por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 29 de novembro de 2014

O distúrbio mental é fruto desta história - José do Vale Pinheiro Feitosa

Os problemas continuam os mesmos: incerteza, privações e não saber o que o futuro pode trazer.” Dr. Nader Alemi, médico psiquiatra afegão.

Durante a reunião do G20 na Austrália aconteceu uma série de reuniões paralelas para apontar questões para a humanidade. Afinal o G20 é um grupo de nações procurando ajustar as questões globais. Entre os debates paralelos um foi sobre saúde e ali se destacou a questão: os distúrbios mentais eram grave problema de saúde pública, que a Organização Mundial da Saúde não valorizava e apontava a enorme deficiência de profissionais habilitados numa realidade em que tais distúrbios tendiam a crescer.

Frases do tipo mal do século mostram a perplexidade e, por isso, não explicam bem as questões. E temos um conjunto de “novidades” que faz do momento uma “instabilidade” permanente no desenvolvimento humano em termos culturais, econômicos e sociais.

O primeiro deles é urbanização praticamente universal em toda a humanidade. As comunidades estão desaparecendo, a família de parentela é substituída pela família nuclear, esta mesma numa fragilidade permanente e tendendo a se tornar a solidão (individualização). A língua e as tradições estão constantemente esbarradas por elementos contaminantes.

A vida laboral é ultra explorada, instável, fragmentada, alienada, tediosa, frágil como a teia da qual é parte sem entender nem a tessitura ou a malha inteira. Para suportar o estado permanente de fragilidade é induzido ao aporte químico permanente (tabaco, café, cocaína, álcool etc.) para se manter em estado eufórico, atento e vigilante porque a qualquer momento um fragmento da realidade irá soltar-se e destruir a história que tenta construir.

A privação de todos os meios de suporte à vida atinge milhões de pessoal e elas são vistas como estorvos ao processo em curso. Examinem conscientemente a questão da Doença Provocada pelo Vírus Ebola, a destruir a vida dos africanos, enquanto a fina flor da ciência permanece a serviço do capital que não se interessa por esta gente. Os organismos multilaterais nem arranham a casca ideológica desta realidade.

Um estado deste é arrasador da confiança no outro. Não se pode confiar num semelhante com a vestimenta de um predador. Ao mesmo tempo que expõe todos os povos aos nichos no meio da floresta, uma brigada tribal emerge na clareira para decepar todas as vontades, toda a escrita que aponte horizonte e luzes. A clareira é o campo apropriado para estreitar a realidade a uma brecha pela qual nunca se enxerga a diversidade desta realidade.  

De autor e sujeito da história, tornou-se objeto do consumo, capital humano, técnico de algum parafuso da engrenagem, expectador do teatro que deveria ser ator, peça descartável do tempo em curso. A angústia antecipatória da próxima decepção, da expulsão do jogo, de permanecer na reserva, mas fora do campo. Ser apenas uma unidade na massa que espera uma oportunidade nunca vinda.

O Dr. Nader Alemi durante os anos em que os Talibãs governaram o Afeganistão, atendeu milhares destes combatentes. E todos sofriam distúrbios mentais graves em decorrência das incertezas de suas vidas. Não tinham controle do que estava acontecendo com suas vidas. Na linha de frente por tantos anos, numa vigília de vida e morte, vendo gente explodir, parte permanente da violência.   

Agora as grandes nações do ocidente estão em crise econômica e social. A juventude absolutamente sem horizonte, uma incerteza contínua de cada medida do tempo. As tensões violentas estão crescendo. Só no Brasil num ano foram assassinadas mais de 50 mil pessoas, a maioria jovens e negros. E não somos um caso isolado. Somos a regra do modelo de civilização que vivemos.  


Por isso a frase do Dr. Alemi continua sendo verdade no Afeganistão, mesmo depois dos talibãs. A guerra não é a exceção, ela é a constituição do modo capitalista de reprodução na história em todo o mundo.