as leis, aperfeiçoá-las; e mudar os políticos, escolhê-los melhor.

Isto nos remete à outra questão colocada no início dessas anotações: qual o futuro das manifestações populares de rua?

O Partido dos Trabalhadores teve sua origem, também, nas grandes manifestações de trabalhadores, no sindicalismo e em outros movimentos sociais. Quando participei de sua fundação, em Natal, havia o dilema entre adotar a via parlamentar ou seguir o caminho revolucionário. Muitos dos militantes que defendiam esse caminho saíram do Partido dos Trabalhadores e hoje integram partidos como o PCO, PSTU e PSOL…

Coube ao Partido dos Trabalhadores, a partir de 2002, inverter as prioridades nacionais para realizar uma agenda, que ataca a pobreza e a miséria (seculares), garantindo dignidade e cidadania para milhões de brasileiros.

Mas, hoje as manifestações populares de rua repudiam os partidos, os políticos e até a própria Política. Essas pessoas não se sentem representadas pelo Congresso Nacional, desconfiam dos Tribunais e temem a polícia. Então como encaminhar e realizar suas reivindicações –as transformações que almejam para o Brasil?

Parece pertinente, portanto, evocar, aqui, aquele antigo dilema entre a via parlamentar e o caminho revolucionário.

Os grupos que organizam as manifestações e as pessoas que fazem parte delas tenderiam a se institucionalizar, sob alguma forma de entidade ou até mesmo de partido político?

Ou permaneceriam convocando e realizando manifestações para divulgar suas reivindicações? Esta opção corre o risco de se esgotar com o tempo, por falta de organicidade e de objetivos claros.

Porém, se alcançar organicidade e conseguir definir com clareza os seus objetivos, poderia acenar com a perspectiva, digamos, revolucionária. Neste caso, prefiro acreditar que o conteúdo da palavra REVOLUCIONÁRIA explodiria em alguma forma, ainda não realizada, de democracia, onde a política, como o amor, diria respeito e seria praticada por todos os cidadãos.

Sei que as utopias desse tipo ou desapareceram ou andam escassas. Entretanto, um modo de tornar realizável a utopia de uma democracia radical, hoje reivindicada nas ruas, é defender e aperfeiçoar a temos.