por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A Latinha


Pois é, amigos ! Todo cuidado é pouco! Está aberta a temporada dos sorrisos epidêmicos, dos abraços compulsivos, da simpatia desvairada, da solidariedade a todo preço! É assim, sempre, o período eleitoral. Imaginem quatro candidatos a prefeito, quatro a vice, mais de duzentos a vereador, todos eles acompanhados dos seus cabos eleitorais e mais os respectivos babões e puxa-sacos a tiracolo.  Nos próximos dois meses, é preciso se precaver. Qualquer festinha de bairro, qualquer aniversárioou casamento  é um verdadeiro perigo. De repente chegará a avalanche de sorrisos de manequim, de conversa aveludada , de tapinha nas costas. É preciso rezar para não se perder nenhum ente querido nestes próximos sessenta dias. Velório é o habitat natural de político em vésperas de eleição. Ciço de Munda, um mestre de tamanco do Cipó dos Tomaz, quase morre nestes dias. Perdeu o pai de uma congestão e, humilde, providenciou o velório conforme suas condições. O problema é que Ciço tem vinte e cinco votos, digo, irmãos. A tragédia veio daí. Passou toda a noite recebendo abraço e tapas nas costas de mais de duzentos candidatos e respectivos baba-ovos. Só de caixão de defunto recebeu mais de uma dúzia. Depois do espancamento político,  nem pode comparecer ao enterro pois teve que se internar para tratar das machucaduras.
                                   Daqui a pouco começará o Programa Eleitoral: o melhor humorístico do Rádio e da Televisão brasileiros. Os discursos serão hilários. Os programas de cada Partido parece até que foram copiados um dos outros: todos extremamente avançados e com profundo cunho socialista. E as promessas jorrarão como um tsunami. Ao que parece,  a campanha não terá muita lisura , não. Basta ver o vandalismo na Praça da Sé recém inaugurada e o incêndio no galpão de transportes da Prefeitura. Tudo levando a crer que a sabotagem tem íntima ligação com algumas facções  políticas  antagônicas neste período eleitoreiro. Por que a disputa não pode ser mais interessante? O lado B reformou uma praça ? O lado A constrói outra mais bonita num bairro. Que a guerra seja de realizações e não de incêndio e demolições ! Isso é de uma baixaria que dá engulhos. Com a visível decadência do Crato frente a outros municípios do Cariri, ficamos perdidos perguntando : como despencamos neste desfiladeiro? Os juazeirenses já brincam chamando nossa cidade de Latinha . Quando se pergunta o porquê, eles didaticamente explicam : Lá tinha Sesi, Lá tinha DETRAN, Lá tinha Concessionárias, Lá tinha SESEC.  Como a hecatombe tem muitas raízes na Política, vem a pergunta inevitável : Como escolher  em meio a tantos candidatos sem qualquer qualificação e, mais, provenientes de partidos que são meros ajuntados de interesses, sem qualquer plataforma programática confiável?  -- Deve está se perguntando o leitor. E quem diabo é que sabe, amigos? Mais fácil entender a cabeça de  mulher com TPM ou resolver a briga de israelense e palestino. Mas aqui vão algumas dicas, a quem interessar possa, para ajudar a separar o feijão dos escolhos.
                                   A primeira questão é lembrar que o voto é um ato político. Não se deve votar, pois, porque o candidato é bonitinho,  simpático,  companheiro de trabalho, é meu familiar, meu amigo pessoal. Não estamos escolhendo marido, esposa, misses, nem pariceiros. Devemos votar em uma proposta capaz de melhorar o perfil da nossa cidade, de aperfeiçoar os horizontes coletivos da nossa Vila. O candidato é apenas uma pequena peça nesse quebra-cabeças. Se você privilegia esse ou aquele político  pensando em resolver alguma pendência sua, pessoal, depois não tem o direito de reclamar quando o eleito resolver também solucionar só as dele e deixando você sozinho na Latinha.
                                   A segunda dica diz respeito ao uso do poder econômico no pleito.  Diz-se sempre que sem dinheiro não se ganha eleição. Pois bem, as absurdas verbas gastas neste período vêm de onde? A quem interessa que o candidato A ou B, vença, investindo milhões e milhões  nas Campanhas ? A derrama de grana neste período como será depois recuperada? Ou será que todos os políticos ricos são filantropos ? No final, o dinheiro será  descontado, com certeza, dos cofres públicos. Ou seja, os candidatos tentarão comprar seu voto com o dinheiro que é seu. Eles darão com uma mão e puxarão com a outra. Se você estiver na pendura, receba, mas vote segundo a sua consciência. Se isso não é ético, lembre-se: esta palavra não existe em Política brasileira. Quanto mais rica a campanha maior o risco, meu amigo.
                                   Lembre-se ainda que o cargo de vereador faz parte do Poder Legislativo. Ou seja, vereador é para fazer leis e fiscalizar as ações do Executivo. Qualquer “Zé Mané”, pois, que apareça prometendo construir estradas, melhorar a Educação, resolver os problemas da Saúde, é um mero farsante. Ele não tem esse poder. Como Tiririca ,está querendo ir para Câmara para descobrir o que é que um vereador faz.
                                   Se devemos votar em propostas, observemos bem o cardápio. Todos darão o diagnóstico dos males municipais bem direitinho : a Saúde está um caos, precisamos melhorar a educação, é necessário dar segurança à população, faz-se mister recuperar a força do Crato no cenário estadual, a Cultura está totalmente orfã. Tudo bem !  O diagnóstico está dado. Mas: quais as propostas exeqüíveis para mudar esse cenário? Como se faz o tratamento ?Candidato que não tem propostas claras  a discutir com a população, deve ser esquecido. Candidato que fugir do debate , deve ser imediatamente excluído da perspectiva do nosso voto. Se ele não quer deixar claro para seus eleitores suas intenções agora, imagine depois quando for eleito.
                                   Os partidos são tão parecidos nas suas deformidades que pode ser difícil optar por este ou aquele. Pois bem, escolhamos aquele candidato que nos parece trazer a melhor proposta para minimizar os problemas coletivos da cidade. E mais,  que tenha uma folha corrida ao menos suportável. Observemos também quem são seus acompanhantes, pois interesses mútuos os unem. Por mais ojeriza que por acaso tenhamos com a Política, não tem jeito, não tem como escapar dela. É com ela que poderemos transformar o caos em que estamos metidos ou, com nossa franca participação, ativa ou passiva, aprofundar o abismo em que fomos pouco a pouco mergulhando. Está em nossas mãos e na nossa consciência o destino da nossa querida Latinha.

J. Flávio Vieira

(D)escrever-se


Há no lábio rubro qualquer coisa que não deve ser dito
Deve ser meditado.
Há no olhar, alguns ares de sol a latejar
Qual dardos, setas enviadas por arcanjos.
No caminhar são passos de uma valsa distante
Tocada em cravo quase silente nas tardes sol no campo
E tudo isso é nada, tão só o possível a ser dito
Embora saibamos que o que aqui está escrito
É demasiado vulgar para expressar o que sois.
Há na palavra, qualquer coisa de inerme,
Pois pouco capta do que és, do brilho do riso
Do que vasa dos olhos, do que exala
Do quanto fala teu silêncio.











Desenho: Antonio Sávio