por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 22 de março de 2012

A Danação do Trabalho - José do Vale Pinheiro Feitosa

Pesquisadores brasileiros escreveram uma tese transformada em livro chamada: A Danação do Trabalho – Organização do Trabalho e Sofrimento Psíquico de João Ferreira e Silvia Jardim. A pesquisa levantava o sofrimento psíquico decorrente da exploração do trabalho.

Nesta semana fomos informados pela mídia sobre as mortes de operários por excesso de trabalho em Taiwan. A acumulação de renda decorrente do capital financeiro e do processo produtivo mundial, controlado por multinacionais, tem reduzido a renda do trabalhador, levando a este a retornar aos primórdios do capitalismo industrial com cargas horárias ultrapassando 12 horas em atividade.

A sobre exploração do trabalho, que passa por um esgotamento físico simultâneo a um sofrimento psíquico, pode ser captada nos indicadores de saúde física e mental, pelas relações sociais e políticas e também pelo simples contar do tempo de cada um.

Na prática as novas formas de trabalho são “vendas” do tempo de vida das pessoas para o detentor de capital. E o mais curioso é que embora o capitalista leve em conta que todo ser vivo tem o instinto da sobrevivência e, portanto tem um potencial de horas a lhe oferecer, a verdade é que o tempo não existe a priori.

Para que o trabalhador possa “vender” seu tempo em forma de “salário” para um comprador capitalista, ele precisa viver o tempo, ou seja, respirar, comer e beber. A partir deste instante de tempo existido, o próximo passo é ter história, memória e conhecimento.
Eis aí a razão pela qual não se pode ter a certeza do capitalista de que tudo continuará sempre assim. Isso não é natural, o movimento da história pode apresentar novas formas de articular o tempo entre as pessoas. Mas por enquanto o capitalismo só tem ampliado a exploração de trabalhadores formais ou informais. Agora mesmo surgiu uma pesquisa o IPEA a mostrar o que todos já sabíamos por vivermos o dia-a-dia.

As modernas tecnologias de computador com rede digital e telefonia celular estão ampliando ainda mais a exploração de trabalhadores. As pessoas estão trabalhando mais e sem ganharem horas extras. Elas são chamadas fora do trabalho por telefones celulares, mensagens de texto e computadores ligados à rede para resolverem problemas e continuarem trabalhando além do expediente acertado com o empregador.

As estatísticas de acidentes no trânsito provocados por usos de aparelhos de comunicação enquanto se dirige, deve levar em consideração esta modalidade de exploração do trabalho. O trabalhador ou gerente está stand-by o tempo todo.

A pesquisa do IPEA apontou que 45,4% dos trabalhadores têm dificuldades de se desligar do trabalho mesmo após o encerramento do expediente. Isso acontece em razão de atividades extraordinárias, atividades por internet e celular e para aprender coisas técnicas do próprio trabalho.

O Paranaporã de Menhã


Os matozenses eram conhecidos, em toda biboca desse mundão de meu Deus, por serem gabões de não mais se ver. Vilazinha perdida lá onde o vento faz a curva, lugar onde se vendia Coca-Cola em dose e onde urubu comia bagaço, o povo, no entanto, respirava ares de grande metrópole. Esta gabolice vinha , talvez, da comparação inevitável com as vilazinhas próximas : Bertioga e Serrinha do Nicodemos, estas bem mais raquíticas e pobres. Um matozense contemplava o leito invariavelmente seco do Paranaporã, com o orgulho de quem visse o Sena, o Tâmisa ou o Danúbio. E foi pela comparação inevitável que “Totonho da Rabeca” , compôs , em homenagem à sua terra natal, o chorinho “Paranaporã de Menhã”, certamente no pensamento de embotar o “Danúbio Azul” de Strauss. A musiquinha, fácil de assoviar, pegou rápido e terminou por se consagrar como o tema de Matozinho, uma espécie de “Cidade Maravilhosa” da catinga.

Terá sido, certamente, esta empáfia que levou o prefeito Sinderval Bandeira, depois de folhear alguns velhos almanaques Capivarol, a construir, uma réplica da Torre Eiffel, logo na entrada da cidade. Dizia que seria o cartão postal de Matozinho e apôs o nome de Torre da Bandeira, sob pretexto de que ali, no topo, estaria eternamente hasteado o panteão municipal da Vila. Na verdade, era uma tentativa de , sorrateiramente, imprimir seu nome na obra, fugindo de perseguições de adversários e da Justiça Eleitoral. Rapidamente o povo, com a sabedoria que lhe é peculiar, batizou a obra de “Torre da Bandalheira”.

Na Comemoração dos 200 Anos da Revolução Francesa, foram arrebanhados vários artistas populares com fins de participar das festividades na França. Em Matozinho a lembrança caiu , imediatamente, em “Totonho da Rabeca” que terminou sendo convocado e partiu para as estranjas com a digna missão de representar Matozinho. Uns dez dias depois, Totonho estava de volta da sua viagem diplomática. Voltou importante, falando meio engrolado. Só aprumou quando , no Bar do Giba, resolveu agradecer ,à francesa, um elogio e ao pronunciar o “Merci, Beaucoup!” , Francelino Catavento tomou aquilo como palavrão – “Vá tomar aonde, seu filho duma égua? Repita !” -- e sentou-lhe o braço no escutador de novela do artista. Depois disso, Totonho desistiu, definitivamente, dos galicismos. Ao narrar sua experiência em terras estrangeiras, nosso rabequeiro não conseguia conter o bairrismo epidêmico de Matozinho :

--- Paris é até bonitinha ! Um pouco maior que Matozinho! Mas dos franceses, eu não gostei, não ! Ou povo invejoso das mulestas dos cachorros! Pois vocês acreditam que os miseráveis construíram uma Torre lá também, igualzinha à de Bandalheira ? Pode ser um desaforo desses?

Há uns dois meses, Sinderval entrou na Câmara com um projeto muito mais mirabolante. Resolveu reconstruir em Matozinho as “Torres Gêmeas”, cada uma com sete andares. Uma delas abrigaria a Prefeitura Municipal e a outra a Câmara de Vereadores. Na justificativa, Sinderval lembrava que aquilo era uma homenagem que prestavam à cidade co-irmã de Nova York, além de ser um ato contra o Terrorismo Internacional. A Vila embebeu-se de uma euforia quase que incontida. Sinderval já vislumbrava uma re-eleição saltando da cartola com a nova iniciativa. Não teria maiores dificuldades em ver aprovado o projeto já que tinha ampla maioria na Câmara e a idéia se tornara a notícia mais badalada nas praças, botecos e boticas nas últimas semanas. Qual não foi sua surpresa quando vieram avisá-lo da derrota fragorosa da proposta na última reunião da Câmara. Sinderval procurou, irado, o presidente em exercício “Lulu da Vêmaguete”, seu correligionário ferrenho, cobrando explicações sobre a traição que sofrera. Aquilo se consubstanciava num verdadeiro cataclisma político para o Partido. Vêmaguete , meio atarantado, tentou justificar o ocorrido:

--- Seu prefeito, todo mundo queria a construção e o projeto do senhor, no início, estava certo de ser aprovado por unanimidade. Foi aí que Gerebaldo Mobral, nosso Secretário, nos alertou do perigo. “Se a gente construir essas Torres, meus amigos, fiquem certos de uma coisa. Esses doidos do Afeganistão vem para cá e vão jogar os aviões deles em cima das torres, ora se vão ! Não fizeram do mesmo jeitinho até em Nova York? Se ao menos acertassem só na Torre de Sinderval, ainda vá lá ! Mas vou logo alertando, cambada ! quem avisa amigo é : Vai ser caco de vereador prá todo lado, viu?

J. Flávio Vieira

Pérola da MPB !


Desacato- por José do Vale P.Feitosa




Inofensivo aquele Antonio Carlos
Que falava aos corações apaixonados
De costas para as sombras torturadas.

Que nem sequer se incomodou
E pedindo ao Jocafi rimas doces.
Deixa estar eu vou entregar você.

Quem destratou a agonia em dores
Não fui eu, e fui tratando de esquecer.
Leve as manchetes com você.

Inofensivo aquele horror
Que nem sequer pegou
Os desaparecidos ensanguentados

Não adianta me envolver,
Nas sentenças dos torturadores,
A anistia rimará com agonia.

E vá tratando de esquecer
Um a um vai morrer.
Igualmente as garras ensanguentadas.

DESACATO - José do Vale Pinheiro Feitosa